— Amor? Amor, acorda! — lançou um travesseiro no parceiro adormecido. — Não temos muito tempo, droga. — deslizou ambas suas mãos e abriu a cortina bruscamente, fazendo o outro acordar num pulo. — Pegue seu notebook, devemos ficar de olho nos algoritmos; enquanto isso, vou trabalhar no software.
— Mas, Angélica... — choramingou em voz baixa. — São sete da manhã ainda...
— Como se os Templários tivessem tempo de descanso! — a moça se retirou do quarto, deixando seu parceiro ainda de bruços na cama. — Tom, anda logo! — ordenou da sala de estar.
Tom bufou, mas logo cedeu; levantou e vestiu sua camisa, se dirigindo para a sala logo após. Se tinha alguém que conhecia tão bem quanto sua própria mente era Angélica; quando ela queria algo, era melhor dar logo a ela ou se preparar para um tornado de fúria. Ele já havia passado por tais episódios e podia garantir que o melhor é ter algum Templário perto para que Angélica não descontasse em você.
Sentou-se à mesa que, de tão pequeno era o apartamento, parecia ocupar metade dos cômodos; tão espaçosa quanto a televisão ligada, pendurada em uma das paredes da sala. Enquanto bebia seu café, não conseguiu deixar de observar sua parceira ligando os notebooks e iniciando os equipamentos. Já fazia dois anos que conheciam um ao outro e era inegável tamanha a lealdade da moça à Irmandade.
— Esse país está um caos. — Tom comentou, enquanto desviava o olhar em direção à TV, onde era transmitido o noticiário, passando a imagem do povo nativo protestando contra algumas medidas que, infelizmente, não foi capaz de entender: estava tudo em espanhol.
— Mais caótico que esse lugar, impossível. — Angélica retrucou. — Mas, para infelicidade geral da nação, vamos ficar neste hotel por uma semana.
— O suficiente para consertar a cagada que os Templários fizeram o favor de desencadear, né?
— Prefiro acreditar que sim. — Angélica sentiu um arrepio repentino. — Não consigo nem pensar no que acontecer se ele... — congelou.
— Amor? – o outro estranhou a parada súbita de sua voz. Quando dirigiu seu olhar a ela, percebeu que ela estava inerte, com caixas repleta de fios em suas mãos. — Amor!
— Eu... Eu estou bem... — a moça mentiu. Sentia sua ansiedade subir na forma de uma tontura na cabeça. Havia passado noites em claro e isso sempre voltava à tona quando lembrava do porquê estava naquela missão. Temia que Jacob Frye nunca voltasse para sua época e isso desencadeasse algo ainda mais sombrio: a extinção de sua própria família.
Sim, era verdade. Angélica Frye, inglesa, era descendente direta de Jacob Frye. Desde a época do Assassino, sua família possuía uma árvore genealógica bem extensa e épica de Assassinos, agora espalhados pelo mundo em suas missões contra os Templários; assim como ela própria.
— Certeza? — Tom a envolveu com seus braços. A Frye estava tão fora de si que mal percebeu a aproximação do outro. — Qualquer coisa estou aqui.
— Sim... Vamos ao trabalho. — disse, sentando-se em frente ao computador, à qual rapidamente iniciou um arquivo de programação.
Embora Angélica estivesse trabalhando pela honra de sua família, ela não era a única a qual tinha uma forte linhagem dentro do Credo. Tom também havia se juntado aos Assassinos por influência de sua própria família.
Aveline de Grandpré, a renomada Assassina de Nova Orleans era não só a ancestral mais forte de Tom — o que explicava sua pele de tom chocolate e seu forte fascínio por culturas africanas — como também sua ídolo e exemplo de vida. Ele adorava escutar as histórias de seus avós, em sua casa natal, nos Estados Unidos, sobre a corajosa luta da Grandpré contra as injustiças raciais. Há pouco tempo, havia se tornado um Assassino oficialmente; sendo dessa forma que conheceu — e se apaixonou — por Angélica.
— Contatou a Irmandade mexicana? — o Grandpré questionou em seu tom suave, tentando transmitir uma calma energia à sua parceira.
— Sim.. eles mandaram reforços. Logo estarão aqui. — a resposta curta e rápida foi consequência da ansiedade que fincava forte na consciência da inglesa.
— Ei. Vai dar tudo certo. Eu prometo. — sentado no computador ao lado da parceira, Tom não teve muito esforço para entrelaçar sua mão na alheia. Ele sabia que levava tempo, mas sua paciência começava, pouco a pouco, a influenciar Angélica.
