Olhava para minhas mãos nervosamente, contando cada segundo e sentindo - me suar frio com a demora como cada minuto se arrastava.
Havia voltado para casa depois da conversa com o Jeon, ele apenas me soltou e me mandou embora, deixando - me confuso, mas depois que cheguei e fui conferir os bolsos da minha calça, percebi um papel intruso ali.
Como ele havia colocado aquilo lá? Não importava.
Em letra bem escrita e moldada.
Esteja preparado para queimar. Deixe a janela aberta, de qualquer forma, eu entrarei.
E aquilo foi o bastante para me deixar apreensivo e curioso.
Não saí do quarto pelo resto do dia, meu pai bateu na porta umas três vezes, chamando - me para comer ou para assistir algo com ele, mas neguei todos os pedidos.
Também não ouvi mais a voz da minha mãe, provavelmente havia ido trabalhar. Tirar mais vidas.
Apenas pude lhe ouvir quando chegou à noite, de certo não havia aceitado o turnos extras que tanto achava necessário. Antes eu a admirava como uma heroína, queria ser como ela, tanto esforço me deixava maravilhado.
Mas agora sei que provavelmente tudo o que temos, vem de pobres vidas.
Queria fazer uma denúncia anônima para o hospital, mas eu não teria coragem. Será que Jungkook me ajudaria nisso?
Pensando, distraindo - me momentaneamente do meu nervosismo, não percebi a sombra entrar por minha janela com uma agilidade impressionante.
Só o percebendo ali, parado num canto do quarto escuro, usando a máscara de coelho e me encarando, quando ele coçou a garganta baixo, assustando - me.
Levantei - me na mesma hora, com a mão no peito e suspirei audívelmente, inspirando fundo para tentar me acalmar.
— Você me assustou... — Eu falei em tom normal, mas vi quando ele rapidamente ergueu a mão com o dedo indicador até os lábios mal desenhados do coelho.
Franzi o cenho, então ele lentamente apontou para a porta.
Confuso, andei em passos lentos até ele, que tinha a cabeça inclinada para o lado.
Assim que parei em sua frente, mesmo à contragosto, aproximei meu rosto daquela máscara, então pude ouvir sua voz grossa e baixa, vibrar pelo meu corpo.
— Seu pai está na sala, sua mãe está apagada pelos remédios, no quarto. — Sua voz seria inaudível, se eu não tivesse com o ouvido colado naquela máscara feia.
— Mas o que isso significa? — Murmurei no mesmo tom de voz que ele, mas o moreno levou a mão até minha boca e segurou firme, me impedindo de voltar à falar.
— Vamos tomar deles, o que mais lhes importa. — Ele disse e eu franzi o cenho, mas mesmo sem entender, concordei com a cabeça.
Então logo sua mão rude deixou minha boca e acariciou os fios do meu cabelo com uma leveza que não era sua, mas não reclamaria, gostava daquele contato.
Senti quando se afastou e agora ele abria a porta do quarto, começando à seguir pelo corredor em passos silenciosos e rápidos. Eu arregalei os olhos e me coloquei na ponta dos pés, correndo silenciosamente atrás dele.
A porta do começo do corredor estava fechada e do outro lado eu via a porta do quarto dos meus pais aberto e nada do Jeon por aí, então ele devia ter entrado.
Me apresso pelo corredor até chegar na porta e entrar junto consigo, só então eu vejo ele parado de pé, olhando para a cama da minha mãe com a cabeça inclinada para o lado.
Olhei para lá também, ela dormia enrolada, parecia dormir profundamente, isso era devido os remédios que tomava para dormir, já que seu sono ficou desregulado com o passar dos anos.
Não entendi qual era o propósito daquilo, mas então vi ele se mover até a cama e me assustei, pensando no que ele faria, mas ao contrário do que pensei, ele se agachou e enfiou a mão por debaixo da cama, parecia procurar algo.
Enquanto ele fazia isso, eu comecei à olhar pela porta do quarto, olhando a do corredor, ansioso e com medo de que meu pai resolvesse aparecer.
Mas então escuto o barulho baixo de algo sendo arrastado e olho rapidamente para o homem agachado, ele puxava devagar um grande caixote para fora da cama. Franzi o cenho confuso, não sabia que meus pais possuíam aquilo.
Porém agora, o que eu sabia sobre meus pais?
Enquanto pensava, vi ele levantar a mão e me chamar, então meio nervoso, olhei para o corredor uma última vez e fui até ele, na ponta dos pés.
Me ajoelhei ao seu lado, então ele me encarou brevemente, antes de começar à mexer nos parafusos da fechadura e então depois de um tempo, ele levantou a cabeça e contou de um até três com seus dedos para cima, então arrancou a fechadura frouxa com a mão, fazendo um barulho alto.
