História Invisible - Down

                Instável. É assim que a vida se mostrou para mim. Desde pequena aprendi que as coisas não acontecem como queremos, um dia você tem um brinquedo e no outro o tem mais. Um dia você está feliz, e no outro não. Um dia você mora em um país e no outro está do outro lado do mundo. Um dia você tem uma família e no outro é totalmente abandonada. O meu maior problema foi pensar que já estava acostumada com toda essa instabilidade da vida e que não poderia ser surpreendida por ela novamente, mas parece que estava errada não é mesmo ? Pois um dia eu estava no topo, dançando em um palco; e no outro eu estava chorando em uma maca de hospital, eu chorava não só pela dor mas também porque tudo aquilo me parecia surreal. A maldita vida me destruiu novamente com essa instabilidade idiota, e agora sou obrigada a vir morar com meu pai em Los Angeles. Será que poderia piorar ?

-Jay ! - Meu pai vem correndo me abraçar com um sorriso no rosto. Esse era o principal problema de George Woods, sempre muito feliz, muito simpático e muito dócil; por isso era facilmente magoado pelas outras pessoas não tão educadas como ele, como por exemplo, sua filha que estava irritada e mal-humorada no momento, no caso, eu. Meu pai me abraça e faço uma careta.

- Você está me sufocando George! Está muito quente para essas demonstrações de afeto. - Ele ri e balançou a cabeça em negação.

- Achei que estivesse com saudades do seu pai !

- Eu estou! Mas não quero dar ou receber carinho depois de um vôo de 5 horas e uma Los Angeles  onde a temperatura é de 28º! - Suspirei - Tudo o que eu quero agora é que me diga que você me preparou um quarto com um colchão maravilhoso e um ar condicionado, e que tem sorvete na geladeira !

- Suba as escadas, segunda porta a direita! - ele respondeu rindo e balançando a cabeça em negação. Lhe dei um beijo na bochecha e segui para o meu quarto após pedir que deixassem as malas na sala porque eu as levaria para o quarto depois. Eu não gostava que os funcionários de meu pai fizessem essas coisas, afinal, eles têm funções reais ao contrário de realizar os caprichos de uma garotinha mimada. Não que eu seja mimada. Enfim, entrei no quarto sem prestar muita atenção, o ar já estava ligado então só deitei na cama e tive minhas merecidas horas de sono. 

                Acordei com o peso de algo sobre mim. Primeiro, achei que era muito pequeno para ser um humano mas quando abri os olhos, vi um grande sorriso banguela e olhinhos cheios de brilho me encarando. Eu tinha certeza de que Jack estava entre as 7 coisas mais fofas do mundo, junto com Meowt,meu gato. Eu logo me sentei na cama e meu irmãozinho me abraçou apertado dizendo como sentiu minha falta.

-Calma aí, pirralho! Senão assim você mata ela. - Ouço a risada de Mack e olho para minha irmã no batente da porta. Me levanto e ela vem ao meu abraço. - Senti tanto a sua falta!

- Também senti a sua!- Digo com os braços enrolados em volta de seu pescoço.- Você tem certeza que é a minha irmãzinha? Porque da última vez que a vi ela era uns 20 centímetros menor que eu.- Digo rindo.

- Na verdade, nós nem crescemos, você que diminuiu! - Olho para a porta e Matt já vem me dando um abraço caloroso. Talvez dele quem eu tenha sentido mais falta. - A família não é a mesma coisa sem você maninha!

                Bem, se estiver se perguntando em quantos nós somos, a resposta é 5. Toda a história começou quando Olivia Jones, uma fotógrafa relativamente famosa na época foi contratada para fazer as fotos de uma banda agenciada pela Capitol Records, uma pequena gravadora na época. Foi lá que conheceu o dono do lugar,George Woods. Eles se apaixonaram loucamente e se casaram. Logo ela estava grávida do primeiro bebê : Rebeca Jones Woods. Becca atualmente tem 24 anos e com certeza é a mais responsável e sensata da família inteira. 5 anos depois veio o bebê mais perfeito da família inteira; provavelmente do mundo inteiro: eu, Jamie Jones Woods. Alguns anos depois mamãe e papai se separaram. Ela aparentemente era muito aventureira e viaja direto por causa da fotografia, e ele era mais caseiro e queria um pouco mais de estabilidade. Portanto, voamos para o Brasil, país natal de Olivia, e passamos alguns anos lá. Claro que minha mãe raramente ficava em casa, mas com certeza, tanto para mim quanto para minha irmã, o Brasil tornou-se nosso lar. Alguns anos depois, eu e Becky viajamos para Nova York, para conhecer a nova esposa do papai. Seu nome era Rachel, e por ser meio controladora não gostávamos muito dela na época, mas agora nos damos muito bem. Nesse primeiro ano do novo casamento de George, havia nascido Matthew. Nós nos demos bem logo de cara por causa da paixão de ambos por Star Wars. E no colo de Rachel estava Mackenzie, minha irmãzinha briguenta e um ano mais nova que Matt. Depois de muitos anos, e momentos juntos e separados, nasceu Jackson, nosso caçula que atualmente tem 9 anos.

