A noite foi embora tão rápida qual viera. Abri os olhos sentindo que acabara de fecha-los. Minha cabeça latejou e por um momento senti-me desorientada. Olhei ao redor para certificar-me de que tudo vivido no dia anterior era verdade.
Os raios do sol invadiam por entre as grades da janela e pelos buracos do lençol pendurado. Levantei-me com muito esforço. Não fazia ideia que quantas horas se passaram desde que dormi. Contudo, eu estava com fome e certamente todos os habitantes da prisão deviam estar absortos em seus afazeres em prol do grupo.
Escorreguei pela borda da cama e me pus de pé no chão frio de concreto. Instintivamente olhei para a cama de Daryl, ele não estava lá. Achei melhor assim. Arrumei a minha e sai da cela me arrastando lentamente. Fui em direção à cela maior onde ficavam os mantimentos e utensílios. Ao entrar na cela, vi uma pessoa de costa com longos cabelos loiros, era Beth.
– Bom dia. – eu disse.
Ela virou-se para mim, sorrindo. Segurava Judith no colo e a alimentava com uma mamadeira contendo Fórmula.
– Oi. – ela me respondeu. – Você está com fome?
Eu assenti.
– Tem umas latas de pêssego em conserva ali. – ela apontou com a cabeça para uma pilha de latas sobre a mesa de madeira. Eu me aproximei da mesa e apanhei uma lata pequena, com um canivete abri a tampa.
Comi em silêncio enquanto observava Beth andar de um lado para o outro com Judith nos braços. A garota realmente tinha jeito para cuidar de crianças. Ela cantava baixinho, brincava em vozes cômicas que só fazemos perto de uma criança. Conversamos pouco. Então ao terminar agradeci a Beth e me retirei pelos corredores indo em direção à parte externa, o pátio.
Maggie e Carol colocavam roupas no varal, Hershel e Rick observados por Carl, estavam escavando a terra do pátio, eu com minha experiência de escoteira, sabia que ali em breve seria uma horta. Sorri feliz por eles, o espaço era bom e se eles cuidassem bem daria bons frutos.
Aproximei-me deles.
– Aqui será uma horta. – disse Rick se aproximando de mim.
– Eh! Eu sei. – respondi sorrindo. – Vocês já sabem o que vão plantar?
Ele me olhou sério.
– Não, não sabemos. Ainda nem temos as sementes. – disse ele preocupado.
– Com relação a isso, eu posso ajudar. – eu disse. – Digamos que eu tenho certa experiência com isso. Passei um semestre inteiro dentro de uma fazenda de imigrantes orientais, observando-os.
Ele sorriu surpreso.
– Então será de grande valia, tê-la no grupo. Passei a minha vida inteira lutando contra bandidos e assassinos e no fim acho que tornei um deles. – divagou ele e percebi amargura em sua voz.
– Não é verdade. Maggie me disse que você era policial antes de tudo isso acontecer e disse também que foi a sua experiência que manteve o grupo a salvo até agora. – ele me olhou admirado e depois divertido para Hershel.
– Viu Hershel. Tenho até fã clube. – observei os dois rirem. Parecia que não riam há muito tempo. Voltou-se para mim novamente. – Bem, você e Glenn poderiam ir amanhã então atrás de sementes e outras coisas que você julgar necessário. Pois eu não entendo nada de plantação e cultivo.
– Tudo bem. – concordei sentindo-me útil ao grupo. – Quando você quiser.
– Agora temos que falar sobre um assunto sério. – disse ele e seu rosto endureceu como uma estátua esculpida há muito tempo em pedra gasta pelo tempo. – Daryl me disse ontem que um homem tentou atacá-la. – eu concordei então ele continuou. – Ele também disse que vocês iam lá da uma olhada nele, não eh?
Eu assenti.
– Olha... eu sei que nós só lutamos contra os zumbies, mas as vezes é necessário enfrentamos nosso temores e fazer algo que até antes de tudo isso acontecer nós julgávamos errados. Entendeu?
Eu assentia, já tinha uma ideia de onde ele chegaria.
– Bem, não sei se você está me entendendo mais, se Daryl julgar necessário mata-lo, ele o fará e você não tentará impedi-lo. Entendido?
Eu assenti novamente. Também pensara nisso quando o deixei para isca de zumbie naquela árvore. Pensei longamente, então passei a observar as mulheres lá no fundo estendendo as roupas enquanto conversavam. Olhei para Carol.
– Por que você não vem comigo? – perguntei para Rick.
– Não posso, sou o responsável pelo grupo e preciso estar aqui se acontecer algo. Mas você estará segura com Daryl, ele é bom em achar rastros e sabe se virar se por acaso for preciso. Aliás, ele já está se preparando para vocês saírem. Por que não vai lá conversar com ele e quando voltar nós conversaremos sobre as sementes.
Ele pôs a mão em meu ombro e saiu.
Eu pensei um pouco sobre o que iriamos fazer então percebi que não estava vestida apropriadamente para uma furtiva da prisão. Caminhei até Maggie, ela sorriu a minha aproximação.
