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História Invictus - Raptor


Escrita por: Aleera_

Capítulo 2 - Raptor


Fanfic / Fanfiction Invictus - Raptor

“Para matar uma pessoa não é preciso tirar-lhe a vida. Basta privar-lhe de seus sonhos.”

– Étienne La Boétie



Assim que retornou à consciência, Ana sentiu um latejar percorrer sua cabeça, ao mesmo tempo em que seu corpo pareceu oscilar sobre a superfície macia na qual se encontrava. 

Abriu os olhos instintivamente e, ignorando os protestos de seu corpo, ergueu-se no que descobriu ser uma cama. Notou uma pequena vela a seu lado, iluminando o cômodo. Olhou em volta atordoada, sem conseguir fixar o olhar em nada específico.

Paredes de madeira, dobradiças de ferro, o teto baixo e o chão que ainda parecia balançar. 

Estava em um navio.

Essa constatação deu a ela impulso suficiente para acordar completamente os próprios músculos e, em um ímpeto, atirou-se em direção a porta logo a sua frente. E grande foi sua surpresa ao notar que a mesma não estava trancada. 

Ela hesitou. Todos os seus sentidos em alerta e olhos estreitos em desconfiança. Que espécie de raptor permitiria à sua vítima circular livremente por seu navio?

Olhou em volta, procurando qualquer objeto disponível para auxiliar em sua defesa. Ou ataque.

O quarto não possuía mais do que o básico. Além da cama estreita na qual acordara, havia apenas um baú fechado a chave e uma pequena cômoda, sobre a qual estava a vela e um jarro médio de cobre contendo um pouco d'água.

Após procurar inutilmente por uma arma mais eficaz, ela esvaziou o conteúdo do jarro no chão e o empunhou firmemente em uma das mãos. Uma arma medíocre ainda era melhor do que arma nenhuma.

Saiu pelo pequeno corredor em passos lentos e silenciosos, mas não encontrou ninguém ali, apenas mais portas, todas trancadas.

Subiu então cuidadosamente as escadas e imediatamente pôde ver, mesmo com a pouca iluminação, um homem parado de costas para ela, próximo a saída para o convés superior.

Não pensou duas vezes, acertou-lhe a parte de trás da cabeça com toda força que reuniu, e o viu cambalear alguns passos para frente até seus joelhos cederem em direção ao chão. 

No entanto, ao desobstruir sua visão, ele lhe permitiu ver o que pareceu ser uma parcela da tripulação. A maioria dos homens agora a encarava em um misto de surpresa e irritação, e não precisou muita observação para notar que eram todos piratas.

Seu instinto lhe dizia para correr de volta ao quarto, mesmo sabendo que seria inútil. Mas antes que conseguisse se mover, uma voz chegou até ela, congelando-a no lugar.

— Ora, ora. – começou em tom grave, mas a surpreendeu ao notar algo mais, parecia conter um toque de humor — Essa me parece uma maneira bastante inusitada de se demostrar gratidão por nossa hospedagem.

Ana percorreu o convés com os olhos rapidamente, procurando a fonte da voz e a encontrou a sua esquerda. Um homem alto que agora descia a escada vinda do castelo da pôpa até parar a sua frente. 

 Seu rosto estava parcialmente oculto pela escuridão, e pelo pouco que ela pôde ver, não conseguiu distinguir qualquer emoção. Decidiu então ganhar algum tempo, enquanto seus pensamentos corriam em busca de qualquer possibilidade de tirá-la daquela situação.

— Sequestro não está entre minhas definições de boa hospedagem. – respondeu, surpreendendo até a si mesma por conseguir manter sua voz clara e firme.

O homem sorriu, mas ela ainda podia sentir vários pares de olhos pregados sobre si, enquanto mais homens se juntavam ao redor.

Ele estendeu uma das mãos, ajudando a levantar aquele a quem ela havia atingido e, logo após, voltou os olhos para ela novamente.

