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História It Is All For You - Mark Tuan Oneshot - Tuan


Escrita por: MickeyPayne

Notas do Autor


Se você ama, por que tem medo?

Capítulo 1 - Tuan


Bebi mais um gole do café na minha garrafa térmica, sentindo o líquido quente descer pela  garganta. A praça de alimentação da escola estava vazia, o que não me surpreende. Ainda é muito cedo para ter outros alunos por aqui. Não é mais que dez para sete da manhã, e não posso negar me sentir sonolenta; nem sequer preguei os olhos esta noite. Os pesadelos em que ele aparecia se tornaram tão frequentes, que agora, ao invés de ignorar os fatos, eu só tenho mais medo e não consigo dormir de jeito nenhum.

Nem mesmo ler os livros que eu mais odiava me fizeram ter sono. Era como se estivesse tatuado em meu subconsciente: "Ele nunca vai deixá-la em paz, faça o seu melhor para ele não te encontre. Não durma". 

Para piorar, fazia muito frio. Nevava ao lado de fora do prédio. Isso só fazia com que o sono viesse à tona com mais força. Até parece que a quantidade de café que estou tomando neste instante não fizesse nem cosquinha para melhorar minha situação.

— Você fez matemática? — Paola colocou sua mochila e fichário na mesa, tipicamente escandalosa.

— Fiz. — Olhei para ela, voltando a beber o café.

— Milagre. — Ela sorriu. — E aí, qual motivo dessas bolsas roxas em baixo dos olhos? Assistiu Titanic de novo? Não sei como você ainda chora com esses clichês.

— Não, eu só... não consegui dormir.

— Hm. — Franziu as sobrancelhas. — Isso não tem nada em relação ao Mark, né?

— Não, claro que não! — Sorri de lado. — Já te disse que deixei ele pra lá. — Menti. Esse orgulho infernal enche minha cabeça e simplesmente não me deixa em paz, nunca. Não posso admitir o quanto a morte dele ainda me dói. Não consigo.

— Você ainda vai engasgar com esse seu  ego um dia. Ele morreu, Eleonor. Sei que ele fez coisas erradas, mas quem errou no volante aquela noite não só foi ele.

— Ele não mereceu nenhuma lágrima minha. Já o esqueci por completo.

— É disso que estou falando. — Me encarou séria, como se quisesse me dar uma bronca. — Não dormiu essa noite por culpa dele, não é? Não adianta mentir para mim. — Suspirou. — Enquanto você não perdoá-lo, jamais será capaz de esquecê-lo. Mesmo depois de morto, ele ainda vai te assombrar.

— Não quero pensar nisso agora. — Admiti. — Não consigo. Preciso de mais tempo para entender que tudo acabou daquela maneira.

— Tudo bem. — Ela maneou a cabeça. — Estou aqui sempre que quiser conversar você sabe.

Eu sorri para ela, apertando sua mão por cima da mesa. O tempo se passou, mas a área de alimentação continuou vazia. Certamente, grande parte dos alunos não viriam hoje. Além do mais, o clima está bom pra ficar em casa. Logo mais o sinal tocou. Meu primeiro horário do dia seria história, e mais do que antes, tive certeza de que seria difícil não dormir na aula. 

Entretanto, mesmo com a cadeira gelada e o eco dentro da sala, o tema da aula acabou me chamando atenção: Como os gregos encaravam os pesadelos. Sou uma fã bobona de mitologia, não nego. Acho interessante e estúpida a forma dos deuses se denominarem deuses, mas terem atitudes mais humanas do que os próprios humanos.

A professora contou algumas teorias e historinhas antigas, mas de acordo com ela, nenhuma delas era verdade. Perguntei-a então qual seria a verdadeira. Com um leve sorriso, ela me olhou e disse:

— Isso depende de nós. — Fiz uma careta de dúvida. — Quero dizer, depende do que nós acreditamos. Ditados populares diriam que Morfeu, deus dos sonos profundos, poderia controlar os sonhos das pessoas. Mas se quiser saber minha opinião, eu lhe diria que os gregos tinham mais fé em "Thalam", ou, em poucas palavras, fé em você mesma.

— Perdão professora, está se referindo que eles acreditavam que nós somos os causadores de nossos próprios pesadelos? — Axel perguntou.

