1. Spirit Fanfics >
  2. Janeiro - Anavitória >
  3. Janeiro de 2017

História Janeiro - Anavitória - Janeiro de 2017


Escrita por: passarinhando

Capítulo 7 - Janeiro de 2017


"Saudade" Era o assunto do e-mail enviado por Ninha há algumas horas atrás, bem quando eu caí no sono sem querer e nem vi a mensagem dela pedindo pra olhar o e-mail. "Tu sabe que eu sou péssima com datas..." Comecei a ler e já sorri. Juro que ouvi a voz dela enquanto lia.

"Mas eu sei muito bem que tá chegando nosso aniversário de 2 anos e eu inventei de te dar o presente antes com a desculpa que no dia a gente vai tá viajando porque tem show, mas a verdade é que eu quero deixar claro logo que eu não esqueci!" Contive o riso pra não gargalhar alto no meio aeroporto. Ajeitei a posição na cadeira enquanto esperava para o embarque, atenta ao resto do e-mail.

"Amo tu. s2" E embaixo vinha encaminhado uma troca de e-mails dela com uma tatuadora lá de São Paulo que a gente já estava de olho no trabalho, e aparentemente Ana Clara tinha fechado uma tatuagem pra nós duas e marcado pra logo quando eu chegava em São Paulo, já que ela já estaria lá.

Contive a vontade de ligar pra ela às 5 da manhã pra saber mais sobre aquilo. Entrei no instagram da tatuadora apenas pra confirmar que era a mesma que eu tinha achado por lá há meses antes e comentado com Ana que, se fizesse alguma tatuagem, seria naquele estilo. Quanto mais eu olhava, mais dúvida eu tinha sobre o que e onde tatuar.

Desde que tinha visto o e-mail ainda não tinha entendido bem porque Ana tinha enviado assim e não esperou pra falar pessoalmente. Não sei se foi pura ansiedade de me contar ou se foi ainda um vestígio da timidez na personalidade dela (talvez um pouco dos dois?), mas o bom é que me deu um tempo pra pensar no assunto. Vim o voo inteiro de volta pra São Paulo tendo 5 milhões de ideias diferentes e não me decidindo por nenhuma.

De cabelos presos e óculos escuros, consegui passar despercebida pelo aeroporto de Congonhas. Não era dia de show, as pessoas não tinham como adivinhar quando eu chegaria lá, e pra evitar o alvoroço Ana Clara não foi me buscar, então só peguei minha mala e um uber pra casa. Diante do vácuo de Ninha com as minhas mensagens avisando que eu estava chegando, assumi que ela estava dormindo, então abri a porta do apartamento e larguei minhas coisas devagar, tentando fazer menos barulho possível.

Encontrei a morena dormindo toda espalhada na cama entre os lençóis, e os cabelos completamente emaranhados cobrindo todo o rosto. Gastei alguns minutos fitando aquela cena, sem querer tirá-la do sono, até que me aproximei e me abaixei ao lado da cama.

Afastei o cabelo do seu rosto com cuidado e dei um beijinho na testa dela. Nada. Notei que em suas mãos tinha uma blusa minha. Não contive o sorriso e toquei em sua mão involuntariamente. A reação dela, ainda dormindo, foi segurar a minha mão junto dela, apoiando no próprio rosto. Tive que rir, e apesar de acabar com aquele momento fofo ser a última coisa que eu queria, tive que fazer isso porque minha mão já tava ficando dormente.

"Ana..." Chamei, baixinho, e dei um beijo na bochecha dela. "Ninha." Chamei de novo, encostei meu nariz no dela e movimentei minha mão, fazendo com que a dela se abrisse. "Bom dia, coisa linda" Ela se espreguiçou lentamente e sorriu antes mesmo de abrir os olhos. Quando o fez, meu rosto estava muito próximo ao dela, que colou os lábios aos meus em um selinho demorado.

"Aaaahh nemm, que saudade!" Ela falou, entrelaçou os braços no meu pescoço e me puxou pra cima dela. Prestes a cair, apoiei os braços pelas laterais do corpo dela e rolei por cima para o outro lado da cama, ainda com Ana Clara em meu pescoço. "Bom dia, prin!" Ela abriu um sorriso pra mim, ainda deitada do meu lado.

"Bom dia, preguicinha" Toquei a ponta do nariz dela com o dedo indicador e ela franziu o rosto. "Ei, adorei o presente!" Lembrei de falar, e ela fez uma expressão de feliz. "O que a gente vai tatuar?"

"Tu lembra o 25/01?" É claro que eu lembrava. Fiz que sim com a cabeça e ela com o dedo fez que escrevia as palavras que usamos uma na outra aquele dia. Todas elas remetiam exclusivamente ao nosso relacionamento, e mesmo assim ficamos lembrando de cada uma, arquitetando como seria e o que responderíamos sobre o motivo de ter tatuado.

