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História Just Another Way - Caixa postal


Escrita por: 4sevendevils

Capítulo 34 - Caixa postal


Fanfic / Fanfiction Just Another Way - Caixa postal

Eu tinha 21 anos quando sofri por amor pela primeira vez. Costumava trabalhar em um bar underground num dos subúrbios de Nova York como striper, quase não tinha responsabilidade, me drogava o dia inteiro e dançava a noite para pagar o aluguel do meu apartamento, no mesmo bairro. Lüc Carl era barman e tocava em uma banda de rock, nos conhecemos em um de seus shows e por ironia do destino passamos a trabalhar na mesma casa noturna. Ele era um homem interessante, e rebelde de tudo, dono de olhos castanhos escuros, cabelos grandes e uma barba mal feita. Eu logo me senti atraída por ele, tenho tendência a me encantar pelo diferente e Lüc era tudo o que eu procurava em um homem. No começo foi bom, trabalhávamos juntos, dormíamos em meu apartamento e fazíamos o uso de álcool e drogas durante quase todo dia. Mas nossa felicidade não durou muito tempo. Ele era mais velho, seis anos a mais que eu, e gostava de mulheres jovens, o que não faltava no clube. Certa vez, cheguei mais cedo para preparar o meu número no palco e o encontrei aos beijos com uma garota na pista de dança, ela era mais nova e mais bonita do que eu. 

Aquela cena me destruiu completamente porque eu o amava demais e vê-lo com outra pessoa me causou uma dor insuportável. Também por amá-lo nesse ponto, eu o perdoei, não só dessa vez, mas todas as outras vezes das quais ele me magoou durante os 6 anos de nosso relacionamento. Eu precisava dele, não podia imaginar a minha vida sem a sua presença, quase como uma necessidade ou dependência emocional. Esse amor doentio me fazia passar por cima de tudo, porque eu achava que seria feliz assim. Mero engano. Nenhum relacionamento é feliz a base de traições e mentiras, ao menos isso Lüc me ensinou. Sinceramente eu não esperava passar por isso novamente, não da maneira como as coisas aconteceram, mas eu decidi me entregar e a desilusão é um risco que se corre quando no entregamos.

Estou sentada no chão de meu quarto desde o início da madrugada, ainda está escuro, mas não sei exatamente que horas são. O whisky acabou e o maço de cigarro também. Voltei a fumar há dois dias, desde que cheguei de minha viagem, o vício ajuda a manter as minhas emoções e a ansiedade sob controle. Tento escrever alguma coisa para me distrair, mas definitivamente é impossível, não consigo deixar de pensar em Florence, mesmo depois de tudo. Desembrulhei o seu álbum e passei boa parte dessa noite observando-a enquanto ouvia suas músicas e me embebedava. Depois, em um momento de raiva rasguei todas as fotos do encarte, mas me arrependi em seguida, agora estou juntando-as e tentando arrumá-las de volta, é uma das poucas lembranças que ainda tenho dela. Naquela mesma noite, ainda em Londres, eu apaguei todas as suas fotos de meu celular e joguei sua camisola fora, precisava me livrar daquelas coisas. 

Parece que quanto mais eu tento fugir, mais a minha cabeça insiste em repassar a imagem dela beijando aquele rapaz. Acho que ainda sinto alguma coisa por ela... Como pode? Eu quero odiá-la, mas não consigo, alguma coisa me impede e eu detesto ter que assumir isso. Ainda é difícil acreditar no que ela fez. Eu sei que nós não tínhamos nada concreto, mas naquela noite específica estávamos juntas, havíamos acabado de fazer amor naquele banheiro. Como ela teve coragem de beijá-lo daquele jeito na minha frente? Definitivamente ela não é quem eu imaginava. 