— Sim, estou. Mas se quiser acreditar em Morfeu, não mando em sua imaginação.

Para mim, aquela aula acabou ali. Fiquei martelando na cabeça essa coisa de ser minha única culpada, de somente eu estar causando meu próprio sofrimento. Tudo caía como um cubo gigantesco de gelo em minha cabeça, e eu não fazia ideia do que pensar à respeito de mim mesma. Mark estava morto, não havia escapatória. Então não restava outra saída: de tanto pensar nele, eu não conseguia esquecê-lo. Talvez Paola estivesse certa, afinal.

Mesmo quando o sinal para o recreio bateu, eu continuei na sala de aula, sozinha. Já que havia perdido o sono, continuei a pensar sobre tudo aquilo.

Cansei de passar por isso sem nenhuma resposta. Eu precisava de respostas, necessitava delas. Me sentia uma gota d'água caindo de uma montanha no deserto; solitária e que evaporaria tão rápido que nem os pássaros poderiam usufruir dela à tempo. Estou prestes a evaporar, e estou com medo disso. Com medo da situação em que me encontro, com medo dele. O que ele queria de mim? Ou pelo menos, ele é de fato, real? Não sei o que pensar, ou ao menos se devo pensar. Isso só piora meu emocional cada dia mais.

Se eu o amava, por que o temia?

Uma das funcionárias da limpeza entra na sala, desligando as luzes como se eu não estivesse ali. Depois passou um pano na mesa dos professores e saiu. Suspirei, e mesmo que a preguiça me falasse a contrário, fui até o fundo da sala ligar a maldita luz. Porém, no mesmo instante em que coloquei minha mão sob o interruptor, senti uma corrente de energia se passar de leve em meu corpo, arrepiando meus pelos do braço até a nuca. Um barulho veio da porta, e precisei de um par de segundos para perceber que era o barulho da fechadura sendo trancada.

Corri até a mesma e tentei destrancá-la, mas antes que chegasse nela, a chave sozinha se soltou, se arrastando por de baixo da porta, até o outro lado, fora de meu alcance. Um gelo subiu no estômago, minhas mãos tremeram. Olhei para trás e corri até minha mochila, procurando meu celular, mas havia esquecido o maldito no refeitório. Quis gritar. Eu já conhecia aquele cenário. Tudo era familiar. Senti um cheiro nostálgico, e de repente, outro barulho se fez. Agora, era um barulho estridente e me dava tanta agonia que precisei cobrir minhas orelhas.

Olhei para o lugar de onde escutei o barulho e mordi o lábio assim que vi o que estava acontecendo.

O giz rabiscava a lousa, sem se formar uma palavra se quer. Apenas rabiscos, traços de um lado para o outro, movendo-se e formando uma espécie de desenho cego. Mordi o lado interno de minha bochecha, sentindo meus olhos marejarem de tanto medo e tanta raiva. Tentei sussurrar à mim mesma que não era real, mas era impossível. Estava acontecendo, e pra ser exata, na minha frente. Há uma charmosa diferença de estar sonhando e de estar acordada. Como beber um suco gelado e um quente. O suco é da mesma fruta, mas a temperatura muda o gosto. Entretanto, desta vez, diferente da noite passada e de todas as outras antes dela, era real. E por Deus, como era real.

— Mas que diabos...? — Sussurrei para mim mesma, tentando entender o que estava acontecendo. Mas em seguida, escutei uma forte gargalhada ecoando no cômodo.

Meu coração falhou uma batida assim que reconheci aquela voz. Era ele. E algo nisso só aumentou meu medo. A minha mãe não estava aqui para me ouvir gritar e me "acordar", e os outros alunos estavam no refeitório do andar de baixo. Ninguém me socorreria, nem eu mesma e nenhum Morfeu dos gregos antigos.

"Senti sua falta." — O giz rosa se passou por cima do branco, fazendo vários pozinhos do mesmo caírem no chão.

Fiquei boquiaberta. O giz desenhava as letras numa caligrafia perfeita, e era assustadoramente fascinante vê-lo contornar o quadro.

"Fale comigo, Eleonor." — Engoli seco ao terminar de ler a frase.