                Fazia muito tempo que eu não via todos, afinal, com 10 anos comecei a dançar. E com 14, depois de ganhar minha primeira competição, tudo o que eu via era ballet, treino, podólogo, dieta, treino, dança ... enfim, me afastei de mais da minha família. Eles se mudaram para Los Angeles pouco antes de eu ser contratada por uma companhia de ballet em Nova York, e infelizmente agora estou aqui também. Não que eu esteja infeliz em ver meus irmãos, mas não queria que os motivos de estar aqui nesse momento fossem estes.

- Parece que a família estará toda reunida! - George nos encarava do batente da porta.- Bem, quase toda. Olivia passará as férias de verão aqui, mas vai demorar até lá. - Mamãe havia sido contratada para algumas fotos em um jornal chinês e passará alguns meses lá.

- Está se esquecendo de Rebeca, pai!- Eu disse estranhando ele ter se esquecido da minha irmã.

- Você não ficou sabendo?- Neguei arqueando as sobrancelhas.- Sua irmã vai morar aqui conosco! Ela recebeu uma ótima proposta de emprego aqui em LA e após o divórcio não há nada que a impeça!- Nesse momento uma onda me atingiu. Há quanto tempo não falava com meus irmãos? Antigamente eu e Rebeca éramos as mais próximas, mas agora eu nem sabia que ela realmente tinha se divorciado. - Bem, pedi para Mônica fazer um banquete para nós, portanto vamos atacá-lo!- disse meu pai em seu típico tom sorridente, que nos fez rir.- Não se preocupe Jamie, fizemos pratos vegetarianos especialmente para você! - ele disse e eu sorri- Além disso, você começa amanhã na gravadora. Não se atrase!

- Okay! - Bufei.Papai tinha me pedido para preencher a vaga de sua assistente na gravadora, e já que eu precisava de dinheiro acabei aceitando, mas logo me arrependi. Me entendam, eu achava aquele lugar sem graça e sou levemente preguiçosa. Porque mesmo a Mackenzie não pode trabalhar lá? Ela que não faz nada da vida !- Recebi um olhar de repreensão da minha irmã e uma risada alta de Matt.- O que foi?

-Mackenzie trabalhava lá mas ela pulava no pescoço do Mike toda vez que o via e invadia o estúdio da 5sos toda hora para reforçar como é fã deles!

- Na verdade, eu pulava no pescoço dele porque o amo, mas ele sempre ria e falava "Mack, eu tenho que trabalhar criança!"- Ela disse com uma voz grossa.

.- Quem é 5sos? - eu perguntei e obtive um como "Como você não conhece a 5 Seconds Of Summer?" da minha irmã- Pera, eles que cantam She Looks So Perfect e Girls Talk Boys ? Eu gosto dessas músicas!

- É um absurdo você só conhecer essas músicas, eles são ótimos! - Mackenzie reclamava e meu pai só ria da situação toda.

- Sabe, me já surpreende ela conhecer essas musicas já que vive na ditadura do Ballet 24 horas por dia...- Matt disse rindo. Mackenzie deu um tapa em seu braço e meu papai ficou me encarando. Eu olhei para Matthew sem achar graça e depois para o meu pé. Eu nunca voltaria a dançar, e se o conseguisse, eu nunca seria a mesma. - Jay, me desculpa. Eu não...

-Eu sei.- O cortei rapidamente.- Está tudo bem.- Dei  um sorriso sem graça e suspirei. Logo sinto Jack pegar minha mão e me puxar para cozinha.

- Vamos Jay! Vamos comer tudo antes deles.- Eu ri e corri com Jack para cozinha. Eu amava sua inocência e como nunca sabia do que falávamos. Eu sorria e brincava com ele como se a conversa de antes não tivesse significado nada. Mas isso era só externamente, porque por dentro, tudo o que eu queria era esse pesadelo horrível acabasse, afinal, eu nem sabia mais quem Jamie Jones era. Ou pelo menos, quem ela seria a partir desse momento.