Subitamente, ouviram batidas na porta. Ambos, quase ao mesmo tempo, congelaram. A Frye, cuja adrenalina sempre foi mais alta, levantou-se tão rápido quanto pegou a sua pistola e a carregou. O estadunidense também ficou em pé e só observou os passos de sua parceira até a porta.
Abriu. E no mesmo instante, apontou a arma na direção da entrada.
Mas não havia nada lá.
— Oi! — uma voz repentina veio de trás e quase vez Angélica atirar na direção. — Calma! Calma! — era uma mulher; aparentava estar na casa dos vinte anos, olhos e cabelos castanhos escuros e pele bronzeada. Sua variação linguística ao pronunciar as palavras, fazia acreditar que ela estava em sua terra natal. Mas, o mais importante, era que a mulher vestia o moletom típico dos Assassinos.
— Que susto... É comum de todos os Assassinos de combate fazerem isso? — a Frye bufou, enquanto guardava a pistola.
— Gracias pela recepção. — respondeu num tom irônico. — Abigail Perez, a seu dispor. — estendeu a mão e foi respondida por ambos.
— Prazer, sou Angélica e esse é...
— Angélica Frye e Tom de Grandpré. Sim, eu sei sobre vocês. “Os descendentes”. — soltou uma risada um tanto forçada. — Diferente de vocês, não tenho uma linhagem tão extensa de Assassinos; eu e minha mãe somos as primeiras da nossa família...
Tom fez menção de dizer algo, mas logo foi interrompido pela mexicana.
— Mas acho que não estamos aqui para falar “meu” passado, não é mesmo? — alternou olhares entre o casal. — Digam-me, ¿cuál es el plan?
~
O cheiro dos legumes cozidos já se espalhava pela casa. O inglês cortava os alimentos em movimentos rápidos e os colocava na panela fervente. Vez ou outra, mexia-os e experimentava seu caldo, comprovando se estavam ficando bons para sua primeira tentativa de fazer uma sopa.
Subitamente, ouviu um barulho: era a porta da frente. Os sons de passos que vieram logo após só cessaram quando Jacob sentiu braços envolvendo-o por trás.
— Qual é o prato dessa noite? — perguntou Arno, apoiando sua cabeça no ombro alheio e, através disso, observava a panela que o outro manuseava.
— Sopa de Legumes. Pardon a falta de criatividade, mas o que mais falta neste lugar é comida. — o Frye soltou uma leve risada.
— Talvez seja porque estava em meio à uma revolução, meu caro? A maioria dos mantimentos que tem aqui são roubados. — o francês sentou-se sobre a bancada; pegou uma colher menor e saboreou um pouco do caldo. — Hmm... está ficando bom. Tão bom quanto seu francês, mon amour. — finalizou com uma piscadela.
— Merci, seu ladrãozinho. — colocou a colher de madeira ao lado do fogão à lenha e se aproximou onde o parceiro estava sentado; embora o francês ainda estivesse com seus equipamentos, Jacob não teve dificuldade se “encaixar” entre suas pernas e encontrar uma posição favorável para beijá-lo. Um beijo que não demorou muito para se tornar intenso: uma mordida aqui, uma lambida ali e uma ofegada acolá. — Tem mais do que a sopa para você experimentar. — E começou a distribuir selinhos pelo pescoço alheio.
— Eu adoraria... — admitiu entre ofegadas. — Mas não podemos. — separou-o com as mãos. — Tenho uma reunião com o Conselho.
— Ah, mas esse Conselho é pior do que a Eléonore me entupindo de medicação.
— Ela quer seu bem, ô idiota. — havia sarcasmo em sua voz. — E se eu me recordo bem, ela te disse para não fazer movimentos muito intensos pelas próximas semanas. Acho que isso inclui sexo também.
— Mas já faz tempo desde o acidente...
— Menos de duas semanas não é bastante tempo. — Arno deu um beijo ligeiro na testa do inglês. — Agora vá se arrumar. O Conselho também quer te ver.
Jacob bufou, mas devido a cara de Arno que, posteriormente, tornou-se séria, tomou a caminhar em direção ao dormitório. Antes de se retirar, ouviu algumas palavras proferidas em francês, na qual o inglês traduziu para:
— “Depois da reunião prometo experimentar direito essa sua Sopa de Legumes...”.
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