Não me atrevi a deixar uma palavra sair de minha boca. Até porque não há forma de se falar quando não se tem voz, e eu não conseguia pronunciar nada naquele instante. Se aquilo era tão real quanto pareia ser, não pertencia ao meu mundo. Não pertencia a mim, tinha de ir embora. Mais louca do que já estava eu não poderia ficar, então dei passos para trás, sempre me mantendo longe da lousa.

"Fale algo." — Neguei com a cabeça. O apagador se passou levemente sobre todo o quadro, apagando os rabiscos, voltando a escrever em linha reta.

"Fale." — Permaneci calada.

Fechei os olhos por um instante. Tentei me lembrar do dono daquela voz, tentei me lembrar de seu sorriso sem sentir ódio por ele. Era difícil, mas me esforcei para lembrar de todas as lágrimas que ele enxugou do meu rosto e todos os beijos que me deu de madrugada. Então, mesmo com medo, segui meu caminho em linha reta até o quadro.

Minha mão tremia mas, ainda assim, eu toquei o giz que estava pairado no ar, vendo o pó manchar minhas digitas e marcar as linhas no meu dedão. Um silêncio cruzou a sala. Meu peito se apertou, e passando a língua entre os lábios, eu senti a necessidade de tê-lo outra vez. Senti a necessidade de ao menos ter a chance de lhe dizer o último adeus que eu nunca disse. Senti a culpa de mim mesma por tê-lo culpado todo esse tempo, simplesmente por ele ter morrido e me deixado só.

Joguei o giz com força em algum canto da sala que não enxerguei, em me agachei, abraçando meus joelhos e gritando aquela dor presa na garganta. Pela primeira vez, temendo a dor luto por ter perdido a pessoa que mais amei na terra. As lágrimas desciam pela minha bochecha como se fossem lâminas, e então eu percebi que era apenas uma humana miserável. Mais miserável do que sempre fui.

De repente, consegui sentir a presença de alguém se sentando ao meu lado. Arregalei os olhos, pois eu não via ninguém, mas sentia. Não só sentia, como também ouvia uma respiração, bem do meu lado. As lágrimas pararam naquele instante, e eu soube que aquele cheiro era dele. Mas ainda não me sentia segura. Eu não o via, mas o temia. Como posso amá-lo e temê-lo ao mesmo tempo? Como?

— Pare com isso, por favor. —Sussurrei ao vácuo, com a voz trêmula e a cabeça doendo. — Me deixa em paz...

— Não posso. — Ele suspirou, falando em tom alto pela primeira vez.

Quando eu ouvi sua voz, me lembrei de que aquilo continuava sendo mais real que qualquer sonho que eu já houvera tido. Me levantei do chão de uma só vez, querendo distância, segurança. Querendo acordar de algo que não podia.

— Por quê está fazendo isso? — Tentei engolir meu próprio choro, em vão. — Por quê? Tem que me deixar quieta, ou eu vou enlouquecer... eu vou enlouquecer. — Segurei meus cabelos com força, tentando sentir alguma dor mais real do quê tudo aquilo. Em vão.

— Ei... pare com essas lágrimas! Me deixa desnorteado... — Ele resmungou. — Você tem que pensar coerentemente, pare de querer acordar! — Seu tom era de raiva, e logo eu escutei seus passos andando para perto de mim. — Não está sonhando, pare de tentar abrir os olhos, Eleonor!

Ele puxou meu pulso com força, me fazendo virar na direção contrária a qual estava. Porém, segurou muito forte na minha pulseira, fazendo um dos detalhes prateados beliscar minha pele, abrindo um pequeno corte e arrancando um suspiro dolorido de mim.

— Você 'tá me machucando! — Puxei minha mão para longe dele, mas ele a pegou de volta.

— Me desculpa, me desculpa, me desculpa... — Diferente do tom anterior, sua voz agora soava preocupada, e aos poucos uma silhueta (ainda meia opaca), começou a surgir. — Isso é uma grande merda! Eu não queria... não queria...

— Como...? — Tentei falar, mas minha voz não saía, fazendo meu estômago se revirar conforme a silhueta dele ficava mais real.

