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História Just Another Way - Sobre vícios e outras coisas


Escrita por: 4sevendevils

Capítulo 10 - Sobre vícios e outras coisas


Fanfic / Fanfiction Just Another Way - Sobre vícios e outras coisas

      Levanto-me da cama esbarrando nas caixas sobre o chão, meu quarto está tão bagunçado que ao caminhar preciso desviar dos objetos em toda parte do cômodo.  Procuro meus cigarros sobre o criado mudo, mas não os encontro e talvez seja um lembrete de que eu preciso urgentemente parar de fumar. Sento-me na cama debruçando-me sobre um dos caixotes de roupa e retiro peça por peça; ainda estão todas etiquetadas e é possível sentir o cheiro de novo de seus tecidos. Levanto-me novamente, caminho até o espelho ao lado da estante e posiciono algumas roupas sobre o meu corpo segurando-as sobre os cabides; algumas foram desenhadas especialmente para mim e eu adoro como a forma em que me visto diz tanto sobre a minha personalidade tornando-se uma marca da minha arte. Algumas peças são extremamente extravagantes, já outras nem tanto, mas todas refletem alguma parte de mim, é um significado pessoal que as pessoas insistem em tentar decifrar. 

 

Sento-me na poltrona ao lado da janela, meu celular vibra sobre o estofado e o visor mostra uma mensagem de Monica: "Stef, quanto tempo! Você está bem?" Desligo o aparelho, encosto-me a parede de olhos fechados e tento filtrar os pensamentos em minha mente. Monica é a melhor amiga de Taylor, eles dividem praticamente tudo: trabalho, amigos, família. Quando ainda estávamos juntos ela costumava passar o dia conosco por aqui, era uma ótima companhia, principalmente durante as nossas brigas. Não sei se devo respondê-la, confesso que quero saber como ele está, há tanto tempo não nos falamos... Mas talvez a distância seja melhor agora.

 

Levanto-me e ando de um lado para o outro afastando os objetos em meu caminho. A falta de cigarro me deixa agoniada, minha cabeça dói, meus braços formigam e a minha mente parece trabalhar a milhão, abstinência é uma das piores sensações existentes, o corpo parece se autodestruir e a vontade quase incontrolável de ceder ao vício se transforma em uma fissura momentânea difícil de lidar.

 Em um dos cantos do quarto os sapatos de Florence se misturam com os meus, abaixo-me pegando-os. Os calçados são simples, pretos e sem saltos, mas lembram de um daqueles movimentos hippies dos anos 60, sento-me sobre o chão encarando-os, Florence fica tão bem quando os calça, eles parecem se encaixar perfeitamente em seus pés, alinhando-os e deixando-a mais alta do que ela já é. Ela tem um corpo muito bonito e uma pele macia tão sensível ao toque que se arrepia com facilidade sobre qualquer aproximação. Confesso que há tempos não me sinto tão bem nos braços de alguém como me senti quando nos abraçamos, foi um momento tão bom, eu podia sentir suas mãos em meu rosto, suas pernas entre as minhas até que finalmente nos beijamos de um jeito que eu nunca vou esquecer... De inicio pareceu inesperado, mas agora sinto que foi a resposta dos nossos corpos que reagiram por impulso ou sobre algum tipo de atração, é difícil encontrar respostas quando elas simplesmente não existem, mas a única certeza que eu tenho é que eu quero beija-la novamente porque essa sensação inexplicável me faz querer tê-la por perto a todo o momento.       

 

Ouço passos vindos do corredor e sento-me na cama rapidamente, a porta se abre e Bobby está parado encarando-me com uma expressão dura:

− Precisamos conversar − ele diz. 

− Agora? São sete horas da manhã! 

− Tem que ser agora − Bobby se aproxima − Você enlouqueceu? Viajar de madrugada, sem avisar ninguém, onde você estava com a cabeça?

− Eu já expliquei, eu precisava de um tempo, qual a dificuldade em entender? – levanto-me.

 − Tempo? Gaga você sabe que tempo é o que menos temos nesse momento − ele suspira.

− Bobby eu só precisava colocar as minhas ideias no lugar, ok? 

− E o que a Florence tem haver com isso? − ele me indaga, parece desconfiado.

− Achei que poderíamos nos conhecer melhor aqui − respondo.

− Você largou o que começamos a fazer em Nova York porque queria conhecer essa garota? − Bobby se altera − Vocês ao menos terminaram essa música? 

− Ainda não, você sabe que não é tão simples assim...

− Não me venha com essa − Bobby diz irritado − Eu já vi você compor uma música em 10 minutos, qual é a dificuldade dessa? 

