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História Juntos pela Menrtira - Capítulo 5 - Conversas


Escrita por: SakuraHtinha

Notas do Autor


Depois de uma eternidade estou aqui eu, postando mais um capítulo.
e para compensar esse tempo, foi um capítulo bem longo.
Espero que apreciem e se divirtam muito, escrevi esse capítulo com todo meu coração! <3

Capítulo 5 - Capítulo 5 - Conversas


 

Capítulo 5 - Conversas

 

Acordei com o celular gritando loucamente pedindo atenção. Tateei pelo criado-mudo cegamente em busca do celular berrão enquanto o xingava mentalmente, o filtro entre o pensamento e a boca falhou pelo sono deixando alguns xingamentos saírem rolando livres pela língua seca. Atendi sem pensar duas vezes. O meu “alô” saiu esquisito e rouco.

– Isso é hora de se estar dormindo, Ágata?

A voz severa da minha mãe sou alta e firme pela caixinha de áudio do celular congelando meu cérebro preguiçoso. Pisquei os olhos sentindo aquele tremor que ela causada mesmo se não estivesse no meu quarto me dando uma bronca com aqueles olhos severos e seu típico tom calmo repleto de avisos e alertas. Pulei da cama parando sentada na borda do colchão.

– Mãe – resmunguei sem saber o que dizer ainda tentando alcançar uma linha de raciocino que não estivesse comprometida com o sono. – Você não me ligou para me dar bronca só porque eu estava dormindo até agora, foi? – Foi o que consegui argumentar.

Argumento inteligente! Mentalmente me dei tapinhas nas costas sonolenta.

Ouvi uma risada simpática no outro lado da linha. Foi o suficiente para afastar todo o sono que envolvia minha mente e me pôr em estado de alerta. Ela não era de ficar dando risadinhas simpáticas.

– Aconteceu algo? – Perguntei com o tom de cautela esperando uma bomba ser solta sobre minha cabeça.

– Aconteceu. Preciso conversar com você hoje. – Voltou ao tom natural sério que ela sempre usa para tratar de qualquer assunto. Isso me deixou mais sossegada e despreocupada. Minha mãe não ficava dando risadinhas animadas de manhã, de tarde ou de noite. Ela nunca dava risadinhas animadas!

Mas foi inevitável sentir aquele arrepio frio como se fosse uma unha afiada e gelada passando pela coluna como se desenhasse linhas imaginárias na pele. Esfreguei a mão livre no rosto tentando lembrar qual foi a última vez que tinha conversado com minha mãe. Fazia tempo!

– Tem como já ir adiantando o assunto? Para que possa me preparar psicologicamente para a bomba que você vai soltar em cima de mim. – Ironizei com o humor vacilante.

Como o esperado a linha ficou silenciosa por alguns segundos constrangedores até que uma das duas resolveu acabar com o sofrimento.

– Seu humor é tão ruim quanto o do seu pai! – Resmungou ácida. Quase revirei os olhos. – Podemos nos encontrar no café do shopping?

Pisquei aturdida olhando para meus próprios pés.

– Desde quando você gosta de shopping? – Não teve como soar mais espantada, minha mãe e shopping nunca seriam postas na mesma equação, é quase como afirmar que o sol é frio!

Ouvi um suspiro cansado vindo dela, conseguia ver perfeitamente ela revirando os olhos com paciência curta.

– Desde quando decidi que quero ir te ver no café do shopping! – Rugiu quase brava.

Conseguia ver minha mãe brava, irritada, distante e mal-humorada, mas nunca sentada no café do shopping. É quase errado, isso não é certo ela odeia shoppings, estacionamento de shoppings e o café do shopping não é uma exceção do livro de regras dela.

– Tudo bem, nos encontramos lá. Há, que horas e qual o shopping? – Ainda não acredito que estou marcando de me encontrar com ela no shopping.

Houve uma pausa acompanhada por um suspiro longo.

– Lá pelas três da tarde. O que fica perto do seu apartamento. O que tem o estacionamento grande e nunca tem ninguém. – Falou devagar.

– Sim, claro! – Concordei sem saber se deveria concordar.

– Só não comenta nada com o seu pai. Ou com alguns dos seus irmãos. Nos vemos mais tarde. E não leve aquele seu amigo folgado. Até.

– Até mãe.

Ela desligou logo em seguida. Fiquei com o celular pendurado na orelha por três segundos.

