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História Keep Out (HIATUS) - Hells Gate


Escrita por: Cami_canfly

Notas do Autor


Pessoal, essa é minha primeira fic, então me desculpem por qualquer erro! Os primeiros caps vao contar a historia de vida da Addie, para vocês poderem entender ela melhor, ai dps o Luke aparece la pelo quarto cap! Bjs Obg

Capítulo 1 - Hells Gate


Fanfic / Fanfiction Keep Out (HIATUS) - Hells Gate

Capitulo 1 - Hell's Gate

 Meu nome é Addie Lewis. Atualmente tenho dezessete anos, quase dezoito, e estou aqui para contar minha história, que não é nenhum conto de fadas. Mas o que eu posso fazer? Eu sou o diabo. Ou pelo menos é assim que as pessoas me chamam pelas costas. Digamos apenas que eu não sou uma boa garota, e deixo isso claro para todos.

Bom, tudo começou quando eu ainda era apenas uma criança...

 

23 de Agosto de 1999

Eu assistia o subir e descer lento de seu peito, sugando e expulsando o ar de seus pulmões. Os olhos fechados e a boca levemente entreaberta, combinando sua tonalidade com o rosado das bochechas macias. Dormindo, como se naquele momento o mundo inteiro estivesse em paz. Como se problemas simplesmente não existissem.

E eu entendia, naquela época, o mundo era o lugar mais calmo e singelo que eu poderia imaginar, e problemas? O que eram problemas? Eu não sabia e daria tudo para continuar não sabendo.

Soltei uma leve gargalhada ao assistir seu corpo se sobressaltar, movendo seus braços e pernas em um pequeno espasmo. Seus lábios formaram um lindo sorriso, mostrando as gengivas sem dentes ao ter seus olhos em contato com os meus.

-- Olhe, mamãe! Adam finalmente acordou! – falei, olhando nos olhinhos de meu irmãozinho, que agora segurava a ponta de meu dedo indicador com suas pequenas mãozinhas.

Senti uma leve movimentação em minhas costas e logo minha mãe se sentava ao meu lado no tapete da sala.

-- Vou preparar uma mamadeira para esse ursinho! Deve estar faminto! – Ela disse apertando as bochechas de Adam, fazendo com que o pequeno soltasse uma risada gostosa e logo depois se levantando. – Olhe ele para a mamãe, Addie. – Gritou já na cozinha.

Virei-me e encarei os olhos no tom de mel de meu irmãozinho, os mesmos de minha mãe. Ele grunhiu esticando os bracinhos para o boneco de pelúcia do Hulk ao meu lado. Ri e entreguei o boneco ao pequeno, que logo o levou a boca para morder.

-- Não, Adam! Não morda ele, assim você machuca o Hulk – Eu disse tentando separar o boneco dos dentinhos de Adam, que se mantinha firme com a mordida. Puxei mais forte e finalmente consegui tirar o pobre Hulk dos lábios do pequeno, que logo mostrou uma cara de choro que me fez rir – Tudo bem, fique com ele!

Continuei brincando com Adam até minha mãe aparecer e entregar a mamadeira a ele, que deixou de brincar para engolir o líquido com fortes goles.

-- Puxa, olhe só Addie! É um gulosinho como você! -- Senti os braços de minha mãe ao meu redor enquanto eu ria. — Então, querida... O que minha princesinha quer de aniversário? – Sussurrou no meu ouvido, se referindo a minha festa de aniversário de quatro anos na semana seguinte.

-- Eu quero um bolo bem grande de chocolate, mamãe! – Eu disse, demonstrando o tamanho do bolo abrindo os braços, fazendo-a rir.

Estávamos os três no tapete da sala entre risadas e brincadeiras quando de repente ouvimos o barulho da porta da frente se abrindo com força revelando o semblante bêbado de Steve, marido de minha mãe e pai de Adam.

Steve entrou cambaleando pela casa derrubando os porta-retratos e decorações penduradas pelas paredes até que finalmente tropeçou sobre os próprios pés e foi ao chão. Olhei para o lado quando mamãe se ergueu do tapete para ajudá-lo, porém ele se levantou antes e a empurrou, fazendo com ela esbarrasse as costas no sofá.

  Meu coração começou a acelerar. Eu sabia o que estava acontecendo e sempre, todas às vezes, sem exceção, em que isso acontecia, eu paralisava. Puxei o fôlego quando Steve agarrou o braço de minha mãe, avançando com um forte tapa sobre seu rosto,  fazendo com que ela soltasse um grunhido de dor ao se chocar com o chão. Comecei a chorar silenciosamente, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto como a chuva. A movimentação acabou assustando Adam, que começou a chorar também, mas em alto e bom som.

