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História Jardim de Papel (taekook) - Dia de Cão


Escrita por: Nyx-in07

Notas do Autor


Olá! Oi!
Uau, chegamos em 77 favoritos. Muito obrigada a todos!
Me perdoem pela demora, mas eu queria escrever até o capítulo 10 antes de postar este.
Boa leitura!

Capítulo 8 - Dia de Cão


– Sim, chefinho, eu aceito ser o seu namorado... – balbuciou o ômega enquanto sorria, um filete de saliva seca escorrendo pelo canto da boca. Taehyung estava de pijama, enrolado em um fino lençol, imerso num sonho açucarado onde ele e Jeongguk vagavam juntos por um vale de fontes de chocolate e maçãs do amor. De mãos dadas, eles caminhavam até o horizonte seguindo uma estrada ladeada por pirulitos redondos com listras alaranjadas e árvores de troncos púrpuras cujos galhos possuíam balas de caramelo nas extremidades. 

Até cair da cama. 

Taehyung aterrissou com um baque surdo do osso do cotovelo chocando-se contra o solo. Ele acordou de supetão, a dor lancinante que pulsava no cotovelo e se espalhava pelo resto do braço foi a primeira coisa que sentiu. 

Depois de rolar pelo chão esfregando o braço e gemer de dor, ele se sentou com as pernas abertas no piso de madeira, seu reflexo aparecendo no espelho do quarto. O rosto de bochechas salientes estava amassado e inchado com marcas do travesseiro, o cabelo azul rebeldemente bagunçado como se um hamster tivesse dado uma festa ali para todos os seus vizinhos roedores. 

Ele tentou arrumar uma mecha que apontava para cima, bem no topo da cabeça, mas ela estava convencida a ficar exatamente como estava. 

Resmungando, ele alcançou uma toalha e foi direto para o banheiro.

Depois de um banho turbulento onde ele desperdiçou metade do vidro de sabonete líquido depois de derrubá-lo no chão e acabou usando o condicionador no lugar do shampoo - tendo que refazer todo o processo de lavagem - Taehyung saiu do banheiro não muito melhor do que entrou. 

O dia estava tenebroso assim como seu estado de espírito. Ainda era seis da manhã. O céu estava recheado por nuvens cinzentas que o cobriam completamente. Uma névoa  espessa como fumaça vaporizada pairava sobre a cidade sem dar indícios que se dissiparia. Taehyung tentou abrir a janela, mas uma ventaria severa e congelante o fez fechá-la de novo. Seu rosto se contorceu. Era como um quadro barroco melancólico e lúgubre. Tudo parecia ter perdido suas cores. 

Ele vestiu jeans e uma camisa branca com a estampa de uma carinha feliz e um moletom de zíper amarelo por cima. Deu tapinhas nas bochechas para ganharem cor. Pegou a mochila e arrastou os pés para a cozinha, tentado a esquecer do mundo e voltar para a cama. 

– Jimin-ssi, você sabe o quê qualifica um "Dia de Cão"? – perguntou Taehyung já na mesa com Jimin enquanto fazia um desenho nem um pouco profissional de uma borboleta na margem do caderno. Seu café da manhã pouco consumido fora afastado para o lado. 

– Um dia péssimo, do tipo que você gostaria de esquecer e torce para que nunca haja outro igual. – respondeu Jimin imediatamente, guardando a louça do café. Ele deu uma olhada no caderno cheio de anotações rabiscadas de Taehyung. – Está estudando? 

Ele balançou o queixo em afirmação.

– O chefinho me inspirou a começar a estudar. 

Jimin ergueu uma sobrancelha. 

– Ah, é? 

– Uhum. Ontem eu estava no Covil e ele me perguntou o quê eu pretendia fazer depois que me estabilizasse financeiramente. Eu respondi que queria me tornar um Membro Honorário do Almoxarifado! Daí ele perguntou "Só isso? E depois?". E, ah! Jimin-ssi, eu não sabia o quê dizer. Nunca havia pensando em um "Depois" para o meu "Agora". Mas, sabe, o chefinho fez duas faculdades ao mesmo tempo. Então, pensei que poderia fazer alguma também. 

– Faculdade? – Jimin estava genuinamente surpreso. – Do quê? 

– Ainda não sei. – ele fez um bico. – Mas estou estudando Matemática, História e Inglês. É um bom começo, não é? 

– É um ótimo começo, Tae. Você pode estudar e se inscrever pro vestibular do ano que vem. 

Taehyung se levantou, pegando suas coisas. Porém, quando estava indo até a fruteira para apanhar uma maçã, sua mão desviou para a direita e acabou batendo num copo que se estilhaçou de encontro ao chão. 

– Tae! – gritou Jimin, assustado com o barulho. 

– Oh, céus! Me desculpe, Jimin-ssi...

– Tudo bem, deixa que eu limpo isso. Não, espera, cuidado para não se cortar...

– Ai! – exclamou. Tae havia se abaixado para pegar os cacos, mas um deles acabou cortando a pele entre o dedão e o indicador. Sangue começou a escorrer em pesadas gotas do ferimento. 

– Ai, meu Deus, eu não posso ver sangue... – disse Jimin, cobrindo os olhos com as mãos pequenas. – Vá no banheiro limpar isso, rápido! 

Minutos depois, Taehyung estava com a mão dolorida enfaixada com um curativo que pinicava, de cara amarrada e a caminho do trabalho. Sua perna tremia e Jimin, com as mãos no volante e olhando de soslaio seu amigo terrivelmente emburrado, não ousava dizer uma palavra. 

Taehyung subiu até o Covil pisando duro, se perguntando porquê de haver um elevador se ele era tão lento. Ele trombou com Namjoon, que proferiu um "Bom dia" animado, mas que foi respondido com um resmungo frio por parte do ômega. O sorriso do alfa derreteu e ele ficou encarando aquela tempestade de cabelos azuis que parecia liberar trovões e raios pelos poros. 

– O quê houve com ele? – sopesou Namjoon, retoricamente. 

Taehyung despencou na cadeira da mesa de secretário, respirando e contando até dez várias vezes. Certo, ele havia acordado num dia trevoso como se um caminhão tivesse lhe atropelado várias vezes, seu banho foi um desastre e ele se cortou com um caco de vidro que agora doía no curativo mal feito de Jimin. Mas tudo bem, essas coisas aconteciam, não era motivo de tanta...

– O quê está fazendo na minha mesa?!

O ômega ergueu a cabeça. Um rapaz que nunca havia visto estava parado em frente à mesa, lhe encarando com uma sobrancelha perfeitamente arqueada e uma expressão estranha - e austera. 

– Perdão, mas... Quem é você? – perguntou Tae. 

– O secretário do Sr. Jeon, Han Seomin. – falou num tom óbvio, como se todos tivessem o dever de conhecê-lo. 

– Aaaah. Então você é o Seomin de quem o chefinho tanto fala. 

Seomin deixou escapar um sorriso convencido. 

– Então o Sr. Jeon fala de mim, é? Bom saber. – ele mexeu numa mechinha do cabelo preto perto da nuca. – Sinto muito, coisinha, mas o seu emprego acaba aqui. Eu voltei. 

– Não se preocupe, Seomin-ssi, eu continuo tendo um emprego. Na verdade, eu não sou um secretário. Sou um almoxarife do A1!

Seomin deu um risadinha de deboche, finalmente compreendendo.

– Ah, então você é um empregadinho. Eu deveria ter desconfiado...

Taehyung contraiu o rosto em seriedade, franzindo as sobrancelhas. Como assim, "empregadinho"? Aquilo soava terrivelmente mal. 

– Acho que está me confundindo. Não sou um empregadinho, sou um funcionário do Almoxarifado. – esclareceu Tae, mas a expressão de Seomin não mudou. 

