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História O Comandante (SENDO REESCRITA) - Bombas e Flores


Escrita por: littlefairy22

Capítulo 16 - Bombas e Flores



Um dia antes da explosão

    Jimin sentia falta de Jungkook.

  Depois que foi resgatado de seu cativeiro, só teve algumas horas para ficar com o comandante antes deste ter que sair novamente. Eles simplesmente não conseguiam um tempo para eles, nem que fosse um dia, livre de qualquer tipo de ódio e tudo que os lembrasse que eles ainda estavam em guerra. Era doloroso para os dois saber que eles poderiam morrer a qualquer momento sem sequer se despedir um do outro. Era uma relação tão complicada, a começar pela falta de noção dos dois de que sequer estavam tendo alguma coisa.

    Ele estava sentado em uma das camas da enfermaria, conversando com Jisoo. Óbvio que o assunto deles era sobre tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Eles pareciam ficar ainda mais amigos a cada conversa, pois a preocupação dos dois era a mesma: Jungkook. Desde sempre a morena deixou claro que o comandante era como um irmão mais novo para ela e, por estar tanto tempo junto com ele, sabia que ele se sairia bem em qualquer missão que se colocasse.

      Embora a confiança entre os dois fosse completamente recíproca, Jimin preferiu não falar sobre as visões de Tae. Mesmo que Jungkook e Yoongi soubessem com antecedência sobre aquilo, como se eles já tivessem presenciado antes, ele sentiu que não deveria deixar que aquela peculiaridade fosse espalhada. Poderia ser perigoso para Taehyung. Além disso, se o comandante​ não ia contar nem para Jimin, ele imaginava que também não deveria dizer nada a ninguém até segunda ordem.

    Era uma situação realmente estranha e Jimin não queria nem pensar o que iria acontecer se ele estivesse certo sobre aquela tal explosão. Ele estava preocupado com o seu "pequeno" Tae, mesmo sabendo que ele estava ali perto praticando o arco e flecha junto com Kyara, imagina quando eles fossem para a verdadeira batalha? Não queria nem pensar, era bom que Jungkook cumprisse a sua promessa de não deixá-lo na linha de frente.

   Jimin sentiu uma coisa estranha em seu interior. Não sabia explicar, mas queria saber mais sobre essa coisa de "pessoas com poderes", já que nunca achou que veria algo desse tipo. Hoseok não parecia saber muito sobre aquilo, desde que ele estava tão confuso quanto o ruivo quando eles conversaram sobre Taehyung no dia da visão, e Jungkook não estava lá para contar nada, então resolveu que tentaria perguntar para Jisoo sobre aquele assunto. Tinha certeza que ela iria saber pelo menos uma coisa.

— Jisoo...Eu estava pensando sobre algumas coisas – ele parecia meio sem jeito com as palavras, não sabia como deveria perguntar aquilo. A garota o olhava atentamente, vez ou outra mexendo em seu cabelo como se estivess nervosa com toda a situação. – É verdade que algumas pessoas tem poderes? Ter visões, controlar objetos com a mente, levitar, coisas assim.

   Jisoo pensou sobre aquilo por um tempo.

— Na verdade, isso é bizarro para nós porque os Rebeldes não tem mais nenhum registro de pessoas com poderes há décadas

— Não tem mais? – Jimin indagou, arregalando os olhos. – Quer dizer que já existiram pessoas com poderes aqui?

— Bom, são só boatos, mas diziam que a nossa primeira comandante podia controlar o fogo. Nunca foi confirmado por ninguém, então isso meio que foi deixado de lado pelas novas gerações. Penso se é realmente verdade e se tem alguma chance disso ter sido passado em seu DNA.

— Ela teve filhos?

— Eu posso te contar a história de como nós formamos os Rebeldes? É que eu amo esta história e sinto que vai te ajudar a entender melhor isso tudo – Jisoo perguntou, parecendo empolgada. Jimin apenas assentiu rapidamente, incentivando a mulher a continuar. – Bom, quando a quarta guerra mundial acabou e mais da metade da população foi exterminada, ainda não haviam novos povos sendo formados. O primeiro a nascer foi o Reino. O pai de Chung-Hee, Hyun, juntou alguns sobreviventes e montou um novo povoado, apesar de que o rei sempre diz que foi ele quem fez isso.