-- Inútil! A única coisa que sabe fazer é ficar jogada em casa o dia todo, um lixo! -- ele gritou, levantando-a pelos cabelos. Arregalei os olhos ao ouvir o som de mais um tapa sendo desferido na face avermelhada de minha mãe.

Engoli em seco e senti o desespero me dominar. Eu estava com tanto medo que sentia minhas mãos tremerem em meu colo. Fechei os olhos e corri até os dois únicos adultos na sala, usando todas as minhas forças para empurrar Steve para longe de minha mãe, fazendo com que sua atenção fosse toda para mim.

-- Quem você pensa que é bastarda? – Ele gritou me puxando pelos cabelos e logo em seguida me estapeando fortemente na coxa. Solucei ao sentir a ardência aderir minha pele — Vou te ensinar a ficar quieta em seu canto... – Ele levantou a mão direita em forma de punho.

-- Fique longe da minha filha! -- Ouvi a voz de minha mãe antes de ela acertar Steve na cabeça com um vazo, que se estilhaçou em milhares de pedacinhos sobre o chão.

Steve me soltou brutalmente e se virou com ódio em direção a minha mãe, mas seus olhos raivosos logo se dirigiram a Adam, que chorava aos berros neste momento. Ele seguiu andando até o pequeno que estremecia em lágrimas no chão e o pegou no colo, me agarrando pelo braço logo em seguida.  Senti meu corpo ser puxado pela sala e logo fui jogada dentro do armário, tendo Adam sendo depositado no chão ao meu lado.  Minha mãe tentou interferir agarrando e puxando os braços de Steve, mas foi repelida ao receber um forte empurrão.

Olhei para cima e vi Steve fechando a porta com força, deixando Adam e eu trancados naquele cubículo. A única iluminação eram os poucos raios de luz que pesavam pelos pequenos orifícios da porta. Não evitei me encolher ao ouvir gritos e mais xingamentos vindos de Steve. Tentava ignorar os soluços de meu irmão e me concentrava em limpar a água de meus olhos, buscando me acalmar. Logo vai acabar, logo vai acabar.

Afastei um pouco a porta, deixando-a entreaberta e abrindo espaço suficiente para que apenas meus olhos enxergassem por entre o vão, mas acabei assustando-me ao ver minha mãe ser empurrada com força. Seu pé se prendeu na borda do tapete e eu levei minha mão até minha nuca ao ver seu corpo perder o equilíbrio, indo em direção ao chão.

Ouvi um barulho estranho quando sua cabeça entrou em contato com a quina da mesa de centro, lembrando-me do som de uma lasca de concreto sendo quebrada no chão em um estalo.  Seu corpo repousava imóvel deitado de lado e ela não se mexia. Seus olhos cor de mel, que eu tanto amava, me fitavam interruptamente, mas eles não continham o mesmo olhar terno e amoroso que ela sempre me dirigia, não havia calor ali e mas me lembravam dos olhos de uma boneca: fixos em um único ponto, levemente arregalados, envolvidos por vidro. Sem vida.

O tapete bege agora continha uma enorme mancha de um líquido escarlate que fluía da lateral da cabeça de minha mãe, banhando sua face esquerda, que repousava sobre o chão. Seus lábios estavam levemente abertos e um pequeno corte se abrira ao lado de sua sobrancelha.

Por que minha mamãe me encarava daquela forma? Por que não levantava?

Não queria mais ver aquilo, então abracei Adam que ainda chorava e simplesmente fechei meus olhos, pedindo as estrelas que me carregassem para longe dali.

 

10 anos depois

16 de maio de 2009

Depois de dez anos após a morte de minha mãe, Adam e eu continuávamos “morando” com Steve. Entre aspas, pois ele nunca estava aqui. Essa semana fazia oito meses que ele não punha os pés em casa, apenas mandava o dinheiro para sobrevivermos. Não estava reclamando, porque preferia ele desaparecido do que em casa infernizando a mim e a Adam.

 Não sabia onde ele estava e nem queria saber. Eu o odiava com cada célula do meu corpo, e esse sentimento era recíproco. Eu sabia o que ele tinha feito com minha mãe e ele sabia que eu sabia.

Há dez anos a policia não achou que minha mãe poderia ter sido assassinada, já que no seu corpo não havia marcas de tentativa de homicídio. A morte dela fora considerada acidental. Steve disse ao xerife que ela escorregou e acabou batendo com a cabeça na quina da mesa. Era uma história aceitável, eu acreditaria se não tivesse visto o que vi. Tentei falar a todos a verdade, mas quem iria acreditar em uma garotinha de quatro aninhos em suposto estado de choque com a perda da mãe?

