Clarke
Madi, o que posso falar do serzinho mais lindo do mundo? Eu me apeguei a Madi com tanta força que seria capaz de me fundi a ela. Era uma criança doce e carismática, não chorava ou fazia birra e sempre estava pronta para sorrir seja pelo que fosse. Gostava de brincar, mas me ignorava completamente quando Lexa lhe chamava para assistir filme, principalmente se esse filme era rei leão.
- Vamos lá, última colherada. – Peguei a última colher de sopa, dei a Madi e ela comeu tudo se agitando feliz por finalmente ter terminado. – Você quer descer? Não quer mais nada? Nem Danoninho?
Madi continuou a se agitar querendo sair da cadeirinha, olhei o relógio e sabia que Lexa sairia do escritório a qualquer momento. Tirei Madi e a pus no chão, mas ela se recusou a se sentar e ficou em pé, “Ok, o que ela está fazendo? Isso é novo” quis chamar Lexa, mas ela estava trabalhando e odiava ser atrapalhada. A princesinha estava em pé e firme o suficiente para não ceder, resolvi solta-la aos poucos e ver o que estava diante de nós e Madi ficou em pé sozinha. Bam bam não era uma palavra e grunhidos não era conversa, mas ficar em pé sem ajuda era um avanço e Lexa precisava saber.
- Tudo bem, não sai daí. – Me afastei aos poucos e fui até a escada e gritei. – LEXA VEM AQUI AGORA, É URGENTE.
-CLARKE, AGORA NÃO.
- MADI ESTÁ EM PÉ, VEM LOGO.
Ouvi passos e um estrondo "ela caiu de novo", logo em seguida a porta abriu e Lexa veio correndo o mais rápido que pôde, ela passou por mim e foi até Madi se jogando no chão assim que a viu em pé sorrindo. Me aproximei de novo e me juntei a elas, Lexa estava feliz e aparentemente Madi também que tentou ir até Lexa, mas acabou caindo no chão. Ela ficou quieta sem entender.
- Tudo bem Madi, vamos tentar de novo. – Lexa lhe ajudou a levantar novamente e me olhou finalmente. – Clarke ela está em pé sozinha.
- Ela está sim. – Abracei e dei um beijo em sua bochecha, mas em seguida veio a preocupação. – Lexa ela logo estará andando e nós não sabemos lidar com isso.
- Precisamos por uma cerca na escada e avisar pro Aden tirar os brinquedos da casa. – Lexa olhou em volta, ela era uma pessoa com respostas e me beijou, “não mereço você”. – Vai dar certo, a gente nem sabia dar comida a ela e agora sabemos.
- Eu não sabia você quer dizer.
- Somos uma dupla não somos? – Assenti confirmando, ela pegou Madi nos braços. - Então confia. Vem, vamos brincar.
---X---
Já passava da meia noite quando Lexa entrou no quarto. Ela tinha botado as crianças para dormir e tinha terminado de dar suas aulas. Não via antes, mas Alexandra Woods era extremamente dedicada em suas tarefas, e isso me inspirava de certa forma. Havia voltado a escrever músicas e Lexa me apoiava mesmo sem ter ouvido uma música sequer, ela me apoiaria em qualquer coisa que ousasse fazer.
Ela entrou pela porta, com uma calça moletom e uma camiseta branca, os óculos redondos no rosto e o cabelo preso num coque. O quanto ela ficava linda na simplicidade dela era único e só eu podia admirar aquilo.
- O que está lendo? – Perguntou se jogando na cama, ela deitou no meu colo pedindo atenção. – Genealogia da Moral? Está lendo Nietzsche?
- Estou. – Ignorei-a e continuei a ler, mas que ela me atrapalhasse “pelo amor de Deus, o que esse cara está dizendo”.
- Porque está lendo Nietzsche? – Lexa levantou arrumou seus óculos no rosto e me encarou esperando uma resposta convincente.
“Filha da mãe vai me pressionar” Eu queria resistir a Lexa, mas era quase impossível. Não conseguiria me livrar daquela discussão e me rendi ao seu desejo.
- Quero entender você e o seu trabalho, só isso.
- Não vai entender meu trabalho lendo Nietzsche. – Retrucou ela e levantou da cama indo até a cômoda e depois pegou um livro fino e todo preto. – Vai entender meu trabalho lendo isso.
- O príncipe, Nicolau Maquiavel? – Li o título com um certo espanto, esse era um livro famoso, mas que nunca imaginei ler, ele é mau. – Como isso vai me ajudar a entender o que você faz?