– E qual é a diferença? Você fica lá... – ele apontou para baixo. Taehyung focou no dedo dele, a unha perfeitamente pintada de preto envernizado. – ... metros abaixo dos meus pés, onde ninguém dá a mínima. Já eu, bem, o Sr. Jeon confia em mim para tudo. Sou eu que organizo a vida dele e todos os seus compromissos e tarefas. Eu falo com pessoas importantes em nome dele, dou ordens por ele e o acompanho onde precisar. Agora, anda, saia da minha cadeira ou vai desgastá-la com esse seu jeans horroroso. 

Seomin usava palavras tão rebuscadas em seu pequeno discurso, quase como se fosse previamente decorado. 

Taehyung engoliu em seco e se levantou devagar, alcançando sua mochila. Ele olhou para seus jeans claro com um rasgo no joelho. Horroroso? Mas era a peça que mais gostara...

O pequeno ômega olhou Seomin de cima a baixo. Ele vestia um terninho cor de uva pareando com uma longa echarpe ao redor do pescoço, uma camisa que combinava com suas unhas e sapatos sociais lustrosos que pareciam besouros robustos ao lado das joaninhas que eram os tênis floridos de Taehyung. 

E ele era bonito. Elegantemente bonito, como um jovem da alta sociedade. Os cabelos da cor das penas de um corvo fazendo par com as sobrancelhas bem delineadas, um nariz fino cuidadosamente cinzelado e lábios de cerejas maduras. Mas algo nele incomodava Taehyung como uma pedrinha no sapato. Será que era o nariz, arrebitado demais? Ou aquelas sobrancelhas que pareciam zombar dele? 

– Seomin? Ah! Enfim resolveu aparecer para trabalhar! – Jeongguk acabara de sair do elevador. Ele usava uma camisa social branca dobrada até os cotovelos e calças cinzas. O relógio dourado deixando seu braço ainda mais atraente, o blaser descansando no outro. 

Não só Taehyung, como também Seomin, se deleitou com a visão. 

– Ah, Sr. Jeon! O senhor nem imagina o quanto eu estive adoecido... – ele dramatizou, faltando apenas apoiar uma mão na testa. 

– Não imagino e espero que não se repita. São semanas importantes para a empresa e eu preciso de um secretário competente e disponível. – interrompeu Jeongguk, falando sério. – Taehyung, seus serviços não são mais necessários. Seomin, comece a trabalhar agora mesmo. 

Taehyung murchou como uma suculenta que recebeu água demais. Poxa, ele era tão ruim assim sendo um secretário? 

Seomim sentou-se em sua cadeira como um rei vaidoso apodera-se de seu trono de ouro e cristais incrustados. 

– Ugh, que bagunça. Ainda bem que eu voltei ou minha mesa iria se tornar um santuário de baratas. – reclamou, alto o bastante para Taehyung e Jeongguk ouvirem. 

Tomado de vergonha, Taehyung disparou a passos de elefante para o elevador, sem conseguir olhar para Jeongguk. 

Ele recostou as costas e a cabeça na parede do fundo, contendo a vontade inebriante de chorar. O quê estava acontecendo com aquele dia? Será que ele esgotou toda a sua reserva de sorte e agora só lhe restava o azar? "Santuário de baratas", "Empregadinho" e "Secretário competente e disponível" ficaram martelando em sua cabeça como uma dor cansativa e inconveniente. 

Taehyung decidiu parar no Paraíso, a praça de alimentação, para comprar um suquinho de morango e, quem sabe, melhorar seu humor. 

Ele mal havia posto o pé para fora do elevador quando uma voz alta e feminina e tempestuosa berrou:

– Ei, você, empregadinho, segure o elevador! 

A mente de Taehyung pintou-se de branco. Depois, vermelho, enquanto a palavra "Empregadinho" pulsava em letras neon como um aviso de perigo. Ele olhou para a pessoa com o fogo fervilhante de sua raiva ardendo através dos olhos.

– EU NÃO SOU UM EMPREGADINHO! – vociferou. A pessoa que gritou, uma senhora baixa e elegante, que vestia roupas refinadas e tinha o cabelo grisalho bem preso num coque, paralisou com olhos arregalados. – Eu faço um ótimo trabalho sim! Minha calça não é horrorosa e eu NÃO SOU SEU EMPREGADINHO! Segure você mesma o elevador! 

A mulher resfolegou de assombro. Todos que estavam na praça mergulharam numa tensão sepulcral. Era como se uma mera respiração mais alta que silêncio fosse capaz de cortar o ar como uma faca afiada que todos ouviriam. 

– Ora, mas que rapazinho mais mal educado! – constatou ela, começando a ficar vermelha do pescoço às bochechas enrugadas. 

– Taehyung?! – disparou Jimin, que Tae nem havia percebido que estava ali. – Por que você está gritando com a Senhora Jeon?!

Senhora... Jeon?!

Taehyung ficou mais pálido que um cadáver. O entendimento e o terror lhe causando um choque de realidade tão forte que ele cambaleou para trás. E fez a única coisa que sua mente conseguiu pensar no momento. 

Saiu correndo. 

 

✿✿✿

 

– Ah, não! O quê eu faço, Jimin-ssi? – lamuriava Taehyung para Jimin na sala dele, onde encontrou refúgio depois do papelão que causara. – Eu fui maldosamente rude com a avó do chefinho! Justo com a avó dele! Não que eu pudesse ser rude com qualquer um, mas logo ela! Eu nunca me senti tão envergonhado em toda a minha vida...

– Eu diria algum consolo, mas na sua situação eu também estaria desesperado. – falou Jimin, enquanto amarrava um laço ao redor de um vestido de tafetá azul. – A Jeon Yoona não é famosa por perdoar.

O lábio inferior de Tae tremeu e se contorceu, os olhos se enchendo de lágrimas. Jimin, estranhando o silêncio, voltou-se para ele.

– Ah, não! Não faça essa carinha de choro...

Jimin foi até o ômega choroso, abraçando-o e enxugando suas lágrimas com as pontas dos dedos pequenos e gordinhos. O gelado dos anéis causando choquinhos nas bochechas quentes de Tae. 

– O quê eu faço, Jimin-ssi? – perguntou, a voz embargada. 

– Só seja você mesmo. Apenas você, e tenho certeza que amolecerá até o coração de pedra da Jeon Yoona.

– Não sei, eu não estou me sentindo muito "eu" hoje...

– Não precisa ser hoje. Pode ser amanhã, ou outro dia, quando você se sentir mais "você". – ele deu uma risadinha. – Os avós do Jeongguk vão ficar aqui por um tempo. 

Taehyung assentiu e, com o coração pesando no peito, ele voltou para o almoxarifado. 

Na sala de Jeongguk, porém, as coisas estavam muito mais revoltosas. 

– Nunca, em todos os anos em que gerenciei esta empresa, fui tratada de forma tão desrespeitosa por algum funcionário. – discorria Jeon Yoona, rubra de raiva, sentada no sofá com as pernas e os braços cruzados. – Nunca! 

– Que estranho, não é do feitio de Taehyung agir assim... – disse Jeongguk, pensativo. 

– Eu soube que aquele lá não era flor que se cheire assim que pus meus olhos nele. – murmurou Seomin, que levara a agenda de Jeongguk para a próxima semana. Séria, organizada e fria, sem nenhum adesivinho de "Fighting", Jeongguk não deixou de reparar.

– Tenho certeza que há uma explicação para isso... – continuou Jeongguk. 

– Você está escolhendo muito mal os seus funcionários, meu filho, muito mal! - ressaltou Yoona. 