— Ainda não entendi o que a Chayo tem a ver com isso.

— Bom, depois que o Reino foi consolidado, o governo injusto de Hyun começou a despertar a revolta de algumas pessoas. Entre essas pessoas, estava Chayo, que naquela época ainda deveria ter uns vinte anos – Jisoo deu de ombros. – Ela começou a fazer reuniões secretas com um grupo de pessoas que tinham os mesmos ideais que ela. Ela achava que, se eles não tivessem números suficientes para fazer uma rebelião, que pelo menos abrissem portas para que outros tentassem fazer o mesmo depois deles. Quando eles estavam em um grupo de pelo menos cinquenta pessoas, tentaram fazer uma missão para matar o rei.

— E o que aconteceu depois?

— Obviamente eles não ganharam por falta de armamento, mas já estavam​ satisfeitos em serem considerados traidores. Eles fugiram para o litoral e começaram a aceitar pessoas de fora, assim foram ficando cada vez maiores – ela sorriu e Jimin pôde ver o quanto ela realmente gostava daquela história. Jisoo obviamente era apaixonada pelo que eles faziam ali. – Enquanto a comunidade crescia, Chayo sentiu que não tinha mais tanta coisa para fazer pelos Rebeldes quando descobriu que estava grávida. Então, de um dia para o outro, ela simplesmente sumiu.

— E ela teve a criança?

— Ninguém sabe. Alguns dizem que ela perdeu o bebê por causa dos esforços que fez enquanto não sabia da gravidez, outros acreditam que ela teve e ele foi morto logo depois...Enfim, é tudo muito misterioso. Tudo o que sabemos sobre ela vem de relatos – Jisoo falou, estalando a língua entre os dentes. – Enfim, depois de muitos anos, os três filhos que Hyun teve não puderam assumir o trono pois morreram "misteriosamente", então Chung-Hee se tornou o rei quando ainda tinha uns dezesseis anos. Na segunda geração de guerreiros, Yoongi chegou na vila e foi se tornando o melhor lutador entre todos, não se demorando a virar um mestre. Depois, Jungkook, o seu irmão e Keana apareceram.

— De onde Yoongi veio? Como ele conseguia saber tanto sobre luta?

Jimin perguntou isso porque era realmente curioso sobre as origens de Yoongi e sabia que nunca poderia perguntar para ele. Em primeiro lugar, ele não o responderia se perguntasse e, em segundo, tinha um pouco de medo dele. Quem poderia culpá-lo? O cara tinha mais músculos e ódio que oxigênio no corpo.

— Ele...Bem, ele fazia parte dos Outros – Jisoo pareceu desconfortável ao falar aquele nome. Vendo o rosto confuso do outro, ela teve que falar. – Esse é o nome que costumamos usar para falar do Clã da Areia, que fica entre o fogo cruzado do Reino e dos Rebeldes, mas que é temido por ambos. Diferente dos povos conhecidos por nós, eles não seguem regras. Tem um líder, mas isso é tudo que os tornam semelhantes a nós. Coisas como estupro, roubo, assassinato, tortura, drogas e incesto são extremamente comuns no dia-a-dia deles, podendo ser feitas na frente de qualquer um. Eles são meio que os "renegados" da sociedade, por isso os chamamos de "outros", e estão juntos porque simplesmente não se encaixam em qualquer outro lugar, pois são completamente  problemáticos e incapazes de conviver em uma sociedade normal. Parecem com os Cyphers, mas eles são muito, muito piores. Yoongi cresceu nesse lugar, por isso sabe tanto sobre lutas, mas saiu ainda muito novo assim que soube da iniciativa rebelde.

 — E depois que estavam todos juntos o outro comandante conseguiu armas suficientes, invadiu e tomou essa base, que antes pertencia ao Reino. Certo? – ele perguntou, pois se lembrava vagamente que Jisoo já havia lhe dito isso.

— Exatamente. Jungkook veio depois e acabou de vez com a dependência dos rebeldes.

— Ok...Isso é tudo muito interessante, mas eu ainda não entendi porquê os antigos rebeldes diziam que a Chayo tinha poderes.