Minha mãe nem ao menos se moveu, mas eu ouvi um barulho da sala e lhe olhei apavorado, mesmo com a máscara, ele não parecia demonstrar estar assustado.
Então ele levantou a mão e apontou para a porta, como se me mandasse ir lá.
Eu neguei rapidamente e lhe apontei para o caixote, para que abrisse e a gente pegasse logo aquilo e destruísse, para que fossemos embora.
Não queria conversar com meu pai, muito menos lhe distrair pra que o Coelho roube aquilo só.
Mas ele apenas continuou me encarando, imóvel, então percebi que não faria mais nada se eu não fosse lá.
Suspirando pesado, levantei - me e fui na direção da porta.
Assim que sai do cômodo e encostei a porta da mesma, a porta do corredor se abriu, iluminando meus olhos acostumados com o escuro.
O homem de cabelos quase grisalhos, mas ainda assim de aparência jovem, me olhou de cenho franzido ao me ver ali, mas logo se aproximou, parecia preocupado.
— Ei, resolveu sair do quarto? Está com fome? — Perguntou baixo parando em minha frente.
Nervosamente neguei e comecei à andar para longe da porta de seu quarto, com a esperança de que me seguisse, e foi o que ele fez.
— Eu... Não.. C-consegui dormir. — Murmurei meio confuso com minhas próprias palavras.
Apoiado na parede contrária, fitava com ansiedade a porta daquele quarto.
— Teve pesadelos? Pode dormir comigo e com sua mãe de novo se quiser. — Ele se aproximou, seu sorriso pequeno era doce e reconfortante.
Se fosse alguns dias atrás, eu já estaria chorando abraçado à ele e aceitaria a sua ajuda. Mas agora, eu não podia.
Agora eu tinha que lhe enrolar. Não sabia o que o Jeon fazia no quarto ou com a coisa dentro do caixote, mas estava muito curioso para descobrir.
Principalmente o porquê de ser tão valioso para os dois, ou algum dos dois.
— Minha cabeça d-dói. — Tentei, meio vacilante. Vi ele franzir o cenho e parecer pensar um pouco.
— Que tal você tomar um remédio para dor de cabeça e depois tomar um leite quente? Podemos conversar na sala enquanto você não dorme. — Meu pai sugeriu e confesso que fiquei tentado à aceitar, mas a palavra "conversar" não estava em meus planos.
Enquanto pensava no que mais dizer, ouvi a porta do seu quarto ranger bem baixo e uma mão aparecer de lá, me chamando.
O homem pareceu também ter notado o barulho, iria se virar para conferir o que era, mas antes pulei em seu corpo, abraçando - o pelo pescoço.
— Sinto sua falta pai. — Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça.
Então ele me abraçou de volta e eu enfiei minha cabeça acima de seu pescoço, podendo ver com clareza a porta, que se mantinha desencostada.
— Não se preocupe mocinho, eu sempre estarei aqui por você. — Ele disse baixo, parecia feliz por eu ter me reaproximado, sentia - me até culpado de estar fingindo.
— E... Quando você não estiver mais? — Tentei sussurrado, não sabia o que estava dizendo direito, só estava me deixando seguir.
— Ai então.. — Ele pareceu pensar. — Então você encontrará uma pessoa boa, que lhe complete e lhe proteja. Assim como eu tenho sua mãe. — Ele disse aquelas palavras, então meu corpo enrijeceu.
Como ele podia falar uma coisa daquelas, quando à trai? Ela não é uma boa mulher, mas se ele não mentisse tanto, eu sinto que poderia até lhe perdoar.
Me afasto meio irritado e vejo o semblante confuso alheio, provavelmente achava que não tinha dito nada de errado. E não tinha mesmo, se eu não soubesse do seu podre.
— O que houve? — Ele perguntou meio confuso e eu neguei lentamente, antes de forçar um pequeno sorriso.
— O Senhor deveria ir descansar, já estou melhor. — Menti e dessa vez minha voz não tremeu, nem vacilou, fui convincente.
Então ele sorriu pequeno e se aproximou novamente, deixando um beijo em meus fios tingidos e sorriu quando se afastou.
— Depois eu irei, agora vá dormir mocinho, amanhã é outro dia. — Ele disse sorrindo doce e eu forcei um sorriso parecido, concordando com a cabeça.
Então passou por mim e foi na direção da sala, fechando a porta do corredor atrás de si.
Assim que ele deixou o cômodo, senti minha alma voltar ao meu corpo e suspirei audívelmente, antes de levar as mãos ao rosto e o esfregar com veracidade.
Sentia a raiva subir pelo meu estômago e aquilo me dava vontade de vomitar, mas não o faria.
Fixei meus olhos na porta de madeira escura meio aberta do quarto dos dois e me encaminhei para lá.
Estava motivado à tirar algo deles agora também.
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