Me levantei indo em direção a sala de pijama. Me lembrava vagamente de ter no meio da noite acordado para trocar de roupa, Hugo deveria estar dormindo no sofá, do jeito que era preguiçoso ele deve ter se apossado do meu móvel do que ter criado coragem para ir para casa. Andei um pouco cambaleante enquanto as pontas dos dedos tocavam a parede do corredor. Encontrei Hugo sentado no sofá com o rosto sério, os olhos não desviavam no celular que tremia e brilhava sem parar chamando ou tentando chamar a atenção dele.

Mal percebeu minha aproximação.

– Bom dia. – tentei chamar a tenção dele.

Hugo pareceu não ouvir pois nem virou o rosto para mim, estava concentrado dentro de sua própria cabeça. Balancei a mão no ar para chamar a atenção dele. Hugo nem se mexeu.

– Hugo? – Voltei a chamar ele, dessa vez aumentando o tom para que eu fosse realmente ouvida.

Ele me olhou por cima dos óculos sem muito ânimo.

– Você acordou! – Exclamou não muito surpreso com desânimo.

– Não posso dizer o mesmo de você. Está com uma cara péssima, parece que vai matar alguém! – Falei com tom de piada mas pareceu não surtir o efeito esperado nele.

Hugo só levantou uma das sobrancelhas negras sem tirar os olhos do celular que tinha se aquietado.

– Quase isso. Perto. – Resmungou.

Puxei o ar sem muita paciência, meu bom humor estava sendo contaminado com a carranca e áurea péssima que envolvia Hugo. Esfregando as laterais das coxas notei que o celular voltou a criar vida.

– Atende essa coisa logo! – Apontei com o queixo para o celular exageradamente grande em cima da minha mesa de centro.

Hugo se pôs de pé em um pulo alto e deu de ombro.

– Por que o bom humor? – Mudou de assunto passando pela mesa de centro e vindo em minha direção. – Achei que ias acordar toda chorosa porque levou um pé na bunda ontem à noite!

De fato, eu acordaria de mal humor, mas a conversa breve com minha mãe e seu convite fora de hora me chamou muito a atenção de um fato que revitalizou meu bom humor.

– Minha mãe me ligou hoje de manhã, vamos nos encontrar no café do shopping.

Hugo levantou as duas sobrancelhas ao parar ao meu lado surpreso.

– Não é a sua mãe que odeia shopping, estacionamento de shoppings e o café do shopping? – A pergunta sou confusa.

– A própria! – Concordei com a cabeça. – Prevejo que ela vai soltar uma bomba daquelas bem no meu colo.

Hugo soltou uma daquelas risadas baixas e roucas que fazia ele garantir a noite com alguma mulher.

– Com certeza ela vai soltar uma bomba bem em cima de você. Sua mãe não dá ponto sem nó! E para ela querer te ver pessoalmente, no shopping – sorriu como quem diz tais lascada – Espero que eu esteja enganado. Algo que acho difícil! – Tocou o próprio peito como se estivesse cheio de razão.

Nada que ele tenha falado soou como inesperado ou novo, mas só o fato de que ele já sabia como minha mãe agia e pensava confirmava que eu em algumas horas estaria na frente de um problema.

– Mas relaxa, quem sabe não é nada disso que estamos pensando. – Deu de ombros – Vai ver ela só está se sentindo solitária.

Vai ver ela só quer alguém para conversar. Vai ver ela só quer um pouco de atenção...

– É, quem sabe!

Hugo sorriu dando outra vez de ombro, assim como eu ele não acreditava em nada do que dizia. Muito menos eu.

Hugo me circulou, os olhos atrás das lentes me analisaram de cima a baixo procurando algo com atenção.

– Achei que você ia acordar desejando que o mundo se ferrasse. – Confidenciou com um sorriso amigável nos lábios.

Revirei os olhos como se isso me fizesse superior a alguma coisa.

– Se você quiser posso ir com você, sabe, como apoio.

A vontade foi de aceitar. Hugo podia ser insuportável de vez em quando, mas as vezes era um amor de pessoa. Tive de abandonar a ideia para que não tomasse força.

– Obrigada, mas a mãe pediu para que você não fosse junto. – Sorri como forma de desculpas. Hugo sorriu como quem diz “tudo bem! ”.

 – Mas por favor não me deixa no escuro! Fiquei curioso para saber o que sua mãe tem de tão importante que a fez sair do escritório a uma hora dessas. – Praticamente ironizou enquanto passou por mim rumo a cozinha.

Fiquei em pé parada encarando o sofá. Também estava curiosa para saber o que ela ia falar.

__ 

 Meus saltos faziam aquele barulho ritmados que tanto me perseguiam quando o uso. Para tomar certo tempo fui pela escada rolantes, o café que íamos nos encontrar ficava no terceiro andar e meu carro tinha ficado no estacionamento no subsolo do shopping. Enrolei quase dez minutos perambulando pelo shopping até que criei coragem o suficiente para encarar a fachada elegante do café caro que servia o pior cookie da cidade.