Pego o meu celular e coloco os fones de ouvido. Na rádio toca “Sting” de The Neighbourhood: 

 Se você fosse humana

Se você fosse quem eu achei que fosse

Você não teria feito isso


Eu pensei que eu tinha feito algo

Mas você faria qualquer coisa

Para me derrubar

E você me derrubou

 

Você diz que me ama

Mas você age como se não

Você costumava me adorar
Ria de todas as minhas piadas

Quando tivemos o primeiro beijo

Foi a sua coisa favorita
E você não estava mentindo

Quando você disse que ia doer.

Talvez eu tenha me apaixonado por alguém que não existe, alguém que eu acreditava ser ela. A idealizei demais e no fundo ela me magoou como todos os outros, ou ainda pior. Mark tanto me disse sobre a sua sensibilidade, sua profundidade no campo emocional e eu sempre procurei não machucá-la, porque é o que se faz quando se gosta de alguém, não? Mas acho que para ela os meus sentimentos não significavam nada, sua atitude deixou isso bem claro. Ela se quer pensou em mim naquele momento, se quer imaginou o quão doloroso seria para mim vê-los tão íntimos, tão apaixonados. Sinto-me enganada, Florence é de um cinismo assustador, parece tão doce e inofensiva, se aproxima devagar, te faz apaixonar e depois te apunhala pelas costas. De fato, essas pessoas são as piores, porque sabem como fingir muito bem. 

Pelo pouco que deu para ver, Felix é bonito e deve fazer o tipo dela, talvez muito mais do que eu. Será que ele sabe sobre mim? Sobre nós? Aposto que não. Ela nunca teria coragem de contar. Acho que eu só fui uma distração para ela, uma maneira de sair do tédio, depois de tudo ela voltaria para o namorado e fingiria que nada aconteceu. Em pensar que eu ia me declarar para ela naquela mesma noite, ainda bem que não o fiz, melhor sofrer agora do que depois. 

Em meu celular há algumas chamadas perdidas dela, ignorei todas. Ela também me mandou algumas mensagens, passo por elas e esvazio a caixa de entrada, sem respondê-la. Há ainda um recado na caixa postal, mas eu não o abro, não estou preparada para ouvir a sua voz novamente, preciso de um tempo.

Levanto-me, vou até o banheiro e me olho no espelho. Meus cabelos estão bagunçados e os meus olhos estão vermelhos e inchados. Andei chorando, chorei bastante e não vou negar, mas é melhor que ninguém saiba. Tentei evitar sair do quarto, mas devido as entrevistas e os programas de rádio foi impossível. Essa é uma das coisas mais chatas durante um começo de era, ter de fingir estar bem, feliz e além de tudo forçar simpatia a todo momento.  

Decido tomar um banho. Tiro a roupa, ligo a torneira e entro na banheira. Apoio-me sobre a borda e fecho os olhos para tentar esvaziar a mente, mas não consigo. Lembro-me da última noite que passei com Florence naquele quarto no Chateau. Ela chorou de um jeito tão sentido... Será que aquilo tudo foi fingimento também? Pensar sobre esses detalhes me dá ainda mais raiva, dela e de mim por não conseguir esquece-la. Preciso tirá-la de minha cabeça a qualquer custo, pois isso não está me fazendo bem. 

Ouço o barulho da porta se abrir. Ashley me procura no quarto, chamando pelo meu nome. Eu a respondo e em seguida levanto-me e enrolo-me com a toalha. 

– Você já acordou? – Ash diz – Quer comer alguma coisa?

– Não, estou sem fome – respondo. 

– Ainda pensando na Florence? Por que não me conta o que aconteceu? Às vezes ajuda.

– Como sabe que é sobre ela?

– Não foi difícil deduzir – ela ri – Você voltou para o hotel transtornada naquela noite depois de encontrá-la, desde então você foge do assunto, parece que não quer nem ouvir o nome dela e agora eu chego no seu quarto e tem fotos dela por todo chão, o que quer que eu pense?

– Quer saber o que ela fez? – apoio-me na pia, de frente para ela – Beijou outro, cinco minutos depois de me fazer gozar no banheiro de um clube qualquer. 