− Que saco, Bobby! − levanto-me aumentando o tom da voz − Eu sei muito bem o que  estou fazendo.

− NÃO, VOCÊ NÃO SABE! − ele grita − Eu não posso deslocar uma equipe inteira de um estado para outro sempre que você resolver que quer ficar sozinha, ou conhecer alguém. 

− Você não entende mesmo, não é?

 

Caminho em direção à porta deixando-o sozinho. É impossível conversar com o Bobby quando ele está nervoso porque ele não consegue enxergar outro ponto de vista que não seja o dele em qualquer situação e isso me deixa irritada. Eu tenho o meu jeito de fazer as coisas principalmente quando se trata de música, sei que dependemos das aprovações da gravadora e de mais uma série de coisas, mas definitivamente eu estou farta de deixa-los ditar o ritmo de tudo o que eu faço e Bobby parece não querer entender isso, porque coloca empecilho em qualquer decisão minha.  

 

Ashley dorme com os cachorros no sofá da sala, ela chegou durante a madrugada assim como o resto da equipe que se hospedou num hotel aqui perto. Tê-los por aqui significa que a casa vai estar sempre cheia... Eu geralmente gosto dessa movimentação toda, mas admito que nesse momento eu preferia continuar somente na companhia da Florence porque ela é a única que não me cobra e não me sufoca.

Reviro os objetos sobre a estante da sala a procura dos meus cigarros, mas não os encontro, caminho até o piano, mexo nos papeis na parte de cima do instrumento, e acabo derrubando um enfeite de porcelana que se quebra no chão acordando Ash que desperta assustada com o barulho:

− O que você está fazendo?

− Não acho os meus cigarros, você não viu?

− Stef eu cheguei quase duas horas da manhã – ela se senta – Acha que eu tive tempo para procurar cigarro? A única coisa que eu fiz ontem foi te colocar para dormir.

− Estou com dor de cabeça – apoio minhas mãos sobre o rosto.

− Já tomou remédio? – ela me pergunta.

− Não preciso de remédio – sento-me ao lado dela – Quer dar uma volta?

− Ah não! – Ash resmunga – Agora?

− Qual problema? Preciso sair daqui, a gente toma café em qualquer canto por ai. 

− Vai me fazer levantar às sete horas da manhã por causa de cigarro? – ela me encara.

− Eu estou realmente tentando parar, mas não vai ser hoje... Vamos? Por favor? – levanto-me estendendo-lhe um dos braços puxando a sua mão.

− Tudo bem. Eu vou escovar os dentes e a gente vai.

Acompanho Ash até o corredor e entro em meu quarto novamente, Bobby ainda está por lá revirando algumas roupas, parece mais tranquilo.

− Sabe da Florence? – indago-o.

− Dormindo... Quarto de hóspedes, eu acho – ele responde num tom seco.

− Eu vou sair com a Ash, pode pedir para prepararem alguma coisa pra ela? Ela gosta dessas comidas orgânicas, o que não falta no jardim.

− Tudo bem!

Pego meu celular sobre a poltrona e vou para a garagem. Sento-me no banco do veículo: um Ford Bronco azul bebê modelo 96, certamente é um dos meus carros favoritos, ele combina perfeitamente com a paisagem montanhosa da cidade. Ajeito o espelho retrovisor, coloco meus óculos escuros, pego o celular novamente e envio uma mensagem para Florence: “Bom dia! Precisei sair, mas volto logo. Deixei café da manhã para você na cozinha.” Encaixo o celular próximo do câmbio e dou partida no carro. Ashley se senta ao meu lado no banco do passageiro encarando-me.

− O que foi que te deixou assim? – ela pergunta desconfiada.

− Assim como?

− Esse desespero por cigarro não é normal.

−Não sei... – suspiro – Talvez seja porque a Monica me mandou uma mensagem.

− Monica Raymund? Amiga do Taylor? O que ela queria?

− Saber se está tudo bem.

− Você não respondeu, não é? – Ashley me indaga com uma expressão séria.

− Ainda não... – passo uma das mãos sobre os meus cabelos – O que acha de uma música?

 

Ligo o som do carro e piso no acelerador. Sinto o vento bater em meu rosto  enquanto escuto Ash cantarolar “Ms. Brownstone” de Guns N’ Roses:

 

“Eu acordo por volta das sete,

saio da cama por volta das nove,

E eu não me preocupo com nada,

pois preocupação é uma perda do meu tempo.

Eu costumava usar um pouco, mas um pouco não dava,

então o pouco foi aumentando mais e mais,

Eu só tentava ficar um pouco melhor, digo, um pouco melhor do que antes.”