Não foi difícil encontrar minha mãe, ela sempre se destacava com a áurea gélida ao redor dela. A encontrei na mesa mais distante ao lado da janela acompanhada por...

Acompanhada?

Senti meus olhos se arregalarem com a surpresa. Junto de minha mãe uma loira de cabelos curto sorria animadamente para ela, e para meu total espanto ela sorriu de volta! Minha mãe nunca tinha sido uma mulher adepta de sorrisos era muito mais fácil encontra ela emburrada e calada com os olhos no celular ou em sua mesa abarrotada de papéis com os lábios tão franzidos que ficavam cinza. Agora sorrir para outro ser humano.... Totalmente inédito!

Recuperei a compostura, ficar parada no meio do café não parecia ser algo legal de se fazer. Caminhei na direção da mesa sentindo a familiaridade me abater. Eu conhecia aquela loira!

– Ágata! – Minha mãe exclamou assim que notou minha presença.

Sorri chegando na mesa. Minha mãe e a mulher se levantaram. Me senti em uma reunião daquelas mega formal de negócios.

–Mãe. – Cumprimentei sem tirar os olhos da loira ao lado dela. Eu a conheço de algum lugar...

Minha mãe se virou para a mulher ao lado dela com um sorriso discreto que não passou despercebido por mim. Senti meu estomago ser lacrado pelo nervosismo. Minha mãe não era de ficar distribuindo sorrisos discretos.

– Filha, eu... – se interrompeu me encarando avaliativa. A cara dela se fechou na hora. – Você está péssima!

Senti um suspiro de alivio ameaçar a sair rasgando de meus lábios. Cheguei a me sentir até melhor. Agora essa era a minha mãe! Me sentei no banco ficando de frente para as duas sendo avaliada o tempo todo.

– Bem... para resumir a história levei um toco ontem à noite e você me acordou bem cedo, se levar em consideração a hora que fui dormir, eu estou até, bem! – Esbocei um sorriso amarelo bem iluminado para as duas mulheres a minha frente.

A loira do cabelo curto pareceu ficar triste com a minha pequena história trágica, já minha mãe faltou revirar os olhos.

– Você supera! – Foi tudo o que minha velha falou.

É mãe, eu sei disso!

– Então... – cocei a garganta revezando entre encarar minha mãe e a mulher loira – Estou aqui e creio que não fui chamada para falar da minha fracassada vida amorosa. Muito menos do desastre de ontem à noite.

Se Hugo estivesse aqui ele teria me corrigido. Ontem à noite não foi bem um desastre, Arthur precisava sair e não foi por um motivo fraco. Mas sentia no meu íntimo que foi um fracasso sim!

A loira me lançou um olhar que falava por si só “força, vai dar tudo certo”, minha mãe suspirou.

– Primeiro, gostaria de te apresentar a Alexandra! – A loira ao lado dela acenou animada para mim – Alexandra é minha secretária no escritório de advocacia a quase três anos.

E inclinei na direção da loira, Alexandra. Os olhos azuis brilharam e o sorriso permaneceu inabalável nos lábios. Sabia que esse rosto quadrado era familiar!

– Acho que me recordo... você tinha os cabelos mais compridos, não? – Perguntei gesticulando tentando puxar na memória a imagem dela a quase três anos para trás.

– Sim, mas dava muito trabalho. Cortei recentemente, confesso que me sinto mais aliviada. – Falou esboçando um sorriso jovial iluminado.

– Ficou bom em você! – Sorri ao dizer com sinceridade. Alexandra pareceu ter ficado muito contente com o elogio e olhou longamente para minha mãe que retribuiu o olhar.

Ok, algo está acontecendo aqui!

– Pode ter certeza que hoje o assunto não é a sua vida amorosa fracassada. – Minha mãe debochou. – É um assunto muito triste para uma manhã bonita. – Sorriu de canto com o deboche escorrendo pelos cantos da boca como se fosse veneno.

Não sei se enfiava minha cara em algum buraco imaginário no chão ou se ficava surpresa pelo deboche todo. Minha mãe não era de ficar zombando da minha cara assim com esse bom humor todo.

– Que bom! – Tentei sorri, mas meus lábios só se contraíram de uma forma nada bonita.

– Então... – Alexandra começou nervosa sorrindo enquanto olhava de canto para minha mãe.

Notei que minha mãe adotou aquela postura profissional que sempre irritou meu pai durante anos a fio. Ela sempre envelhecia quando fechava a cara, mas dessa vez foi diferente. Os olhos brilharam iluminando a escuridão fria.