– O QUE? – ela pergunta assustada – Isso é sério? Você não está exagerando? 

– Não. Foi exatamente o que eu vi, ela e o namorado, aos beijos e trocando carinhos enquanto eu a esperava.

– Não acredito nisso! Florence parecia tão...

– Inocente? Sensível? – interrompo-a – Eu também achava isso, mas me enganei, ela fingiu gostar de mim muito bem, Ash e agora eu não sei como esquecê-la.

Ashley se aproxima abraçando-me. Uma lágrima escorre.

– Querida, vai ficar tudo bem! – ela enxuga o meu rosto – Só precisa...

– Eu preciso dela, Ash – soluço abaixando a cabeça – O pior de tudo é que eu não consigo mais ficar sem ela, eu estou apaixonada e eu odeio ter que admitir isso porque ela não merece, entende? Ela estava lá com ele, beijando-o, como havia acabado de fazer comigo, talvez até melhor...

– Calma Stef! – ela me chacoalha – Você não pode se abalar desse jeito.

– E o que quer que eu faça? – deixo o banheiro – Tudo me lembra dela, o jardim, a piscina, o quarto de hóspedes. E ao mesmo tempo aquela cena dos dois se beijando também não sai da minha cabeça.

– Por que não sai um pouco desse quarto? – ela caminha atrás de mim – Ainda são seis da manhã, o sol deve estar nascendo, você não gosta de ver o sol nascer?

– A Florence também gosta... – sorrio – Droga! Por que ela fez isso comigo? Eu a odeio. 

– Pare de falar essas... Ai! – ela tropeça em uma das garrafas de whisky no chão – Andou bebendo? E fumando também... Não pode agir assim toda vez que se decepcionar com alguém, Stefani.

 

Eu sei disso. Tenho as minhas responsabilidades, não deveria ter me entregado tanto, eu agi com o coração e sem pensar duas vezes, porque estava gostando dela, mas como sempre a corda estoura para o lado mais frágil. A pior parte de ser um depende emocional é se prender demais no outro e sonhar alto, tão alto que quando esse outro te solta você despenca sozinha. Foi assim com Lüc, Taylor e agora Florence, eu costumo achar que vai ser diferente, que dessa vez é a pessoa certa e sempre me decepciono, acho que já estou acostumada, há pessoas predestinadas à infelicidade.      

 

Visto-me rapidamente e caminho até a garagem com Ashley. Sentamos em dos canteiros, já próximo ao jardim. Está calor e o sol já nasceu por completo. Todos em casa ainda dormem, o que deixa o ambiente silencioso e eu detesto esse silêncio porque a mente ganha espaço para pensar mil coisas. O sol me lembra dela, de seus olhos verdes que ficam ainda mais claros com a luz, de sua paz de espirito. O que será que ela deve estar fazendo agora? Com o namorado, eu suponho. Eu deveria parar de me torturar dessa maneira, mas é inevitável. Encosto-me no ombro de Ashley e tiro um cochilo durante todo o resto da manhã.       

Desperto-me com Bobby chegando em um dos carros. Ele estaciona e buzina chamando-nos.

– ONDE ESTAVA? – grito para ele – Dormiu fora?

 – Fui a uma reunião ontem – ele desce do carro – Precisamos conversar.

Bobby não parece sério, mas pelo tom o assunto é importante. Vamos para a sala. Sento-me no sofá, Ash ao meu lado, no entanto, ele permanece de pé.

– O que houve? – indago-o.

– Eu jantei com Martin Roper ontem – ele sorri – Nada menos que o CEO da Boston Beer Company. 

– A marca de cerveja? Finalmente está saindo com um figurão...

Ashley cai na gargalhada. 

– Não seja boba – ele me encara – Foi uma reunião de negócios, seus negócios. A Bud Light quer patrocinar uma pequena turnê sua. O que acha? 