Jeongguk balançou a cabeça e voltou a se concentrar em seus papéis, as reclamações da avó ficando longe como um eco. Mais tarde, porém, ele matutava o mesmo assunto tentando pensar em algo que fizesse sentido. Ele nunca havia ouvido falar de Taehyung sendo grosso com alguém, então porquê?

O alfa ligou para Jimin. Se alguém estava a par da situação, era ele. 

– O pobrezinho estava desolado! – exclamou Jimin. – Ele foi para o A1 como um cachorrinho que se perdeu do dono. E nem veio almoçar com a gente. Ninguém o viu em lugar nenhum. 

Jeongguk batucava os dedos lentamente na mesa, a chama da preocupação se acendendo lenta e tortuosamente. Ele sabia melhor do que ninguém como sua avó podia ser dura e, quando implicava com alguém, era difícil mudar de ideia. 

– Sabe para onde ele pode ter ido? – perguntou. 

– Ele me disse que iria comer com os passarinhos porque estava muito triste, mas não tenho ideia do que isso quer dizer. – falou Jimin. 

Jeongguk deu um sorrisinho. Ele sabia onde Taehyung estava. 

 

✿✿✿

 

Taehyung segurava a lancheira com seu almoço contra o peito, subindo as escadas de ferro barulhentas que davam para o terraço da empresa, um lugar que poucos se davam ao trabalho de lembrar.

 A vista era incrivelmente longínqua e ele sempre se sentia como se pudesse tocar as nuvens se esticasse o braço um pouquinho, sentindo o macio atravessando entre os dedos. Um ótimo lugar para uma alma triste e solitária se refugiar. 

Era sempre um lugar deserto e silencioso desde que Taehyung o descobriu puramente por acaso e curiosidade. Ele empurrou a porta e uma ventania cortante tremeu por seu corpo e o fez se encolher dentro do casaco. 

Mas, desta vez, uma melodia suave de violão se esgueirava por entre a fresta da porta entreaberta. Tinha alguém ali que tocava com a alma, como se colocasse um pedacinho de si em cada nota e cada acorde. Taehyung paralisou, espiando para dentro. Ele seguiu a música chegando cada vez mais perto. 

A silhueta de um homem de cabelos pretos grisalhos tocando os ombros, vestindo couro preto e segurando um violão, sentando despreocupadamente num caixote de madeira, foi a segunda coisa que Taehyung reparou. A primeira foi a voz, rouca e barítona, cantando enquanto dedilhava as cordas para cima e para baixo:

– ... Minha garota disse "Uau" e eu disse "Não, querida, os elogios são seus esta noite..."

Ele parou subitamente e olhou para o horizonte.

– Oh, parece que eu não estou mais sozinho.

Virou o pescoço e contemplou o ômega de cabelos cor de céu e vestido de amarelo, segurando uma bolsinha cor-de-rosa na frente do corpo. Os olhos arregalados e corado. 

– Perdão, senhor, e-eu não quis atrapalhar. – gaguejou, se afastando. 

– Imagina, eu ouvi os seus passinhos desde que estava subindo as escadas. – ele deu um sorriso galanteador. Na verdade, olhando bem, ele bem que parecia um galã de novela ou aqueles atores que nunca envelhecem. Os cabelos selvagens posicionados atrás das orelhas, jogados para trás; rugas rodeavam a boca sorridente e os olhos possuíam um brilho genuinamente infantil. Nem o colar de correntes ou os brincos de crucifixo conseguiam lhe apagar a essência gentil. 

Mas havia algo. Aquele homem lhe parecia estranhamente familiar. 

– É sério?! Como? – exclamou Taehyung. 

Ele deu tapinhas com o dedo no próprio ouvido. 

– Tenho uma excelente audição. É bom para saber quando os outros estão falando mal de você. – riu, contagiando Taehyung. – O quê o mocinho veio fazer aqui tão alto, hm?

O sorriso de Tae desapareceu e ele se lembrou do porquê de estar ali.

– Eu vim para ficar sozinho, mas a sua bela melodia aqueceu meu coração. 

– Obrigado. – agradeceu, com um ar orgulhoso. – Estou escrevendo esta para o meu docinho de coco. 

– Docinho de coco? – franziu o cenho. 

– Minha esposa. – esclareceu com uma risada. – Ela odeia que eu a chame assim, mas eu não ligo nem um pouco. 

Tae deu uma risadinha. 

– Isso é encantadoramente romântico. 

– Qual é o nome do mocinho solitário? – quis saber. 

– Kim Taehyung! 

– Kim Taehyung... – ele repetiu, como se para testar a sonoridade. – É um prazer, Kim Taehyung! Meu nome é Han-Beom, mas você pode me chamar só de Han, sem formalidades! 

– É um prazer imensurável conhecer uma pessoa com tanto talento para a arte da música. – Taehyung se curvou, uma mecha de cabelo rebelde se desprendendo até tocar seus olhos. . 

– Ora, não é para tanto... – dispensou Han, embora sua modéstia fosse particularmente falsa. – Todos nós temos música na alma e no coração. Alguns deixam fluir e outros, não. 

– Até rimou! – pontuou Tae, encantado. 

– Por que não senta aqui comigo e me ajuda a terminar essa música? Você parece ser bom com as palavras. 

– Bem, sim. – concordou Taehyung, desanimado, sentando-se ao lado de Han. – Mas não tenho certeza sobre isso. Não hoje. 

– O quê aconteceu para te deixar tão tristinho? – perguntou, apoiando os braços no violão. 

O ômega suspirou. 

– Eu acabei sendo rude com a Sra. Jeon, a avó do dono da empresa. 

– Isso é bem grave. – disse Han, levemente surpreso. 

– Mas não foi de propósito! Não mesmo, mas eu estou num dia tão ruim... – ele cobriu o rosto com as mãos. Seu almoço estava esquecido e jogado para o lado. – Eu juro que não costumo ser grosso ou mal educado com as pessoas, mas estou tão chateado hoje que as palavras ruins simplesmente escapam para fora! Como se eu não pudesse controlar minha própria língua teimosa!

Ele sentiu uma mão carinhosa sobre o seu ombro. Han sorria grande e acolhedor para ele, causando sulcos em suas bochechas. 

– Quer me contar o quê houve? 

E Taehyung contou, usando as melhores palavras que conhecia. Desabafou todos os acontecimentos desde de manhã até agora. E foi como respirar oxigênio novamente depois de se afogar. Porém, nenhum deles, nem mesmo Han, que estava concentrado na voz doce e firme do pequeno ômega, perceberam quando Jeongguk se esgueirou para perto deles se perguntando porquê seu avô e Taehyung estavam conversando como se fossem velhos amigos. 

– E quando ele me chamou de "empregadinho" eu fiquei com tanta, tanta raiva! – destacou Tae, inflando as bochechas e fechando as mãos em punhos. – E acabou que eu gritei com a Sra. Jeon e agora não sei mais o quê fazer. Estou tão, tão, tão envergonhado... 

– Agora eu entendo, o quê o seu coração precisa é de um pouco de alento. – falou Han, e Tae sorriu minimamente pela rima. – E quê alento melhor que a música! Ouça... 

Han começou a dedilhar o violão com graça e confiança, como se aquilo fosse tão natural quanto respirar para ele. 

 – "Não chore, não, Garoto Azul, mesmo quando a vida está tão ruim... Não chore, não, Garoto Azul, pois para você não está nem perto do fim. O mundo é um jardim e você a flor azul com o brilho de cetim..."

A música se findou e Taehyung sorria docemente para Han, corado pela letra tão adorável. 

Jeongguk deu um sorrisinho, se lembrando de quando era criança e seu avô lhe cantava doces canções de ninar até ele pegar no sono. Sua preocupação se findou, pois sabia que Tae estava em boas mãos. 