– Eu venho a algum tempo tentando saber como abordar esse assunto com você. Bem, com você e com seus irmãos... – Suspirou. Senti o clima mudar drasticamente. – Eu a algum tempo conheci alguém.

Se estivesse tomando algo teria cuspido o líquido todo na cara da minha mãe, e isso me renderia uma bronca de horas e horas. Mas como não estou bebendo nada só consegui me engasgar com a saliva.

Foi o que me restou.

Minha mãe mais alguém é algo tão improvável quanto um peixe subir uma parede!

– Uau!

É uau!

Não tive muito mais o que dizer, minha cabeça estava ocupada tentando raciocinar e fazer meu corpo funcionar direito. A sensação era de tentar por uma engrenagem a mais em um relógio manual. Forçar a mecânica perfeita a funcionar com uma peça a mais desnecessária.

– Espero que isso não seja problema....

O tom profundo dela alfinetou a parte sensível de meu cérebro. Meus olhos voaram do rosto sério de minha mãe para o simpático de Alexandra.

– Não! – A interrompi praticamente gritando enquanto me jogava na mesa. – Claro que não!

 Me recompus voltando para o lugar tentando adotar um tom mais razoável e educado. Me senti como uma criança que foi pega fazendo algo errado.

 – Fico feliz de verdade. Sério! É que é uma surpresa. Você nunca foi de socializar... E apesar do divórcio com o papai ter sido amigável me recordo de você dizer que nunca mais iria se juntar com alguém. – Sorri forçado, estava se instalando no ar uma áurea não muito agradável e feliz.

– Eu sei. Convenhamos, não sou uma pessoa fácil. Nem eu as vezes me suporto. – Deu de ombros.

Meu Deus, minha mãe tentou fazer uma piada?

Precisei fazer força para ficar calada e não concordar.

 – Mas encontrei alguém que me faz me sentir... suportável. – Sorriu delicada enquanto encarava a mesa. – E gostaria de te apresentar. – Os olhos dela voaram na minha direção com aquela determinação que sempre me fazia calar.

Como dessa vez não foi diferente, só balancei a cabeça concordando. Sentia meu estômago sambar de nervoso.

E os olhos de minha mãe abandonaram os meus e caíram sobre Alexandra que esboçava o sorriso que conseguia ser tímido e afetuoso com um toque de ternura que nunca vi alguém conseguir fazer.

Senti meu cérebro travar.

Minhas mãos começaram a suar. O olhar atento que Alexandra lançou sobre mim fez meu estômago se comprimir até virar uma bolinha pequena.

– Estamos juntas faz quase dois anos. – Mamãe explicou com um toque incomum de ternura na voz. – Estamos felizes juntas. – Acrescentou observando.

Dois anos.

Dois ANOS!

Quase dois anos juntas e fico sabendo SÓ agora?

O sentimento azedo de ter ficado para trás azedou minha boca.

– Como é que é? – Me segurei para não gritar.

Minha mãe fechou os olhos como se tivesse prevendo uma dor de cabeça chegando. Alexandra deixou de sorrir e ficou séria.

– Eu espero que minha relação com a Ale...

Bati as mãos na mesa fazendo a maior cena.

– Quase dois Anos e fico sabendo disso só agora? – Praticamente rugi com a voz fina.

Um momento de silêncio misturado com incredulidade. Mamãe piscou sendo seguida de Alexandra.

– Bem, nós estávamos vendo se ia dar certo... – Alexandra murmurou parecendo está perdida.

– Você sabe que passei quase dois anos te chamando de encalhada, né mãe? – Ironizei cruzando os braços. – Sinceramente? Esperava mais, sempre contei tudo para você e para o papai. Você foi a primeira a saber que tinha perdido meu BV!  – Suspirei – claro que me arrependo até hoje... – a última parte foi mais para mim do que para ela.

Vi a sobrancelha negra se levantar irritada.

– Arrepende? – Perguntou ofendida. Alexandra pareceu prever um ataque de humor e suspirou dramática.

– É claro! Você quase processou o Leo por abuso sexual! – Quase morri só de lembrar do drama todo. Precisei socar a vergonha para o cantinho escuro dela. – Você não tem ideia do sufoco que passei. O Oliver não quis mais olhar na minha cara porque o Leo não quis mais ir lá em casa!

– E você queria que eu fizesse o que? – Perguntou impaciente. – Um marmanjo com pelo no rosto vem e rouba um beijo da minha menininha que ainda usava Maria Chiquinha!

– Você usava Maria Chiquinha? – Alexandra perguntou sem disfarçar a curiosidade.