 

Eu costumava ouvir muito essa música quando morava sozinha em um apartamento num dos subúrbios de Nova York, era a trilha sonora da minha vida, eu tinha uns 20 anos, não sabia o que era rotina e abusava das drogas como se não houvesse amanhã porque eu achava que isso me deixaria bem de alguma forma. Foram tempos escuros, mas eu gosto de olhar para trás e perceber o quanto eu mudei.

 

Estaciono o carro nos fundos de uma loja Starbucks, desço sozinha e compro os cigarros e o café. Ashley me aguarda encostada sobre o carro, parece cochilar apoiada no capo com um dos meus bonés em seu rosto. Entrego-lhe o café e entramos novamente no veiculo.

− Que sono! – ela esfrega os punhos nos olhos.

− Nada que isso aqui não resolva – acendo um cigarro.

− Bobby ficou realmente nervoso com você e eu não o culpo, eu também deveria estar afinal você mentiu pra mim.

− Eu não menti pra você, Ash. Só não disse onde estava.

− E você vai me contar por que veio pra cá ou também não vai dizer?

− Convidei a Florence para tomar um vinho na terça-feira e achei que aqui seria melhor para compor – sorrio olhando para ela. 

− Vinho? – ela me questiona em tom de malícia – E fizeram mais o que até a gente chegar?

− Nada ué – solto uma gargalhada.

− Stefani... – ela me olha com uma expressão dura

− Ela me ajudou a dormir e foi só isso.

− Só isso mesmo? – Ash me encara.

− Ok, você venceu – passo as mãos em meu rosto – A gente... É... A gente se beijou – gaguejo.

− VOCÊS O QUE? – ela grita – Meu Deus, o Bobby tem razão, você enlouqueceu!

– Foi só um beijo – digo com um sorriso bobo nos lábios.

Terminamos o café e seguimos de volta para casa. Ashley me encara o tempo todo com uma expressão séria enquanto faz inúmeras perguntas sobre mim e sobre Florence, parece querer que eu explique algo que nem eu mesma consigo entender. Não existem segredos entre nós e mentir para ela sobre o meu paradeiro naquela noite acabou me deixando com peso na consciência, por isso estou tentando ser o mais sincera possível. Conto para ela sobre os detalhes daquele momento e é engraçado falar sobre a Florence desse jeito, nunca pensei que um beijo fosse mexer tanto comigo assim e isso me preocupa, mas de uma maneira boa.

Chegamos por volta das dez horas da manhã, saio do carro e jogo as chaves para Ash que estaciona o veículo próximo do jardim. Encosto-me sobre uma das colunas e pego o meu celular, o visor mostra uma mensagem de Florence na qual abro rapidamente: “Obrigada por ser sempre tão gentil Xxxx”. Leio a mensagem algumas vezes repetidamente com um sorriso no rosto. Decido caminhar pelo jardim antes de entrar, não quero que ninguém me veja desse jeito, um riso sem sentido nunca é um bom sinal, pelo menos não pra mim. Ando entre as flores próximo do cercado nos fundos da casa, da janela do quarto de hóspedes é possível ver a silhueta do corpo de Florence numa sombra sobre a parede, aproximo-me cuidadosamente desviando dos galhos espalhados no chão e a observo.  Ela está de pé, seminua, com uma das mãos na cabeceira da cama enquanto a outra massageia um de seus ombros compulsivamente, ela se senta de costas, joga os cabelos para o lado e estica seus braços espreguiçando-se. Seus músculos se contorcem, ela apoia os braços em seus joelhos e em seguida esfrega uma toalha por todo corpo... Começa pelos pés, passa pelas pernas até chegar em suas costas tocando em seus ombros largos e rígidos que se contraem.

Encosto-me sobre uma das colunas com os olhos fixos para a janela, é impossível olhar para Florence e não deseja-la, ela é como a arte, parece uma escultura renascentista perfeitamente esculpida que merece ser admirada em cada detalhe. Permaneço ali, boquiaberta, mesmo depois de Florence deixar o quarto, estou ofegante, minhas mãos suadas e meus braços arrepiados, mas não esboço nenhuma reação. O desejo é um sentimento perigoso porque é como um vício, quanto mais você o alimenta, mais ele te consome e te impede de reagir a qualquer coisa.

Deslizo as mãos sobre o meu rosto enquanto caminho na grama afastando-me de casa, preciso de ar fresco. Sento-me debaixo de uma das arvores apoiando minha cabeça sobre o tronco. Tento relaxar, mas ouço uma voz gritar o meu nome repetidamente, coloco meus óculos escuros, olho para trás e vejo Florence caminhar rapidamente pela área verde do jardim:

− Você está ai!– ela se aproxima.

