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História Jardim de Papel (taekook) - Especial - O quê era Antes para se tornar Depois


Escrita por: Nyx-in07

Notas do Autor


Olá, Oi!

Escrevi isso para conhecer e me aproximar melhor dos meus personagens e seus passados. Decidi compartilhar porque algumas coisas serão importantes para o desenrolar da história. Sinto muito se a escrita não estiver tão boa. Eu foquei mais na direção dos acontecimentos do que nos detalhes estéticos.

São pequenos contos de acontecimentos marcantes na vida de alguns dos personagens principais. Espero que gostem.

Sinto muito pela demora do capítulo 10. Ainda estou trabalhando nele e peço só um pouquinho mais de paciência. Pretendo postá-lo ainda essa semana!

Boa leitura!

Capítulo 10 - Especial - O quê era Antes para se tornar Depois


 

 

Seokjin

Jin sentia o frio da fita métrica em contato com a pele de sua cintura enquanto se encarava no espelho. Cabelo preto sedoso e brilhante como um espelho, lavado com o melhor shampoo que o dinheiro poderia comprar, caindo em mechas perfeitas sobre sua testa. Pele impecável e sem nenhuma mancha mesmo ele tendo apenas 19 anos, tratada com produtos clareadores que a deixavam meio pálida demais.

 Sua mãe gastava praticamente o salário inteiro em cremes e tratamentos estéticos para seu único filho. Ela dizia com frequência que Jin havia tido a dádiva de nascer com um rosto angelical de tão belo, cinzelado pela glória celeste em cada curva bem feita. O tipo de beleza que poderia ser usada e aproveitada para fins muito maiores que apenas admiração. 

– Diminuiu bastante, mas não o suficiente. – disse sua mãe, Ko Hyorin, desfazendo o laço da fita métrica ao redor da cintura do filho. – Coma uma salada verde agora e mais nada até amanhã. 

Jin suspirou. Ainda eram dez da manhã. 

– Sim, mamãe. 

A ômega acariciou levemente a pele da bochecha dele, como se temesse tocar algo tão frágil quanto porcelana e deixasse a marca defeituosa de suas digitais. 

É claro. Ela havia investido naquele rosto todo dinheiro que conseguira, e cuidava-o como seu bem mais precioso. 

– Você está se saindo bem, querido. Logo muitas agências vão fazer fila para tê-lo e nós mudaremos de vida. 

Ele entendia. Sua mãe havia apostado todas as fichas nele. Um filho ômega tão bonito era uma chance de crescer. Torná-lo valioso, digno de atenção, era o objetivo da vida de Hyorin.

Quando a mãe saiu, Seokjin permaneceu em frente ao espelho. Não era vaidade que seus olhos transmitiam ao observar seu rosto, a pele sem um mero traço de rubor. Não era felicidade orgulhosa com que reparava em cada evidência de seu corpo magro. Muito magro. Quase nada de coxas, apenas leves ondulações nos quadris, os ossos da virilha, das costelas e clavícula começando a ficar em evidência. 

Ele não sabia o quê pensar. Era um corpo muito bem dentro do padrão ômega - talvez até demais - e sua mãe vivia dizendo que estava perfeito. Então, ele deveria achar bonito também, não é? 

Seu estômago roncou alto e se contorceu, mas ele não se incomodava mais. Era uma sensação corriqueira, como uma coceira na sobrancelha ou uma dor de barriga. 

Apenas uma salada verde. E nada mais. 

 

Jin mantinha seu rosto inexpressivo enquanto permanecia estático, vendo o avaliador passar por ele como uma serpente analisava o rato do qual se banquetearia. 

O rapaz à sua esquerda, um pouco menos magro porém menos bonito, tremia perceptivelmente. O da sua direita era alguns centímetros mais baixo, e Jin sabia que ele não passaria. Ele também deveria saber, pois estava à beira das lágrimas. O avaliador mal o olhava.

O homem parou em frente à Jin, encarando-o de cima a baixo. 

– Por Deus, você é magro demais! – exclamou. – Tão magro que eu consigo ver seu esqueleto! Não... Você com certeza não! Céus, vá comer alguma coisa, garoto... É cada um que me aparece...

Jin engoliu a bile que lhe subiu a garganta, seus olhos começando a doer de tão marejados. Mas ele os reprimiu até que a avaliação acabasse e ele saísse de mais uma agência com mais um não. 

Ele não entendia... O quê estava fazendo errado? Ele deixou de comer, cuidou de sua pele todos os dias, tomou vitaminas, nunca chegou perto de doces... 

Então porquê? 

As lágrimas vieram antes que ele pudesse sentir o ar seco e pesado da rua. Seu estômago embrulhou, mas não havia nada nele para que pudesse vomitar. Jin sentiu sua cabeça girar e se apoiou na parede, respirando com dificuldade. 

– Moço? Está tudo bem? 

Ele levantou a cabeça. Um rapaz maltrapilho e sujo, de cabeça abaixada, com um capuz preto que lhe escondia o rosto, estava parado diante dele.

Jin deu um passo para trás, assustado. 

– O-o quê você quer? Eu não tenho nada... – disse, com medo de que ele fosse um ladrão. Porém, ele não pareceu se importar com suas suposições. 

– O senhor não parece bem... 

A voz dele era tão doce e ele parecia ser gentil. Jin se perguntou o porquê de ele estar num estado tão deplorável. 

– Eu estou bem, eu só... – outra tontura. Sua cabeça doeu e ele enxergou pontinhos pretos piscando bem na sua frente. Aquele rapaz o segurou antes que ele caísse. 

– Minha nossa! Por favor, não desmaie! Quer que eu chame alguém?

– Não... – murmurou Jin, se equilibrando sobre os próprios pés novamente. – Eu já 'tô melhor. 

– O senhor é tão magrinho... Já comeu hoje? Deve ser por isso que está passando mau... 

Jin não teve coragem de dizer que não comia nada há dois dias. 

– Não pode ficar sem comer... Faz mal... – continuava ele. 

– Eu sei... É que eu estou tentando ser modelo.

– Ah! Então é isso... O senhor é muito bonito mesmo, vai conseguir fácil! Mas não pode ficar sem comer mesmo assim ou vai ficar doente. Sabe, existem umas dietas não tão perigosas que o moço pode tentar... É só pesquisar que o senhor acha...

Jin deu um sorriso envergonhado. Ele era mesmo muito gentil, embora Jin não pudesse ver o rosto dele, apenas uma parte da boca volumosa e um tanto rachada.  

– Obrigado pelo elogio. E eu estou mesmo com fome...

Ele tirou do bolso um saquinho de biscoitos marrons esfarelados, estendendo para Jin. 

– Ah, não! Eu não posso aceitar... – negou, balançando as mãos. 

– 'Tá tudo bem, o senhor precisa mais do que eu agora. – ele deu um sorriso pequeno, mas o bastante para que duas covinhas afundassem em suas bochechas, no canto dos lábios. Jin sorriu também, hipnotizado pelo desconhecido que era tão amável com alguém que ele mal conhecia, pegando o saquinho de biscoitos. 