"Tolerância." Lembrei. Ela me lançou um olhar de "é isso!" e eu sorri instantaneamente. A gente já tinha conversado sobre a força e a importância daquela palavra, e além de ser algo nosso era uma mensagem que poderíamos - e deveríamos - transmitir para as pessoas. Enquanto minha cabeça formulava zilhões de pensamentos por segundo, não consegui externalizar nenhum deles diante daquela mulher linda me encarando.

"Que foi?" Ela perguntou e eu esbocei um sorriso.

"Tu." Respondi, com um risinho, e ela arqueou a sobrancelha. "É que eu amo tanto..." Ela abriu um sorriso enorme e segurou meu rosto com as duas mãos, me enchendo de beijinhos e selinhos e me fazendo rir. Acabamos nos demorando ali na cama bem mais que o necessário. Só levantamos porque Ana Clara não parou de reclamar de fome e iríamos acabar nos atrasando com a tatuadora.

(...)

"Ninha, vou fazer uma tattoo pra painho." Falei, entre uma garfada e outra no nosso almoço.

"É?" Ela respondeu. "Acho lindo, Vi."

"Uhum", concordei. "Bem aqui", apontei com a mão. "É onde o coração bate mais forte. Tatinha que me mostrou".

"ictus cordis" Ninha sorriu, sabendo o quanto eu admirava quando ela demonstrava aqueles conhecimentos adquiridos da antiga paixão por medicina.

"Vou pedir pra mamãe escrever com a letra dela e mandar foto. É um jeito de guardar os dois." Expliquei e ela concordou com a cabeça. Só depois me dei conta de que usar a caligrafia da mãe tinha sido ideia da própria Ana em sua primeira tatuagem e fiquei pensando no tanto que ela tinha me influenciado, mesmo ela insistindo que era totalmente o contrário.

Eram dois anos de duo e de amor sem reticências, mas de vida era muito mais. Era a vida todinha. Ninha e eu nunca fizemos juras de um amor eterno, e mesmo que a tatuagem parecesse que era isso, na verdade nem era. A verdade é que nem o conceito de eternidade nos era suficiente, não cabia. Ter um pedacinho dela gravado em minha pele só expressava tudo isso. E ainda era pouco. Eu queria algo que só a gente enxergasse uma na outra.

"Ana!" Chamei a atenção dela do celular. "A gente tinha que fazer uma tatuagem transparente"

"Vi, desse jeito tua mãe vai até brigar comigo, te levei pra fazer uma tatuagem e tu quer sair de lá toda rabiscada!" Ela falou, rindo, e eu ri também.

"É pra ter algo que só a gente saiba. Tipo um desenho com um traço fininho em tinta branca, nem vai aparecer" expliquei, gesticulando e mostrando como ficaria no braço. "E tolerância por cima."

"Um ninho em tu e um passarinho em mim." Não sei como eu consegui me contar quando ela falou aquilo, a minha vontade era encher de beijo bem ali no meio do restaurante. Não sei nem como é possível ela me ler e me completar de uma forma tão plena.

"Ai minha plixejinha é a coisa mais linda desse mundo" Falei, fazendo-a rir como a voz de bebê e acariciando com a ponta dos dedos a região que mais tarde teria a nossa tatuagem. Beijei as mãos dela com carinho e decidi ligar pra minha mãe pra contar que eu tinha escolhido duas tatuagens - a parte do nosso segredo eu deixei de fora, é claro - e precisava da caligrafia dela. Logo depois fomos direto pro estúdio da tatuadora.

(...)

"Ana Clara, tu não me invente de fazer outra tatuagem porque dói pra caralho" Falei, mal-humorada enquanto ela ria, no caminho de volta pra casa.

"Amor, foi tu que quis fazer!" Ela debochou, ainda rindo.

"Tu disse que nem doía!" Reclamei, fazendo bico, e ela apertou minha boca. "Essa vai ser a maior prova de amor que tu vai ter de mim, viu?"

"Não preciso de provas não, mozão. Só o seu amor me basta" Ela sussurrou bem no pé do meu ouvido e tudo se esvaiu de mim. Me derreti inteira.

"Espera só a gente chegar em casa..." respondi no mesmo tom. "Ainda tem o meu presente pra tu!"

"Presente? Que presente?" A mulher mais distraída do Brasil fez uma cara de desentendida.

"Do nosso aniversário, Naclara!" Os olhinhos dela transbordaram curiosidade. "Eu ia guardar pro dia certo, mas é bom que a gente já pode ir usando"

"Como assim? Tá lá em casa? E eu nem vi?" Ela soou indignada.

"É pequeno e tá bem guardado." Dei de ombros. "Tem um dedinho de Julia"

"Oxe, como que é pequeno assim?" Sabia que ela ia achar que era uma roupa! Gargalhei e ela fechou a cara.

"Assim que a gente chegar em casa tu vai ver, linda." Dei um beijo na testa dela, ajeitando uma mecha do cabelo dela na orelha. "Tu nem lembrava que tinha que ganhar presente!"

"Mas agora eu quero logo, oxe!" Ela bufou e eu ri, achando fofo. "Se era pequeno tu podia ter trago pra me dar logo!"