— Quando o primeiro grupo de Rebeldes foi tentar matar o rei e falhou, os mais velhos diziam que ela levantou uma parede de chamas para impedir que os guardas do Reino os seguissem, e tudo era controlado por suas mãos. Não acha que é muito estranho que ela tenha conseguido levar todo mundo junto com ela, com pouquíssimas baixas? Eles não tinham muitas armas, Jimin, os Rebeldes jamais teriam conseguido fugir naquele número tão grande se não fosse por isso. Além disso, nas colheitas do Reino tem uma grande parte da terra onde nada cresce, certo? – perguntou ela e Jimin logo confirmou. Ele se questionava como ela poderia saber tanto sobre várias coisas, mas preferiu não interromper a história. – Dizem que ela colocou fogo nessa parte do chão porque haviam muitos soldados, então o solo perdeu os nutrientes necessários...Mas, de novo, são só teorias. E, como não temos idosos por aqui, vão continuar sendo até que alguém consiga provar o contrário.

Jimin sorriu, admirado.

— Bom, obrigado por esclarecer essas dúvidas. Você sempre sabe o que dizer.

  Jisoo lhe lançou um olhar de cumplicidade. O ruivo só conseguia pensar no quanto tinha sorte por ter uma amiga como ela, que era tão inteligente e dividia tudo o que sabia com ele. Era engraçado como ela sempre se mantinha disposta a ajudá-lo. Jimin queria conhecer mais sobre a sua história, mas achava que eles já tinham conversado o suficiente sobre o passado naquela manhã.

— Ei, tenho uma surpresa para você. Você disse que queria atirar, certo? – perguntou ela, já não conseguindo segurar um sorriso. Jimin assentiu, meio desconfiado. – Eu falei com o Taemin e ele vai te ensinar. Vá a arena, ele está esperando lá.

— Mas eu pensei que Jungkook não quisesse que eu aprendesse – Jimin encolheu os ombros, um pouco receoso com aquilo. Óbvio que ele queria, mas o comandante não tinha permitido.

— Ele nem vai saber. Vá – Jisoo colocou um dedo nos lábios, o dizendo para ficar quieto.

Jimin apenas fez o que ela mandou, incerto. Se Jungkook descobrisse, os dois estavam ferrados. Não tinha exatamente medo do comandante, mas definitivamente não queria vê-lo com mais alguma preocupação na sua cabeça, afinal já andava tão nervoso que tudo o que o ruivo queria fazer era mantê-lo relaxado. Na verdade, esse era o seu plano para quando ele voltasse a base.

— Pensei que não te veria de novo, ruivo – Taemin sorriu quando Jimin chegou a arena. Ele estava ainda mais bonito naquele dia.

  Eles estavam sozinhos ali, junto com os alvos montados para a prática de tiro e a arma que iriam usar. Jimin tinha que admitir que ficava nervoso perto de algumas armas, pois elas o faziam lembrar de sua vida no Reino, mas tinha que aprender a usá-las. Não podia depender de outras pessoas para sobreviver, tinha que fazer exatamente o que Taehyung estava fazendo: aprender a ser independente.

  Jimin deu de ombros.

— Não exagere, não nos vemos há apenas alguns dias. Como está?

— Bem melhor agora, sabendo que você já se recuperou daquele sequestro horrível – o mais alto suspirou ao se lembrar do assunto, mas logo depois abriu um sorriso bonito. – Vamos começar?

   Jimin sorriu também, subitamente feliz com sua simpatia. Era bom descontrair com alguém que o fazia esquecer um pouco todas as preocupações, embora a sua mente ainda não conseguisse parar de pensar em Jungkook e em Taehyung. Deus, ele se preocupava com aqueles dois.

    Taemin ensinou tudo o que sabia para ele, e foi extremamente paciente quando ele acabava por cometer um erro. Mantinha uma mão forte em seu quadril e a outra em seu antebraço, para demonstrar como deveria se portar quando estivesse segurando a arma. Explicou que ele teria que mantê-la o mais afastada o possível do rosto por causa do coice da arma quando era disparada. O ruivo aprendeu a atirar com a pistola e com o fuzil, além de ter recebido uma pequena demonstração de como atirar facas em lugares estratégicos no corpo de uma pessoa.