– Qual é o seu... – Jin começou a perguntar, mas foi interrompido pela voz estridente de sua mãe. 

– Se afaste do meu filho!

O gentil desconhecido se assustou e correu antes que Jin pudesse fazer alguma coisa. Ele o observou desviar das pessoas e dos carros, sentindo algo dentro de si murchar. 

– Filho, ele machucou você?! – Hyorin checou o ômega em busca de algo que estivesse fora do lugar. Jin escondeu o saco de biscoitos atrás das costas. 

– Não, mamãe, está tudo bem. 

– E a seleção, como foi? – perguntou afobadamente, esquecendo-se do acontecimento anterior em um segundo. 

Jin engoliu em seco e desviou o olhar. 

– Disseram que eu era magro demais... 

Sua mãe bufou, desacreditada. 

– Eu não acredito! Como?! Você tem um corpo perfeito! Mas, se é assim, vamos ter que aumentar sua dieta, talvez uma academia... Sim, academia seria ótimo! Não se preocupe, querido, mamãe vai cuidar de tudo!

– O.k., mãe. – anuiu Jin, apertando os biscoitos com força, desviando o olhar para sua mãe não ver a tristeza dentro deles. Ela nunca via, de qualquer forma. 

 

Naquele dia, em seu quarto, escondido dos olhos afiados da mãe, Jin comia os biscoitos prazerosamente doces enquanto pensava no desconhecido que lhe dera um presente tão generoso. Jin queria ter sabido o nome dele, queria ter visto o rosto dele, mas tudo que levara do rapaz fora sua bondade. 

Anos depois, o gentil desconhecido era apenas um borrão perdido em suas lembranças. Jin esqueceu de como ele se parecia, mas nunca do que ele representara. 

✿✿✿

 

Namjoon

Quando a porta se abriu e sua mãe entrou, Namjoon já sabia o quê esperar. 

Ele abaixou o grosso volume de Cálculo II que pesava seus pulsos e vislumbrou a mulher que lhe deu à luz. O vestido de couro esmaltado era praticamente uma segunda pele, agarrado às coxas cor de oliva. As botas de salto foram arrancadas e jogadas na entrada e uma sacola com o quê ele imaginava ser o café da manhã foi posta sobre a mesa. 

Ele tentava, com todas as suas forças, ignorar as marcas. 

Mordidas, chupões avermelhados, quase roxos, onde bocas perversas haviam tocado, lambido e beijado. Sem nenhuma gentileza. Kim Moon-hee tentava alisar os cabelos desgrenhados com os dedos e abaixar um pouco a barra do vestido. Parecia tão cansada como sempre. E estava com aquele olhar conformado que Namjoon odiava ver no lindo rosto da ômega que era sua mãe. 

Um olhar que dizia que a noite havia sido difícil. E os clientes, piores. 

– Estudando já cedo, querido? – perguntou, a voz tão doce quanto a melodia de uma harpa. E esgotada. 

– Tenho uma prova amanhã. – informou. – E uma entrevista de emprego. 

Um sorriso contente ascendeu até as bochechas de Moon-hee. 

– Isso é ótimo, meu amor. Tenho certeza que vai conseguir. 

– O salário não é muito alto. – emendou Namjoon, com pesar. 

Mas sua mãe continuou sorrindo. 

– Não se preocupe com isso, apenas dê o seu melhor e concentre-se em aprender.

Namjoon abriu a boca para responder, mas as palavras morreram na ponta da língua assim que viu as marcas de dedos tão vermelhas que eram quase púrpura nos braços de sua mãe. 

– O quê é isso? – quis saber, sua voz tão séria que estremeceu Moon-hee. 

Ela olhou para onde Namjoon apontava, mesmo já sabendo do que se tratava. Suspirou. Não havia segredos entre eles. Mesmo que ela quisesse esconder toda a podridão de si mesma para seu filho, Namjoon era inteligente demais. Perceptivo demais, ainda que aparentasse estar em outro mundo, na verdade ele estava apenas discorrendo consigo mesmo. Seu melhor ouvinte. O único que conseguia realmente compreendê-lo. 

– O Sr. Gang veio cobrar a dívida. – foi o quê disse. 

Namjoon fechou as mãos em punho com tanta força que as unhas cravaram nas palmas.

– Ele não tinha esse direito. – sibilou. Moon-hee balançou a cabeça. 

– Ele tem todo o direito. Devo muito dinheiro a ele. 

– Você poderia devê-lo uma fortuna e ele ainda não teria direito de te machucar! – retrucou, jogando as mãos para cima. 

Moon-hee deu um sorriso triste e caminhou até o filho, segurando o rosto dele entre as mãos pequenas. Namjoon já era um homem bem mais alto e corpulento que si. No entanto, sempre via seu pequeno e mirrado filhotinho quando olhava para ele. 

– Meu filho, eu te amo tanto. Por favor, pense em você, e só em você. Você sabe que eu faço de tudo, passo por tudo isso, para conseguir bancar seus estudos. Não se preocupe comigo. – implorou, acariciando bem onde ficavam as covinhas tão adoráveis que apareciam quando ele sorria. Preciosas como o seu bebê que já era um homem. 

Como ela podia dizer isso?! Pensava Namjoon, indignado. Como ele não iria se preocupar com sua própria mãe, a mulher que dava a vida por ele. Que vendia o próprio corpo para pagar cursinhos e livros porque acreditava em sua inteligência e capacidade. 

Ele só queria que ela fosse feliz, mas estava claro que sua mãe estava bem longe disso. 

 

Às vezes, situações ruins nos levam a tomar decisões ainda piores. 

E era isso que Namjoon estava fazendo. Tomando uma atitude muito, muito ruim. Depois de ouvir sua mãe chorar a noite inteira, ele soube que precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa, ou enlouqueceria. 

Por isso, depois de sair da faculdade, ele vestiu um moletom com capuz e uma máscara preta que cobria sua boca e nariz e foi para onde ele sabia que encontraria o quê procurava. 

Gangnam, o bairro mais luxuoso de Seul, onde até os esgotos cheiravam à riqueza. 

Ele andava por onde o sol não tocava como um vampiro a procura de uma vítima. 

Até que viu. Um homem usando moletom e uma bermuda de treino correndo com fones de ouvido e um celular última geração na mão. Seria fácil e rápido e ele nem saberia o quê aconteceu até Namjoon já estar longe. 

Quando o homem passou centímetros de distância do poste onde Namjoon se escondia, bastou um movimento de seu corpo e um esticar rápido da mão para o celular dele estar em sua posse. 

Namjoon deu um passo antes de levar uma rasteira e cair certeiramente no chão. 

O homem, sua vítima, virou-o de barriga para cima com o pé, prendeu seus braços no chão e arrancou a máscara de seu rosto. 

Merda, foi tudo que a mente de Namjoon conseguiu processar. Merda, merda, merda...

Ele conseguia ver o rosto do homem mais nitidamente agora. Cabelo preto liso pingando suor na testa que escorria pelas têmporas e olhos redondos que brilhavam com chamas de indignação. Ele mostrava os dentes como um animal que havia sido provocado. 