— Eu... como pude ter feito isso? Eu não consigo sentir sua pele direito, é estranho. Me perdoe, me perdoe. — Dessa vez, consegui ver as duas mãos segurando a minha, fazendo carícias no pulso machucado.

Eu poderia dizer que estava ficando louca, ou que minha visão estava embaçada pela quantidade de lágrimas presas nos olhos, mas não. A figura de alguém começou a se fazer em minha frente, um homem, mais alto que eu e cada vez mais idêntico ao dono daquela voz que eu tanto conhecia.

Ele continuava pedindo uma desculpa atrás da outra, mas quando toda sua silhueta ficou visível, fiquei com tanto medo que empurrei seu peito, o afastando de mim. Dei passos para trás, até sentir uma cadeira e me sentar. Não me aguentava em pé, só sabia tremer sem parar.

Outrora, a feição preocupada dele se transformou de uma vez, parando com suas desculpas e me encarando curioso. Um brilho pairava seus olhos, e notei ele me estudando, sentada na cadeira. Não sabia o que se passava na cabeça dele, mas sabia que aquele olhar não era bom.

Ele andou com passos lentos até mim, mas eu não consegui me mover. Ver ele assim, tão real, mesmo depois de tê-lo enterrado, era muito mais do que eu podia aguentar. Enterrá-lo foi cruel o suficiente pra mim. Não consigo sentir tanta dor mais. Se agachou na minha frente, sempre me olhando no fundo dos olhos.

— Do que tem medo, minha menina? — Perguntou num tom tanto rude e, ao mesmo tempo, fascinado. Levantou a mão direita suavemente, passando-a pelos botões da minha jaqueta e parando no meu pescoço. Fez um carinho na região, sem apertar minha pele, e subiu seus olhos, me encarando profundamente. — Tem medo de mim?

— Estou ficando louca. — Movi os lábios, sem conseguir pronunciar as palavras de fato.

Ele continuava agachado em minha frente, não me deixando focar em outra coisa senão seus olhos brilhantes.

— Sonhar comigo não te faz louca. Você está se fazendo louca, Ell. Só você quem não vê isso.

— Quem é você? — Eu sussurrei, ainda sentindo sua mão fazer um carinho em meu pescoço.

— Não acredito que você não me reconheça. — Falou num tom curioso e brincalhão, com um charme no sorriso ladino.

— Como? Você só pode estar de brincadeira comigo. Não é justo, não é justo. Não pode ser real. — Fechei os olhos com força, maneando a cabeça e desejando-o longe de mim.

— Olhe para mim. — Ordenou, com sua voz firme pela primeira vez. — Vamos, olhe! — Ele subiu a mão do meu pescoço para meu rosto, onde sua mão grande segurou a minha bochecha e se apoiou no meu queixo, me forçando a encará-lo.

Encarei aquele maldito rosto, segurando outras lágrimas nos olhos. Eu o queria morto. Eu o queria longe. Ao mesmo tempo, o queria perto, o queria na minha cama, o queria me acompanhando nas madrugadas solitárias e me fazendo sorrir mesmo quando tudo era cinza. Não sabia medir a dor da saudade e do ódio que eu sentia por ele.

— Mark... — Choraminguei. — Eu não mereço sofrer assim...

— Eu não posso controlar seus sentimentos. Só você. — Passou o dedo, que antes estava em meu queixo, levemente pelo contorno dos meus lábios. — Sinto sua falta. E não gosto de te ver chorar. Mas você tem que me deixar ir.

— Te deixar ir? — Levantei o tom de voz. — É você quem não me deixa quieta! — Eu bati em sua mão, tirando-a de meu rosto, me levantando daquela cadeira e andando para longe dele. — Eu estava saindo de casa aquela noite. Ia me encontrar com Paola para comermos alguma coisa. Te mandei mensagem perguntando se você queria vir... você não respondeu.

— Ell...

— Eu achei que você estava com Yugyeom ou com o Jae, mas liguei para eles para ver se eles queriam nos encontrar na lanchonete... adivinha? — Me virei novamente, encarando seus olhos. — Ninguém atendeu.

— Você não entende, Ell, não entende.