– Turnê? Aonde? – pergunto-o

– Você decide, mas eu pensei nos bares que você costumava frequentar. Se voltamos para o início, nada melhor do que um show aonde você começou, não?

– Bobby – levanto-me – Você é um gênio! Eu achei essa ideia maravilhosa. Podemos marcar um naquele bar onde eu dançava em NY... E outro em Vegas, sempre quis tocar em um daqueles bares.

– Claro, seria ótimo! – ele me olha com uma expressão de felicidade – Também pensei em chamar a Floren...

– Nem pensar! – interrompo-o fechando a cara. 

– Por que não? Um dueto chamaria atenção, vocês poderiam...

– Mas eu NÃO quero! – respondo em tom rude.

– E não vai dizer o porquê? Vocês não estavam tão íntimas? – ele pergunta com ironia – O que aconteceu?

– É só... que... –  gaguejo – Olha não é nada! Eu comecei sozinha e quero fazer isso sozinha também. 

– Ok, você é quem sabe. A estrela é você.

 

Bobby me abraça para comemorar. É nessas horas que percebo que fiz bem em contratá-lo para cuidar de minhas coisas, ele faz isso muito bem e tem ideias incríveis. Exceto pelo fato de querer chamar Florence para cantar comigo, isto está fora de cogitação, se eu pudesse esquecer a música que fizemos esqueceria, mas não posso e nem deveria, a letra é realmente linda, ao menos isso eu devo agradecê-la.

Vou até a cozinha buscar uma garrafa de champagne com a desculpa de brindarmos a parceria com a marca de cerveja, mas no fundo sei que preciso de algo forte para beber, algo que me faça pensar menos. Entro no cômodo, mamãe está no fogão, como de costume.

– Bom dia, querida! – ela me beija – Você está melhor? Ashley disse que você não estava se sentindo bem e você não sai mais daquele quarto.

– Estou bem sim – solto-me dela – Onde está aquela garrafa de...

– Stefani, você anda bebendo demais...

– Impressão sua – desconverso – Onde está o papai?

– Saiu para comprar algumas coisas que preciso para o almoço.

– Ótimo – abro o armário – Viu os meus remédios para dormir?

– Não está dormindo bem? – ela vira o meu rosto – E nem comendo...

– Só estou ansiosa com as minhas coisas...

– Sei – ela me encara.

Mamãe está preocupada e não é para menos. Não consigo lidar com as minhas frustrações de maneira saudável e estou preocupada com as coisas de meu novo disco. E se nada sair como eu planejei? Se as críticas me atormentarem novamente? Não sei serei forte o suficiente par aguentar tudo aquilo de novo.

Deixo a cozinha e volto para a sala com a garrafa. Bobby a abre e brindamos. Papai chega no exato momento.

– Um brinde a essa hora da manhã? – ele diz aos risos – Qual é o motivo?

– Parceria com nada mais, nada menos que a Boston Beer Company – Bobby o responde orgulhoso.

– Sendo assim eu também vou brindar – papai se senta no sofá ao meu lado – Pode me trazer uma taça, meu bem?

– Claro! – lhe entrego – Onde você estava?

– Mercado. Você andou chorando? – ele segura o meu rosto.

– Não – abaixo a cabeça – São só aqueles medos de sempre.

– Gaga vai dar tudo certo! – Bobby nos olha – Não precisa se preocupar.

– Ah não sei... – solto um longo suspiro – Estou insegura, talvez devêssemos adiar.

– Não podemos – Bobby diz – Temos datas a cumprir com a gravadora, sabe disso.

– É que eu...

– Você só está cansada – Ash entra na conversa – Eu vou pegar os seus remédios e te colocar para dormir. Vamos?

Ela se levanta, eu a acompanho. Papai e Bobby conversam em tom baixo. Ele também deve estar preocupado. Eu nunca fui tão insegura desse jeito, mas eu realmente estou com medo, dos fãs e dos críticos. E além de tudo, Florence não me deixa em paz. Vire e mexe me manda uma mensagem, deixa outro recado na caixa postal, o que ela pretende com isso? Me enlouquecer? Se for isso, ela está conseguindo. Passo por suas fotografias rasgadas no chão do quarto e deito-me na cama. Ashley as recolhe juntando-as.

