Desço da minha caminhonete e ajeito a mochila em meus ombros, fecho a porta do carro e o tranco, seguindo para dentro da escola.
Ah, o tão terrível primeiro dia de aula.
Eu não era um aluno novo, pelo contrário. Eu havia nascido e crescido em Santa Mônica e de certa forma gostava da cidade.
Entretanto, o colégio era um grande problema: eu odiava tudo relacionado a ele. Odiava os trabalhos, as tarefas, as aulas chatas, e principalmente, os trabalhos em grupo.
A única coisa boa que o colégio havia me trazido era meu melhor amigo, Finnick Odair.
Ele, juntamente com a natação, me faziam ter vontade de ir até a Panem High School todos os dias. Entretanto, a paixão pelas piscinas havia começado antes mesmo de eu sequer pisar na escola, além de quase havia custado a minha vida quando eu tinha apenas 4 anos e decidi pular dentro da piscina da nossa antiga casa.
Felizmente tudo não passou de um grande susto e ao contrário do que todos pensavam, minha paixão apenas aumentou, o que levou meu pai a me matricular nas aulas de natação.
Eu amei cada minuto e a cada aula eu me via mais fascinado, me arriscando a dizer que a natação era a coisa que eu mais amava no mundo.
- Eaí, mané? - Finnick dá um soquinho no meu ombro e eu sorrio, lhe devolvendo o gesto.
- Animado?
- Pra ver as gatinhas novas? Muito! - Diz e eu nego com a cabeça, sorrindo. Meu amigo não mudava nunca.
- Já pegou o horário novo?
- Ainda não. Você?
- Eu acabei de chegar, cara.
- Você está mesmo precisando nadar. Geralmente o mau humor se resolve com sexo, mas como você é estranho, a natação tem o mesmo efeito sobre você. - Diz e eu faço uma careta.
- Eu gosto de sexo da mesma forma que gosto de nadar, ok? - Digo e ele arqueia a sobrancelha, parecendo não ter se convencido com as minhas palavras.
- Quando foi a última vez que você nadou?
- Há uma semana. Por…
- E quando foi a última vez que você transou? - Pergunta e eu reviro os olhos.
- Eu vou lá saber. Não fico contando, Finnick.
- Mentiroso. Eu sei que foi antes das férias, com a Glimmer. - Eu faço uma careta.
- Cara, você não precisa ficar me lembrando dessas coisas.
- Você sabe que eu vou te zoar por isso o resto da sua vida, né?
- Tem certeza disso? Porque eu não fui o único…
- Vai se foder, Peeta. - Diz e eu sorrio, entramos na secretaria e eu vou até a mesa da secretária.
- Bom dia, senhor Mellark. Odair. O que desejam?
- Bom dia, Mags. Viemos buscar o horário novo. - Digo e ela sorri, entregando um pedaço de papel para cada um. - Obrigado.
- Por nada, querido. Tenham um ótimo primeiro dia.
- Você também, Mags. - Finnick e eu respondemos juntos.
- Qual sua primeira aula?
- Química. - Faço uma careta e ele me acompanha.
- A minha também. - Suspiramos e começamos a caminhar na direção do laboratório.
- Topa sair hoje?
- Cara, eu até queria, mas prometi pra minha mãe que faríamos uma faxina no meu guarda roupa.
- Eu entendo, cara.
- Por que você não vai nadar?
- Não sei se a piscina está aberta. Vou falar com o Cinna no intervalo.
- Ei, bobão. - Primrose aparece no nosso campo de visão. - Escutei você falando sobre nadar hoje, e pode esquecer. A mamãe vai fazer um jantar de “volta às aulas” e você vai ter que estar lá. - Reviro os olhos e suspiro. - Ah, oi, Finnick.
- Oi, pequena Mellark. - Diz e ela estreita os olhos na sua direção.
- Eu vou indo porque Rue me espera. Ah, e você que vai me levar pra casa. - Eu suspiro e assinto. - Tchau, maninho.
- Tchau, pirralha. - Ela me mostra a língua e Finnick ri, balançando a cabeça.
- Sua irmã é inacreditável.
- Inacreditavelmente insuportável. Tenta ter uma dessas em casa pra você ver. - Digo e ele sorri.
- Não, obrigado. Deixo essa pra você. - Entramos na sala e sentamos no fundo, olhando ao redor. - Droga.
- O que foi?
- Nenhuma gatinha. - Diz e eu reviro os olhos.
- Será que dessa vez você toma jeito ou eu posso perder as esperanças?
- Com certeza, a segunda opção.
Ao contrário de Finnick e como o próprio já havia feito questão de lembrar, eu não era o tipo de cara que saía transando com várias garotas por aí.
É claro que uma boa quantidade delas já havia passado pela minha cama, mas eu nunca havia me prendido a nenhuma delas. Além do mais, essa fase já havia passado.
Não que eu acreditasse que nunca iria me apaixonar, pelo contrário. Eu só estava esperando pelo momento certo.
- Bom dia, turma. - O professor entra na sala e eu me ajeito na cadeira, ele deixa seu material em cima da mesa e vira de frente para nós. - Pra quem não me conhece, meu nome é Beetee Latier e eu serei o seu professor de Química deste ano. Espero que tenhamos um ótimo ano, com a colaboração de todos.
Ele continua o falatório e eu suspiro, pego meu caderno e o estojo e os coloco em cima da mesa.
- Cara, eu nem te contei. - Olho para Finnick e encontro um sorriso enorme no seu rosto. - Eles ganharam ontem! - Diz em um sussurro animado.
- Sério?
- Sim, você precisava ter visto! No último minuto, o...
Alguém bate na porta e o professor para de falar para ir até lá, abre a porta e sai, voltando alguns segundos depois.
- Pessoal, atenção por favor. Eu quero lhes apresentar nossa nova aluna. - Ele olha para a porta, agora aberta. - Pode entrar, querida.
Ela usava um short preto de cintura alta e uma camiseta branca com a foto de uma mulher revirando os olhos com uma escrita que dizia “life is boring” e nos pés, um All Star também preto e de cano longo.
Seus cabelos negros como a noite estavam soltos e caíam pelas suas costas, seu rosto parecia ser perfeitamente esculpido e seus olhos tinham uma cor que eu não conseguia identificar, enquanto se mantinham em um ponto fixo, parecendo perdidos. E, para completar, seu corpo era marcado por diversas tatuagens.
Era a garota mais bonita que eu já havia visto em toda a minha vida, e de repente todas as células do meu corpo pareciam vibrar perante uma pessoa que eu nunca havia visto antes em toda a minha vida.
- O nome dela é Katniss Everdeen, e eu espero que a recebam com educação. Pode se sentar, senhorita.
Seus olhos percorrem a sala e encontram os meus que ainda estavam vidrados nela, permanecendo dessa forma por alguns segundos antes de se desviarem para a carteira ao meu lado.
Por fim, ela senta em uma das primeiras carteiras da fila, cortando nosso contato visual.
Percebo o suor em minhas mãos e o meu coração acelerado, balançando a cabeça. Que merda estava acontecendo comigo?
- Ei, cara. Tá tudo bem? - Finnick pergunta e eu olho pra ele, assentindo.
- Tudo sim.
No fundo, eu sabia que não estava. No fundo, eu já sabia que a partir daquele dia, minha vida nunca mais seria a mesma.
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