Namjoon lhe deu um golpe com o joelho nas costelas. Ele arfou de dor e se distraiu o bastante para possibilitar a fuga de Namjoon, que se levantou e correu o mais rápido que suas longas pernas conseguiam. 

Só quando já estava cinco quadras longe, escondido num beco que fedia a lixo velho e urina, foi que percebeu que havia soltado o celular do desconhecido e deixado lá. 

Ele socou a parede e gritou de frustração.

Ao que parece, Namjoon era ruim até tomando decisões ruins.

 

Aquela empresa era tão grande que nem mesmo os olhos afiados de Namjoon conseguiam alcançar todos os detalhes. Tudo parecia brilhar como um prisma iluminado por um feixe de luz. Ele identificava notáveis obras de arte nas paredes, tapeçarias, capas de revistas famosas, o quê significava que o dono tinha gosto requintado, era rico e famoso. 

Ele esperava pacientemente sua vez para a entrevista, segurando uma pasta e tentando controlar sua perna que não parava de tremer. O cargo era de secretário e, como já tinha certa experiência na área, Namjoon estava confiante. 

Quando chamaram seu nome, ele caminhou com a confiança de um leão, ajeitando seu colete de lã sobre a camisa social e subindo os óculos na curva do nariz. 

Porém, a visão que teve foi pior que o seu mais terrível pesadelo. 

Ali, sentado como um imperador num trono rodeado de tesouros, o homem que faria sua entrevista. 

E, também, o desconhecido que tentara assaltar duas horas atrás. 

– Ora, ora. – ele ronronou, um sorriso surpreso despontando nos lábios. – Bem que dizem que o carma não perdoa. 

O universo definitivamente me odeia. Pensou Namjoon. Deus, pelo amor de Deus, me ajuda. 

Ele não foi capaz de proferir uma só palavra, porque estava claro que aquele homem havia reconhecido-o. Aquele olhar carregado de humor cruel de quem sabia que havia ganhado a guerra. 

Namjoon estava paralisado. Seus pés fincados no chão lustroso que refletia como um espelho d'água. 

– Sente-se. – pediu o homem. 

– Se vai mandar me prender, faça isso logo. – disparou Namjoon, a voz calma antagônica ao seu estado de espírito. 

Ele arqueou uma sobrancelha elegante e ridiculamente perfeita. 

Aquele homem estava bem diferente. O cabelo, antes escorrendo suor e grudando na nuca, agora estava arrumado num topete. As roupas de treino foram substituídas por um terno que pagaria pelo menos três meses do aluguel de Namjoon. 

– Já se entregando assim de cara? Eu esperava mais de você. – ele estalou a língua. – Vamos, sente-se. 

Droga. 

Namjoon afastou a cadeira em frente à mesa e sentou, afundando no estofado macio, tentando manter a postura ereta junto com o que restava de sua dignidade.  

– Me deixe ver o quê você tem aí. – ele apontou com o queixo para a pasta nas mãos de Namjoon. 

– Como é? 

– Esta é uma entrevista de emprego, não? 

Namjoon já não sabia mais o quê era aquilo, mas a possibilidade daquele homem estar jogando consigo e sua situação mais do que comprometedora fazia o sangue do alfa ferver. 

Ele estendeu a pasta lentamente, concentrando-se para manter a calma. 

O homem folheou o currículo de Namjoon, inexpressivo. Ao final, soltou um assobio de espanto. 

– Uau. Kim... Nam... Joon... – ele recitou seu nome, tirando os olhos das folhas e erguendo-os até o alfa. – Primeiro da turma na escola. Formou-se com honras. Escreveu um artigo inteiro para o jornal escolar quando tinha apenas 14 anos. Cursando contabilidade. Melhores notas, muito acima de seus colegas. Sabe, não me ocorre porque alguém tão inteligente poderia tomar uma decisão tão estúpida de querer roubar. 

Namjoon engoliu em seco. 

– Mas não é uma questão de querer, não é? – indagou ele retoricamente. – É uma necessidade. Aqui diz que você recebeu oportunidades de estudar em outros países, até bolsas, mas não aceitou nenhum. Por quê? Falta de dinheiro? 

Ele hesitou. 

– Também. 

– E o quê mais? – Namjoon ficou em silêncio. – Olha, eu só quero entender. 

– Por quê? 

Ele deu de ombros. 

– É no mínimo curioso. O melhor aluno da turma de contabilidade da Universidade de Seul roubando como um trombadinha qualquer de rua. 

– As coisas não são tão simples. – exclamou, um pouco de sua raiva interior refletindo nas palavras. 

– Imagino que não. – ele inclinou-se para frente. – Me diga porquê. 

Namjoon suspirou. 

– Quero dar uma vida melhor para minha mãe. 

– Me parece que está no caminho. Ou estava.  

– Nós temos muitos problemas. 

– Dívidas? – Namjoon hesitou, mas acabou concordando. 

– Dívidas que não podem esperar. – emendou. 

Ele pareceu pensar por um instante, analisando Namjoon com olhos atentos e reflexivos. 

– Olha, eu nunca fiz aquilo antes, eu juro. E não pretendo repetir a dose. Então, se prometer não me denunciar, eu vou embora e você nunca mais precisará me ver. – pediu Namjoon, um quê de desespero em sua voz. 

– Eu seria o aspirante a CEO mais burro da história se deixasse essa oportunidade escapar. – falou ele, mais para si mesmo do que para Namjoon, que piscou em surpresa.

– Como é que é? 

– Ouça com atenção, Kim Namjoon. – ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos. – Você me parece uma pessoa brilhante que pode trazer muitos benefícios para quem o tiver sob as asas. Mas está desesperado, eu entendo isso. Então, vou te oferecer uma oportunidade. 

– Q-que oportunidade? – gaguejou. 

– Venha trabalhar para mim. Vou conseguir para você um estágio na área de contabilidade da minha empresa e pagar mais que o salário normal para você quitar suas "dívidas que não podem esperar". E, se eu ver que você alcançou bons resultados, te contrato imediatamente após terminar sua faculdade. O quê me diz? Aceita? 

Existem situações na vida que são um divisor de águas. Tanto se você aproveitá-las ou deixá-las passar, isso te afetará de maneiras diferentes, mas terão o mesmo impacto monstruoso e contribuirão para seu futuro dependendo das suas escolhas. 

Naquele momento, Namjoon tomou a melhor decisão de toda a sua existência. 

– Eu aceito. 

O homem sorriu. 

– Vai ser ótimo trabalhar com você, Sr. Kim. Meu nome é Jeon Jeongguk. – ele estendeu a mão, que Namjoon não tardou em apertar. 

Talvez ele tivesse sorte tomando decisões ruins, afinal. 

✿✿✿

Seomin

Depois do segundo chute, Seomin sentiu o sangue subir arranhando como uma lâmina espinhenta e o cuspiu, manchando o asfalto de vermelho. 

– Isso é pra você lembrar quando quiser ser qualquer coisa além de lixo. Ralé de merda. – sibilou a garota, Kim Eunbin, ajeitando suas jaqueta de marca por cima do uniforme, rindo e se distanciando. Seu grupo de adoradoras a acompanhando nas risadas. 