Os dois perderam completamente a noção de tempo enquanto conversavam, àquela altura já haviam deixado as armas de lado. Resolveram caminhar um pouco pela base para que pudessem conversar sobre tudo que tinha acontecido.

— É engraçado – ele comentou de repente e Jimin franziu a testa, sem entender. – A cor do seu cabelo. N-Não que ele seja estranho ou feio...Na verdade, pelo contrário, é muito bonito. Você pintou ou nasceu assim?

Jimin sorriu com o seu nervosismo em se explicar imediatamente. Tinha que admitir que não sabia reagir quando alguém lhe dizia algum elogio.

— A menos que eu tenha sido enganado a minha vida inteira...Eu nasci assim.

— Combina com você – Taemin encolheu os olhos, bagunçando os seus fios. – Parece fogo.

(X)

  Quando Jungkook, Lisa, Keana e Yoongi voltaram para o vilarejo, eles não conseguiram encarar ninguém nos olhos.

    Algumas casas foram completamente destruídas, outras apenas foram levemente atingidas pelas chamas no impacto das bombas​. Ainda haviam alguns corpos no chão, sendo assim retirados por alguns dos moradores, já que o grupo do comandante só voltou no dia seguinte. Olhar para o chão era ainda pior do que olhar para os rebeldes, pois naquela terra chamuscada também haviam partes de corpos humanos, tanto sangue que poderiam encher uns três baldes e Jungkook podia jurar que viu um par de olhos. Todo aquele cenário de destruição parecia gritar "vocês foram os culpados" para ele.

  Algumas macas improvisada eram levadas de um lado para o outro, carregando pessoas gemendo de dor. Ele via pessoas no chão, com ferimentos horríveis pelo corpo, manchas de sangue espalhadas no rosto e de repente desejou que Hoseok estivesse ali para dar uma força a mais para os médicos da vila. Aquele lugar tinha uma energia negativa tão forte que ele quase estava começando a se sentir fraco.

  Quando eles foram percebidos ali, o silêncio se instalou no ambiente. Os rebeldes olhavam para eles, quase como se estivessem esperando explicações do que acabara de acontecer ali. Eles pareciam tão perdidos que Jungkook pensava se não era melhor contar tudo de uma vez. Mentir daquela forma era desumano.

  Metade do povo encarava Lisa, como se ela fosse a pior doença que existia, provavelmente sabiam que ela não pertencia aos rebeldes, assim como Yoongi disse. A menina se encolheu em seus próprios braços, podendo jurar que ouviu alguns xingamentos direcionados para si. Eles deviam estar achando que ela foi a culpada pelo bombardeio, e ela não podia tirar a razão de nenhum deles.

— Quantas pessoas, Lay? – Jungkook questionou a um de seus soldados que estava por perto e parecia estar tranquilizando algumas pessoas.

— Mais ou menos cento e dez – ele falou baixinho, sem querer que ninguém ouvisse. Encarou Jungkook com um pesar nos olhos. – E contando. Ainda não vimos todos os escombros.

     O povo se reuniu em volta deles, formando um círculo improvisado. Todos queriam ouvir o que os guerreiros tinham a dizer, afinal confiavam neles para que aquele tipo de coisa fosse superado rapidamente. O comandante sequer podia pensar o que fariam se soubessem que eles foram os causadores daquilo.

— Até agora foram confirmados cento e dez mortos, além dos estragos feitos em algumas casas e, pelo que eu pude perceber, em algumas estufas. Talvez esse número de baixas duplique, assim que retirarmos os escombros e verificarmos todos os destroços, mas ainda é cedo para dizer – Jungkook se pronunciou, sentindo um nó se formar em sua garganta quando olhou para uma família, que estava aos prantos porque o filho caçula estava brincando do lado de fora da casa quando as bombas foram lançadas. Sua mãe, ajoelhada no chão, chorava baixinho e o pai mantinha uma mão protetora em seu ombro, enquanto ouvia o comandante. – Eu não tenho palavras para dizer o quanto eu sinto muito por todas as perdas. Me desculpem se eu falhei com vocês por não encontrar métodos que me deixassem ciente desse bombardeio antes que acontecesse, mas...Eu posso dizer que, mesmo com tantas mortes, vou continuar lutando até que não sobre mais ninguém, tanto do nosso lado quanto do Reino. Eu vou lutar até meu corpo ser vencido pelo cansaço, pelos machucados ou por qualquer outro motivo, porque eu acredito em nós. Eu acredito que somos a fagulha de esperança que vai acender o incêndio que vai fazer o Reino cair, pois eu também acredito em uma sociedade justa, que cria todos os homens e mulheres igualmente, e não age com repreensão a atos libertários. E eu sei que estão aqui porque também acreditam nisso e, acima de tudo, porque acreditam em mim para tornar isso possível. E, se não for pedir muito, quero que continuem acreditando em mim. Quando essa guerra acabar, seremos livres, nem que essa seja a minha última ação.