Me contorci na cadeira desconfortável. – Não tive um bom senso de estilo quando era menor.

Revirei os olhos impaciente me lembrando do ponto que minha mãe sempre ignorava.

– Eu que roubei o beijo do Leo! – Argumentei quase arrancando os cabelos na cabeça.

Mamãe abanou a mão na frente do rosto uma vez com cara de quem desconsidera uma ideia ridícula.

– Bobagem. – Torceu os lábios.

Alexandra revirou os olhos, ela parecia estar se divertindo tentava a todo custo esconder os lábios com as mãos.

– Você é advogada, isso não é bobagem! – Ironizei me inclinando em cima da mesa.

– Creio que esse não seja o ponto da conversa, Ágata!

Bati a palma da mão direita na mesa.

– Verdade! Poxa, não é legal ficar no escuro mãe. Sempre conto tudo para você... logo algo importante você fica escondendo de mim! – Voltei a me queixar.

Alexandra se remexeu no lugar com cara de culpa, devagar estendeu uma das mãos para tocar a minha. O gesto foi carinhoso e afetuoso, claro que supervisionado pelo olhar de águia de minha mãe. Ela não deixava nada passar.

– Não fizemos por mal. Foi tudo muito novo para nós duas! Espero que entenda que nossa intenção não foi omitir o relacionamento de propósito. Ficamos com medo de você e seus irmãos serem contra. Sua mãe sempre deixou bem claro que gostaria de ter a aprovação dos filhos, mas não sabíamos como iam reagir. Ficamos... receosas. – Suspirou no final. – É muito importante para mim também! – Pós a mão livre no peito. – E para a sua mãe que você seja a favor do nosso relacionamento! E também no início foi tudo tão... confuso, sua mãe ainda estava com a cabeça cheia com o divórcio, nada no início foi fácil para nós duas... não fique com raiva ou brava com a sua mãe.

Sorri de canto para Alexandra. Minha mãe pela primeira vez na vida se mostrou ansiosa, isso me fez querer rir.

Soltei o ar do pulmão devagar deixando as costas descansarem no encosto da cadeira. Avaliei as duas por um longo segundo. Nenhuma das duas se mexeram.

– Você sabe com quem está se metendo? – Minhas palavras foram sinceras. – Ela consegue ser a pior pessoa do mundo quando quer e quando não quer. Para ser bem sincera o casamento dela com meu pai não foi nem de perto um mar de rosas, as vezes eles ficavam semanas sem se falarem ou se verem...

Sorri sem muito afeto com as lembranças não muito agradáveis.

Alexandra lançou um olhar cheio de significados para minha mãe, que foi retribuído na mesma medida. Senti que fique sobrando.

– Eu sei. Três anos trabalhando com ela, nunca tive um dia de tédio ou que eu não tive no mínimo uma dor de cabeça! – Falou rindo com leveza. Os olhos brilharam na mesma intensidade que o sorriso.

Mamãe também riu e concordou com a cabeça um pouco sem graça. Os olhos brilhavam tanto que poderiam iluminar a Rússia toda. O tipo de brilho que não conseguia evocar nenhuma lembrança de ter visto esse brilho a muito tempo.

E foi aí que a ficha caiu.

 Elas se amavam!

Elas se queriam. Ponto final.

Me senti um pouco enjoada e emocionada ao mesmo tempo. A sensação era de ter comido um big mac e ir brincar na montanha russa. Divertido mas acabava com o estômago.

As duas pareciam o enredo perfeito para o maior clichê açúcar com água do cinema. E isso de certa forma despertou o bicho verde da inveja dentro de mim. Toda vez que tentava imaginar meu futuro não conseguia imaginar da além de uma bela carreira, uma coleção enorme de sapatos de todos os tipos de modelos e cores enquanto cobrava o aluguel do Hugo.

Porque se eu sou uma encalhada sem jeito, Hugo poderia ser considerado o fracasso amoroso do século. Ao menos sozinha e sem dinheiro eu não iria ficar!

Quis chorar. Muito!

– Aconteceu alguma coisa? – Minha mãe me tirou de meus pensamentos.

Os olhos negros preocupados procuravam qualquer resquício seja lá do que para usar a seu favor e descobri o motivo.

– Estou me sentindo meio mal, acho que vocês me pegaram de surpresa... acho que fui um pouco idiota também! – Tamborilei as unhas na mesa de madeira. – Tentei imaginar meu futuro, de uma coisa eu tenho certeza, vou morrer com uma bela carreira e cobrando aluguel do Hugo! – Falei enquanto encarava as duas com um sorriso envergonhado no rosto.

