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História Jack - Um único e pequeno capítulo, sobre um único e pequeno homem


Escrita por: CaioHSF

Capítulo 1 - Um único e pequeno capítulo, sobre um único e pequeno homem


Fanfic / Fanfiction Jack - Um único e pequeno capítulo, sobre um único e pequeno homem

Este é Jack. Sim, só Jack. Sem sobrenome, pois isso é a marca da família, e sua família o rejeitou há muito tempo.

Todo dia ele acorda com o cheiro da fumaça dos carros e dos pneus queimando no asfalto na manhã de sol quente, se ajeita, sentado sobre papelão e qualquer outra coisa que você chama de lixo, e acaricia seu cão, não seu, só um cão. Um simples animal, rejeitado e abandonado, menos que humano, sem inteligência, que não quer trabalhar, que só vive revirando lixo por ai e vagando pelas ruas, provavelmente assaltará alguém, ou talvez se drogará até a morte com o pouco de dinheiro recebido das poucas pessoas que seguem Jesus, mesmo que não acreditem nele, diferente dos que acreditam mas gananciam o dinheiro.

Suas roupas são velhas, muito velhas e sujas, mas estava tão acostumado com o cheiro quanto estava com a barba não cortada ou com o rosto sem sorrisos. Até os cães estavam acostumados.

Vai até uma sombra em uma árvore mais velha que tudo ao seu redor, crescendo alta e forte, mas sufocada por uma cidade que crescia tanto quanto ela.

Talvez ele vá pedir comida em uma pequena lanchonete, ali naquela esquina. Talvez recebe uma fatia de pão. Jack a dividirá com seu cão, e levará para seu irmão morador de rua, não muito distante. Se ele recebesse uma marmita, também dividiria com Jack, porque nas ruas todos são iguais, são humanos.

Ninguém nasce com dinheiro no bolso. Sequer nascemos com bolsos, mas alguns querem tê-los e enchê-los de dinheiro. Um pedaço de papel ou de metal, nada de mais, só a causa de todos os males do mundo. Querer ter mais, e depois ainda querer ter mais, ganhar o máximo possível e gastar o mínimo possível, mas nunca parar de receber, crescendo alto como uma torre, fina como uma moeda e tão frágil quanto o papel das notas de 100$, até que não possa mais crescer e desabe. Crise.

E Jack continua ali sentado, fingindo que não vê as pessoas que fingem não vê-lo, passando todos os dias com pressa, não de trabalhar, não de compromissos pessoais, mas com pressa de si mesmos, sem tempo para os outros. A terrível realidade da individualidade narcisista deste mundo.

Jack é pobre, mendigo, indigente, morador de rua. Ele é preto, negro, afrodescendente. Descendente de humanos trazidos a força em uma viagem fatal para trabalhar até a morte em uma terra distante, separados da família, da cultura, da história, meros objetos, menos que humanos, menos que animais, forçados a construir um império poderoso que nunca os reconheceu. Este é Jack, ele é brasileiro. Um país rico comandado por pessoas de interesses pessoais.

Pobre Jack, pobre Jack.

Não pobre por ser pobre, tem a riqueza da paz. Dura, sofrida, faminta, mas ainda paz. Talvez até mesmo uma liberdade que faz paródia da ilusão de riqueza do mundo.

Ignore Jack, passe reto. Não dê esmola, ele vai comprar drogas!

Não fale com ele, é perigoso!

Continue andando. Viva sua vida. Você ainda tem emprego, ainda tem pais que trabalham. Você pode ir para a escola, pode ir e falar mal dela. Você tem uma família que ainda te ama, sinta raiva deles. Ninguém te compreende, mas pelo menos deixam você falar. Reclame de seu prato cheio, jogue comida fora. Diga que está ruim. Chore pela sua vida, chore por brigar com as amizades que você tem a honra de ter, chore por um comentário negativo, chore por um ídolo, chore por uma fanfic, pelo menos você tem condições de estar aqui lendo isso.

Não veja Jack. Não sinta Jack. Nem pense nele. Não foi você que perdeu sua família (foi você que brigou por causa de amor), não foi você que perdeu o emprego (foi você que reclamou de ter que estudar em uma escola), não é você que passa fome (é você que come bolo no seu aniversário, que sai para jantar, que come com os amigos), não é você que é odiada por todos (é você que deve ter seus haters), não é você que mora na rua, é Jack.

E Jack morreu.

Eu não sinto sua falta, nem você. Só a rua se lembra do homem que passou fome, mas ainda alimentou seus filhos com as lágrimas de seu coração.



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