– Oi, eu sei que você e Daryl vão sair daqui a pouco. – disse ela. Carol bufou. – por isso levantei cedo e já estendi sua roupa logo de manhã. Elas já estão secas.
Ela me estendeu as minhas roupas dobradas que estavam sobre uma caixa de madeira em um canto. Eu agradeci e me afastei. Voltei para a cela para me trocar. Encostei a cortina e tirei a camisa marrom. Coloquei minha roupa intima e vesti a calça jeans que estava com um buraco em um dos joelhos e sentei-me na cama de baixo para por as meias e o coturno preto. Levantei e peguei a camiseta azul.
– Marry. Marry. – ouvi a voz e Daryl me chamando pelo corredor enquanto se aproximava. Vesti a blusa rapidamente e em seguida coloquei o colete jeans por cima.
– Aqui! – eu respondi após terminar. – Aqui dentro.
Ele empurrou a cortina com tudo para o lado e entrou na cela.
– Por que não respondeu? Onde você estava? Estou te procurando um tempão.
– Estava com Rick.
– Hum. Olha eu já peguei uma mochila coloquei alguns mantimentos caso aconteça alguma coisa e vamos a pé, como você disse que ele está aqui na mata não faz sentido ir de carro ou moto.
– Ok. – respondi. – E a minha arma? Eu não irei lá desarmada.
Ele suspirou forte e começou a mexer em seu cinto. Puxou minha automática.
– Toma! E vamos logo quero voltar antes do anoitecer.
Eu o segui pelo corredor sem dizer uma palavra. Estava feliz em ter minha arma de volta e de estar bem vestida e limpa. Daryl colocou uma mochila em suas costas e meu deu outra vazia.
– Caso a gente ache algo que valha a pena trazer. – ele explicou a minha muda pergunta. – Pronta?
– Sim, vamos logo acabar com isso.
Alguns minutos depois nós dois estávamos à beira do portão. Todos eles vieram se despedir de nós. (Carol não falou comigo, mas deu um abraço muito apertado em Daryl). Ela, Maggie e Glenn começaram então, a bater nas grades e a fazer muito barulho atraindo os andantes para longe do portão que foi aberto pouco depois.
– Vão! – gritou Rick, e eu e Daryl começamos a correr em linha reta, matando com facas os que ainda estavam próximos. Então chegamos à floresta.
* * * * *
Não conversamos o caminho inteiro. Estávamos atentos a possíveis barulhos. Hora ou outra encontrávamos um dele pelo caminho. Caminhamos muitas horas quando finalmente chegamos ao local que eu indicara.
– Foi por aqui. – sussurrei, olhando para cima. – Ali!
O que vi a seguir foi horrível mesmo para os padrões da nova ordem. O sujeito estava amarrado pelos braços, pendurado em um troco grosso da árvore. Seu corpo pendia inerte e suas pernas estavam com os ossos à mostra.
– Os filhos da mãe chegaram primeiro. – disse Daryl.
– Isso é horrível. – eu murmurei sentindo me culpada e lágrimas saíram de meus olhos sem que eu pudesse evitá-las. Daryl se aproximou de mim.
– No fim ele mereceu o que aconteceu. – disse ele. As lágrimas vieram em abundância e senti-me desequilibrada, segurei-me em Daryl e chorei copiosamente em seu peito. Ele passou suas mãos sobre meus ombros e me abraçou até que fui me acalmando. Para mim aquele momento foi como se o tempo tivesse parado e fôssemos apenas nós dois ali, naquele lugar. Então me despertei de meus devaneios e prantos.
O homem sem nome abriu os olhos lentamente e senti um pouco de esperança. Desgrudei meu rosto do peito de Daryl e observei. Então percebi que não havia esperanças, pois quando olhei em seus olhos vi que a maldição já o consumira. Ele olhou para nós e começou a se mexer desesperadamente tentando nos pegar para saciar sua fome incondicional. Seus grunhidos eram muito altos no meio daquele silêncio sepulcral.
– Vamos embora daqui, não adianta mais e os gritos dele vão chamar a atenção dos outros.
Olhei para Daryl consternada.
– Não vamos nem por um fim nisso?
– Tá. – disse ele soltando-me e puxando sua besta das costas. Mirou naquilo que já foi um ser humano e atirou. Virei-me para o outro lado, não queria ver aquilo que em parte, era minha culpa. – Pronto. – disse ele pegando minha mão. – Vamos.
Eu me virei para olhá-lo. Mas o que vi foi muito pior. Meu olhar focou-se em um ponto atrás de Daryl. Uma manada de pelo menos cinquenta zumbies vinha em nossa direção lentamente, ainda não tinham nos visto. Apertei o braço de Daryl e ele olhou para mim sem entender.
– O que foi? – não precisei dizer mais nada, pois ele seguiu meu olhar e virou-se. – Pu%$ Q#* P@%#$! Marry, corre!
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