– Obrigado. – agradeceu Taehyung. – Isso foi maravilhosamente lindo. A coisa mais bela que já ouvi. 

Han fez uma reverência, balançando as mãos dramaticamente. 

– Não deveria ligar para esse moço que te chamou assim. Essas pessoas... A música interior delas é melancólica e desafinada. 

– Eu não teria ficado com raiva se fosse só empregado. Mas "empregadinho"... Ugh! É mil vezes pior!

Han gargalhou. Escondido nas sombras, Jeongguk prestava atenção nas palavras do ômega. A maioria não fazia o menor sentido para si, mas ele começava a entender o motivo de toda aquela bagunça.

– Pequeno Tae, sua música interior é como um tambor desgovernado e sem partitura. – Tae inclinou a cabeça para o lado. – Se esse moço lhe incomoda tanto, devia falar com o seu chefe sobre. 

Ele negou com a cabeça.

– Não, não. O chefinho Jeongguk parece gostar tanto do Seomin... - ele fez um biquinho. – Além disso, ele é tão incrível e gentil e ocupado... Não quero atrapalhar com assuntos bobos. 

Jeongguk ergueu uma sobrancelha. 

– E eu não me importo com o Seomin. – continuou Tae. – E sim com a Sra. Jeon. Ela é avó do chefinho... Não quero que ela me odeie. 

– Se é assim, não precisa se preocupar, eu sei exatamente o quê fazer. – garantiu Han. – Uma mulher daquelas não é fácil de se conquistar, mas também não impossível. 

– Como você sabe? 

Han deu o mais convencido dos sorrisos. 

– Ora, claro que eu sei. Afinal, ela é minha esposa. 

Silêncio. E então...

– O QUÊ?

Jeongguk precisou segurar a risada. Aquele velho traiçoeiro... Claro que ele não ia contar para Taehyung a verdade logo de cara. Ele adorava um drama e ser o centro das atenções. 

– Ora, por que não disse logo de uma vez?! – quis saber um Taehyung exaltado. 

Han apenas ria. 

– Por favor, não me culpe... Eu sou um astro do rock aposentado. Sabe o quanto é raro encontrar alguém que não sabe nada sobre mim ou minha esposa? É emocionante! Eu não podia perder essa oportunidade.

Taehyung resmungou de braços cruzados. 

– O senhor é muito espertinho... E eu caí na sua arapuca igual um pato manco! 

– Pois bem, para te provar as minhas boas intenções vou te ensinar uma coisa sobre a minha muito adorável esposa. – ele chegou mais perto, quase sussurrando. – Existe um método infalível para conquistar qualquer mulher rabugenta. Amolecer o coração de pedra delas. 

– E como eu faço isso? – perguntou Taehyung, também sussurrando. Jeongguk precisou aguçar os ouvidos para ouvir. 

– Pode fazer como eu fiz. Flores!

– Flores?

– Se tem uma coisa que aquela mulher ama, além de mim, é claro, são flores. Ela já gastou uma fortuna com umas orquídeas raras e não me deixa nem chegar perto. – ele bufou. – Só porque eu sou um pouquinho desastrado... Nossa casa no Havaí é mais mato do que...

– Eu já sei! – Taehyung levantou-se de supetão. O brilho nos olhos retornara como uma supernova nascente. – Ah, muito obrigado, Adorável Senhor Han, você trouxe a esperança de volta para o meu coração! Eu sei exatamente o quê fazer! Se tem uma coisa que eu entendo, são de flores. Obrigado, obrigado, obrigado! 

Eles fez várias mesuras e saiu correndo, então voltou para pegar a lancheira, e correu novamente. Jeongguk se escondeu entre as sombras para não ser visto e o ômega passou por ele como um raio. 

O alfa deu um riso descrente. Ele tinha ido até ali... Sinceramente, ele não fazia ideia do porquê, nem o quê passara pela sua cabeça, para procurar por Taehyung. O quê ele diria? Jeongguk mal o entendia. 

Ele deu um sorrisinho. Seu avô já havia feito tudo. 

– Arrá! 

Jeongguk deu um pulo e um grito, pondo a mão no peito. Seu avô o descobrira e agora olhava para ele apontando um dedo com um enorme anel de caveira. Um contraste e tanto para a aliança dourada delicada na mão esquerda. 

– Eu sabia que tinha ouvido alguma coisa! 

– Vovô... Que susto... – disse Jeongguk, recuperando o fôlego.

– Por que estava bisbilhotando minha conversa com Taehyung? – perguntou Han, arqueando uma sobrancelha. 

Jeongguk fez uma falsa expressão ofendida.

– Quem disse que eu estava bisbilhotando?

– Rá! Nem tente, menino, eu te conheço e muito bem! Escutar atrás da porta, tsc, que feio! 

– Mas olha quem fala! Você vivia ouvindo as reuniões da vovó atrás da porta! De quem será que eu puxei... – retrucou Jeongguk, cruzando os braços. Estar perto de seu avô sempre o fazia agir como um filhotinho. 

– Di quim siri qui i pixei – imitou Han, fazendo voz de bebê. 

Jeongguk escancarou a boca. 

– Vovô! 

– Você ainda não me respondeu porque está aqui. Com certeza não é pra ver o seu velho avô.

Ele fechou a cara.

– Pra que mais seria? 

Han deu um sorrisinho e olhou para frente, por onde Taehyung fora. 

Jeongguk abriu e fechou a boca como um peixe, evitando o olhar zombeteiro do seu avô. 

– Ora, mas... Claro que não! O senhor está dizendo as mais absurdas besteiras que...

– Eu nem disse nada. – interrompeu Han, observando seu netinho todo perdido e ofendido. Para ele, Jeongguk ainda era um filhote. – Mas se a carapuça serviu...

Jeongguk arregalou os olhos e bufou.

– Já chega desse assunto! A vovó está esperando pra gente ir almoçar...

E então saiu pisando duro, seus sapatos causando sons firmes e metálicos nas escadas. 

Jeon Han-Beom coçou a barba por fazer, se perguntando o quê estava acontecendo ali. Por que era claro que havia algo entre Taehyung e seu neto, mas o quê? 

 

✿✿✿

 

À noite, Taehyung estava na varanda de casa revirando o lixo reciclável que Jimin havia separado procurando... Bem, ele não sabia exatamente o quê. Porém, saberia assim que o visse. Eu espero

– O quê é isso? Parece que passou um furacão aqui... - ele ouviu a voz de Jimin. 

– Desculpa, Jimin-ssi, eu arrumo tudo quando encontrar....

– Encontrar o quê? 

– Aquilo que vai me ajudar a me redimir com a Sra. Jeon. 

Jimin piscou devagar.

– Então 'tá... – Nem mesmo ele conseguia saber o quê Taehyung pensava às vezes. 

O ômega mais novo voltou-se para Jimin na intenção de perguntar se ele poderia dar uma olhada no ateliê quando viu. Ali, nas mãos dele, a peça perfeita, como se estivesse rodeado por luz dourada celestial, Taehyung teve certeza que ouviu um coro de vozes angelicais...

Um regador. 

– Parado! – gritou Tae. Jimin deu um sobressalto e pulou para cima da mesinha de vime.

– O quê é?! Uma barata?!

– Esse regador! Você vai usá-lo?

– O quê? Não, eu ia jogar fora...

– Ótimo! – Taehyung foi até o amigo e apanhou o regador das mãos dele. – Obrigado, Jimin-ssi, você é o melhor amigo do mundo! Prometo que arrumo a bagunça! 

Então correu para dentro, deixando um Jimin trêmulo e confuso ainda em cima da mesinha de vime. 

– Onde é que eu fui amarrar meu bode... Esse menino ainda vai me deixar maluco...