– Se Bobby ver isso, vai desconfiar. Posso jogar no lixo?

– Sim... Ou melhor... – penso por um tempo – Ah quer saber, joga tudo.

A porta está entre aberta. Ouço o barulho das patas dos cachorros e logo vejo a cabeça de Gustav apontar em meu quarto. O chamo para a cama, ele sobe e se encosta em meu braço, implorando para que eu o acaricie.

– Quer que eu tire ele daqui? – Ash pergunta.

– Não, o cachorro não tem culpa de nada – abraço o animal – Eu vou ficar com ele.

– Tudo bem... Toma! – ela me entrega o comprimido – Te acordo para almoçar.

Ela organiza o quarto enquanto eu tento dormir, sem resultado. Talvez esse remédio não esteja mais fazendo efeito. Gustav respira devagar e logo pega no sono; impossível não lembrar dela com ele do lado. Florence mal se mexia enquanto dormia no meu ombro, mas tinha um sono leve, sempre achei isso engraçado nela. Será que Felix a observa dormir como eu gostava de fazer? Imaginá-los na cama me dá vontade de chorar outra vez. Eu não deveria ser assim, sei o quanto pensar essas coisas me faz mal e mesmo assim continuo. Imagino o seu corpo sobre o dele, seus lábios o beijando, dizendo-lhe que o ama... Isso machuca demais. Viro-me com cuidado para não assustar o filhote, cubro todo o meu rosto e choro baixo para que Ash não perceba. 

 – Você vai passar mal se continuar assim – ela se senta do meu lado – O remédio não fez efeito? 

– Não – soluço – Eu preciso de algo forte para beber...

– Nem pensar! Acabou de tomar um calmante e quer beber? Enlouqueceu? 

– Não aguento mais pensar nessa... – passo as mãos no rosto – Minha cabeça parece que vai explodir.

 

– Stef! – mamãe bate na porta – Mark está aqui...

– Deixe ele entrar – sento-me – Estou acordada. 

 

– Eu vou deixar vocês a sós – Ash diz retiranando-se do quarto. 

 

Ajeito a minha roupa e levanto-me em seguida. Mark não demora. Ele me cumprimenta com um beijo no rosto e se senta no sofá, ao lado da janela. 

– Como você está? – ele pergunta.

– Péssima! – sento-me no colo dele. 

– Bobby disse que você está com medo de lançar o álbum. O que houve?

– É que... As pessoas podem odiar, Mark. Não sei se posso enfrentar aquilo de novo. 

– As pessoas podem amar também, sabe disso – ele me abraça – Só dá para saber se a gente arriscar, você não acha? 

– Você tem razão. É que aconteceu tanta coisa essa semana...

– Eu sei que é difícil, mas precisa se concentrar na sua carreira agora. É o seu momento, a sua volta, precisa estar cem por cento.

– E como eu faço para esquecer a... Você sabe...

– Ela te procurou? – ele me indaga.

– Algumas vezes – levanto-me – Me ligou, mandou mensagem, recados na caixa postal. Mas não fiz questão nenhuma de ouvir.  

– Ela também mandou para mim – ele puxa o telefone do bolso – Quer ler? 

– Não! – dou de ombros – Quero distância de tudo que seja de Florence.

– E o que vai fazer com a música de vocês? – ele pergunta em tom de ironia – Vai fingir que não existe?

– Até onde der. Acredita que Bobby queria convidá-la para um show que fechamos com a Bud Light?

– Sim! Ele me contou e eu achei uma boa ideia. Chamaríamos a atenção do público dela.

– Eu não quero estar vinculada a ela, Mark! – encaro-o  com uma expressão séria – Não acha que eu tenho motivos para isso?