Eu cuidava de Adam que hoje já tinha onze anos. Nós dois estudávamos na mesma escola, o que me facilitava ficar de olho nele. Éramos meio que os excluídos da escola, pois sempre nos afastávamos das pessoas. Era mais fácil assim de evitar brigas, já que eu era bem “esquentadinha” e odiava os olhares de pena que os outros nos lançavam. Na verdade, as pessoas tinham medo de nós. Éramos como os irmãos encrenca.

Meu irmão e eu não precisávamos de pena. Nós sempre nos viramos muito bem sozinhos naquela casa.

-- Add, você está aqui? – Meu irmão disse rindo e passando a mão na frente do meu rosto para me chamar a atenção.

-- Sim, desculpe... – Respondi rindo também – Vamos?

Ele assentiu e seguimos juntos para casa que ficava a poucas quadras da escola.

Enquanto caminhava, eu observava Adam. Ele estava mudando depressa. Às vezes, tudo o que eu queria era contar a verdade sobre a morte de nossa mãe, mas ele não estava pronto. Eu tenho medo de destruir mais ainda a vida dele. Já passamos por tanta merda que não sei como ele reagiria a isso.

-- Chegamos. – Murmurei, avistando nossa casa com a pintura descascando e paredes com a madeira já meio apodrecida pela umidade e os cupins. Nossa casa não era nem um pouco grande ou bonita, mas era o que tínhamos, e eu era grata por isso.

Abri a porta para entrarmos e Adam já correu para o sofá.

-- Nem um pouco preguiçoso você, hum? – Ele riu com meu comentário. – Vou esquentar alguma coisa pra gente comer.

Descongelei uma lasanha no micro-ondas. Eu não era muito fã de cozinhar, então  sempre descongelávamos alguma coisa ou pedíamos algo para entrega. Mas de vez em quando eu abria uma exceção, já que Adam adorava minha comida. Fui em direção ao micro-ondas quando ouvi o Bipe alarmando que a comida estava pronta.

--Adam, vem comer! – Gritei, já retirando meu pedaço.

Ouvi o som da TV sendo desligada e logo Adam entrou na pequena cozinha.

-- Add, vamos comer na sala enquanto assistimos a um filme?

-- Pode ser, mas por favor, Adam, não derrama tudo no chão igual a última vez – Implorei, cutucando-o nas costelas, fazendo o mesmo se encolher em cócegas com uma careta no rosto.

Não consegui resistir e acabei rindo alto com a cara que ele fez. Nos sentamos no sofá de frente a Tv, ligando a mesma, logo nos concentrando em comer e no documentário sobre a vida selvagem que passava.

 Assistimos a dois filmes e quando vimos já era noite. Era sexta-feira, o que significava que não havia deveres da escola, o que eu agradecia muito. Estiquei meus braços e pernas, espreguiçando-me e olhei para o lado.  A luz da TV refletia no rosto de meu irmão, iluminando seu semblante despreocupado. Quando se olhava para Adam você via a versão masculina da minha mãe. Os olhos cor de mel e os cabelos castanhos bem claros, quase loiros. Eles eram idênticos. Já eu, a única coisa que me restou dela foi meu olhos também na cor de mel, mas mais para um tom de amarelado. Os meus cabelos eram extremamente pretos e minhas feições eram iguais as do meu pai biológico, que eu já vira em fotos escondidas nas antigas coisas de mamãe. Eu queria um dia olhar nos olhos deste homem, e perguntar como ele pode abandonar uma mulher grávida, renegada pela família e ainda por cima que largara tudo por ele, ela só tinha 17 anos quando ficou gravida de mim, três anos a mais que a idade que eu tenho agora. Eu não me importava de não ter um pai, preferia não ter nenhum a ter um e me decepcionar com ele.

-- Terra para Addie – Adam disse rindo e acenando na frente do meu rosto – Você esta tão avoada hoje, eu já estou indo dormir Add, boa noite.

-- Boa noite – Respondi já me levantando e indo em direção à cozinha. Lavei os pratos rapidamente e corri direto para um banho. Fiquei no banho por uns quinze minutos e logo já estava desmaiada na cama de tão cansada.

Acordei no meio da noite assustada. Jurava que tinha ouvido algum barulho no andar de baixo. Olhei para o despertador que apontava 02h36min da manhã. Uma brisa fria afastou meus cabelos quando passou pela janela aberta, fazendo-me esfregar meus braços para que os mesmos não se arrepiassem. .