Seomin sentou-se, tocando a barriga e grunhindo de ódio, engolindo o gosto ferroso do sangue em sua boca. 

– Seomin! – ouviu uma voz distante e familiar o chamando. Jihoon vinha correndo, segurando as alças da mochila e olhando-o preocupado. – Ai, merda, elas te machucaram muito? 

– O quê você acha, imbecil? – talvez ele não devesse descontar sua raiva na única pessoa que tinha naquela escola, mas a dor nublava seus pensamentos tanto que ele queria gritar. – Onde você 'tava?! 

– Banheiro. – ele disse com pesar. – Me desculpa, eu deveria saber que elas fariam algo assim. Vem, eu te ajudo. 

Jihoon o segurou pelas axilas e ergue-o com facilidade. Todos aqueles músculos de alfa serviam para alguma coisa, afinal. 

Quando estavam próximos, Seomin agarrou-o pela nuca e grudou seus lábios com força, enrolando a língua na dele para fazê-lo sentir o gosto do que havia sentido. O que tinha que aturar por namorar o irmão da garota que lhe detestava. 

O ódio gratuito de Eunbin provinha do puro e efervescente preconceito. Pois Seomin era pobre, filho da mulher que limpava, cozinhava e lavava as roupas deles desde que eram criancinhas birrentas.

A perseguição começou depois que Seomin conseguiu uma bolsa na escola mais cara da cidade e começou a tirar as melhores notas da turma. E só piorou depois que ele e Jihoon começaram a namorar. 

– Vou conversar com ela. – disse Jihoon depois que se separaram. Seomin deu um riso de escárnio. 

– Igual você conversou todas as outras vezes? Esquece, Ji. Ela nunca vai parar de me odiar. 

Ele suspirou. 

– Sinto muito. – Seomin deu de ombros. – Quer ir lá em casa? Eunbin vai sair com a mamãe. Teremos a casa só pra gente... 

Ele terminou com um sorriso malicioso. O ômega riu e segurou o rosto dele entre o polegar e o indicador. 

– Eu adoraria. Mas não posso. Tenho que ajudar minha mãe. Mas... Quem sabe, pelo celular? Tenho umas coisas interessantes pra te mostrar...

Jihoon riu, agarrando-o pela cintura. 

– Mal posso esperar. – eles deram um último beijo molhado e quente antes de Seomin ir, não deixando de lamber os dedos enquanto se distanciava, olhando para Jihoon. Ele gargalhou alto. 

Enquanto estava no ônibus, Seomin deu um sorriso lento e preguiçosamente bom. Um que raramente se encontrava em seus lábios. Gostava tanto de Jihoon que poderia estar apaixonado. Era feliz com ele e aguentaria qualquer surra da irmã dele se pudessem ficar juntos. 

 

– Festa, Jihoonie? – perguntou, apoiando o celular entre o ombro e a orelha, enquanto lavava a louça. – Tem certeza que é uma boa ideia? 

– Se o problema é Eunbin, relaxa que ela vai estar tão bêbada que nem vai te notar. – disse ele do outro lado da linha. – Por favor, quero te apresentar pros meus amigos. 

– Seus amigos riquinhos? – zombou. 

– Prometo que eles são legais. 

Seomin pensou por um momento. 

– 'Tá, mas se qualquer um vier implicar comigo, eu vou embora. – resmungou. – E isso inclui a maluca da sua irmã. 

Seomin ouviu a risada rouca e melodiosa de Jihoon e não percebeu quando sorriu também. 

– Tudo bem, Seominie, eu te espero aqui na frente. 

 

A enorme mansão onde Jihoon morava refletia luzes coloridas das janelas e um som alto e abafado de uma batida musical podia ser ouvido desde a esquina. Seomin fez uma careta. Festas de gente rica, principalmente adolescentes ricos, não lhe atraiam nem um pouco. Ele pretendia ficar até Jihoon apresentá-lo aos amigos e depois daria uma desculpa para ir embora. E, quem sabe, arrastando seu lindo namorado para longe daquela bagunça. 

O alfa já o esperava em frente ao portão, como havia dito. Ele soltou um assobio quando Seomin se aproximou. 

– Não posso tirar meus olhos de você hoje ou vão atacá-lo. 

– Não seja ridículo. Eu nem me arrumei. – e era verdade. Ele havia colocado um jeans preto básico e uma blusa com detalhes de strass, e apenas um cushion na pele do rosto. Não pretendia ficar muito, de qualquer forma. 

– Imagina quando se arrumar... – ele estendeu o braço para o ômega, que segurou-o com uma risada. 

Quando adentraram a casa, onde pessoas bem vestidas dançavam coladas umas às outras e garçons uniformizados carregavam bandejas com bebidas e aperitivos, Seomin roubou uma taça com uma bebida transparente de um garçom que ficava na entrada. 

Porém, assim que deu o primeiro gole na bebida, todas as luzes da festa se apagaram. As pessoas soltaram arquejos de surpresa e Seomin se virou na direção de Jihoon. 

– Será que acabou a... – começou, mas foi interrompido. 

– Boa noite a todos! – um holofote se acendeu em cima de um palco improvisado nos fundos da enorme sala que servia como pista de dança. Sobre ele, Kim Eunbin segurava um microfone e falava com um sorriso ardiloso. – Espero que estejam aproveitando a festa, porque está na hora da atração principal! 

Um projetor acendeu atrás de Eunbin, iluminando seu lindo e terrível rosto com uma luz branca translúcida. 

– Teremos um show aqui esta noite! – continuou. – Um show bem... diferenciado. Sabem, tem um ômega bem safadinho que gosta de mandar fotos indecentes. E ele irá se apresentar para nós! Querem vê-lo? 

A multidão foi à loucura. 

Seomin iria perguntar a Jihoon o quê era aquilo, mas ele não estava mais do seu lado. Subia no palco, ficando ao lado da irmã e cruzando os braços. O olhar dele fez o estômago do ômega esfriar. Não era mais gentileza e doçura que aqueles olhos escuros transmitiam. Era uma coisa totalmente diferente. Perigosa. 

Atrás dos irmãos, a parede que o projetor iluminava revelou fotos que Seomin conhecia bem. Fotos dele. Do seu corpo. Suas pernas, barriga, costas e bunda. Fotos que ele havia mandado para Jihoon no meio de conversas quentes e sensuais. E agora estavam ali, passando como um filme para todas aquelas pessoas verem. 

O choque foi tão grande que Seomin cambaleou. Ele apertou a taça em sua mão com tanta força que poderia quebrar o vidro entre os dedos. 

Ele encontrou os olhos escuros de Jihoon. E os de Eunbin. Os dois olhavam para ele. O sorriso de Eunbin escorria veneno. Já Jihoon estava inexpressivo. Vazio. Quase como se estivesse entediado e de saco cheio. 

Foi então que ele entendeu. 

E percebeu o quanto foi burro. Enganado. Traído. 