Taehyung foi até seu quarto onde deixava a orquídea que ganhou de Jeongguk durante a noite, que já estava bem melhor do que antes. Era uma linda planta, com pétalas brancas como uma noiva que se veste para seu amado. Eram três, ainda pequeninas, mas que cresceriam muito fortes em breve. 

Usando uma pequena pá de jardinagem, Taehyung pegou um pouco de terra e colocou dentro do pequeno regador de metal, que tinha uma cor azul clara que combinaria perfeitamente com o arranjo que ele faria para presentear a Sra. Jeon. 

Com todo cuidado do mundo, ele pegou a terceira plantinha pelas raízes e a enterrou no regador. 

– Não se preocupe – ele disse para ela carinhosamente. – Você vai se sair bem. 

Na manhã seguinte, Taehyung e Jimin caminhavam até o trabalho. O primeiro carregava seu regador florido com orgulho, catando florzinhas para enfeitá-lo com um pouco de cor, enrolando os caules pelos pegador e enfiando as mais pequenas nos furos da extremidade redonda. Já o ômega mais velho estava morrendo de sono e andava como um zumbi atrás de Taehyung.

– Onde é que eu estava com a cabeça de aceitar acordar tão cedo para ir caminhar... – sibilou Jimin. 

– Caminhar é bom, Jimin-ssi. Fez bem para a saúde e renova os músculos. Exercícios físicos liberam hormônios que nos fazem mais felizes. – recitou o quê havia estudado ontem à noite. 

– Eu não venho pro trabalho caminhando desde que minha bolsa foi roubada no dia que nos conhecemos. 

Taehyung suspirou, olhando para as ruas movimentadas da cidade grande. 

– O Destino não é maravilhoso, Jimin-ssi? Ele colocou aquele ladrão no seu caminho só para nós nos conhecermos! 

– Uhum... – ele murmurou, bocejando. 

Tae deu uma risadinha e enroscou seu braço com o de Jimin. 

– Obrigado por ter vindo comigo, Jimin-ssi. Você é um ótimo amigo. 

Jimin deu um sorriso orgulhoso e sonolento. 

Na empresa, Taehyung encontrou com Yoongi que lhe disse que os avós de Jeongguk já estavam na sala dele. Eles, principalmente a Sra. Jeon, iriam acompanhar de perto o desenvolvimento da nova coleção, em especial por causa da parceria entre a JE-ON e os Ling. Fofocas já rolavam entre os funcionários, pois as duas famílias eram rivais desde que se lembrava. 

Tae agradeceu Yoongi, que não fez perguntas sobre o regador peculiar que ele carregava. 

Respirando fundo, Taehyung bateu na porta do Covil. 

O Senhor Han, a Sra. Jeon, Jeongguk e Seomin, que tentava puxar assunto com Jeongguk e falhava miseravelmente, olharam para ele. E, depois, para o regador que ele segurava. 

Ele abriu a boca, mas nada saiu. Então olhou para Han, que lhe lançou um olhar encorajador. 

Tae foi até a Sra. Jeon, que estava sentada no sofá de couro branco e franzia o cenho para ele. O ômega fez uma mesura e estendeu o regador.

– Sra. Jeon, eu venho aqui para me desculpar pelo meu comportamento de ontem e por ter sido rude com a Senhora. Não era minha intenção. Sabe, eu não costumo ser rude com ninguém, mas ontem definitivamente foi um mal dia. Um dia de cão. Então, se a Senhora puder, aceite meu humilde perdão. E se não, apenas aceite meu presente e prometo nunca mais incomodá-la. Prometo prometido!

Jeon Yoona encarava embasbacada aquele ômegazinho, de quem ela lembrava muito bem, estendendo um regador repleto de flores com o corpo inclinado em 90 graus. Ele usava umas palavras difíceis, mas parecia terrivelmente sincero. 

Seomin olhava com profundo deboche para o regador horroroso de Tae. Jeongguk estava inexpressivo e Han, com um leve sorrisinho nos lábios. 

– Rum, ora, aprume-se, menino. – ela falou. – Me deixe ver o quê você trouxe. 

Timidamente, ele entregou seu regador para a mulher vestida num elegante conjunto rosa claro com pérolas, a saia combinando com o casaquinho; os cabelos pretos bem arrumados num coque baixo. Ela parecia uma rainha, mas o cintilar em seu olhos quando apreciou as flores no regador era completamente meninil. 

Houve um silêncio incômodo enquanto Jeon Yoona analisava o regador.

– É a coisa mais bonita, e mais estranha, que eu já vi. – sentenciou. 

Taehyung deu uma risadinha envergonhada. 

– Eu sou um admirador de coisas bonitas e incomuns. 

– Então somos dois. – concordou, tocando numa das flores que, surpreendentemente, era feita de papel cor de salmão. – Eu aceito seu presente e suas desculpas, ahn...

Taehyung levou um segundo para entender que ela queria saber seu nome. 

– Kim Taehyung, me chamo Kim Taehyung. – respondeu, suas bochechas ganhando rubor. 

– Kim Taehyung, muito obrigada por este... hm... regador. Como adivinhou que eu gostava de orquídeas? 

Taehyung olhou para Han, que piscou um olho para ele. 

– Foi um chute de sorte. – sorriu. 

Essa troca de olhares não passou despercebida por Seomin, sua boca completamente escancarada. 

Jeongguk diluiu o rosto num sorrisinho sem dentes. Aquele ômega... amoleceu o coração de sua avó. Quem imaginaria. Ele era... incomum, como aquele regador. E, parando para olhar, até que era bonito. O regador. Não Taehyung. 

 

✿✿✿

 

– E o quê seria isso? – perguntou Jeon Yoona para um Jimin que suava frio e tentava conter as mãos trêmulas enfiando nos bolsos e atrás das costas.

Yoona foi uma das maiores inspirações para que Jimin decidisse cursar moda. Mostrar suas criações para ela ainda era um desafio de ansiedade e medo e insegurança. Todos sabiam o quanto a velha mulher era uma crítica ferrenha e não aceitava nada menos que a perfeição. 

– É... Hm... – ele pigarreou – Vestido godê com mangas bufantes. Como o tema dessa coleção é Renovação, pensei em trazer antigas modas de uma forma moderna para dar um toque de nostalgia. 

Ela avaliou o vestido minuciosamente por um longo minuto. Jimin estava vermelho feito um camarão. Ele desabotoou o primeiro botão de sua camisa e se abanou.  

– Gostei. – pronunciou Yoona. Jimin suspirou de alívio. – A renda caindo pelos braços é realmente um luxo. Lindo, lindo...! 

– Que bom que gostou, senhora... – ele fez uma mesura, finalmente conseguindo respirar direito. 

– Mas isso aqui... – ela foi até um casaco longo e branco que imitava pelos animalescos. O mesmo que um certo pequeno ômega havia criticado no passado. – Isso aqui chamou a minha atenção desde que cheguei. É divino! 

– Fico muito feliz...

– Me diga o nome. Os melhores casacos tem nomes. 

Jimin paralisou. Ele sentiu vontade de ser uma tartaruga só para poder enfiar a cabeça para dentro do casco. Deu um riso de nervoso, a tremedeira recomeçando. Seu cérebro trabalhando tanto que fumaça poderia sair de suas orelhas.

– Nome... Ahn... O nome, claro... É... – ele podia derreter sob o olhar que Jeon Yoona lhe lançava. – É... Komondor! Isso, Casaco Komondor. 

"Kim Taehyung, você me paga..."

– Komondor... Muito criativo... – sopesou ela. 