- Nesse livro de Nietzsche, ele vai quebrar com a questão moral, irá coloca-la em xeque e depois vai mostrar realmente o que é a moralidade. Eu trabalho com pessoas sem a menor noção de moralidade, são em maioria pessoas corrompidas e para isso eu preciso entende-las, preciso chegar na mente de pessoas ruins para ajuda-las a não fazerem coisas ruins, por isso Maquiavel é melhor, entendeu?
“Mais ou menos”, não eu não poderia dizer isso. Assenti e tomei o livro em minhas mãos. Eu sabia que o trabalho de Lexa era importante, mas não entendia porque ela gostava tanto dele. Gostava tanto que seus olhos brilhavam, era como se fosse parte dela e sua inteligência era plena.
- Você compreende o funcionamento completo do mundo agora?
- Boa parte dele sim. – Ela se aconchegou por baixo dos lençóis e se aproximou de mim. – Eu preciso está sempre atenta ao passado, mostrar ao mundo sobre ele para que não se repita. Mas infelizmente, as consequências do passado ainda deixam pessoas ressentidas, e aí sim que entra Nietzsche. Somos governados por fracos, não somos donos de nós mesmos.
- Isso inclui você? – Brinquei e ela sorriu.
- Gosto de pensar que estou entre as pessoas que são donas de si. – Respondeu sem dificuldades e isso era encantador, eu nunca seria assim, mas gostava de acreditar que não. – Enquanto a você? Se sente dona de si?
- Me senti livre uma vez e fiz o que quis, mas isso rendeu consequências.
- Para toda ação existe uma reação igual ou equivalente.
- Newton?
- Exato. – Lexa pegou o livro e pôs na sua cabeceira me convidando a juntar-se a ela. – E liberdade não é fazer o que quer, e sim saber dizer não a sua libertinagem.
“Então eu nunca fui livre?” Neste instante, percebi que preço paguei todos esses anos pela falta de moralidade e dever comigo mesmo me transformaram em alguém triste, e era por isso que de certa forma, Finn me tinha em suas mãos. Ele me tinha em suas mãos, era minha consequência e eu poderia ter dito não.
- Tia Clarke? – Aden adentrou no quarto esfregando os olhinhos cansados e vindo até nós. – Posso dormir aqui?
- Você teve pesadelo? – Perguntou a morena ao abrir espaço para que ele pudesse deitar.
- Sonhei que o bandido que atacou a tia Clarke tentava entrar na nossa casa. – Ele se aninhou a mim e eu o abracei. – E tentava nos fazer mau.
- Ninguém vai entrar aqui Aden. – Afirmou Lexa tentando lhe conforta. – Primeiro porque nos estamos aqui e não permitiríamos que ninguém machucasse vocês dois. E segundo, porque eu e uns amigos da polícia já estamos investigando e quando encontrarmos esse cara ele vai pra cadeia.
“Cadeia? Investigando?” Não, não isso não era um bom sinal. Se Finn fosse descoberto ele contaria sobre mim e Lexa nunca me perdoaria e sem dúvida eu perderia as crianças. Minhas mãos suavam e eu apertei Aden contra meu peito. “Não posso perde-lo, não quero”.
- Não é perigoso? – Quis saber.
- Não é.
- Vai pegar ele tia Lexa? – Aden voltou-se para ela. – Não pode deixe esse cara machucar a tia Clarke de novo.
- Ele não vai machucar mais ninguém. – Ela o beijou e me beijou. – Você precisa dormir agora Aden. Pode ficar, mas só hoje.
- Boa noite tia Clarke, boa noite tia Lexa.
- Boa noite docinho. – Beije-o e lhe abracei. Lexa estava na minha frente, seus olhos fixos em mim e eu tive medo. – Durma bem.
Aden foi adormecendo e Alexandra continuou consigo mesmo lhe afagando e até o garoto dormir e então ela umedeceu os lábios preparando-se para falar, “ela sabe” meu coração acelerou e tentei controlar minha respiração ao máximo para ela não percebesse.
- Está com medo. – Disse sem qualquer aviso. – Mas por que?
- Não quero que você encontre quem me roubou. – Menti, “só não quero que descubra a droga que eu sou” – Tenho medo que se machuque.
- Não vou, tenho tudo sob controle. – Ela pegou minha mão e a beijou. – Confie em mim.
- Eu confio, mas...
- Então não precisa de mais nada, apenas vou pega-lo e vamos seguir nossas vidas.
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