É claro. Eles eram gêmeos. Kim Jihoon e Kim Eunbin, nascidos juntos da mesma gravidez. Tão assustadoramente parecidos que era preciso olhar duas vezes para notar as diferenças ínfimas. Os mesmos cabelos de ébano, os mesmos olhos esticados e profundos como os de um felino. Como Seomin pensou que poderiam ser diferentes um do outro? 

Pela expressão de vitória de Eunbin, a ideia fora dela. E Jihoon concordou, talvez porque tinha achado divertido enganá-lo. 

As lágrimas queimaram e evaporaram no calor de sua raiva. Ele jamais se permitiria chorar. Não quando aquelas pessoas que ele nem conhecia gritavam de deleite vendo fotos de seu corpo nu. 

– Vamos, Han Seomin, não vai nos mostrar seu show? – falou Eunbin naquela voz nojenta e convencida dela. – Venha até aqui. Vamos, não seja tímido. 

A multidão abriu caminho para ele. Seomin fez todo o caminho até o palco com os olhos nos de Jihoon, sem nem piscar. Ele subiu e parou na frente dos gêmeos, a taça ainda na sua mão, vazia. 

Num único movimento rápido, Seomin empurrou Jihoon do palco com um chute. 

Ele não se deu ao trabalho de olhar para ver onde ele havia caído. No segundo seguinte, estava em cima de Eunbin, estapeando seu rosto. 

Ele se lembrava de gritar. De xingá-la e ignorar seus pedidos de clemência e suas lágrimas estúpidas.  

Se lembrava de pegar a taça de vidro e quebrá-la na bochecha esquerda da garota. Dos gritos de horror que vieram depois disso. Da cor rubra escorrendo como uma cascata sangrenta, colorindo sua visão e manchando roupas e o chão.

E, depois, branco. 

Ele só percebeu o que acontecera quando sua mãe estava gritando com ele, sacudindo-o pelos ombros. 

– Eunbin vai ficar com cicatrizes para sempre! Você desfigurou o rosto dela! Tem ideia do que fez?! 

Seomin começou a rir. Gargalhar contra o rosto enfurecido de sua mãe. 

– Que bom. – sibilou. – Espero que ela olhe para seu rosto horrendo todos os dias e se lembre de mim. 

– Como pode dizer isso? – sussurrou sua mãe, assustada. – Você só não está atrás das grades porque o Sr. Kim aceitou não dar queixa! 

O riso de Seomin se dissipou. 

– Como assim? O Sr. Kim nunca nem me cumprimentou na vida. Porque ele aceitaria não dar queixa depois que eu desfigurei o rosto da filha dele?! 

Sua mãe ficou calada. 

– Mãe? 

– Eu trabalho para ele há anos. O Sr. Kim é um homem generoso...

– Generoso merda nenhuma. Ele nunca aumentou seu salário nem deu adiantamento. – Seomin estreitou os olhos. – Você está mentindo. Me diga o que está havendo. 

A mulher respirou fundo e cobriu o rosto com as mãos. 

– O Sr. Kim é o seu pai, Seomin. 

Segundos depois, Seomin caiu de encontro ao chão gelado de azulejo, desmaiado. De cansaço. De estresse. De choque. Ele nunca soube exatamente porque. E sentia vergonha de ser tão patético. 

Depois daquele dia, todas as dúvidas que ele tinha ou já teve fizeram sentido. Porque sua mãe nunca falava do seu pai, porque ela foi tão contra seu namoro com Jihoon, mas nunca dizia o motivo. Porque o Sr. Kim mal conseguia olhá-lo e porque aceitou não processar Seomin. Sua mãe ameaçou contar a verdade para a esposa dele. Outra vítima nessa história nojenta e traiçoeira que, ironicamente, era a história de Seomin. 

Ele se vingou de Jihoon também. Mandou uma mensagem anônima para uma revista de fofocas dizendo o local e horário onde o alfa costumava ir para fumar e usar drogas com uma companhia nem um pouco tranquila. Ainda mais para o filho de um milionário que estava sempre nos tabloides. 

Foi um escândalo. Um que Seomin não aproveitou tanto quanto queria. 

Uma coisa que sua mãe lhe disse depois de tudo nunca saiu de sua mente. 

"Nós não somos nada para eles. Eles são imperadores que governam o mundo em cima de notas de papel. Nós só limpamos o chão por onde eles pisam. Quando mais cedo você entender isso, meu filho, mais fácil será". 

✿✿✿

Hoseok

O primeiro grande amor da vida de Hoseok foi a fotografia. O segundo tinha longos cabelos castanhos com mechas louras e 1,64 de muita elegância e jovialidade e perseverança. Seu nome era Woo Da-ri. E Hoseok se lembrava de a amar. 

Eles se conheceram ainda na faculdade. Da-ri estudava economia e era tão popular que Hoseok se lembrava de ouvir o nome dela por acaso, durante uma conversa entre duas estranhas que Da-ri nunca havia visto. Foram apresentados por amigos durante um encontro às cegas, no qual Da-ri riu e fez piadas o tempo todo e Hoseok não conseguia tirar os olhos dela. 

Era uma beta como ele, um fato que os aproximou desde a primeira vez que se viram. Ela tinha um sorriso definitivamente memorável. E quando ela sorria, parecia que iria dizer algo engraçado logo em seguida. E te fazia sorrir também, apenas na expectativa do que viria à seguir. Era tão inteligente quando irônica e gostava de fazer os outros rirem. 

Hoseok estava tão perdidamente apaixonado que pensou que aquela garota de olhos que cintilavam alegria pudesse ser aquela com quem ele passaria seus últimos dias. Ah, ele era tão imaturo na época. Sua cabeça vivia nas nuvens e seus olhos sempre atrás das lentes de uma câmera. 

Havia alguma coisa mágica, na opinião de Hoseok, em ver o mundo através de lentes fotográficas. Porém, com Da-ri era diferente. Seus momentos com ela eram tão maravilhosos que o beta se esquecia de fotografar. Ele apenas queria manter seus olhos desocupados nela e, quando percebia, já havia guardado todas as lindas memórias em sua mente. 

No entanto, memórias podem diluir e enfraquecer como se postas sobre uma superfície aquática, se espalhando até que só restassem pequenas peças de um quebra-cabeça opaco e distorcido. É por isso que Hoseok gostava de emoldurar seus momentos em fotografias, pois elas eram como chaves que abriam lembranças guardadas no fundo da mente, aquelas que esqueciam-se num piscar de olhos. 

Mas Da-ri e ele estavam sempre formando novas memórias, uma melhor que a outra, então Hoseok não se importava nem temia se esquecer dela. Jamais poderia. 

Entretanto, espinhos podem crescer até entre as rosas mais bem cuidadas. Rasteiros, praticamente invisíveis e, até certo ponto, insignificantes. Mas, muitas vezes, espinhos causam rachaduras difíceis de se remendar. 

Da-ri estudava economia e queria uma vida tranquila, caseira e rotineira. Uma casa pequena para poder decorar com suculentas e almofadas combinando, meia dúzia de gatos e algumas crianças para lhe incomodar. Ela já havia lhe falado mais de uma vez, quando eles estavam à sós sob o silêncio, Hoseok sobre o colo dela apenas sentindo os dedos pequenos brincando com o seu cabelo. E o beta ficava aliviado por não estar olhando para ela nesses momentos. 