O quarto estava escuro, mas ainda assim olhava ao meu redor mais especificamente pelo feixe de luz que passava por debaixo da porta, analisando com ouvidos atentos em busca de algum barulho.

Nada.

Bufei, voltando a me deitar confortavelmente sobre o colchão, mas não fiquei muito assim, já que pulei na cama quando um novo barulho veio do andar inferior. Com um frio na barriga me levantei da cama, abrindo cuidadosamente a porta de meu quarto, dirigindo-me até as escadas. Franzi o cenho quando vi que a luz da sala estava acesa, sendo que eu me lembrava claramente de tê-la apagado, mas logo barulhos de passos puderam ser ouvidos do andar de baixo. Engoli o bolo na minha garganta e desci lentamente os degraus, inclinando o corpo para ter uma melhor visão da sala. Deve ser apenas o Adam, pensei comigo mesma.

Droga, como eu queria estar certa.

-- Adam? – Chamei, mas não obtive resposta.

Cheguei à base da escada e não contive a surpresa e exclamação ao contemplar o que eu via. Minhas mãos suaram imediatamente e um certo desconforto se instalou na base de minhas costas, como se eu estivesse pronta para correr a qualquer instante.

 Steve estava parado de costas para mim, mas deve ter se dado conta da minha presença, já que se virou, dando-me a chance de analisá-lo.  Sua face estava um pouco envelhecida e mais cansada. Seus olhos escuros mostravam-me claramente o nível de embriaguez em que ele se encontrava. O cheiro de whiskey barato fez meu estômago se contorcer em asco.

Seus olhos se encontraram com os meus e eu o encarava insolentemente, torcendo para que os céus deixassem cair um raio sobre sua cabeça.

-- Veja só, se não é a bastarda. Você mudou nesses meses, garota. Está bonita. – Disse ele, se aproximando.

-- Você também mudou, está mais velho e repugnante. – retruquei, me afastando. Ele fez uma careta com meu comentário, mas continuou se aproximando.

Eu já estava pronta para correr para cima novamente, quando ele para em frente à mesa de centro da sala, onde ainda tinha o único retrato de minha mãe. Steve pegou o pequeno objeto de vidro e analisou, abrindo um sorriso cínico.

-- Semana passada fez dez anos que ela morreu, sabia? – Ele murmurou com sua voz arrastada, graças à bebida.

-- Como se eu pudesse esquecer. – Respondi. – Afinal, o assassino dela está bem na minha frente.

No exato momento em que eu terminei a frase pude ouvir o som de vidro se estilhaçando. Steve jogou o porta-retrato com força no chão e me olhava com uma fúria implacável nos olhos. Suas narinas ficaram maiores e por mais que estivesse um pouco escuro, com apenas uma das luzes da sala acesa, eu ainda podia perceber a raiva brilhando em seus olhos.

Em poucos passos ele acabou com a distância entre nós e eu, por algum motivo, fiquei paralisada nos pés da escada. A bile subia pela minha garganta, mas eu não permitia que ela saísse, porque por mais que tivesse medo dele, nunca demonstraria.

 Steve levantou a mão direita, acertando-me um tapa tão forte que senti o gosto de sangue na boca. Coloquei a mão sobre a bochecha atingida, olhando meu agressor com repúdio.

Seus olhos brilhavam em vermelhidão e cambaleei para trás quando suas mãos me empurraram para o chão.

-- Garota insolente... – Ele me levantou pelo pescoço – Quem você pensa que é para falar assim comigo? Sua mãe, aquela imprestável, não recebeu nada mais que não merecia! E talvez você mereça o mesmo.

Neste momento a raiva me invadiu. Movi os braços para acertar-lhe socos e tentei me levantar, mas ele me derrubou de novo com um soco na cabeça. Minha visão ficou turva, minhas pernas tremiam tanto que mal conseguia ficar agachada e tudo parecia desfocado de meus sentidos naquele momento. Balancei a cabeça, com o objetivo de recobrar meu perfeito estado.

.-- A única coisa que você é e sempre vai ser é um bêbado de merda – consegui dizer com a voz falha, ainda em choque do golpe, antes que ele me acertasse um soco na lateral do rosto. Senti sangue escorrer pela minha bochecha e me encolhi no chão de dor.

-- Vou colocar você no lugar que merece! – Exprimiu raivosamente.

 E de repente, suas mãos envolviam meu pescoço, apertando minha garganta, cortando a oxigenação. Cada parte do meu corpo latejava, e eu tentava desesperadamente me soltar de suas mãos asquerosas. Meu cérebro estava a mil e ao mesmo tempo congelado. Meus olhos se encontraram com os seus e eu arranhava seus braços com minhas unhas, em busca de libertação.