   Ninguém conseguia dizer nada, era um silêncio absoluto. Keana estava sendo abraçada por uma de suas amantes, enquanto chorava baixinho pelos amigos que perdeu naquela tarde. Lisa mantinha os braços cruzados e a cabeça baixa, pois Jungkook já havia lhe ensinado que era assim que eles demonstram luto entre eles. Yoongi mantinha uma expressão séria, inabalável, mas no fundo estava orgulhoso do líder que Jungkook tinha se tornado. Era a primeira vez que os rebeldes se sentiam tão sem esperança, como se não tivessem mais motivo para continuar lutando e isso partia o coração de Jungkook, pois aquilo ali era a vida dele, era o seu povo. Ele nunca se sentiu tão mal, pensando que poderia ter evitado tudo aquilo.

— Deixem as suas lágrimas para depois que ganharmos essa guerra. Não podemos perder tempo chorando pelas pessoas que se foram – Yoongi falou, olhando para cada um dos rostos ali presentes. – Apenas mantenham em suas mentes que os responsáveis por esse ataque têm que pagar por isso, e faremos o Reino sangrar por cada vida que eles tiraram de nós. Pelos Rebeldes e pelo comandante.

— Os mortos serão vingados! – Keana falou, sua voz soando extremamente potente, erguendo a cabeça do guarda em suas mãos. O povo pareceu se encher de esperança por aquilo.

    Todos repetiram o coro "pelos Rebeldes e pelo comandante", todas as vozes juntas pareciam se tornar uma só, o símbolo dos rebeldes (que era segurar o punho fechado contra o peito, mais precisamente no lugar exato onde o coração bate), era feito pela criança mais nova até o adulto mais velho, o que fez os pelos de Jungkook se arrepiarem. Será que todos eles iriam estar fazendo aquilo se eles soubessem que Jungkook ajudou a causar aquele bombardeio? Será que um dia iriam conseguir perdoá-lo por isso? Será que ele mesmo iria se perdoar? Duvidava muito.

— Pelos Rebeldes – ele levantou a sua espada, ocultando a última parte do mantra. Ele não merecia que tanta gente lutasse por ele, muito menos usasse seu título como grito de guerra. Ele não era digno de nada disso.

   Mais tarde, depois que eles ajudaram com os feridos e trabalharam para se livrar dos escombros, tiveram que ir embora. Keana quis ficar para continuar a auxiliar as vítimas e a trabalhar no rádio com Lisa, já que eles ainda não chegaram ao ponto que queriam, eles queria mandar uma mensagem  é para todos os ouvintes do Reino. Jungkook sentia que não podia mais impedir a garota de nada, então simplesmente​ concordou. Não era bom que ficassem juntos demais, pois o clima entre os dois ainda estava extremamente hostil e qualquer coisa pequena seria motivo de briga.

— Lisa não vai ficar. Alguém pode tentar alguma coisa com ela se souberem mais de suas origens – Jungkook avisou, puxando a loira para o seu lado. Ela tinha que admitir que estava surpresa, pois achava que o comandante não dava a mínima para a sua segurança e a faria ficar ali até que a comunicação do rádio estivesse estável. – Yoongi fica aqui com você, Keana, e vocês dão um jeito em tudo.

  Lisa os orientou.

— Assim que nós voltarmos para a base, vou passar um recado no nosso rádio para vocês para dar as instruções do que fazer. Se precisarem de qualquer coisa antes disso, mandem um sinal para Chanyeol que ele também sabe o que fazer para isso funcionar.