Após se livrar da presença forte e angustiante de Jeon Yoona, ele despencou sobre uma cadeira do Estúdio onde fariam as primeiras fotos da coleção. Estava cedo e apenas alguns modelos se preparavam para posar. Tinha muitos rostos novos e nervosos ali. Uma das garotas abanava o rosto e tomava tanta água quanto um camelo. 

Era como se uma névoa cinzenta de estresse tivesse tomado o ambiente canto à canto.

Jimin discou o número de Taehyung e esperou. Assim que ouviu a voz delicada e animada dele, choramingou:

– Tae! Por tudo que é mais sagrado! Pode vir até o Estúdio e me ajudar com a sessão de fotos? A Taeyeon precisou ir ao médico e eu estou uma pilha de nervos! 'Tô sentindo que alguma coisa vai dar errado... 

– Estou indo, Jimin-ssi! Não saia daí e não beba café! Você fica muito nervoso quando bebe café... 

– Esse é o último catálogo de modelos? – perguntou Jeongguk a Seomin, enquanto os dois caminhavam pelo corredor até o Estúdio. Ele folheava a pasta e via rostos lindos e diferentes. 

– O senhor disse que queria diversidade nesta coleção. Essa agência é famosa por ter os modelos mais diversos. Diferentes nacionalidades, gêneros... 

– Gostei, pode contatar. – ordenou Jeongguk. 

– Sim, senhor. 

Quando Jeongguk pôs os pés no Estúdio, ele resfolegou de horror. 

O caos reinava ali. Dong Han-jae, o chefe dos funcionários, tentava organizar cabeleireiros, maquiadores e figurinistas correndo de um lado para o outro como uma marmota cega. Hoseok gritava ordens retumbantes para o pessoal do cenário e das luzes. Araras com roupas e sapatos jogados em lugares onde não deveriam estar. 

E ele

Kim Taehyung, fazendo a maior baderna com os modelos. 

– Um, dois, duas palminhas! – cantava, e todo o grupo dava passos para o lado e batia palmas guiados pelo ômega, rindo como se estivessem num parque de diversões, dançando com uma música irritante que vinha de algum lugar. – Um, dois, duas palminhas! Giraaa e sacode! 

– Mas o quê é que esta acontecendo aqui?! – bradou Jeongguk, sua voz reverberando sobre aquela algazarra. – Isso é um estúdio ou um zoológico?! Já chega de baderna! 

Taehyung desligou a música, que vinha de seu celular conectado a um rádio, e correu até Jeongguk saltitando como um carneirinho alegre. 

– Chefinho! Você viu? Quando cheguei todos estavam estressados e deprimidos, mas agora estão se divertindo! Não é ótimo? 

– Suponho que tenha sido você o autor dessa bagunça. – constatou Jeongguk secamente. 

– Sim! Uma pena que você não pôde participar...

– Realmente uma pena. 

– Não se preocupe, chefinho, vou fazer questão de te incluir em todas as coisas divertidas! – sorriu. 

"Qual o problema desse ômega?" Pensava Jeongguk. "Ele é tão otimista que chega a dar nos nervos". 

– O quê você está fazendo aqui? – perguntou Seomin. – Não deveria estar um pouco mais embaixo? 

O sorriso de Taehyung desapareceu quando ele olhou para Seomin. 

– Jimin-ssi me chamou para ajudá-lo. – ele se limitou a dizer, dando meia-volta e indo até Jimin. Ele tentava ignorar Seomin e seus comentários ácidos o quanto podia. 

– Sabe, Jimin-ssi, eu estava pensando aqui com os meus botões, mesmo não tendo nenhum botão, que mesmo um dia ruim pode ser um aprendizado. – falava Taehyung. – Eu aprendi que tudo bem estar num mal dia, mas você precisa ser mais forte que as emoções negativas. E que até os maus dias tem algo de bom. 

– Fico feliz que tenha acabado tudo bem. – foi tudo que Jimin disse. Estava mais concentrado em garantir que nada desse errado. 

– Jimin-ssi, pra que todas essas latas de tinta? – Taehyung perguntou ao ômega mais velho, que anotava alguma coisa em seu caderno de croqui em cima de uma mesa repleta de latas de tintas coloridas. 

– É o tema das fotos. Como é primavera, tudo tem que ser bem colorido. – explicou Jimin resumidamente. 

Do outro lado da sala, Seomin resmungava enquanto observava aquele ômega tão próximo do Sr. Park como se o conhecesse desde sempre. 

– Aquele... besouro azul! – resmungou. Dong Han-jae, que era seu único amigo na empresa, apenas balançava a cabeça em reprovação. – Ele se acha tão importante...

– Não entendo essa implicância sua. Você nem o conhece. – disse Han-jae. 

– Olha só como ele é próximo do Sr. Park! – pontuou Seomin, como se fosse óbvio. – E o Sr. Park é um dos melhores amigos do Sr. Jeon. Esse besourinho pode querer roubar o Sr. Jeon para ele! 

– Menos drama e mais trabalho, Seomin. – falou Han-jae tediosamente. – Deixe para implicar com o garoto no tempo livre... Caramba, todas essas tintas espalhadas não vai dar certo... Quem é que deixou tudo aberto?! 

Levou um instante para um sorriso traiçoeiro se formar nos lábios atraentes de Seomin. Ele roeu o esmalte da unha do dedão, uma ideia diabólica se formando em sua mente perversa. 

– Você me deu uma ótima ideia, Han-jae-hyung. 

Han-jae ergueu uma sobrancelha. 

– Como assim? Seomin, não faça nenhuma besteira... 

Seomin fez uma carinha angelical, voltando seus olhos afiados para o besourinho azul que observava com fascínio os modelos brincando e jogando as tintas sobre o cenário enquanto posavam para a foto. 

Ele esperou pacientemente até sua presa estar devidamente posicionada na armadilha. 

Seomin se aproximou sorrateiro, como uma serpente silenciosa, e deixou seu pé deslizar uma lata de tinta rosa pela metade que um dos cenaristas deixou ali no chão, dispondo-a na direção dos pés estabanados daquele besourinho. 

Então, Seomin foi até o Sr. Jeon, que lhe pediu um café. Fingindo estar com pressa, ele passou quase correndo por Taehyung, trombando nele com força suficiente para fazê-lo cambalear. 

E ele fez todo o resto. 

O pé de Taehyung foi certeiramente para dentro da lata de tinta. Ele se desequilibrou e tombou para trás, caindo sobre a mesa e derrubando-a, junto com todas as latas de tinta que estavam em cima dela. 

No fim, o besourinho azul estava rosa, amarelo, verde e vermelho. E Seomin saiu discretamente para não acabar sendo culpado. 

Taehyung estava perplexo e assustado. Tudo fora tão rápido que ele mal viu o que aconteceu. Limpou a tinta que caiu em seus olhos, dando de cara com todos encarando-o com espanto. Taehyung olhou para seus braços, suas roupas, todas sujas de tinta como o cenário das fotos. 

– Tae! – Jimin foi até ele, ajudando-o a se levantar e sujando suas próprias mãos. – O quê houve? 

– Eu não... sei. – ele olhou ao redor. O chão estava imundo, e ele não tinha certeza se aquilo iria sair tão fácil. – Oh! Jimin-ssi, o seu caderno!

Taehyung olhou com tristeza para o caderno de croquis de Jimin, que por azar estava sobre a mesa antes do desastre, afogado no meio de tinta colorida e perdido para sempre. 

– E-eu sinto muito... – todos aqueles olhares. De pena, desprezo e diversão. Taehyung sentiu suas bochechas esquentando e a vontade de chorar subindo pela garganta. Tudo se tornou um borrão quando ele correu para fora da sala, quase escorregando no corredor por conta da tinta em seus sapatos. 

