História Irresolução - Capítulo Único

Ela é incrível,
desde seus cabelos aos seus dedos do pé.
Me pergunto porque ela,
e não alguma outra qualquer.

Seus olhos cinzentos
são nuvens de tempestade
mas ela me traz mais paz
do que chuva, na verdade.

Ela tem o tipo de beleza
que se vê em galerias de arte,
que hipnotiza e fascina
mas entre nós sempre haverá um aparte.

E um aparte eu poderia fazer,
um dia talvez, à sua frente,
pois carregar em silêncio esses sentimentos
um dia me deixará doente
(doente, talvez, de inevitável amor por você)

Jirou suspirou, fechando o pequeno caderno. Não conseguia acreditar nas palavras que escrevia ali, parecendo uma louca de amores. Talvez tivesse realmente chegado àquele estado de demência devido a seus afetos pela garota de olhos cinzentos, que era próxima, mas não próxima o suficiente de si. Provavelmente nunca seria.

Não entendia como alguém poderia ser tão maravilhoso como ela. Momo era o tipo de garota que se cantava em músicas, com sua mente deslumbrante e beleza de tirar o fôlego, os sons de surpresa que ela fazia quando derrubava algo ou tropeçava, porque ela era inacreditavelmente desajeitada, da maneira mais adorável possível.

No início, Jirou não havia percebido como ela notava cada uma das manias e detalhes sobre Momo, não havia percebido que aquele era o início de algo que em breve tomaria conta de sua vida, ocuparia sua cabeça quase que inteiramente, oferecendo comentários inoportunos sobre como seus olhos brilhavam quando estava entusiasmada, como seus sorrisos iluminavam o humor de qualquer um. Comentários que Jirou poderia viver sem, já que ela sabia muito bem de tudo aquilo, inconscientemente, como se seu cérebro houvesse sido fabricado especificamente para os maneirismos de Yaoyorozu Momo.

Era maravilhoso como as duas poderiam ser tão próximas, mas tão distantes ao mesmo tempo. Talvez fosse egoísmo por parte de Jirou, querê-la tão fortemente, tão intensamente que a desejava toda para si, mais perto, mais íntimo. Se aqueles sentimentos eram egoístas, com certeza era o egoísmo mais prazeroso que ela jamais experienciara.

Ela sorri, abrindo o caderninho novamente, rabiscando os últimos versos de um poema que a outra garota provavelmente nunca verá, e que talvez seja para o melhor. Por hora, Jirou poderia deixar as coisas como estavam, ela conseguia suportar aquele amor impune e secreto, conseguia suportar o esmagador desejo de segurá-la em seus braços.

Quem sabe, um dia, ela seria capaz de dizer tudo que guardava em seu coração, de ler todas as canções de amor e todos os poemas agridoces que um dia escrevera para ela, sobre ela, em segredo.

Quem sabe um dia ela conquistaria o direito de olhar para aqueles olhos nublados perto o suficiente para vê-los brilhar com a intensidade de milhares de sóis e a beleza de todas as luas do sistema solar, assim como tanto ansiava.

Vou continuar com os suspiros, por hora
deixar-lhe liberta do peso dos meus afetos por ti
mas eu ainda espero que no futuro
seus dias ainda estejam repletos de mim