"E não poder te agarrar logo depois que tu ver o que é?" Provoquei baixinho. "Não mesmo"

"Vou ligar pra Julia!" Ela reagiu num salto como se fosse uma ideia brilhante.

"Ela nem sabe, Ninha" a Julia tinha comentado comigo sobre isso há bastante tempo atrás, mas eu acabei nem contando pra ela que tinha decidido comprar. Ela fechou a cara, emburrada, e eu ri mas mudei de assunto, distraindo-a.

(...)

Ana entrou em casa correndo, igual criança, e eu fiquei rindo, assistindo a cena do batente da porta. Ela vasculhou tudo que podia e não podia, resmungando, mas tão entretida em sua busca que nem se incomodou com a minha risada nem me perguntou nada.

"Ai, Vi!" Ela resmungou, emburrada, e cruzou os braços parada em pé no meio da sala. "Para de me torturar!"

"Oxe!" Me apressei em chegar perto dela. "Mas eu nem fiz nada ainda" mordi o lábio e notei que ela se esforçou pra manter a pose de brava. "Não fica assim não, vem cá" peguei nos braços dela pra descruzar, ela cedeu mas manteve a cara amarrada.

Colei meu corpo ao dela segurando em seu rosto e fazendo bico pra beijá-la, na tentativa de fazê-la rir. Ela não resistiu e riu, contida. Eu entrelacei uma das minhas pernas em volta dela e a beijei, sentindo o coração dela junto ao meu, ambos descompassados incrivelmente no mesmo compasso.

Direcionei as mãos dela por minha cintura e, propositalmente, por minhas coxas. Arrepiei com a pegada e soltei uma risada fraca. Ela mordeu o meu queixo de maneira provocativa até que se deu conta que tinha alguma coisa no meu bolso. Eu não resisti e comecei a rir. Antes que eu pudesse me recompor, ela tirou a caixinha da minha calça.

"Não acredito que estava com você esse tempo todo!" Ela expressou um misto de surpresa e realização por ter encontrado o que queria, segurando por alto igual um troféu.

"Não vai abrir?" Perguntei, e ela pegou com as duas mãos e encarou por alguns segundos a caixinha retangular. Como se tentasse adivinhar o que é, ela fitava a caixa com o olhar mais ingênuo e curioso que eu já vi. Resolvi ajudar mas mantendo o suspense, abri a caixa lentamente, de frente pra ela.

Assim que ela percebeu o que era, os olhinhos cintilaram e o olhar alternou de mim para os anéis. Eu só sorria e a fitava, nervosa, analisando e tentando decifrar cada uma de suas expressões. 

"Gostou?" Perguntei, sussurrando, e ela ensaiou abrir a boca pra dizer algo várias vezes, mas não saiu nada. "O anel chama Julia. É personalizado, feito a mão por uma amiga da Ju, em homenagem a ela." Expliquei. "Não é um anel de compromisso nem nada. É só pra te lembrar que tu é única, especial e linda que nem ele."

"Vi..." Ela começou, mas seus olhos começaram a marejar. "Eu..." A voz embargada. Ela deu uma risada fraca e limpou a primeira lágrima com as costas das mãos.

"Ohh minha plinceja!" Segurei o rosto dela com as duas mãos e a abriguei em meus braços. "Não chora, meu amor!" Falei em seu ouvido. "Não quero te fazer chorar, eu vou chorar junto!" Fiz um biquinho e a soltei do abraço pra poder olhá-la nos olhos, ainda segurando seu rosto.

"Vi..." Ela fungou, sorrindo. Até pra chorar Ana Clara era tímida. As lágrimas eram naturalmente contidas, como se pudesse demonstrar que nem tava chorando. "É a coisa mais linda que alguém já fez por mim." Ela falou, segurando a caixinha e admirando os anéis.

Eu peguei o de pedrinha azul e fiz que ia encaixar no dedo dela, que rapidamente me estendeu a mão. Logo depois ela pegou o outro, de pedrinha rosa, e fez o mesmo comigo, beijando carinhosamente o meu dedo logo em seguida. Eu fiz um "awn" e segurei o rosto dela pra dar um beijo na testa.

"Obrigada." Ela disse, com a voz ainda vacilando por causa do choro.

"Não tem que me agradecer." A beijei. "E tu que é a coisa mais linda que já fizeram por mim." Ela riu e apertou minhas bochechas, fazendo um biquinho e me beijando em seguida. "Tu é paz, tu é luz, tu é mar" Cantei no ouvido dela. "É encaixe..."

"Eu te amo" Ela disse, abrindo o maior sorriso do mundo e me abraçando apertado, desses abraços que parece que não vai soltar nunca.

"Eu que te amo, meu amor" Respondi. "Feliz vida pra nós. Por esses anos e por todos que vão vir." Ela concordou com a cabeça e ficou na ponta dos pés pra me beijar.

Sorrindo entre o beijo, eu a tirei do chão e fui a conduzindo para o quarto, nos ocupando apenas em demonstrar que não havia onde começa uma e termina a outra. E já tínhamos feito aquilo de todas as maneiras possíveis: marcado na pele, em objetos, na vida, no corpo e na alma. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...