– Vocês já têm um vínculo – ele ri – Não dá para fugir disso. Você deveria ao menos...

– O que Mark? Fingir que nada aconteceu?   

– Stefani... Se quer deixou que ela te explicasse as coisas.

– Você diz isso porque não viu o que eu vi – engrosso a voz – O que eu vi não precisa de explicação.  

– Ela ia terminar com ele, só não...

– Por que você defende tanto ela? – pergunto em tom rude – Você sabia o tempo todo, não sabia? Por que não me disse, Mark? 

– Stef eles não tinham mais nada – ele justifica – ela me disse que estava esperando ele voltar de viagem para acabar tudo.

– Você podia ter me falado. Evitaria tudo isso. 

– Eu não quis pressioná-la, achei que tudo se resolveria.

– ÓTIMO, MARK – grito – Então você está do lado dela? Bom saber disso.

– Não estou do lado de ninguém –  ele passa as mãos no cabelo – Mas você deveria ouvir o que ela tem para dizer.

– Eu não vou ouvir nada. Se você veio aqui para isso, perdeu seu tempo.

– Stefani...

Deixo Mark falando sozinho, entro em meu closet e sento-me no chão no meio das roupas. Estou chateada, por ser meu amigo ele deveria estar do meu lado, me dar apoio e não acobertar as coisas de Florence ou servindo de pombo correio dela, isso é o equivalente a me enganar, era só o que faltava para terminar de me deixar mal. Mark insiste e bate na porta, dizendo-me:  

 – Ei... Stef, sabe que eu estou do seu lado para qualquer coisa – ele solta um longo suspiro – Mas eu quero que vocês se resolvam. 

Eu não o respondo. Não há nada para se resolver e também não quero falar com ele nesse momento, tudo o que preciso é ficar sozinha. Alguém bate na porta do quarto. Ouço Mark abrí-la e iniciar uma breve conversa com uma voz que me é familiar: 

– Stef está no closet – ele diz – Eu já vou indo. 

– Ah desculpa eu atrapalhei vocês? Não sabia que... 

– Não atrapalhou nada, eu já estava de saída. É bom ver você! 

 

O lugar fica silencioso. Não ouço mais a voz de Mark e nem de ninguém, apenas escuto os passos de alguém se aproximar do closet. Levanto-me.

– Stefani? Está aí? 

Eu conheço essa voz, não me é estranha. É a voz de um homem e não é o meu pai. Arrasto-me até a porta e a abro, surpreendo-me ao ver quem me aguardava do lado de fora.

– Taylor? – arregalo os olhos – O que você... é desculpa eu não...

– Oi! – ele abre um sorriso abraçando-me – O que está fazendo dentro do guarda-roupa?

Não digo nada. Apenas o abraço forte. Apesar de surpresa, no fundo estava com saudades, não vou negar e talvez depois do que ocorrera em Londres, essa saudade tenha aumentado. Trocamos algumas mensagens nos últimos dias, mas não sei se estava pronta para vê-lo, mas de qualquer forma agora não há muito o que fazer. Ele está bonito, veste uma camisa xadrez como de costume, um boné do Chicago Cubs e uma barba enorme que faz cócegas em meu pescoço.

– Eu só estava guardando algumas coisas – sorrio para ele – O que você está fazendo aqui? 

– Bom... A Sua mãe me convidou para almoçar. Eu achei que você soubesse. 

Típico de minha mãe, convidá-lo sem me avisar, por achar que despertaria algo em mim. Eu estou feliz em vê-lo novamente. Confesso que sinto-me bem ao lado dele, há tempos não nos víamos e querendo ou não Taylor sempre foi o meu melhor amigo, sei que posso confiar nele e apesar de nosso termino, talvez ainda possamos manter a amizade.

– Você veio buscar o anel? – indago-o – Eu ia te devolver. 

– Não vim buscar nada! – ele solta uma gargalhada –  Vim saber como você está. Cinthya está preocupada.