Minha mãe quase caiu da cadeira, Alexandra tentava não rir enquanto negava seja lá o que com a cabeça. As duas acabaram rindo juntas.

Senti uma comichão na barriga. Onde já se viu isso? Minha mãe rindo!

– Se você não quer terminar assim, mude seu futuro meu anjo! – O tom terno que raramente ela usava conseguiu me consolar um pouco. – Você não é obrigada a aceitar tudo o que a vida de dá.

Alexandra concordou com a cabeça.

– Espero que vocês duas sejam felizes, de verdade! – Falei com toda a sinceridade que reuni em meu coração.

Alexandra conseguia fazer minha mãe sorrir e rir como uma adolescente bobona apaixonada. Isso já era o suficiente para mim. Conseguia até tapar o buraco birrento da omissão de quase dois anos.

– Você também vai ser! – Alexandra falou enquanto abraçava mamãe.

Não tinha muita certeza sobre isso. Minhas duas únicas certezas era de que minha carreira estava a todo vapor, e que Hugo não sairia tão cedo do aluguel.

Agora, no sentido emocional da coisa, a situação estava um pouco complicada. Meu interesse romântico com o codinome Piloto Gato estava em uma situação não muito favorável... Era mais fácil Hugo namorar alguém do que algo entre eu e Arthur rolar.

E isso é difícil de admitir!

— Vou precisar de sua ajuda com seus irmãos, não consigo imaginar que tipo de reações eles podem ter quando souberem. Isso me preocupa um pouco, Agatha... – mamãe suspirou. – Eu... – virou o rosto para Alexandra, um sorriso leve brotou nos lábios sempre tão sérios. – Eu amo a Alexandra, seria muito importante que seus irmãos no mínimo levasse a notícia com... Como você!

— Eu e sua mãe achamos que talvez eles não vão levar tão bem a notícia. – Alexandra comentou em um tom calmo. – Esperávamos que você tivesse algum tipo de ataque de pânico ou, não sei! – Um sorriso amarelo a interrompeu. – Sua mãe me contou que você é um pouco apegada ao seu pai, estávamos temendo que você se sentisse traída ou algo do tipo.

Minhas mãos ficaram suadas, sentia o coração começar a bater um pouco mais rápido que o normal.

Alexandra sorriu envergonhada, mamãe deu de ombros.

— As coisas nunca acontecem do modo mais fácil na nossa família! – Mamãe murmurou com os olhos em mim.

Sinais de alertas soaram dentro de minha cabeça me pondo em estado de alerta máximo.

— Por favor, não me diz que você ainda não aceitou o fato de eu ter largado a faculdade de direito? – Meu corpo estava todo vibrando para ficar na defensiva.

— Seriamos Matt Murdock e Foggy Nelson na vida real, versão feminina.

Senti vontade de rir com o comentário nerd da minha mãe.

— Boa tentativa mãe, mas não nasci para ser advogada. Gosto de voar! – Sorri dando de ombros. – Mas você está mais para Annalise Keating do How To Get Away With a Murderer!

Alexandra escondeu o sorriso com a mão. Mamãe sorriu de canto.

— Eu tentei! – Não pude deixar passar o humor no tom sério dela.

— Eu sei, e estou orgulhosa! – Alexandra falou cantarolante se inclinando na direção da minha mãe.

A mão bem cuidada com as unhas preta bem definidas acariciaram o rosto anguloso de Alexandra. O nariz arrebitado escovou o nariz imponente da minha mãe. O clima mudou drasticamente do casual para o romântico em segundos.

— Se vocês duas vão se beijar, façam isso logo! – Meu tom provocativo assustou as duas. Alexandra pulou na cadeira, o rosto bronzeado adquiriu um tom mais escuro. Um rubor leve salpicava as bochechas da minha mãe.

Mordi a bochecha interna para não rir alto e provocar a ira máxima das duas.

— 

– Então você não se opõe ao nosso relacionamento, certo? Está tudo certo? – Alexandra perguntou ansiosa.

Me senti de uma forma estranha posta contra a parede.

— Não, não sou contra. Só não esperava que minha mãe ainda podia namorar...

Mal tinha terminado minha fala, dois pares de olhos em fuzilavam com uma intensidade assassina.

— Desculpa, mas para todos os filhos os pais são seres assexuados! Para ser sincera prefiro acreditar que a cegonha me pôs no mundo. – Falei apressada.

Alexandra foi a primeira a relaxar.

— Acho que preciso ser sincera com você filha! – Minha mãe sussurrou com os braços cruzados.

Alexandra tocou o cotovelo dela com carinho.

— Agora não! – Murmurou um pouco nervosa.

