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História Invictus - Tento


Escrita por: Aleera_

Capítulo 6 - Tento


Fanfic / Fanfiction Invictus - Tento

“Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão; Quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos.”

— Carl Jung



Ana Rivera adentrou a cabine do capitão, encontrando-o sentado em uma cadeira de espaldar alto, debruçado sobre alguns papéis.

Sob a penumbra que encobria a maior parte do aposento, ainda era possível ver a grande mesa de madeira polida, uma porção de baús e barris amontoados aleatoriamente próximo as paredes, alguns livros antigos espalhados por ali e a grande janela na parede oposta a entrada, agora às costas de Callahan.

Era a primeira vez que ela entrava ali, apesar de já estar naquele navio há quase cinco dias. No geral, não era permitido a outros tripulantes permanecer nos aposentos do capitão, a não ser quando convidados.

Quando notou sua presença, Vítor gesticulou para que ela sentasse a sua frente, o que ela fez, permitindo assim que a fraca luz das velas revelasse seu rosto.

— Prometi a você que poderia escolher seu caminho assim que ancorássemos novamente em terra firme.

Falou já sem olhar para ela. Em seguida, estendeu um dos papéis até que este estivesse ao alcance de sua visão.

— Atracaremos amanhã em Lanzarote. 

A expressão em seu rosto parecia neutra, mas sua voz deixava escapar um leve toque de hesitação. Ana estreitou as sobrancelhas ao notar que o papel que ele oferecia era um mapa. Ela o pegou e analisou por um segundo.

 — Ilhas Canárias... – falou mais para si mesma.

— Você me disse que eu deveria reavaliar o significado de escolhas... Chamei-a até aqui para me certificar de que conhece o suficiente de suas opções antes de fazer a sua.

Ana voltou a fitá-lo e ele pareceu medir as palavras por um momento, em seguida ficou de pé e olhou através da janela ao voltar a falar.

— Caso escolha ficar nessa ilha, podemos providenciar alguns suprimentos que ajudarão a mantê-la até que encontre seus próprios meios de fazer isto. Muitos negociadores de mercadorias costumam passar por essa região, poderiam lhe ser úteis quando decidir partir novamente.

Ele se calou mais uma vez e a encarou gravemente, apoiando as costas no batente da janela antes de prosseguir em tom mais sério.

— No entanto, deve saber que não só mercadores costumam ir até lá. Se decidir ficar, estará por sua própria conta... Sabe usar uma espada?

— Nunca precisei tentar. 

Ela respondeu com o cenho franzido, mas não se envergonhava por não saber fazê-lo. Apesar de sua vida inteira ter sido inconstante e muitas vezes perigosa, se orgulhava de nunca ter usado de meios violentos para proteger a si mesma ou aos outros.

Infelizmente agora os tempos eram outros. Ela estaria sozinha. Não poderia contar com seu pai ou amigos e sabia que a cada dia se tornava mais perigoso para pessoas como ela circularem livremente.

Vítor suspirou lentamente, ainda a estudando com os olhos e depois levou uma das mãos até a própria cintura. 

— É tarde para conseguir ensiná-la. Mas, em todo caso, quero que fique com isto.

Falou enquanto estendia a sua frente um punhal prateado. Ana levantou da cadeira e o pegou observando atentamente os padrões desenhados no metal. Ela o desembainhou e viu refletir sobre a lâmina afiada a luz amarelada das velas.

Olhou então para Vítor, que agora tinha as duas mãos apoiadas sobre a mesa, o que os deixou mais próximos do que ela imaginava estar, mesmo assim não se afastou.

— Por quê? – ela questionou apenas, mas ele pareceu entender a quê se referia.

— Pode afirmar que não sou seu capitão, mas não pode impedir que a veja como parte de minha tripulação. Todos neste navio estão sob minha responsabilidade.

— Isso não o obriga a me fornecer mantimentos para viagem, uma arma, e até mesmo conselhos…

— Não faço por obrigação.

Ela fixou seu olhar no dele por um momento, como se procurasse ler algo ali. Em seguida voltou a guardar o punhal na bainha e o pendurou em seu cinto.