— Pare de dizer que não entendo! — Gritei dessa vez. — Então liguei para sua mãe, e ela estava no trânsito desesperada, dizendo que um carro havia batido contra o seu e você estava em uma ambulância, a caminho do hospital. Eu peguei as chaves e fui correndo, louca, desesperada pra te ver. E quando cheguei lá... — Meus olhos se encheram de água outra vez, mas prossegui. — Quando cheguei lá, Jaebum estava com o braço enfaixado e disse que um carro furou o sinal e bateu contra o de vocês. Você estava na sala de cirurgia, com o mínimo de chances possíveis de viver. Tem noção do que eu passei naquela sala de espera?

Foi a vez dele de não me encarar. Ele abaixou a cabeça e colocou as mãos no bolso da calça. Trajava a mesma roupa de quando eu o vi pela última vez.

— Mas vocês também estavam correndo com aquele carro, não era? — Eu continuei. — Estavam fugindo de alguém. — Ele molhou os lábios, e ainda de cabeça baixa, concordou. — Mark, quantas vezes eu pedi para você parar de lutar? Quantas vezes você me prometeu que não entraria nunca mais naquelas merdas de ringues que são contra qualquer regra humana e eu acreditei? Quantas vezes você mentiu pra mim, Mark?

— Eu não queria mentir. Mas eu...

— Você amava lutar, eu sei. — Me aproximei. — E eu podia viver com isso, se você ao menos procurasse lutas justas! Se envolver com contrabando, Mark, sério? Apostas ilegais? — Continuei o encarando com raiva, e ele não sustentava meu olhar. — Te pedi... te implorei pra ficar comigo. Te implorei pra parar com essas lutas. Mas você amou mais as lutas do que qualquer palavra minha. E não é que foi bem isso o que te matou, hum? Fugindo da polícia às dez da noite e batendo naquele outro carro?

— Eu não te quero mal. — Voltou a me encarar. — Só quero que saiba que eu te amo. Se pudesse, eu ficaria, você sabe que eu ficaria. — Engoliu seco, suspirando fundo. — Mas eu não posso.

— Tem noção da raiva que eu tenho de você? Tem noção do grito que eu não gritei, da dor que eu não chorei, pelo simples fato de não conseguir aceitar que você morreu? Se você tivesse me escutado... meu Deus... se você tivesse me escutado...

— Mas eu não escutei. — Ele levantou o queixo, convicto do que dizia. — Quer que eu faça o que? Morra novamente? Não posso me redimir morrendo duas vezes. — Disse, se aproximando de mim.

— É isso o que você quer? Perdão? — Olhei para ele com o peito doendo em chamas.

— Sim. — Concordou, sem parar de se aproximar. — Mas não pra mim.

O encarei confusa. Tinha muito ódio aqui dentro, eu não conseguia pensar direito. Nem sequer podia. Ele não me deixava pensar. O amava demais, o odiava demais para aceitar aquela situação.

— Quando o médico saiu da sala de cirurgia e disse que meu estado era muito crítico, o que você fez, Eleonor?

— Eu não vou relembrar isso. — Engoli seco. Me negava a reviver toda aquela noite.

— Eu pedi para que você entrasse na sala, não pedi? Pedi para você ir me ver. Só quis você naquela sala. Não minha mãe, não Yugyeom ou Jaebum... quis você. — Me olhou com dor. — Eu estava com um tubo, daqui até aqui... — Mostrou o local, apontando da sua boca até o meio do seu estômago. — Cortes nas mãos e um pulmão perfurado. Eu não ia conseguir falar nada, e nem precisava. Só queria te ver. — Sussurrou a última parte. — Eu só precisava te ver. Me diz agora, Ell, o que você fez?

— Eu... — Ele estava muito perto, a respiração batendo no meu rosto. — Eu não fui te ver.

— Você não foi me ver. — Concordou duramente, colocando as duas mãos no meu rosto, secando as lágrimas que caíam. — Agora me diz, amor, o que te dói? Eu ter mentido, ou você não ter me dito um último adeus, hm?

— Não posso falar. Você tem que ir, Mark, eu não posso. — Ia desabar em um choro novamente, mas ele beijou minha testa.

— Quero que você diga. Vamos. — Me encarou, mantendo a voz calma e tranquila, somente para nós dois.