Porque Hoseok era um espírito livre, aventureiro e inerente. Ele não pensava em ter rotina, família ou bonsais em vasos artesanais até fazer pelo menos 34 anos. E, quando ele dizia seus sonhos para Da-ri, ela apenas ria e balançava a cabeça como fazia quando via algum meme na internet. Nenhum comentário ou objeção. 

Foi por isso que quando recebeu a proposta de estudar em outro país ele não hesitou em aceitar e ir correndo contar para a garota que amava. Mas a reação de Da-ri foi o espinho que estourou de vez a bolha do relacionamento deles, que já vinha apresentando rachaduras que Hoseok se recusava a ver. 

Da-ri chorou, berrou e gritou com ele. Disse que ele não amava o suficiente para ficar na Coreia por ela, com ela, e construir uma vida juntos. Hoseok estava pronto para retrucar quando percebeu. 

Era verdade. 

Hoseok amava Da-ri, não tinha dúvidas. Mas ele também amava seus anseios. Ele tinha propósitos que sonhara a vida inteira e não podia, não queria, desistir deles. Pois seria um vazio imenso, uma escuridão que ele acreditava que engoliria até mesmo seu amor por Da-ri. 

O amor não pode ser uma gaiola. Nem um sacrifício.

Eles terminaram e Hoseok partiu para suas aventuras pelo mundo. Ele nunca esqueceu Da-ri, mas a beleza que encontrou e colocou em cada foto que tirou aliviou sua tristeza. 

Pelo menos até conhecer Kang Taeyeon, e ela lhe fazer desejar coisas que pensava estarem guardadas nas profundezas de seus sonhos esquecidos. 

✿✿✿

Yoongi

Ele havia ido embora. 

Yoongi só se deu conta do quanto estava sozinho agora, depois de uma semana do nascimento do seu filho. Juwon havia partido e os abandonara. Yoongi, o homem que dissera amar, e o próprio filhote. 

Assim que contou para seus pais que teria um filho, eles disseram, da forma mais calmamente fria, que Yoongi podia deixar de visitá-los e considerá-los como pais. Ele correu para alugar alguma coisa que seu salário de meio-período pudesse pagar. Um loft com um espaço que servia de cozinha e sala, um banheiro e um quarto com uma cama e um berço, onde Hyeon dormia como um anjo que ainda não percebia as próprias asas.

Seus amigos tentavam o ajudar, mas eles não podiam estar a todo momento. De madrugada, quando o bebê acordava e queria mamadeira. Ou quando ele sentia dores e chorava tanto a ponto de ficar rouco. Eles não podiam ficar ao lado de Yoongi sempre. Não como Juwon ficaria. 

Uma solitária lágrima escorreu pela bochecha pálida até cair no vidro do porta-retrato nas mãos de Yoongi. Ele encarava a foto dele e de Juwon que tiraram no começo do namoro. Ele sorria daquele jeito que Yoongi gostava, como se fosse o dono do mundo. Mas agora parecia vazio. Egoísta. Como se ele estivesse rindo do olhar magoado de Yoongi. 

O alfa arremessou o porta-retrato na parede, quebrando com um estalo barulhento e espalhando cacos de vidro cortante pelo chão de linóleo. 

Mais que o bastante para acordar o filhote deitado no berço. O choro começou baixinho e evoluiu para um berro ensurdecedor. Yoongi correu até ele, pegando o embrulho pequeno delicadamente. 

– Desculpa, desculpa, filho. – sussurrou. – Papai não vai mais fazer isso. Desculpa...

Mas Hyeon não parecia inclinado a perdoar. Yoongi tentou de tudo. Trocou a frauda, ofereceu a mamadeira, o chocalho, uma canção de ninar, nada parecia acalentar o coraçãozinho do bebê. Ele preparou uma mamadeira sob os gritos dele. 

Yoongi não percebeu quando começou a chorar, mas logo estava acompanhando os soluços sofridos do seu filho, tentando dar o leite a ele e falhando dramaticamente. 

Foi quando a campainha tocou, assustando o alfa. 

Ele correu para abrir, com Hyeon resmungando em seus braços, seu interior implorando em esperança. Será que ele se arrependeu? Será que...

Mas não era Juwon quem batia a sua porta às 8 da noite. Era alguém muito mais baixo, com bochechas salientes e rosadas, enrolado num cachecol e um casaco azul claro. Era Jimin. 

– Jimin? – disse Yoongi, seus olhos molhados de lágrimas arregalados em confusão. – O quê está fazendo aqui? 

Jimin mordeu o lábio cheinho, evitando o olhar de Yoongi. 

– Eu soube do Juwon. Eu... sinto muito, Yoongi. 

Antes que Yoongi pudesse dizer qualquer coisa, Hyeon recomeçou seu berreiro. 

– O quê há com ele? – quis saber Jimin. Yoongi suspirou e deu espaço para ele entrar. Jimin notou os cacos de vidro espalhados pelo chão, mas não comentou. 

– Eu não sei... Já tentei de tudo, mas ele não para de chorar. Eu tô... – falou, sem fôlego. – ... entrando em desespero. 

Hyeon chorava com toda a força que seu pequeno corpo conseguia. Jimin retirou o cachecol e o casaco. Por baixo, ele usava um suéter cor-de-rosa gola alta. E estava loiro, percebeu Yoongi. O cabelo antes preto petróleo agora estava quase branco. 

Ele deve ter percebido a aflição nos olhos de Yoongi, pois se aproximou e pediu o bebê gesticulando com os braços. O alfa hesitou. Da última vez que Jimin estivera com Hyeon no colo, ele teve uma reação muito estranha e saiu correndo. E nunca mais deu notícias. Até hoje. 

Mas havia determinação naqueles olhos. Yoongi entregou o filhote. 

Hyeon estava vermelho de tanto chorar. Jimin pegou a mamadeira de sua mão e colocou na boca dele. Ele tomou por dois segundos antes de soltar e recomeçar a chorar. Um pouco de leite sujando sua mantinha amarela. 

– O quê tem nesse leite? – perguntou Jimin, analisando o conteúdo da mamadeira. 

– Hm... É um leite artificial de ômega. Como o Juwon não está aqui, tive que comprar esse. – explicou Yoongi, sua voz ficando mais baixa a cada palavra. 

Jimin olhou para ele com pesar, mas, novamente, não fez comentários. 

– Posso ver a embalagem? – Yoongi foi até a cozinha e pegou a embalagem de leite ômega em pó. Jimin balançava Hyeon devagar, ninando baixinho. Ele pegou o pote e estreitou os olhos, lendo as instruções. – Hmm... Tem certeza que preparou certo? É estranho ele não querer. Se não é frauda nem...

Yoongi fez um barulho com a garganta, silenciando Jimin. 

– Eu... colocava um pouco mais de água. Esse leite é caro e eu pensei em... sabe... economizar. – rubor coloriu suas bochechas do centro até as orelhas. Mas Jimin não o julgou, apenas deu um sorriso compreensivo e pôs-se a falar com o bebê. 