Minha mãe tomou fôlego e se inclinou na minha direção.

— Te chamei hoje aqui, para contar uma meia verdade. Dentre todos meus filhos você é a que tem a cabeça mais... vamos dizer mais calma! Eu e a Ale não somos mais namoradas.

Senti meu cérebro dar um nó.

— Vamos deixar esse assunto mais para frente! – Alexandra resmungou chorosa.

— Como assim? – Perguntei sem entender.

— A Ale me pediu em casamento semana passada. E eu aceitei!

O que?

O ar sai completo de meus pulmões como se tivesse levado um soco bem na boca do estomago. Direto e seco sem nenhum aviso e tempo para se preparar. Meus membros inferiores viraram gelatina, se estivesse em pé eu estaria esticada no chão em uma posição em que minha mãe acharia deselegante. Tentei respirar devagar e recuperar os sentidos para não ficar somente piscando e abrindo a boca imitando um peixe fora da água como estava fazendo agora.

Cadê o garçom nessas horas oferecendo algo forte para se ingerir e agredir o estômago para poder raciocinar melhor?

MEU DEUS MINHA MÃE VAI SE CASAR!

Unir as escovas no banheiro!

Tudo bem ela estar namorando, pessoas normais namoram! TODO MUNDO NAMORA – bem, nem todos, estou solteira destinada a ter um inquilino mega folgado e viver rodeada de gatos, lã e alto consumo de gordura e açúcar.

Mas minha mãe? Ela é tão... ela! Sempre foi contra a qualquer tipo de união matrimonial, dizia que estava curada dessa doença de casamento. Perdi as contas de quantas vezes fui aconselhada a não pensar em casar e sim em ser uma mega profissional. Ela preferia a minha carreira como piloto a me ver casada. Ela nem discutia mais comigo sobre a faculdade de direito que não terminei, desde que meu estado civil fosse solteiro.

— Vocês duas sabem que isso tudo é uma loucura, certo? Que casamento não é algo que na primeira briga pode se jogar fora? – Me ouvi resmungar.

Alexandra descansou os braços em cima da mesa, minha mãe se inclinou na direção dela para acariciar o ombro delicado de Alexandra com as mãos.

— Não sei se você esqueceu, mas já fui casada durante um bom tempo. – Minha mãe respondeu com polidez exagerada. – Sei o quão difícil e complicado um casamento pode se tornar!

Direcionei minha atenção para Alexandra. Ela parecia meio tensa.


Mas algo martelou forte na minha cabeça: Minha mãe queria se casar, e dessa vez era por amor, nada de gravides indesejada e pais superprotetores exigindo casamento.

— Nós vamos nos casar filha. Isso é certo! – Afirmou com força. – Mas seria muito bom se seus irmãos nos apoiarem também. Seria, maravilhosos!

— Vocês duas também né? Vão fazer da forma mais difícil. Vão pular direito para a parte do casamento. – Comentei sorrindo amarelo. – Seria mais fácil primeiro receber a notícia do namoro, depois do casamento... é menos explosivo e impactante!

— Mas nós demos a notícia do namoro primeiro! —Minha mãe debochou.

Alexandra mandou um olhar desgostoso para ela.

— Sim, para depois jogar uma bomba dessas na minha cara! – Resmunguei irritada. – Nem esperasse eu digerir a notícia.

Minha mãe revirou os olhos.

— Você sempre teve um estomago forte querida!

Franzi os olhos, não conseguia distinguir se era um elogio ou um deboche!

– Caramba. Casamento? – Falei com um suspiro.

Nenhuma as duas abriu a boca. Quis morrer e sumir, não precisa ser nessa respectiva ordem.

– Quando papai dizia que você é uma mulher de surpresas ele não estava brincando. – Soltei aquela risada nervosa.

Alexandra se remexeu nervosa no lugar.

– Eu... espero que não tenha problema algum em sua mãe se casar comigo. – Alexandra murmurou preocupada.

Minha mãe me encarava com aqueles olhos que na minha infância teria me posto cheia de remorso no quarto me fazendo perguntar o que tinha feito de errado.

Senti uma pontada de culpa.

– Não. Não! – Neguei com a cabeça. –  não é isso Alexandra! – Soltei o ar agoniada. – É que ela é totalmente contra! Semana passada ela ameaçou me trancar em um manicômio se eu me casasse. Tipo... agora ela me conta que vai se casar! É muita informação para uma pessoa só!

As duas me encararam, mamãe com raiva ou algo do tipo e Alexandra parecia entender meu ponto.