Os segundos se passavam em minha cabeça, e eu me contorcia agitadamente. Ainda não acreditava que aquilo estava acontecendo, meu consciente esperava que Steve me largasse a qualquer momento e eu saísse tossindo em busca de ar, mas ele não me largava, o que aumentava meu desespero.

 Eu via tudo tão lentamente, mas pensava em tantas coisas. Minha visão estava escurecendo, sentia minhas mãos formigando e meus pulmões gritavam por ar. Ele estava matando-me silenciosamente, sem nenhum grito ou som alto, apenas com grunhidos que nunca seriam ouvidos e naquele momento eu pensei: talvez não seja tão ruim assim.

 Eu poderia finalmente ter paz desta minha vida. Estava tão cansada de lutar tanto por tudo, quando na verdade, só tinha quatorze anos. Eu não deveria ter de cuidar de outra criança e levar uma surra sempre que meu padrasto de merda aparecesse em casa após meses fora.

Pensei só por uns instantes que morrer seria minha libertação, minha solução. O aperto das minhas mãos nos braços de Steve foi se afrouxando e eu relaxei, brincando com a ideia da morte em minha cabeça. Até que a imagem de Adam sozinho com esse monstro veio à minha mente. Eu não poderia abandoná-lo assim, prometi que sempre cuidaria dele. Ele só tinha a mim, assim como eu só tinha a ele.

Não, eu não desistiria agora.

Não sei como, mas consegui achar fôlego dentro de mim e voltei a espernear como uma louca, mas sem efeito. Pelo canto do olho, pude ver um pedaço de caco de vidro do porta-retratos no chão. Com muito custo consegui alcançá-lo e sem nem pensar duas vezes, o enfiei com força no pescoço de Steve. O aperto na minha garganta sumiu, e ele caiu ao meu lado se contorcendo de dor, usando a mão para tentar estocar o sangue que jorrava por seu pescoço.

Levantei-me ainda tonta e observei o homem que eu mais odeio se contorcendo de dor e não pude deixar de sorrir com a cena. Olhei pela janela e vi o carro de Steve na calçada, peguei a chave do Ford em cima da bancada e subi as escadas em direção ao quarto de Adam, sem dizer uma palavra. Abri a porta com pressa e sentei ao seu lado na cama.

-- Adam, acorde! Adam, por favor, precisamos sair daqui. – Eu disse, controlando o desespero na voz.

-- Adam! Acorde!—tentei outra vez, só que agora com sucesso.

Adam abriu os olhos e me observou por uns segundos, arregalando os olhos ao  perceber minhas roupas manchadas de sangue e meu rosto machucado.

-- Addie! O que houve?! Por que tem sangue nas suas rou... – Ele perguntou com os olhos mais arregalados ainda.

-- Não temos tempo! Vamos! – O interrompi puxando seu braço para sair da cama e descendo as escadas correndo.

Quando chegamos à sala, Steve estava agachado sobre os joelhos, segurando o pescoço com a mão esquerda e o caco de vidro que eu usei para atacá-lo na outra mão. Como ele arrancara o caco? Inferno.

-- Você... – Steve disse se levantando do chão com dificuldade e cambaleando em direção a nós.

-- Corre, vai para o carro Adam! – Gritei, puxando meu irmão porta a fora – Entra no carro!

Adam entrou no banco do passageiro e eu sentei no do motorista. Eu não sabia dirigir muito bem, ninguém nunca me ensinara. Olhei para a porta da casa e vi Steve vindo mais uma vez em nossa direção. O pânico me atingiu e dei partida no carro. Coloquei marcha ré e arranquei com o carro sem ao menos olhar para trás. Derrubei algumas latas de lixo da rua, mas nem liguei. Só me importava tirar Adam de perto daquele maldito de merda. Eu dirigia em alta velocidade e apertava tanto o volante que os nós dos meus dedos estavam brancos.

-- Addie, o que aconteceu lá? Por que o papai estava sangrando? Por que estamos fugindo agora? – Adam começou a me bombardear com perguntas. Eu não podia lidar com ele agora. Minha cabeça iria explodir...

-- CALA A BOCA ADAM! CALA A MERDA DA SUA BOCA PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA! – Gritei, fechando os olhos de raiva.

Reabri os olhos alguns segundos depois e última coisa que eu vi antes de dois faróis de carro vindo em direção do banco do passageiro, foram os olhos cheios de lágrimas de Adam.

Ouvi um barulho de buzina e logo depois um forte estrondo.

Então tudo se apagou.


Notas Finais


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