– Ahh, então é isso. Que paladar aguçado, hein, rapazinho. – ele fazia uma voz fofa que atraiu a atenção de Hyeon. Os olhos escuros cheios de lágrimas pareciam encantados. – Vamos fazer um bom leite para você, vamos? 

Yoongi ficou estático durante todo o tempo em que Jimin esquentou a água, testou na língua para ver se não estava muito quente, colocou a quantidade certa de pó de leite e balançou a mamadeira. Ele viu, abismado, Hyeon tomar o leite com afinco e vontade até a última gota, encarando Jimin por cima. Depois, o ômega o balançou pela sala, batendo nas costinhas até fazê-lo arrotar. 

O alfa não conseguiu segurar as lágrimas quando viu Jimin perceber uma frauda suja e, rindo de uma forma adorável, trocar o filhote como um profissional. Era um choro silencioso e ele não percebera. Jimin parecia ter toda a sua atenção no bebê, de qualquer forma. 

Ele fez cosquinhas na barriguinha e Hyeon soltou uma gargalhada linda. Yoongi riu em meio a cachoeira salgada que descia pelas suas bochechas. Ele pensou que deveria desejar que Juwon estivesse fazendo aquilo. Mas não. Ele queria que fosse Jimin. Sempre fora Jimin. 

Com um suspiro de pavor, ele percebeu que seu coração batia mais forte. Por ele. Aquele ômega que cantava para seu filho dormir. Que estava ali quando até mesmo seus pais o rejeitaram. Que se importava. 

Ele amava Jimin. Amava ardentemente. Sempre amou, mas fora estúpido demais para perceber. 

Quando Jimin colocou o bebê adormecido no berço e se voltou para Yoongi, pegou-o chorando através dos dedos que cobriam o rosto. Seu coração doeu e ele correu até o alfa, envolvendo-o em seus braços calorosamente e trazendo-o para seu colo. 

– Tudo bem, tudo bem. – sussurrava. – Eu estou aqui. Vou ficar. 

Por favor, fique. Fique para sempre. Fique comigo. 

E ele ficou. Durante aquela madrugada e muitas outras, Jimin ficou. 

Yoongi nunca mais se sentiu sozinho. 

✿✿✿

Jeongguk

Uma luxuosa Range Rover cinza-marinho estacionou em frente à suntuosa mansão estilo moderno com duas pilastras arredondadas apoiando a fachada. Era possível ver um pouco do que havia lá dentro através das janelas de vidro quadriculares, um gostinho da riqueza que aquela casa guardava. Um lustre de cristais pendendo brilhantes como gotas de chuva congeladas no ar e um pedacinho da sala de estar decorada com leveza. 

Um garotinho de cabelos negros como seus olhos redondos, pele leitosa e pernas curtas, vestido num uniforme azul e puxando uma mochila de rodinhas, saltou do carro com destreza, batendo os sapatos num dos degraus da larga escada que levava até a gigante porta dupla da mansão. 

Ele não tinha mais do que 9 anos. Na camisa de seu uniforme, em cima do bolso esquerdo, lia-se um nome. Jeon Jeongguk. 

Jeongguk costumava comparar sua casa como uma das fortalezas de seu jogo de videogame, onde precisava guiar seu avatar por dentro dela, cumprir missões, matar os monstros e, no fim, resgatar a donzela em perigo. Para uma criança pequena e com imaginação fértil, a Mansão dos Jeon, de fato, parecia o lugar certo para se crescer. 

Porém, o encanto acabava assim que as portas se abriam. Uma casa vazia e silenciosa, exceto pelo mordomo vestido em preto e branco esperando logo em frente, pronto para pegar a mochila de Jeongguk e lembrá-lo de tirar os sapatos sujos. 

Jeongguk o imaginava como um pinguim. Era um homem baixo com um nariz grande demais, que andava da mesma forma ereta de sempre, como se um pedaço de madeira fosse amarrado às suas costas. 

– Pequeno mestre. – ele o chamava. – Deve se preparar para jantar com seus avós hoje. Seu banho já está aguardando-o e....

Mas Jeongguk não ficou para escutar o que o Mordomo Pinguim tinha a dizer. Ele saiu correndo escada acima, seus passos quase inaudíveis, abafados pelas meias em seus pés. Nas pequenas mãos, ele carregava uma folha de papel com palavras em tinta preta que, para qualquer outro, era apenas mais um pedaço de papel. Mas, para Jeongguk, era uma esperança. 

Ele bateu à porta do escritório de seu pai e entrou. 

Jeon Eunhyuk estava do mesmo jeito de sempre. Sentado atrás da grande mesa escura e cheia de papéis, o notebook aberto e esquecido, segurando um copo redondo de vidro enquanto balançava-o lentamente, o líquido dourado se remexendo ao movimento. 

Seu pai olhava para a janela, de modo que Jeongguk só conseguia ver a nuca dele. O cabelo bem aparado, tão semelhante ao seu, bagunçado como se dedos raivosos tivessem passado entre ele. 

– Papai? – chamou o pequeno, mas Eunhyuk não se virou. 

– O quê foi, Jeongguk? – perguntou, a voz distante e vazia como um eco. 

– Eu tirei um 10 na prova de coreano. – falou, um quê de esperança pendendo de sua voz. 

Eunhyuk girou a cadeira devagar, colocando seus olhos profundamente escuros no filho. 

Jeongguk sabia que seu pai era bem mais velho que ele, embora ainda fosse jovem. Mas, toda vez que o olhava, era como enxergar um espelho. 

Eles eram inegavelmente parecidos. Os mesmos cabelos lustrosos e lisos como penas de um cisne negro, os olhos redondos e levemente protuberantes, da mesma cor. A boca de Jeongguk era uma versão pequena da de Eunhyuk, e o nariz vinha de uma longa linhagem de Jeon's. 

Seu pai olhou para a folha em suas mãos, então para ele novamente. 

– É claro que tirou. – disse, bebericando do copo. – O pequeno Jeonggukie é um gênio. 

Jeongguk sentiu-se encolher. Não era aquilo que ele estava esperando. Não aquele tom de voz tão frio e tão distante como o topo de uma montanha. O pequeno alfa não gostava quando seu pai falava daquele jeito. Mas, pensando bem, ele sempre falava daquele jeito. 

– Deveria mostrar à sua avó. Ela vai ficar feliz. – emendou. Jeongguk abaixou a cabeça e apertou o papel, amassando-o nas laterais. 

Será que ele considerava um 10 muito ruim? Ou pensava que coreano era fácil demais a ponto de não ficar impressionado? 

Da próxima, ele tiraria um 10 em matemática, que era a matéria mais difícil. Então, seu pai ficaria orgulhoso. Sim, ele ficaria. 

Jeongguk fechou a porta do escritório atrás de si, cabisbaixo. Quando levantou o queixo, viu um vulto de longos cabelos cor de mel e vestido vermelho sangue descendo as escadas. 