– Você não está surpresa por sua mãe se casar comigo? – Alexandra espalmou a mão no peito tentando entender a situação – e sim por que ela vai se casar? – Perguntou com irônico mal contida.

Balancei a cabeça devagar.

– Fiquei surpresa com a notícia do namoro, fico feliz por ela ter encontrado de alguém que ela tenha sentimentos verdadeiros e ambos são recíprocos. Mas acabei de saber do namoro, e vocês já soltaram a bomba e eu estava me acostumando ainda com a ideia do namoro. Foi uma notícia e tanto para mim! – Bati uma mão na outra ainda com a surpresa correndo pelas veias.

– Então, você não se opõe a meu casamento com a Ale? – Mamãe perguntou com cautela, as palavras foram pronunciadas devagar, como se fossem ditas rápidas pudessem me assustar.

Ela parecia ansiosa. E as duas estavam de mãos dadas em cima da mesa.

– Não, não! – Neguei com a cabeça também. – Não me oponho, realmente. Juro! Só não esperava, de verdade. – Suspirei longamente. – Para dizer a verdade, preciso de alguns minutos para digerir. Minha mãe e casamento na mesma frase é, difícil de acreditar. Se me dissessem que um macaco estava voando eu acreditaria! – Terminei de falar com um suspiro.

– Bem, tem os macacos voadores de Oz! – Mamãe falou rindo.

Meu Deus, minha mãe fez outra piada? Bem acho que sim, já que Alexandra ria com gosto. Fiquei perplexa demais para rir. As duas riram com leveza, minha mão pôs um braço por cima dos ombros de Alexandra a abraçando. Foi uma cena fofa fé afeto que nunca achei que ia ver enquanto eu fosse viva!

A cena foi como ter envolvido meu peito com um cobertor bem quentinho e fofo. Me deixou extasiada, feliz e com uma sensação de paz no peito.

E admito, um pouco de ciúmes.

— Acho que mais do que nunca vocês duas vão precisar de mim, sabe, para falar com os meninos...

Os olhares se cruzaram, aquela áurea de amor e conforto se instalou entre as duas me deixando completamente excluída segurando um candelabro gigante. Encarei minhas unhas segurando o sorriso.

— Sim querida, você vai ter um papel fundamental nessa conversa. – Minha mãe suspirou. – Vamos contar esse sábado no jantar na casa da sua avó.

Queria bater a cabeça contra a mesa. Agora. Forte e rápido.

— Mãe... – resmunguei esfregando o rosto com as mãos. – Você também não é uma pessoa paciente!

— O quanto antes eles saberem melhor querida. A aprovação deles é importante para mim e para a Ale.

Senti aquela pontada de incerteza no peito.

— E se ele se eles não levarem de boa?

Minha pergunta praticamente rasgou o clima legal. Ale ficou com um ar melancólico em volta dela, minha mãe adotou a postura indiferente que ela sempre usava.

— Creio que teremos convidados a menos no casamento. – Fria e inflexível.

— Pelo amor de Deus, não fale assim! – Alexandra ralhou brava com os olhos fixos na minha mãe. – As coisas não se resolvem dessa forma. Tudo no branco e no preto.

— Não vou me condenar a infelicidade só porque eles não vão aceitar a situação! – outra vez, fria e inflexível, mas com uma pontada de desespero.

Senti a necessidade de falar algo, mas a necessidade morreu no mesmo instante em que as duas se levantaram.

— Eu sei, eu sei! Mas são seus filhos, não é uma notícia fácil de se receber! Temos que ir com calma! – Alexandra quase bateu o pé no chão.

Me levantei desajeitada fazendo barulho ao afastar a cadeira para trás com as pernas. Isso chamou a atenção das duas.

— Vocês duas não acham que estão fazendo uma confusão antes da hora? – Meu tom saiu hesitante.

Alexandra me mandou um sorriso envergonhado.

Mamãe penteou os cabelos para trás com os dedos nervosa.

— Acho que vocês duas precisam se acalmar, dessa forma não vamos nem precisar da opinião dos meninos no sábado. Se vocês querem se casar, devem saber que dessa forma nenhuma das duas vão conseguir viver em paz!

Alexandra suspirou, os ombros delicados relaxaram. Já minha mãe era uma estátua de mármore ao lado de Alexandra.

— Você tem razão querida! – Ouvi minha mãe suspirar.

Está aí algo que eu não ouço todo o dia!


Notas Finais


É isso ai gente! Fim de mais um capítulo, muitas emoções.
Espero que de coração tenham gostado, qualquer dúvida, crítica ou qualquer coisa do tipo é só falar!
Prometo tentar não demorar muito para postar o próximo capítulo! u.u

Bjka da Mayyyy


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