– Eu estou bem, Tay – sento-me na cama – Só estou ansiosa com as coisas do novo álbum.

– Você não me parece muito bem – ele se senta do meu lado – Está acontecendo algo?

– Não sei! – apoio-me no braço dele – Senti a sua falta!

– Eu também! – ele passa o braço em meu pescoço – Estranho não? Nós dois aqui nesse quarto, sentados nessa cama depois de tudo...

– A gente fez coisas legais nessa cama – olho para ele.

– Nessa cama... Nesse quarto... Nessa casa...

Taylor retribui o olhar e aproximamos os nossos rostos. Fecho os meus olhos e ele me beija devagar. Passa um filme em minha mente, lembro-me de tudo que nós vivemos, os bons momentos, as nossas brigas até o término. Abro os olhos novamente e me afasto. Estou confusa. Ele também se afasta e solta uma gargalhada. Em seguida  me questiona:

– O que a gente acha que está fazendo?

– Não sei! – sorrio.

  O cômodo é tomado por um silêncio constrangedor até que rimos juntos por um bom tempo de nossa própria situação. Agimos por impulso, ou por carência. De falto, aquele amor todo que sentíamos um pelo outro não existe mais, mas ao menos restou o carinho.

  – O que andou fazendo? – indago-o

 – Estou de férias – ele diz – Estou pensando em viajar.

 – Sempre que planejávamos uma viagem, dava errado – solto uma gargalhada – Lembra disso?

 – Sim... Sabe, Stef eu conheci alguém...

 – Sério? Fico feliz por você – acaricio seu braço – E quem é ela?

 – Trabalhamos juntos em um filme – ele parece sem graça – Mas não sei se iremos... Você sabe.

  – Eu também conheci alguém, mas queria não ter conhecido.

 – Por que? – ele ri – O que ele fez?

 – Te surpreenderia se eu dissesse que é uma garota?

 – Não! Lembra quando eu você e Monica... Nós... Bem ela lembra disso até hoje, de como você é boa com as mulheres.

 – Meu deus! – solto outra gargalhada, mais alta agora – Aquele dia foi intenso...

 – Poucos homens têm essa oportunidade. Mas continue, o que essa garota fez?

 – Beijou outro na minha frente, depois que a gente... – mudo de expressão – Na verdade ela tinha um namorado e eu sabia, mas não achei que ela fosse esfregá-lo na minha cara.

 – Uau! – ele exclama surpreso – E eu a conheço?

  – Não. Ela trabalhou comigo nesse álbum, me deu até um cachorro – aponto para Gustav que dorme atrás de nós – Agora ela está me mandando mensagens e enchendo a minha caixa postal.

 – Você deveria pelo menos ouvir... Não a conheço, mas vai que a justificativa seja boa.

  – Você também acha? Eu não quero escutar a voz dela, estou com raiva.

  – Eu ouviria – ele segura a minha mão – mas não te culpo por não querer ouvir.

  

  Passamos mais um tempo ali e depois almoçamos juntos. Ele me conta sobre como conheceu a garota que está saindo, parece estar apaixonado e eu acho graça da situação, se fosse há um tempo eu estaria em prantos ao saber que ele gosta de alguém além de mim, mas agora não, apesar de estranho não é algo que me machuca. Depois de passarmos boa parte da tarde juntos, ele vai embora, despede-se de mim, de meu pai e de minha mãe que parece feliz em nos ver próximos outra vez. Depois de acompanha-lo até a saída, volto-me para a cozinha onde ela está.

  – Não faça mais isso, mãe – lhe peço.

    – Isso o que, meu bem? – ela desconversa.

   – Taylor. Me avise quando convidá-lo.

    – Ele estava lindo, não estava? – ela pergunta em tom de malícia – É um homem e tanto!

   – Que fique bem claro que somos amigos agora. Pare de tentar nos unir. O que a gente tinha acabou, ele já está até namorando.