Ele sabia quem era, e seu coração faltou saltar do peito. Saiu correndo atrás da única pessoa que tinha aquele lindo e enorme cabelo e usava aquela cor de vestido. 

– Mamãe! – gritou. A mulher virou as costas, os fios sedosos voando para o lado como cortinas de ouro tocadas pelo sol. Olhou para a criança que corria até ela e abriu um sorriso, o branco dos dentes evidenciado pelo batom rubi em seus lábios volumosos. 

– Filhote. Já está em casa. – Jeongguk abraçou as pernas dela, recebendo um leve acariciar nos cabelos. 

Jeongguk achava que sua mãe era a mulher mais linda do mundo. Sempre elegante, esbanjando cores vivas e que pareciam feitas somente para ela. Jihye estava em constante mudança, e Jeongguk gostava disso. Ela costumava usar lentes de contato. As vezes azul, talvez verde, e até violeta. Jeongguk sempre esperava uma surpresa ao olhar para os olhos de sua mãe. 

Hoje, entretanto, eles estavam da cor natural. Castanhos. E levemente avermelhados. E, se reparasse bem, um pouco inchados. 

Mas ela continuava linda, aos olhos de seu filho. 

– Mamãe, eu tirei 10 na prova de coreano! – contou, animadamente, o menino. 

– Muito bem! – parabenizou, bagunçando os fios negros macios. – Meu garotinho é tão inteligente!

O pequeno Jeongguk deu um sorriso. Uma única ruguinha se formando ao lado dos olhos. 

Jihye se desvencilhou do abraço do filho. Jeongguk sabia que ela não gostava muito de contato físico. 

– Mamãe tem que ir agora, filhote. – Jeongguk fez uma carinha triste, então ela falou: – Mas eu volto para te colocar na cama, está bem? 

– E contar uma história? – sugeriu, com os olhinhos brilhando. 

– Claro. – com um último sorriso e acariciar nos cabelos, Jihye se foi, quase correndo até a saída da mansão com seus altíssimos sapatos de salto. 

Jeongguk já estava de pijama, deitado sob os cobertores com estampas de dinossauros, os dentes bem escovados, há mais de 30 minutos. Mas sua mãe não viera. Ela nem estava em casa. 

Jeongguk brincava com um cubo mágico quando ouviu batidas na porta. Esperançoso, ele viu a porta se abrindo, esperando encontrar os cabelos de mel de sua mãe e alguma cor nova nos olhos dela. Mas quem estava atrás da porta era seu avô, com suas usuais camisas xadrez e cabelo grisalho na altura dos ombros. 

– Pela sua carinha, você não ficou muito feliz em me ver. – brincou Han. Ele estava sempre brincando, e Jeongguk gostava disso. 

– Queria que fosse a mamãe. – disse o pequeno, colocando o cubo de lado e fazendo um bico, puxando as cobertas até cobrir a cabeça. 

Ele não viu, mas seu avô suspirou e tristeza brilhou através de seus olhos. 

– Eu sei que sim, meu menino. – ele se aproximou e sentou na beira da pequena cama. – Hmm... Se meu netinho não aparecer, pra quem eu vou cantar a canção de ninar favorita dele? 

Jeongguk rapidamente descobriu a cabeça, interessadíssimo. 

– Você vai cantar aquela? – perguntou, animado.

– Uhum, só vou buscar meu violão. 

Ele saiu e voltou com o instrumento, mas Jeongguk estava com um olhar triste enquanto brincava com os dedos. 

– Vovô, porque papai e mamãe não gostam de mim? – quis saber, não tirando seus olhos melancólicos das próprias mãozinhas. 

Han suspirou e foi para perto de seu neto, deixando o violão de lado. 

– Dá um espacinho pro vovô. – pediu. Jeongguk foi mais pro lado. Han afastou as cobertas e deitou, puxando a cabeça do garotinho para seu colo. Jeongguk abraçou-o com afinco, como se estivesse esperando por aquele abraço o dia inteiro. 

– É claro que seus pais gostam de você, querido. – Jeongguk emitiu um ruído de descrença. – Gostam, sim. Eles amam você. Mas não sabem como demonstrar. Lembra quando você ficou doente mês passado? Seu pai ficou desesperado. Ele ligou para inúmeros médicos até um vir te atender. E sua mãe sempre te trás chocolate, não é? Ela nunca esquece.  

Ele assentiu devagar. Han esfregava suas costas carinhosamente. 

– Pois então. Algumas pessoas, Gguk, tem jeitos diferentes de mostrar que se importam. Nem sempre é o jeito que nós queremos. Mas pequenas coisas são as que importam, hum? 

– Hum... – murmurou Jeongguk em resposta. – Canta a música agora, vovô? Pode ser sem o violão.

Han riu baixinho, beijando os cabelos de seu neto. 

– Claro, meu menino. 

"Durma, durma, meu pequenininho 

Mas se ele não dormir, eu lhe farei um carinho

Na cabeça, no cabelo e no narizinho"

Han apertou o nariz de Jeongguk, arrancando-lhe uma risadinha. 

"Durma, durma, meu doce menininho

Enquanto eu cantar essa canção bem, bem baixinho..."

Quando Han terminou a melodia, Jeongguk já estava dormindo. 

Yoona estava apoiada no batente da porta, observando seu marido e neto desde o começo da canção. Han havia sentido ela perto pela Marca que compartilhavam, e ergueu seus olhos para a esposa. 

Ela vestia um terninho cor-de-rosa junto a uma camisa púrpura de botões. Sempre uma visão para Han. 

– Acho que tanta luz me deixou cego. – falou, piscando os olhos dramaticamente. Yoona fez um muxoxo. 

– Você é tão brega. 

Han arqueou uma sobrancelha. Alguma coisa não estava certa. Yoona estava com aquele olhar distante e preocupado. 

– Eles não estão em casa, não é? – constatou. A ômega deu um longo suspiro e sentou-se ao pé da cama de Jeongguk.

– Pelo menos atenderam o telefone. Bêbados como dois adolescentes, mas inteiros. 

– Eles tem uma relação estranha. – disse Han. – Se entendem em meio às próprias loucuras, e se amam como dois lunáticos imaturos. 

– Talvez seja isso que os une. Suas loucuras são parecidas. – ela deu um suspiro. – Eu só gostaria que eles dessem mais atenção ao Gguk. 

Às vezes, Han gostaria que seu neto fosse menos inteligente. Talvez assim ele não notasse a completa falta de presença dos pais. E menos esperto, para quem sabe ser ludibriado facilmente com um videogame ou uma porção de tteokbokki. Mas ele sabia. Ele sentia a falta dos pais e só queria impressioná-los. Han temia que esse mal exemplo pudesse fazer Jeongguk querer esconder suas emoções e se fechar. 

Tanto Han quanto Yoona esperavam que, um dia, Jeongguk pudesse ser amado por alguém tão perspicaz a ponto de decifrá-lo por inteiro, e amá-lo mesmo assim.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Deixem um comentário para eu saber o que acharam!

Decidi não colocar do Jimin e do Tae porque ficaria muito longo, mas aparecerão eventualmente ao longo da história em forma de flashback.

Beijinhos da Nyx e até!


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