*~Elsa~*
Silêncio. Só o que se pode ouvir é o som dos cristais gelo batendo quando o vento sopra. Estou em meu castelo. Não há móveis. Improvisei uma cama com neve fofinha. Só se passou uma noite e ninguém veio atrás de mim. Uma nevasca parece aproximar-se do pico.
- Assassina! – Milhões de vozes ecoam no meu ouvido.
Sinto medo. O rosto de Jack aparece em meio aos meus pensamentos e seus olhos azuis sorriem para mim. Sinto algo quente em minha bochecha. Uma lágrima, tão solitária quanto eu. Levanto do meu trono feito de gelo e vou até a sacada que está logo à minha frente. Vejo uma silhueta feminina se aproximar. Vou até as escadas.
- Elsa! – Os portões de gelo abrem e Anna entra.
- Anna, por favor, vá embora. – Dou a volta e me tranco no quarto.
- Elsa, por favor, não vá se trancar!
- Encobrir, não sentir.. – Sussurro esvaziando a mente.
- Elsa, por favor, me escute! Não me diga que ainda acredita ser a culpada da morte de Esther.
- É fato Anna. Sou uma assassina. – Mantenho uma postura fria. Anna está apoiada na porta. É possível ver o contorno de seu corpo.
- Eternal é a culpada! E acredite, ela já deve estar pagando por seus erros. Você tem que voltar para Arendelle. Nossos pais estão preocupados com você!
- Nossos pais?! Eles acordaram?! – Me levanto do trono, e com um gesto de mão abro a porta que leva ao meu quarto.
- Sim Elsa. E eles querem te ver. – Sua voz agrada meus ouvidos. Sorrio e levo as mãos até a boca.
- Graças a Deus. – Olho para o chão e as lágrimas vêm à tona.
- Você pode vir comigo. Todos estão te esperando. Você precisa conhecer a Alice, ela tia do Jack. Ela é espontânea e engraçada. – Dá um risinho triste enquanto se curva para ver meu rosto.
- Imagino. – Dou um riso enquanto enxugo as lágrimas.
- Jack também quer ver você. – Sinto uma pontada no peito. Como se tivesse recebendo uma descarga elétrica.
- Então por que ele não veio me ver? – Me viro e cruzo os braços.
- Pedi para que ele me deixasse vir primeiro. Você não precisa ficar aqui se lamuriando. Por favor, tente compreender isto. Que droga!
- Que droga?! – Viro-me de súbito. Uma neblina de gelo se forma entre nós duas. – Não foi você! – Dou um passo largo na direção dela. – Que acordou de um pesadelo! – Outro passo. Congelo o ar em nossa volta. – Com o sangue da mulher que te deu a chance de existir nas mãos! Sabe como eu me senti quando vi o corpo sem vida de Esther na minha frente?! Foi ali que descobri o quanto sou perigosa!
- Eternal fez aquilo! Naquele momento suas mãos eram as mãos dela! – Anna leva o braço esquerdo até o rosto. A neblina está mais densa.
- Eternal? – Me ajoelho chorando. – Não sei se posso acreditar nisso. Se tivesse tentado impedir que ela se apossasse do meu corpo. – Digo isso, mas no fundo eu sei que não conseguiria. Meu coração dói. Como se estivesse congelando aos poucos e parando de bater.
- Você não tinha como. – A neblina cessa e Anna se aproxima de mim. – Olha pra mim. – Põe a mão em meu queixo e ergue minha cabeça. – Você não precisa fazer isso a si mesma.
- Você tem razão. – A dor em meu peito aumenta. Mas quando Anna diz aquilo.. É como se eu tivesse recebido minha redenção. Choro. Soluço. Ela apenas me abraça. Não sei se passaram horas, minutos ou até mesmo uma eternidade até que afrouxo o abraço e olho para ela.
- Mas agora tenho uma notícia ruim para você.
- O que houve? – Pergunto. Anna se levanta e esfrega as mãos.
- Como vou dizer isso.. – Ela esfrega a nuca. – Você acabou congelando tudo na fuga da noite passada.
- Ai meu Deus! – Levanto e arregalo os olhos. – E agora?
- Nenhum de nós sabe. Vovô nos disse que “você deverá afugentar o medo. O coração da princesa deve estar sempre aquecido com amor. Um coração gélido só trará frio e desgraça.” – Ela faz uma imitação do nosso avô falando. Foi engraçado, mas não rimos. A situação é séria.
- Então .. – Vejo Jack em minha frente. Sei que ele não está ali. Mas sorrio pensando em como seria bom abraçá-lo.
- Assim.. Enquanto eu vinha para cá fiquei pensando.. – Anna está andando em círculos pelo quarto. – Quem seria capaz de esquentar o coração gelado da princesa. – Ela pára e olha para mim com o indicador em seu queixo. – Isso mesmo!
- Quem? – Digo com um tom irônico.
- Jack! – Rimos juntas. Ela tem razão. Sinto meu corpo estremecer. Toco os lábios e fecho os olhos. Lembro-me do nosso primeiro beijo. Da lua gigantesca que nos observava e de suas mãos em minha cintura.
- Ôoi? Tem alguém aí? – Anna sacode as mãos diante dos meus olhos. Pisco repetidas vezes tentando recuperar os sentidos. – Hmmm.. Você tem alguma coisa pra me contar? – Ela começa a andar em volta de mim.
- Não estou escondendo nada. – Dou um riso nervoso.
- O que aconteceu entre você e ele? Meu Deus! – Ela faz uma cara de espanto e cobre a boca com as mãos. – Vocês se beijaram!
- Anna! Você não pode contar isso pra ninguém! – Faço um gesto com as mãos como quem diz “pare!”
- Todo mundo sabe que vocês se gostam.. Mas tudo bem vou guardar seu “segredinho”.
- Obrigada. Mas iae, tá afim de apostar corrida até o castelo? – Faço cara de determinada.
- Claro! – Ela dá um pulinho e fica na posição de largada. – Vamos!
Corremos juntas. No começo foi bom. Eu precisava daquele momento com minha irmã. Não a culpo de ter me deixado sozinha e ido salvar nossos pais. Não penso mais que sou culpada da morte de Esther. Mas aí vejo tudo coberto por camadas grossas de neve. Anna congela. Tudo a minha volta para. Sinto meu peito apertar. Eu fiz isso. Como pude ser tão inconsequente? Deveria ter escutado o vovô. O relógio volta a girar. Anna e eu chegamos ao castelo. As portas se abrem e eu entro.
- Mãe! Pai! – Meus pais estavam saindo do escritório. Os vejo correndo em minha direção.
- Minha filha! – Diz mamãe enquanto se aproxima. Vejo Carlisle saindo da cozinha.
- Obrigado por ajudá-los Carlisle! – Olho por cima do ombro de meu pai. Ele acena e some.
- Soubemos do que aconteceu, você não é- – Interrompo meu pai. Não aguento mais ouvir sobre isso.
- Tudo bem pai. Já entendi. – Nós quatro nos abraçamos. É tão bom estar com eles. Quando saio do abraço algo me impulsiona para trás me levando ao chão. Sinto algo pesar em cima mim.
- Elsa! – Os três gritam espantados.
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