— Você não foi sequestrada. – falou, ainda mantendo o mesmo tom descontraído.

— Oh. Então me agradaria conhecer os motivos para minha pele ainda conservar este odor tão característico de sedativo.

Ele pareceu a analisar por um momento, em seguida estendeu novamente sua mão, desta vez em direção a uma porta que parecia levar à cabine de capitão.

Ela o encarou sem se mover, apenas erguendo um pouco mais o queixo em sinal de insubmissão e retrucou em tom resoluto.

— Não vou a lugar algum até que me explique.

— Muito bem… – ele falou e então respirou fundo uma vez – Você precisava de ajuda.

Ela esperou que ele continuasse, contudo, quando o silêncio tomou o lugar mais uma vez, Ana perguntou irritada.

— E em quê isso lhe garante o direito de arrastar-me até aqui desacordada?

— A senhorita esperava um convite formal? – falou erguendo também o rosto e revelando uma expressão irônica — Ou quem sabe uma longa conversa onde poderíamos enumerar os prols e contras... 

— Ora, cale-se! – ela o interrompeu, e ouviu imediatamente a movimentação dos outros homens, alguns destes levando a mão até suas espadas.

O capitão, no entanto acenou calmamente com uma mão e todos retornaram a suas posições iniciais. Assim, ele voltou a fitá-la.

— Se não está satisfeita por estar viva e a salvo, pode notar que nenhuma amarra lhe prende aqui.

Ela o encarou analítica, olhando a seguir todo o convés, aproveitando para avaliar a expressão dos outros homens. Ninguém parecia discordar do que ele dissera.

— Dê-me então um bote e retornarei!

— Não. – respondeu simplesmente.

— E diz que não estou presa aqui.

— Você pode ir embora. Mas não lhe darei nenhum dos meus botes. Preciso de todos eles.

Ela suspirou irritada, mas não se abalou por mais tempo. Caminhou decidida em direção ao parapeito, notando que ninguém fazia menção de impedi-la.

Apoiou então as duas mãos em uma corda, tomou impulso com os pés e em questão de segundos, passou suas pernas por cima do amadeirado.

Porém, foi parada bruscamente por um aperto firme, mas não doloroso, em seu pulso esquerdo. Virou rapidamente para encontrar o olhar calmo de um homem grisalho.

— Solte-me! – ela bradou, mas ele não se moveu.

— Solte-a! – o capitão ordenou, sem elevar a voz, mas seu tom não deixava espaço para contestações.

— Você sabe que se a deixarmos ir, ela morrerá, Vítor. – o homem mais velho falou, sua voz não trazia insubordinação, apenas um toque de sabedoria — Estamos há milhas de distância e o mar está congelante.

— A escolha ainda é dela.

Após um segundo a mais de hesitação, aquele senhor a soltou. Mas ainda assim, Ana não pulou. Ela fitou a água por um momento até onde a linha do horizonte permitia e nem ao menos pôde localizar o porto.

Desceu então as pernas de volta ao convés e encarou aquele que foi chamado de Vítor. 

— Talvez devesse reavaliar o que para você significa ter escolha.

— Já disse que aqui você está a salvo. Ninguém nesta tripulação lhe fará mal algum, e poderá escolher seu caminho quando estivermos em terra firme novamente. Mas se para você isso não é suficiente, talvez devesse tentar a sorte com um dos navios oficiais.

Ana apenas o encarou, seu peito subindo e descendo enquanto a mente ainda processava todas as informações e avaliava os riscos.

Vítor pareceu tomar seu silêncio como concordância, pois sorriu e voltou a falar.

— Sendo assim, bem vinda a bordo do Invictus*!

Antes que ela pudesse formular uma resposta, ele lhe deu as costas e se afastou, adentrando a cabine de capitão.


Notas Finais


* Invictus: indômito; aquele que não pode ser vencido; indomável.


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