   – Não precisa dessa malcriação toda!

    – Só estou falando – dou de ombros.

    Pego a garrafa de vinho branco que abrimos no almoço e vou para o meu quarto. Talvez Taylor tenha razão. Eu deveria ao menos ouvir os recados de Florence. Pego o meu celular no criado mudo e fico por um tempo olhando a mensagem que pisca no visor: “Você tem um novo recado, acesse sua caixa postal para ouvir!”. Abro a garrafa de vinho, tomo alguns goles no gargalo e em seguida decido escutá-los.

  Levo meu celular até o ouvido. De início ela não diz nada, mas posso ouvir a sua respiração falhada seguida de um suspiro. Depois ela sussurra algo inaudível até que finalmente começa a falar:

 

            Ei garota... Não quer falar comigo, não é? Eu sei, você tem seus motivos, suas razões e deve estar triste, eu fiz você ficar triste, te fiz chorar e eu não vou me perdoar nunca por isso – ela para. Solta um longo suspiro e continua – Quando você disse que precisava de mim naquela letra, eu levei a sério... Muito a sério, porque... Eu preciso de você também. Talvez você não acredite, mas eu preciso te falar. Naquela noite eu... eu só tinha boas intenções, eu queria te levar para minha casa e te encher de carinho até o amanhecer. O que você viu não é... Você interpretou tudo errado. Queria explicar para você que... – sua voz passa ficar trêmula e ela parece chorar – Sabe, eu também estou triste. Talvez eu tenha tomado algumas, aposto que você também tomou. Está frio aqui e eu não consigo parar de pensar em você. Você nem vai ouvir esse recado, eu sei. Mas isso nem me importa...

Ela fica em silêncio por um tempo e depois passa a cantarolar baixo entre um soluço e outro “Same Mistake” de James Blunt:

 

Então enquanto eu me reviro em meus lençóis

E mais uma vez, não consigo dormir

Saio pela porta e subo a rua

Olho as estrelas debaixo dos meus pés

Lembro de coisas certas que fiz errado

Então aqui vou eu

 

Eu não estou pedindo por uma segunda chance

Estou gritando com toda minha voz
Me dê razão, mas não me dê escolha

Porque eu apenas vou cometer o mesmo erro, de novo

 

E talvez algum dia nos encontremos

Talvez para conversar e não apenas falar

Não cobre as minhas promessas porque

Não há promessas que eu mantenha

E minha reflexão me incomoda

Então aqui vou eu.

Em seguida ela para outra vez e chora baixo sussurrando palavras que não entendo. Eu desligo o telefone. Não quero mais ouvir aquilo. Ela devia estar bêbada, ou sob efeito de alguma coisa quando tentou me ligar... Mas ainda sim, sua voz estava tão doce e seu choro tão sentido, da mesma forma como chorou no outro dia e aquilo mexeu comigo. Meus olhos lacrimejam outra vez. Bebo mais alguns goles de vinho, dessa vez até terminar e depois jogo a garrafa  com força contra a parede e observo os vidros no chão. Gustav late assustado. Ashley tenta abrir a porta, mas eu a tranquei. Ligo o som em meu quarto, no volume mais alto. Toca um CD do Tame Impala, especificamente a música “Love/Paranoia”:

Você tem certeza de que não era nada?

Porque isso me fez sentir como se estivesse morrendo por dentro

Nunca pensei que eu fosse inseguro,

Não percebi até que eu estava apaixonado de verdade

Se eu pudesse alcançar sua mente Oh, eu estaria bem, eu estaria normal

E de repente eu sou o único falso

O único com um problema

O Verdadeiro amor trazendo para fora de mim

O pior em mim, e eu sei agora

 

Você se lembra de quando ficamos
Ficamos à beira do mar

Eu não me importava se era dia ou noite

O mundo estava exatamente onde eu queria.

Deito-me no chão, me encolho e permaneço ali até que Ashley abre a porta com a chave reserva.



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