História Italian Boy - Solangelo (hiatus) - Raio de Sol

Will

As vezes Will se esquecia da mãe.

As vezes era fácil fingir que ela nunca existiu.

As vezes era fácil dizer para ele mesmo que ela nunca o abandonou.

Era tudo mais fácil, às vezes.

Em domingos ensolarados como aquele, Will se lembrava da mãe. Dos piqueniques no Central Park e os almoços em família.

Com Kayla fazendo sua torta vegana.

A mãe cantado.

O pai cozinhando.

E Will ao redor disso tudo.

Estava sol, e o sol brilhava como Noami Solace sempre brilhava, até ela decidir que o "Sol" de seu nome não pertencia mais a ela.

Will tenta não se lembrar muito do ano retrasado quando ela abandonou todos. Will apenas se lembra de uma carta.

Querido Liam,

Primeiro ano do ensino médio? As vezes esqueço que você não é mais uma criança, uma criança que pegava os livros de medicina do seu pai e falava "Um dia eu vou ser isso" e apontava para a palavra "médico". 

Você está tão crescido, os cabelos cada vez mais rebeldes, olhos azuis como o oceano da minha querida Califórnia e a pele estranhamemte bronzeada(um Nova Iorquino bronzeado?).

Me lembra o seu pai, quando eu o conheci, alto e de uma beleza exótica para um Nova-Iorquino. 

Queria poder saber se você irá ficar como ele quando estiver adulto e talvez sendo um médico, se terá a mesma expressão que ele faz quando estar cansado e se terá o mesmo jeito se ajudar as pessoas e nunca desistir.

Mas não estarei ao seu lado para ver isso, não me culpe e nem me julgue e se fizer isso não ficarei irritada pois você tem razão.

Me apaixonei muito cedo, engravidei muito cedo também. Não pude ir atrás da minha paixão: a música.

E eu tenho a oportunidade mas não posso arrastar seu para pai e vocês, Kay e Liam, para a Argentina.

Você tem seus amigos e o seu sonho de entrar para a Columbia.

Kayla é apaixonada pela a faculdade que logo entrará em Washington.

E seu pai? Ele é perdidamente apaixonado pelo trabalho.

Não posso fazer isso com vocês. Eu seguirei minha vida, e saiba que nunca me arrependi de nada, de ter tido você e sua irmã. Meus pequenos raios de sóis, e nunca me arrependi de ter me apaixonado pelo seu pai(ele é minha alma gêmea, sei disso).

Não tente me preocurar ou responder está carta.

Eu amo você meu raio de sol, meu William, meu Liam, meu Will e meu filho.

Com amor,

Mamãe.

Will lê essa carta quando a saudade bate, quando tudo não suporta os "as vezes".

— Está lendo? — Kayla está encostada no batente da porta, com os cabelos roxos.

Uma cicatriz que a mãe deles deixou, desde que Noami se foi Kayla não para de tingir as pontas do cabelo com diferentes cores.

— Gostei de roxo. — Ele sorriu e deixou a carta ao lado da cama na mesinha de madeira.

— Obrigada. — Ela se sentou na cama e olhou para a carta. — Já li tantas vezes a minha que já decorei.

— Papai, queimou a dele.

— Eu vi.

— Por quê ele fez isso?

— Porquê dói, Will. Não dói em você?

— As vezes.

— Não sente saudade dela?

— As vezes.

— Você se lembra dela todos os dias?

— As vezes.

— Me responda direito, Liam.

Foi tudo o que Kayla disse mas Will chorou como nunca tinha chorado desde que a mãe partiu para a Argentina.

— Estava na casa de Piper, só isso, que saco!

— Me responda direito, Liam!

Will sentiu que tinha nove anos de novo.

— Desculpe... — Eram tão automático que Kayla nem percebeu o que fez até o irmão chorar.

— Eu te odeio.

— Eu sei.

— Por quê você teve que ir embora?! Não poderia ter desaparecido assim que eu nasci? Assim não teria lembranças e nem esperanças. E...

Kayla abraçou o irmão. Eram assim que ela fazia o loiro falar tudo o que nunca falaria para ninguém.

— E-eu só... — As palavras estavam atropelando diante aos soluços.

— Shh, não precisa dizer nada.

Kayla abraçou o irmão e deixou ele chorar tudo o que podia, adormeceu.

Ele adormeceu demais de cansar de chorar, cansar de tudo o que a mãe causou.

Kayla se culpou naquele momento por não poder fazer nada.

— O que aconteceu querido? — A voz de Noami se fez presente na sala de estar em que Will estava.

— Quero a vovó de volta. — Ele chorou.

Tinha nove anos, dentes da frente faltavam e seu linguajar ainda era enrolado.

— Liam, eu também quero, quero muito a vovó aqui comigo. — Noami abraçou o menino.

Abraçados ali no sofá, ouvindo a chuva cair e o fogo crepitar, a mãe de Will começou a cantarolar.

— The other night dear, as I lay sleeping.

(Em outra noite querido, eu enquanto eu dormia)

— I dreamed I held you in my arms.

(Sonhei que tinha você em meus braços)

— So I hung my head and I cried.

(Então eu abaixei minha cabeça e chorei)

— You are my sunshine, my only sunshine.

(Você é meu raio de sol, meu único raio de sol)

— You make me happy when skies are gray.

(Você me faz feliz quando o céu está cinza)

— You I'll never know dear, how much I love you.

(Você nunca vai saber querido, o quanto eu te amo)

— Please don't take my sunshine away.

(Por favor não tire meu raio de sol)

Will acordou com o irmã cantando a mesma música do seu sonho e a acompanhou.

— I'II always love you and make you happy.

(Sempre vou te amar e te fazer feliz)

— But if you leave me and love another.

(Mas se você me deixar e amar outra pessoa)

— You are my sunshine, my only sunshine.

(Você é meu raio de sol, meu único raio de sol)

— Eu te amo, Liam. — Kayla disse com a voz abafada por estar beijando os cabelos do irmão.

— Eu te amo, Kay.

E todos os presentes de natal, os sorrisos, abraços, carinhos, noites de acampamento na sala de estar e os "eu te amo" nunca mais fizeram sentido. Apenas deixaram uma cicatriz naqueles raios de sóis.

"So you come back and make me happy, I'II forgive you dear, I'II take all the blame."

(Então se você volta e me fizer feliz, eu vou te perdoar querida, e vou assumir toda a culpa.)