− Sim... Estou – gaguejo

− Eu escrevi algumas coisas ontem à noite e queria que... Você está bem? − ela me encara.

− Estou sim – respondo – Me conta o que você escreveu.

 

Florence desembrulha um papel em sua mão e lê algumas frases enquanto caminha de um lado para o outro sorridente, ela parece eufórica e eu tento prestar atenção no que ela diz, mas não consigo tirar sua imagem naquele quarto da cabeça... Tento me manter sob controle, fumo um cigarro atrás do outro enquanto a observo, ela se senta ao meu lado e me olha com uma expressão séria:

 

− Você fuma demais para alguém que está parando.

− Eu estou tentando – abaixo a cabeça.

− Você está bem mesmo? – ela desliza a mão sobre o meu rosto.

 

Fecho meus olhos enquanto deito minha cabeça sobre a mão de Florence sentindo seus dedos que me acariciam. Nossos rostos agora estão bem próximos e eu posso ouvir a sua respiração, ela segura a minha mão e me olha fixamente nos olhos, parece tentar entender os meus pensamentos. Está cada vez mais difícil me controlar, eu penso em seu corpo despido a cada toque e a cada troca de olhares; ela me pergunta se está tudo bem, me fala sobre os trechos da música, e eu apenas balanço a cabeça em sinal sim. Abro os olhos devagar e consigo ver o contorno de um sorriso tímido em seus lábios, aproximo-me de sua boca e ela se afasta. Deslizo minhas mãos sobre seus braços, em seguida apoio-as em seu pescoço puxando-o em direção a mim e a beijo desesperadamente. Florence segura a minha mão impedindo-me de toca-la novamente, pressiono os meus ombros contra os dela apoiando-os sobre o tronco da árvore. Sinto a sua língua quente sobre a minha, a sua respiração rápida, o seu coração acelerado. Vagarosamente ela inclina a cabeça diminuindo o ritmo do beijo, solto-me de suas mãos e acaricio seus cabelos descendo sobre os seus ombros bem próximo de seus seios. Minha boca percorre seu maxilar, minha língua desce até o seu pescoço e eu a beijo sugando e mordendo a sua pele, devagar a princípio e posteriormente mais forte. Florence se afasta devagar, seus olhos parecem confusos e assustados, ela apoia a cabeça em meu ombro e sussurra em meu ouvido:

 

− A gente não pode ficar fazendo isso...

− Desculpa! – solto um longo suspiro − Eu não sei o que está acontecendo.

− Eu também não – ela sorri beijando-me no canto da boca – Acho melhor a gente voltar, você está suando e pode ser uma queda de pressão por causa do calor.

− Ou por causa de você – sussurro enquanto levanto-me

− Sabe, eu andei pensando, acho que eu devo procurar um hotel por aqui...

− Por quê? – aproximo-me dela – Eu não vou deixar você sair daqui.

− Eu poderia vir todos os dias – ela caminha rapidamente em minha frente.

− Não, eu prefiro assim, do jeito que está.

 

Florence me observa caminhar em passos largos atrás dela, coça uma das mãos e esfrega os punhos, parece nervosa:

− Um quarto aqui perto, não vai atrapalhar – ela diz cabisbaixa.

− Florence, não precisa ser assim – aproximo-me segurando uma de suas mãos – Eu quero você por perto, eu quero muito e eu não sei de onde vem essa vontade, mas eu preciso de você aqui.

− Não faz isso comigo – ela puxa o meu braço abraçando-me – Assim é difícil.

− Vai ser pior se você for embora.

 

Caminhamos pelo jardim com os braços entrelaçados, Florence parece mais calma, toca nas flores como se fosse a primeira vez que as via. Estou apreensiva, definitivamente não quero que ela saia daqui porque todo minuto que passamos juntas nunca parece o bastante para mim.  

Na porta de casa, Ashley brinca com os cachorros que agora correm em minha direção, abaixo-me acariciando-os, Florence se senta ao meu lado e eles pulam rapidamente para o colo dela. Ash me olha com uma expressão séria, parece querer me dizer alguma coisa:

− O que foi? – indago-a.

− Acho melhor você entrar – Ashley responde.

Caminho até a sala, a casa está cheia, umas sete pessoas que se misturam junto de caixas que cobrem o chão e roupas que se esparramam no sofá, Bobby está sentado sobre o banco do piano conferindo alguns itens com sua assistente. No meio das conversas paralelas uma voz feminina se destaca:

− Stefani, querida! – ela grita.

− Mamãe?  



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