História Irmãos - Primeiro Dia

O barulho do chuveiro deixa Bolin um pouco inquieto.

Está sentado no chão de linóleo em frente ao banheiro masculino, esperando Mako sair. Traja um uniforme azul, o uniforme dos policiais de cidade república. Seu trabalho começou a dois dias, ao menos na forma burocrática, mas essa é sua primeira missão. Está nervoso e ansioso.

Só que isso não é a única coisa que faz o coração do dominador de terra bater mais forte. Ele vai estar perto de Mako.— Em outra época a ideia de ficar nervoso por estar perto do irmão  faria Bolin achar graça. Mas as coisas mudaram.

Seu relacionamento com o irmão continua bom, firme e estável. Só que algo dentro de seu coração mudou. O amor que sente por Mako não é mais fraterno, não mais um amor de irmão ou amigo. Ele sente coisas que nunca havia sentido antes. Imagina que aquilo é paixão.

Bolin culpa-se pelo que sente. Ele é meu irmão, diz para si mesmo mas seu coração parece querer ir contra sua cabeça. Quanto mais insiste em negar seus sentimentos mais eles se afloram. E as coisas parecem só piorar; No inicio só sentia vontade de ficar perto dele, uma vontade maior que a normal; Agora qualquer coisa que Mako faça parece lhe atrair; O copo em que tomou água, os seus cílios que caem. Tem até um fio de cabelo dele guardado no bolso.

Sabe que nunca terá seus sentimentos correspondidos e isso faz uma melancolia profunda se apoderar de se corpo.

A porta é destrancada. Mako sai do banheiro. Traja um uniforme completo de detetive. Azul marinho e com detalhes em preto em locais que destacam ainda mais seus velos traços; Bolsos em seu peito, um cinto de couro cru que deixa seu quadril ainda mais aparente, o zíper de sua calça faz o volume daquela região parecer maior. O seu topete deixa tudo ainda mais belo, na opinião de Bolin.  

—Desculpe a demora.— Diz o mais velho colocando uma toalha molhada em seu ombro.— Ainda não me acostumei com aquele chuveiro minúsculo.

Se levanta do chão.

—Tudo bem.— Responde.— Vamos ?

—Só vou estender isso em um varal para que seque.— Mako diz mostrando a toalha.

Bolin para e espera o irmão. O observa seguir por um corredor escuro.

Estão na central de policia de cidade república. É seu lar provisório. Depois da guerra contra Kuvira a cidade ficou um caos. Os poucos policias que continuam ali tentam ajudar a manter a ordem. Já que não tem onde ficar os policiais dormem em colchões nos corredores do prédio.

—Vamos.— Mako chama pelo irmão quando o alcança. Segura entre o dedo indicador e o polegar uma chave de ignição.  Tem um chaveiro grudado na chave, com o número 18 escrito em caneta. Provavelmente aqueles algarismos correspondem a um veículo.

Na garagem, na parte inferior do prédio Mako enfia as chaves em uma moto e sobe em seu estofamento. Dá a partida e espera que Bolin suba na garupa. O mais novo se anima um pouco com a ideia de ficar tão perto de Mako

Senta-se atrás do dominador de fogo e aproveita-se da situação para levar suas mãos a sua cintura e enlaça-las ao redor de seu tronco.

Aceita o capacete verde que lhe é oferecido e o enfia na cabeça.

—Pronto?

—Pronto.— Responde Bolin apertando um pouco mais a pegada de suas mãos ao redor do detetive que estava á sua frente.

A moto sai pelo portão de metal e corre pelas ruas silenciosas e desertas da cidade. O vento atinge Bolin,  fazendo suas roupas balançarem e ondulando perante o contato com a atmosfera .

Precisa controlar o grande ímpeto que tem de enfiar o rosto nas costas de Mako. A vontade incontrolável de cheirar seu pescoço e sentir seu calor. Morde o lábio inferior para controlar seus desejos mais profundos.

Bolin estava tão atordoado em seus pensamentos que nem notou o tempo passar durante a viagem até... seja lá onde for ali.

—Chegamos.— Anuncia Mako fazendo menção de se levantar. Bolin solta os braços de entorno do garoto.

—É Aqui?— Pergunta Bolin descendo da motocicleta.

—A base da tríade ameaça tripla fica algumas casas adiante mas vão nos ver chegando se formos de moto.

—Uhh. Bem pensado senhor detetive.— Proclamou tais palavras de forma animada. A admiração e orgulho são aparentes em sua voz.— Foi por isso que a Beifong te fez detetive. Você é muito esperto.

Mako suspira.

Bo conhece bem aquela expressão; O dominador de fogo sempre a faz quando está começando a ficar impaciente mas também não sente vontade de discutir. Sempre a realizou, desde criança.

—Vamos lá.— Chama caminhando em direção ao norte. O segue.

Se assusta um pouco com o silencio do lugar. A cidade tão cheia de vida e movimento agora parece triste e deprimente. O cenário perfeito de uma história de terror. Gostaria que Pabu, seu furão de fogo estivesse ali para lhe confortar.

—É logo ali em frente.— Mako disse indicando um prédio em ruínas do outro lado da rua.— A base da tríade ameaça tripla.

Bolin respira fundo.   

—Os criminosos com quem trabalhamos quando pequenos...

—É...

A dor da lembrança faz o clima se fechar.

O tema infância para os dois é algo doloroso de se dizer, ou mesmo pensar. Esse tópico ainda paira no ar. Nunca sequer falam do assunto. Parece que sempre dão um jeito de se esquivar da questão.

—Vamos lá.— Diz Mako indo em direção a uma casa que fica de frente para o local em que tem que vigiar. Usa a dobra de fogo para arrombar a porta.

Bolin entra, um pouco relutante. Lá dentro a escuridão o envolve como uma imensidão liquida. Tão palpável que lhe deixa ainda mais desconfortável.