   Quando eles se separaram novamente, antes de Jungkook e Lisa irem embora, cada um recebeu uma missão. Naquele momento, a loira estava em uma das garagens do lugar, carregando o carro para que os dois pudessem partir. Como o comandante não queria deixá-la sozinha, colocou Yoongi para tomar conta dela, mas não sabia que isso era muito pior. O mestre desconfiava de tudo sobre aquela garota.

— Você sabe quem é, não sabe? – Yoongi perguntou de repente, fazendo Lisa cerrar os olhos. O mestre bufou, irritado com a sua falta de percepção. – Você tinha um papel importante no Reino. Imagino que saiba quem é o infiltrado e a única razão de não nos contar é que você precisa ter algo que preserve a sua vida, nem que seja por um curto período de tempo.

— Você até poderia estar certo, mas meu papel não era tão importante assim quando o assunto era estratégia de guerra. Só o meu padrasto sabe quem é o infiltrado e ele nunca vai deixar ninguém sabendo. Se eu soubesse, já teria contado. Aliás, se eu não estivesse do lado de vocês, teria fugido sem avisar sobre as bombas e todos teriam morrido também – Lisa rebateu, nervosa com todo aquele interrogatório. Parecia que o mestre de Jungkook queria arrumar qualquer motivo para matá-la. – Quer fazer mais alguma acusação sem provas ou acha que é o suficiente por hoje?

  Yoongi perdeu a paciência. Ele segurou a garota pelos cabelos da nuca, fazendo sua cabeça pender para trás e a empurrou para que ficasse prensada no carro atrás de si. Os seus olhares se encontraram e pareciam se recusar a se desviar. Ele tinha ódio em seus olhos e ela exalava calmaria, pois sabia que era inocente.

— É melhor você se livrar desse ar de superior, Lisa. Ou eu mesmo farei isso.

— Jungkook não deixaria você fazer nada comigo. E-Ele sabe que meu trabalho ainda não está completo.

    Ela falou com dificuldade, cerrando os dentes por causa da dor que os dedos longos causavam em sua cabeça.

— Você é muito corajosa sob a proteção do comandante, não é? Só que eu posso fazer parecer um acidente...Posso fazer parecer que o seu padrasto te levou de volta para o Reino. Posso fazer você sumir, sem ninguém saber o motivo – Yoongi avisou, sem deixar de olhar para ela. – Você é quem vai dirigir e levar o Jungkook de volta para a base. Se você ousar fazer qualquer coisa contra o comandante durante a viagem, esteja ciente de tudo que eu não só posso, como vou fazer com você.

— Você acabou? Vai me deixar fazer o meu trabalho? – questionou, sem deixar de lado o seu ar de deboche. Yoongi apenas a encarou uma última vez antes de se afastar.

(X)

Já estava quase escurecendo quando Jungkook e Lisa saíram do vilarejo. O comandante achou que fosse ficar desconfortável por permanecer sozinho com a garota por tanto tempo, mas, na verdade, não tinha se sentido tão relaxado desde que eles saíram da base. Gostava da companhia dela, admirava a sua coragem e tudo o que ela fazia por eles sem necessariamente ganhar nada por isso.

O seu cabelo já não era mais tão loiro como era quando chegou na base. A falta do retoque da tinta fazia a cor desbotar e seus fios já estavam quase brancos, além da raiz negra que crescia. Mesmo assim, ela continuava linda e isso era inegável. Lisa percebeu que ele estava encarando-a e desviou o olhar, envergonhada.

De repente, eles ouviram um barulho de motor e uma moto passou por eles, parando perto do carro como se quisessem ver quem estava dentro. Jungkook não conseguiu ver com clareza as feições, mas viu que era uma mulher negra, que tinha uma pintura branca sobre o rosto. Ela pareceu ter conseguido o que queria e acelerou, fazendo a poeira subir e sumir de seu horizonte em minutos.

Tintura branca no rosto...Clã da Areia.

— Seguimos? – Lisa perguntou, desconfiada.

O comandante balançou a cabeça.

— Não. Provavelmente só mandaram ela aqui para verificar, estamos perto do território deles.