Jeongguk, que olhava tudo completamente surpreso, mandou todos continuarem e correu atrás de Taehyung. Nada mais importava. Ele só sabia que precisava encontrá-lo. Como um instinto maior guiando suas ações.  

Taehyung chegou em um banheiro, enfim se olhando no espelho e tendo noção do quão deplorável estava. Seu cabelo azul estava arruinado por vermelho e verde. Havia amarelo em sua bochecha e ciano na outra. Suas roupas eram um arco-íris desigual sem começo nem fim. 

Ele tentou limpar o rosto, mas só conseguiu sujá-lo mais com tinta azul das suas mãos. Logo as lágrimas se misturaram às cores infindáveis, borrando-as por onde passavam. Envergonhado era pouco para o quê ele estava sentindo. Taehyung não sabia se conseguiria olhar para alguém daquela empresa depois de hoje. 

– Eu sou um desastre... – disse para si mesmo, baixinho. 

Enquanto isso, Jeongguk seguia o rastro de tinta deixado no chão. Ele mal olhava para onde estava indo. Só precisava encontrar Taehyung. 

O rastro de tinta acabou. Jeongguk encontrou Taehyung. 

Um Taehyung nu da cintura para cima, tentando inutilmente limpar a tinta de sua pele. 

Jeongguk congelou, boquiaberto, encarando aquela pele cor de oliva pintada de colorido. A cintura magra que crescia e dava lugar a ombros sensuais com uma fileira de pintinhas que subia até a nuca. Jeongguk desenhou com os olhos a curva do ombro dele, exatamente onde um alfa costumava Marcar um ômega, ligando suas almas e seus lados lupinos para sempre. 

Ele acordou do transe com um grito de horror de Tae..

– Chefinho! – Taehyung tentava cobrir sua nudez com a camisa empapada de tinta, olhando aterrorizado para Jeongguk. – O quê está fazendo no banheiro dos ômegas?!

Jeongguk arregalou os olhos e corou até o pescoço, virando bruscamente de costas para ele. 

– M-me desculpe... Desculpe, Taehyung. – pediu, sua voz nadando em desespero. – Não era minha intenção... Eu...

– Você veio me dar uma bronca? – ele perguntou baixinho e triste. 

– Não! – Jeongguk quase olhou para ele novamente, mas se conteve. – Eu só... Vim ver como você... hm... estava. 

Ele fez uma careta para si mesmo. Seu rosto ficando cada vez mais quente. 

– Eu estou, bem, coberto de tinta. – ele riu sem graça. 

– Como isso aconteceu? 

Taehyung se lembrou do vislumbre do rosto de Seomin segundos antes do desastre acontecer. Ele balançou a cabeça. Fora um acidente. Sim. Apenas mais um de seus atos estabanados. 

– Foi sem querer. Eu sou muito desastrado... – ele fungou. Jeongguk entrou em desespero. 

– Você não vai chorar, né? Por favor, não chore... – implorou. Era muito difícil acalmá-lo quando começava a chorar. 

– Todos tem o direito de chorar quando estão tendo o pior dia de suas vidas. Primeiro ontem e agora isso... – retrucou ele com a voz embargada. 

Jeongguk suspirou longamente. 

– Aqui, vista. – Jeongguk tirou seu blazer e entregou a ele, sem olhá-lo. 

– Mas chefinho, vai sujar... 

– Eu não me importo. Vista. – ele esperou uns segundos. – Já posso olhar? 

Taehyung emitiu uma confirmação. Jeongguk olhou para ele, que parecia minúsculo em seu blazer e completamente lamentável. 

– Você não pode ficar assim. – afirmou Jeongguk. – Venha, vou te levar para casa. 

– Boa ideia, assim eu posso me trancar no meu quarto e chorar até que esse dia horrível acabe. – lamuriou o ômega. 

Algo sobre imaginar Taehyung chorando e sofrendo sozinho incomodou Jeongguk. 

– Certo, nada de se trancar e chorar. – decidiu, atraindo um olhar de dúvida dele. – Vamos para a minha casa e eu compro algo para você comer. Você gosta de doces, né? Está sempre distribuindo doces por aí. 

– Não quero te atrapalhar, chefinho. 

– Não se preocupe. Hoseok é muito capaz de fazer uma ótima sessão sem a minha supervisão. – ele voltou-se para a porta. – Vamos. 

Infelizmente, lá fora estava chovendo como se o mundo fosse acabar em água. Jeongguk murmurou um palavrão. 

– Meu carro está na oficina e eu duvido que algum táxi vá te deixar entrar assim. – Taehyung se encolheu. – Vamos ter que ir à pé. 

Jeongguk pediu um guarda-chuva na recepção. Era transparente e não muito grande. Eles saíram do hall e se aventuraram no meio daquele vendaval. O vento soprava agitado e com força lançando gotas de chuva geladas para cima deles. Jeongguk abriu o guarda-chuva e chamou Taehyung para perto. O ômega se aproximou timidamente, arregalando os olhos quando Jeongguk abraçou seus ombros com um braço. 

Ventava muito e Taehyung tremia de frio. O blazer de Jeongguk não era muito quente, ainda que contivesse o cheiro inebriante dele. Seus pés já estavam totalmente molhados. Ele se deixava guiar pelo alfa. 

– Já estamos quase chegando. – disse Jeongguk depois de um tempo, quando eles pararam para esperar o sinal fechar. – Espero que você não fique doente ou...

Ele não chegou a terminar a frase. Um carro passou a toda velocidade sobre uma poça e molhou-os numa onda de água dolorosa de tão fria. 

Jeongguk ficou paralisado, processando o quê havia acabado de acontecer. Taehyung, sem conseguir se controlar, começou a rir. 

O alfa estava pronto para xingar meio mundo quando ouviu a risada dele. Baixinha e graciosa, aquele sorriso singular despontando de seus lábios, e Jeongguk apenas esqueceu que estava encharcado da cabeça aos pés e ficou admirando-o. 

– Posso saber do quê você está rindo? – perguntou com humor. 

– Desculpa, eu.. não sei! Apenas me deu vontade. – ele continuou rindo, gargalhando, craquelando a tinta seca nas ruguinhas no canto dos olhos. 

Jeongguk começou a rir também, contagiado pelo outro. Taehyung admirou o riso dele, mais escandaloso do que costumava imaginar. Porém, lindo. Como tudo que Jeon Jeongguk era. 

Eles pararam. Então, se entreolharam. E começaram a rir de novo. 

 

✿✿✿

 

– Está tudo bem aí? – perguntou Jeongguk batendo na porta do banheiro onde Taehyung tomava banho. Ele já estava lá há muito tempo. De certo tivera dificuldade para lavar toda aquela tinta. 

– Já 'tô saindo, chefinho! – gritou a voz abafada do ômega. Então, a porta se abriu. Uma nuvem de vapor aromatizado se dispersou para fora e um Taehyung apareceu empacotado num conjunto de moletom de Jeongguk que ficava muito, muito grande para ele. Tae precisou arregaçar a barra da calça e das mangas. 

O cabelo tinha voltado ao azul, ainda que ligeiramente desbotado, e a pele estava vermelha de tanto esfregar. 

– E suas roupas? – quis saber Jeongguk. Taehyung fez um biquinho. 

– Vou ter que levar numa lavanderia. Mas os meus tênis... – ele juntou as sobrancelhas com pesar, mostrando o par de All-star completamente manchados. – Já eram. Não tem como salvar. Ah! Eu gostava tanto deles...

– Eu sinto muito. 

– Tudo bem, chefinho, não foi sua... Atchim! 

Taehyung espirrou nas mãos, fungando pesadamente. Jeongguk franziu o cenho. 

– O quê foi? 

– Acho que peguei um resfriado...

– Mas nós nem ficamos muito tempo molhados. – contrariou o alfa. 