— Me dói você ter morrido... e eu não ter dito... — A garganta doeu, não pude terminar a frase. Mark também chorava. Bem menos do que eu, mas eu via seus olhos marejados. Ele me puxou com calma em direção ao seu peito, fazendo um carinho nas minhas costas.

— Eu precisava que você me dissesse isso. — Sussurrou no meu ouvido, me mantendo próxima a ele. — Você precisa me deixar ir, Ell. Precisa aceitar que eu fui embora, não há jeito de fugir dos seus sonhos se não me deixar ir. O luto tem fases... — Ele cruzou sua mão com a minha, voltando a acariciar o local machucado no meu pulso. — Você precisa entender que o que passou, passou. Não te quero remoendo o que você fez ou não fez por mim, você fez demais. Cuidou dos meus machucados quando eu me lascava em uma briga, me ajudou a dormir mesmo quando eu tinha crises de ansiedade. Cruzou a cidade de madrugada só pra me ver, com a desculpa de que esqueceu o casaco na minha casa. — Eu sorri dessa parte. — Me beijou quando eu pensei que não valia nada, e não me deixou quando eu te pedi pra ir embora.

— Por que está dizendo tudo isso? — Levantei os olhos de seu peito, encarando-o.

— Quero que você se perdoe, lembrando de tudo de bom que fez por mim. Quero que você nunca se esqueça de como me fez ser melhor. Quero que você continue me amando, mas me deixe ir embora. Quero que você seja feliz, e pare de se culpar.

— Te quero de volta. É isso que eu quero. — Fechei os olhos, sentindo ele enxugar uma lágrima minha com um beijo na pálpebra do meu olho. — Te preciso aqui, comigo...

— Vou continuar contigo. — Fez um carinho na minha bochecha. — Não vai se esquecer do que conversamos aqui? — Neguei com a cabeça, prometendo em silêncio. — Fico feliz.

— Me desculpe. — Sussurrei, abaixando a cabeça. — Me desculpe.

— Ell?

— Sim?

— Eu amo você. Não precisa me pedir desculpas, está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

— Eu sei. — Sorri. — Eu sei...

Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Seu dedo continuava fazendo um carinho no meu queixo, e eu me aproximei do seu rosto. Entretanto, mesmo com o brilho constante em seus olhos, ele apenas sorriu.

— Eu amaria beijá-la agora, Ell. — Estranhei sua fala. — Mas já é hora de acordar.

~◇~

— Eleonor! — Senti uma mão sacudindo meu ombro.

— Paola? — Cocei os olhos, abrindo a boca em um bocejo e sentindo o pescoço doer pelo cochilo de mal jeito.

— Você está bem? — Ela perguntou em um tom baixo, visivelmente preocupada. — Você está chorando, Ell... sonhou outra vez?

— Sonhar? Não eu... — Parei de falar no exato momento que olhei para meu pulso. Não estava ferido.

Então, com um aperto no peito, comecei a me lembrar de tudo o que tinha acabado de sonhar.

— O sinal do intervalo já tocou, vamos. Eu te levo ao banheiro, seu rímel está todo borrado. Eu trouxe demaquilante.

Enquanto ela dizia, eu comecei a me despertar do choque. Havia dormido no meio da aula de história. Mark não passara de um sonho. Entretanto, mesmo assustada, eu me sentia bem. Mark me fazia bem. Era como ter me libertado de um peso enorme, como se eu fosse um leão preso em uma jaula por tempos, e finalmente estava livre. Finalmente. Eu estava bem, e não segurei o sorriso na cara para nada. Enxuguei o rosto úmido na manga da blusa e me levantei da cadeira.

— Deixa só eu fechar meu caderno, pode ir na frente. — Ela negou, parando na porta e me esperando ali mesmo. Eu sorri, maneando a cabeça.

Assim que fechei o caderno, percebi um post-it pregado na capa. Estranhamente, o post-it era preto e o que estava nele havia sido escrito com um giz rosa, naquela mesma caligrafia de antes.

"Não se esqueças de mim, que sou real. Te vejo essa noite, amor. Durma por nós dois, sim?"

~Tuan.


Notas Finais


Cada um de nós tem sua própria redenção. Eleonor teve a dela, se for teu caso, se perdoe. Somos humanos demais para morrer só por culpa.


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