— Neste caso, agradeço. Mas sabe que o favor de meu pai já foi pago quando me ajudou. Desta forma, sou eu quem sairá daqui em débito.

— Sendo assim, peço uma coisa em troca. – falou, voltando a sentar, e ela apenas ergueu as sobrancelhas enquanto imitava sua ação.

— Peço que pense com cautela antes de tomar sua decisão. Sei que preza por sua liberdade e a respeito por isso, mas reafirmo que haverá um lugar neste navio para você se escolher permanecer conosco.

Ela lhe lançou um pequeno sorriso irônico, erguendo ligeiramente o rosto.

— Então passaria a ser meu capitão.

— Se esta for a sua vontade. – ele respondeu maroto, devolvendo o sorriso.

 Ouviram dois toques discretos na porta, atraindo a atenção de ambos para a mesma, e após a permissão verbal de Callahan, Otto adentrou o cômodo.

— Oh. Não pensei que estivesse ocupado. — ele disse, parando assim que seu olhar repousou sobre Ana.

— Não tem problemas, Otto. Pode falar.

— Aquele músico, Sanz. Bêbado outra vez... Está agora tentando comprar briga com qualquer um que cruzar seu caminho.

— Ora, atire-o ao mar! Quem sabe ajude a esfriar sua cabeça.

 Otto apenas sorriu e balançou a cabeça negativamente, saindo em seguida do compartimento. Enquanto Ana voltou seus olhos para Callahan com as sobrancelhas erguidas em surpresa e descrença.

— É comum entre sua tripulação virar comida para tubarão?

 Vítor sorriu abertamente, mas negou com a cabeça assim como Otto.

— Ele não cumprirá a ordem literalmente.

— E como sabe que ele entendeu da forma correta?

— Otto me conhece desde que nasci. E conhece mais sobre este navio do que eu próprio.

— Vejo que gosta muito dele.

 Callahan assentiu em silêncio, mas trazia um sorriso singelo em seu rosto. Ana também sorriu, mas em seguida se pôs de pé.

— Prometi ajuda a Jalil. Ele deve estar a minha espera.

— Você os coloca maus costumes. – falou divertido, descansando as costas no encosto da cadeira.

— Fala como se você não passasse os dias executando funções que nem são suas.

 Ele riu novamente, vendo-a se afastar e voltou seu olhar para a mesa, focando no mapa que agora estava largado no centro dela, o que o fez lembrar de algo.

— Ana! – a chamou antes que abrisse a porta, e ela se virou — Onde aprendeu a ler?

— Com meu pai. – ela respondeu com um sorriso delicado.

Vítor apenas assentiu novamente. Não era frequente encontrar mulheres que podiam ler, e ainda mais difícil fora da alta sociedade.

Ana bateu levemente com uma das mãos sob o cabo do punhal em seu quadril, atraindo novamente sua atenção.

— Prometo que considerarei a sua oferta. – falou antes de sair, e Vítor apenas assistiu em silêncio enquanto ela desaparecia e a porta voltava a se fechar.



Somente após todos terem feito sua última refeição, Ana adentrou seu aposento, mas parou assim que notou algo repousado sobre a cama. 

Ela fechou a porta e se aproximou dividida entre hesitação e curiosidade, mas deixou escapar um sorriso involuntário ao perceber o que era.

Sentou-se sobre a cama e acariciou delicadamente com os dedos a capa do livro onde se lia em letras negras: Orgulho e Preconceito de Jane Austen.

Durante todo o jantar, Ana havia ponderado sobre suas opções. A escolha mais óbvia seria seguir seu próprio caminho, e quem sabe com sorte encontrar uma pista sobre o paradeiro de algum dos seus amigos. Era o que ela queria fazer desde o início.

Mas ao mesmo tempo, a realidade não era tão simples, e ela bem sabia disso. E mais ainda estando tão longe de Gibraltar, onde todos se separaram.

Permanecer a bordo do Invictus, por outro lado, era a escolha mais ilógica que ela poderia cogitar algum dia. Aceitar a proteção oferecida pela tripulação de um navio pirata deveria ser no mínimo insensato.

Ainda assim, sentada sobre aquela cama estreita e segurando entre as mãos o delicado livro, parecia cada vez mais difícil para ela fazer essa escolha.




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