– Meu corpo é mais frágil por eu ser um ômega. 

– Mesmo assim... – ele não conseguiu terminar, pois Taehyung espirrara novamente. – Tudo bem, acho que vamos ter que pedir sopa e um bom chá de hortelã. 

Taehyung deu um sorriso amarelo, fungando. 

Mais tarde, depois de duas tigelas de sopa de algas e algumas xícaras de chá, Taehyung estava com a testa na mesa, lamuriando suas dores para o único ser vivo naquele recinto: Jeon Jeongguk. 

– Esse foi o pior dia da minha vidinha. O pior! Nenhum outro será capaz de superá-lo! "Nenhumzinho!" 

– Aham... – murmurava Jeongguk, apenas, com o queixo apoiado na mão e balançando a cabeça. 

– Como conseguirei olhar novamente para os meus colegas e não sentir vontade de me enfiar na terra como uma toupeira?! Todos vão rir de mim... – ele esperneou igual uma criancinha. Jeongguk riu pelo nariz. 

– Ninguém vai rir de você. – afirmou. – Garanto que todos já esqueceram. 

– Não tenho tanta certeza... – ele levantou a cabeça bruscamente, como se tivesse se lembrado de algo. – O Jimin-ssi! Oh, não! O caderno dele ficou destruído! E por minha culpa... 

– Não precisa se preocupar com... 

– Eu sou um péssimo amigo! – ele tombou a testa até bater na mesa novamente, as mechas do cabelo azul se esparramando. – Péssimo! Horrível! Ele deve estar furioso comigo... 

– Meu Deus do céu, eu não aguento mais isso... – o alfa esfregou o rosto com as mãos. De repente, uma ideia floresceu-lhe. Jeongguk foi até a cozinha e voltou com uma garrafa escura e curvilínea, com uma rolha e um rótulo chique, e duas taças de vidro. – Sabe, tem uma coisa que as pessoas da cidade fazer para afogar as mágoas. 

– E o quê é, chefinho? 

– Bebem!

Tae tombou a cabeça para o lado. 

– Bebem o quê? 

Jeongguk deu um sorriso furtivo e sentou-se lentamente em frente ao ômega que o olhava com curiosidade. 

– Esse vinho tem cerca de 30 anos de idade. Paguei caro por ele e estava esperando uma data especial, mas enfim... Vamos tomar juntos. – ele retirou a rolha. Taehyung deu um pulinho de susto com o barulho. 

– Uau, 30 anos? Mas como não estraga? – quis saber. 

– Quando o assunto é vinhos, quanto mais velho, melhor. – explicou o alfa, servindo o líquido espesso e escuro da cor de uvas maduras em cada taça sob os olhos grandes e curiosos de Tae. 

– Que interessante... – disse. – Eu gostaria de poder viver para sempre. 

Jeongguk lhe lançou um olhar de assombro curioso. 

– Mesmo? 

– Sim, sim. Não é maravilhosa a ideia de ter o "para sempre" como limite para os seus sonhos? Você não precisa se preocupar com o fim, porque não há um! Eu poderia ver todas as coisas bonitas do mundo, conhecer muitas pessoas, e quando realizasse todos os meus sonhos criaria novos! 

Jeongguk ponderou, encarando o ômegazinho com interesse e dúvida. Nunca havia visto alguém com uma visão tão singular do mundo e da vida. 

– É uma forma... hm... legal de se pensar. – foi o melhor que conseguiu dizer. Parecia que as palavras haviam sumido. – Mas eu não gostaria de viver para sempre, não. 

– Por que não? 

Jeongguk deu de ombros. 

– A vida não é muito gentil com todo mundo. 

Taehyung estava pronto para proferir uma resposta, mas Jeongguk mudou de assunto rapidamente lhe estendendo uma taça com vinho. 

O alfa nunca havia se arrependido tanto de uma decisão quanto desta. 

De alguma forma eles haviam ido parar na beira do sofá, sentados desleixados no tapete com a garrafa de vinho vazia aos seus pés. 

Um Taehyung bêbado era ainda mais tagarela e menos desinibido. 

– ... Aí, na parte em que aquela menina cabeluda saí da televisão, eu dei um berro tão alto que meus pais desceram correndo, meu pai com a espingarda, e eu fiquei de castigo uma semana... Nossa, esse vinho é amargo igual remédio pra diarreia... O gosto tá na minha boca até agora...

Jeongguk se sentia meio tonto. Mas ele não sabia se era pelo álcool, pela tagarelice infindável daquele ômega, ou por Taehyung ter chamado um vinho de 30 anos de "remédio pra diarreia". 

– ... tá tudo bem, chefinho? – o alfa deu de cara com aqueles olhos de amêndoa enormes lhe encarando mais perto que o necessário. 

– Hm-hmm, só preciso descansar os olhos um pouquinho... – ele recostou a cabeça no sofá, fechando os olhos. 

Um minuto inteiro de paz e sossego se passou até que Tae falasse novamente:

– Chefinho, por que você parece tão triste? 

Jeongguk abriu os olhos de supetão. 

– Do que está falando? 

– Eu vejo. – continuou. – Quando você acha que ninguém está olhando, você fica encarando o nada e seus olhos... não tem luz, como se você estivesse vendo a parte mais escura de si mesmo. 

Jeongguk abriu a boca para responder, mas nada saiu. Ele suspirou, o álcool lhe subindo a cabeça. 

– Por que? – insistiu Tae novamente. Jeongguk piscou várias vezes, encarando a parede, antes de dizer:

– Não sei... Às vezes, eu me sinto solitário. 

Tae arqueou uma sobrancelha. Os olhos dele estavam pesados. 

– Mas o chefinho tem o Jimin-ssi, o Hoseok-hyung, o Yoongi-hyung, o Namjoon-hyung, o Jin-hyung, seus avós...

– Eu sei, mas... Ainda há uma parte minha que é vazia, oca e sem luz. – Jeongguk mal sabia o quê estava falando. As palavras simplesmente saltavam de sua boca sem que ele controlasse. 

– Então... O chefinho precisa... preencher essa parte... 

Não deu dois segundos para Jeongguk sentir um peso diretamente em seu colo. Taehyung havia despencado para o lado e agora dormia com a cabeça apoiada nas coxas do alfa. 

Jeongguk ficou tenso, mas o ômega não dava sinal de que recobraria a consciência. Então, suspirou, relaxando o corpo e observando a cabeleira azul bagunçada. A cor estava desbotada e a raiz já aparecia, mas ainda combinava perfeitamente com a pele de oliva dele. Jeongguk suspeitava de que aquele cabelo nunca combinaria tanto com alguém quanto com Taehyung. 

O álcool realmente estava controlando-o, pois ele ergueu a mão e deslizou-a por entre aqueles fios, e foi como acariciar seda leve e morna embebida em mel de tão macios. Ele colocou uma mecha para trás da orelha, tendo um vislumbre do ômega capotado num sono que duraria horas. A boca vermelha, manchada de vinho, apertada num bico. 

Tão lindo... Que droga, por que ele tem que ser tão bonito? 

Jeongguk quis tocar a bochecha dele e comprovar se era tão sedosa e morna quanto parecia, mas um sono pesado demais lhe acometeu, e ele apenas se entregou a ele sem resistir. 

Sua mão permaneceu perfeitamente pousada entre os cabelos de Tae. 

E ele sonhou. E sorriu enquanto dormia.

 

 

 

No próximo capítulo...

Taehyung encontra uma maneira inusitada de preencher o vazio de Jeongguk. Jimin descobre por quem Tae está apaixonado. Jeongguk e Taehyung fazem uma aposta.


Notas Finais


Me digam o quê acharam nos comentários!
Beijos da Nyx e até o próximo!


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