— Aí, você está bem? Suas mãos estão tremendo – Lisa dirigia calmamente e falava baixo, não querendo assustá-lo.

— Só estou com um pouco de frio.

     Ele respondeu, esfregando os braços. Eles ainda tinham a sorte de estar dentro do carro, com os vidros fechados, pois lá fora estava muito pior.

— Keana fez um chá para nós antes de sairmos. Acho que ela imaginou que nós poderíamos querer alguma coisa quente – a loira passou uma garrafa para ele, porém ela não era transparente, então não era possível ver a cor do líquido dentro dela. Jungkook se sentia um idiota por estar confiando tão cegamente em Lalisa, mas bebeu um pouco do chá, que não estava ruim. – Ela se importa muito com você, independente de tudo o que houve.

    Jungkook suspirou, encostando a cabeça do banco.

— É, acho que sim. E você, como está com tudo isso?

— Ainda estou aceitando tudo o que aconteceu. Tenho que reservar um tempo para me perdoar.

— Se perdoar?

Jungkook questionou, concentrado na paisagem que via pela janela. O pôr do sol era completamente admirável naquela estrada, pois eles podiam ver a grande estrela sumindo entre as montanhas mais altas que os rodeavam para que os céus fossem conquistados pela Lua e seus corpos brilhantes. Admirar o céu era uma das coisas que Jungkook mais amava fazer.

— Sim, nós temos que fazer isso para pelo menos tentar conviver com a culpa, do contrário iremos acabar malucos. Se você não se perdoar, nunca vai conseguir o perdão de outras pessoas.

— Acho que não consigo me perdoar. Eu já fiz tanta coisa, Lalisa, tanta coisa – Jungkook suspirou.

— Mas você não pode se culpar por isso, comandante, tudo o que você fez implicou de uma forma incrível na vida de milhares de pessoas. Você salvou milhares de pessoas. Hoje, você sacrificou algumas vidas para que outras fossem salvas, nós seremos recompensados por tudo isso. Eu sei que Chanyeol vai fazer essa decisão valer a pena.

— Tenho certeza que sim. Nos relatórios que ele faz para mim, consta que ele já matou mais de 100 guardas do Reino em missões que ele cumpriu para o próprio rei, sem que ninguém percebesse. Ele é um soldado nato.

— Sim, ele é. Mas não mude de assunto – ela pediu educamente. Não se dava ao luxo de olhar para ele, pois se derretia pela carinha que ele fazia quando estava triste com algo e, além disso, tinha que manter os olhos na estrada, garantir que aquela garota na moto não fosse causar problemas para eles. – Eu sei que soa falso, praticamente acabamos de nos conhecer, mas eu me preocupo com você. O que você está sentindo?

— Eu estou cansado, e nem sei se é só fisicamente. Eu apenas estou tão esgotado de tudo e parece...Parece que a compensação por esse cansaço nunca vai chegar, entende? Eu queria ser metade do que as pessoas esperam que eu seja, mas a verdade é que eu não sou nem metade de mim.

— Não diga isso. O povo espera coisas gigantes de pessoas gigantes, ninguém lutaria por você se não fosse um bom comandante. Como você mesmo falou para Keana, temos que perder algumas batalhas para ganharmos a guerra.

— Você me acha um bom comandante?

— Posso ser sincera? – ela perguntou e Jungkook logo respondeu que sim. – Acho que você é um leão agindo como um gatinho doméstico.

— O que acha que eu devo fazer?

— Está mesmo perguntando para mim?

Ela sorriu. Lisa gostava de como Jungkook estava aberto a conselhos de seu povo.

— Só quero saber o que você acha.

— Honestamente, eu acho que você tem muito poder de fogo e um exército muito superior ao do meu padrasto, além de ser muito mais inteligente que ele, mas não está fazendo as estratégias certas, por isso estamos perdendo. O jogo acaba rápido quando jogamos sem nenhuma instrução.

— E então? Onde eu estou errando?

— Assim que voltarmos, iremos fazer estratégias melhores e planejar ataques que vão atingir o exército deles de uma maneira vital. Já tenho ideia do que podemos fazer – ela garantiu, os olhos ferozes não deixavam a estrada escura por nenhum momento. – Chegou a hora de revidar. Eles terão o que merecem.



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