O sol finalmente se abriu no céu, o dia realmente estava bonito, teria parado para admirar se não tivesse que se preocupar com seu irmão, que agora, era um oni.
Aquele homem, que tinha dito se chamar Michikatsu Tsugikuni, avisou para não deixar seu irmão exposto ao sol, então o deixou escondido em uma pequena caverna e saiu para procurar um meio de o levar em segurança.
Observou em volta e avistou um senhor trabalhando em uma plantação, também viu que tinha um cesto jogado no chão que parecia ter sido jogado fora, talvez pudesse usar para carregar Tanjiro.
— Com licença, posso pegar aquele cesto e um pouco de palha e bambu?
— Tudo bem, pode ficar a vontade, mas o cesto tem um grande buraco.
— Sim, eu vou pagar por tudo — Enfiou as mãos nos bolsos de seu haori, procurando as poucas moedas que ainda tinha.
— Não, não precisa, afinal esse cesto tá todo furado.
— Não, eu pago — Insistiu, os Kamado sempre retribuam o que podiam e agora não seria diferente.
— Não, tá tudo bem, eu também te dou a palha e o bambu.
— Eu vou pagar mesmo assim! — Tirou o dinheiro do bolso de seu haori e estendeu para ele.
— Eu já disse que não precisa! Não me ouviu não?
— Por favor aceita isso sim, são apenas alguns trocados! — Segurou o pulso do homem e colocou os trocados em sua mão.
Depois pegou o cesto, palha, bambu e começou a correr de volta para onde Tanjiro estava esperando, mas não antes de gritar um agradecimento para o homem.
— Muito obrigada por tudo, senhor!
[...]
— Tanjiro? — Olhou para dentro da caverna, não viu nenhum sinal de seu irmão, ele tinha sumido! Antes que pudesse entrar em pânico, avistou madeixas ruivas e logo depois o rosto de seu irmão. Ele parecia ter cavado um pequeno buraco no chão para se esconder, deixando apenas sua cabeça para fora.
— Ah, te achei... — Suspirou em alívio, ele acabaria a matando do coração se continuasse fazendo coisas assim.
"Ele cavou um buraco? Meu irmão virou uma toupeira?"
Analisou o rosto dele, ele parecia emburrado, pelo visto ele queria mesmo evitar o contato com o sol.
— Espera só um pouquinho, tá bom? — Começou a cortar os bambus com seu machadinho, tinha que consertar o cesto furado antes de poder usá-lo. Remendou o buraco e fez alças improvisadas para poder carregá-lo nas costas.
— Tanjiro, você consegue entrar aqui? Eu queria poder seguir caminho mesmo de dia — Seu irmão apenas a encarou, como se não tivesse entendido.
— Pode entrar aqui, no cesto? — Disse de uma forma um pouco estranha, na tentativa de entendimento, enquanto apontava para o cesto deitado no chão.
Seu irmão se levantou e saiu do buraco lentamente e entrou no cesto, mas como era muito grande metade de seu corpo ficou para fora.
— Ah, fica uma parte pra fora... — Como carregaria seu irmão daquele jeito? Pensou por alguns segundos até que se lembrou de algo que poderia ajudar.
— Tanjiro, lembra quando você aumentou seu tamanho? Consegue fazer o contrário? — Deu leves tapinhas nas costas de seu irmão. — Pequeninho, Tanjiro, fica pitiquinho.
Tanjiro segurou o cesto com as duas mãos, tomou impulso para levantar o cesto e diminuir seu tamanho ao mesmo tempo, cabendo perfeitamente ali.
— Conseguiu! — Fez um cafuné nos cabelos de seu irmão, que parecua sorrir por de trás da mordaça de bambu — Bom trabalho, irmãozão.
Por fim, enrolou o cesto com um pano, não queria que ele tivesse qualquer contato com o sol. E finalmente, pode seguir até o monte Sagiri para encontrar Sakonji Urukodaki.
[...]
O sol começou a se pôr, então decidiu parar e pedir informação para uma moça que estava por perto junto a uma criança.
— Com licença, sabe me dizer como eu chego ao monte Sagiri?
— Monte Sagiri? — Assentiu com a cabeça — Pra atravessar o monte Sagiri precisa atravessar aquela montanha, mas o sol já tá se pondo, você vai carregar toda essa bagagem? É perigoso.
— Vou tomar bastante cuidado, muito obrigada por tudo — Agradeceu e começou a se afastar.
— Tem pessoas desaparecendo ultimamente, ouviu? Toma cuidado para não se perder! — Ela avisou.
— Pode deixar — Acenou e seguiu seu caminho.
Continuaram andando por horas, queria chegar lá o quanto antes. Quando percebeu, a noite já tinha caído. Tanjiro agora não estava mais no cesto e caminhava ao seu lado, segurando sua mão, parecia com sono, mesmo que tivesse dormido o dia todo.
— Ah, tem um templo ali! — Parou de caminhar ao ver o templo iluminado — Tem luz lá dentro, deve ter alguém, vamos dar uma olhada.
De repente um cheiro horrível e familiar tomou as narinas de ambos, aquilo era cheiro de ...
— Sangue? A trilha dessa montanha é árdua, talvez alguém se machucou, deveríamos–
Antes que sequer pudesse terminar, Tanjiro apertou sua mão mais forte e saiu correndo até o templo, puxando a consigo.
— Tanjiro, espera! — Tentou chamar a atenção dele, mas o garoto parecia nem ter escutado.
Ao chegarem na entrada do templo, o garoto abriu as portas com força, paralisando logo em seguida com a cena que havia ali.
Havia vários corpos mortos espalhados pelo chão, sangue por toda parte e barulhos de mastigadas podiam ser ouvidos, um demônio estava se alimentando ali. Nezuko acabou deixando o cesto cair, chamando a atenção do demônio.
— Mas o que é isso agora? Esse aqui é o meu território — Virou sua cabeça para encarar os irmãos — Se você invadir o meu pedaço vai se ver comigo!
Tanjiro encarava os corpos em choque, o cheiro de sangue que antes parecia horrível, agora era tão tentador…
— Mais que sensação estranha... — O demônio disse enquanto se levantava do lugar que estava agachado — Vocês dois são humanos?
Nezuko prontamente empurrou Tanjiro para trás, ficando em sua frente para o proteger. O demônio avançou sobre ela, levando os dois para fora da residência, ela puxou seu machado e cortou o maxilar o oni, o afastando de cima de si.
— É um machado? Nada mal. Um arranhão como esse vai curar rapidinho — O ferimento se fechou, como se nunca tivesse sido feito
— Viu só? Até parou de sangrar.
O demônio novamente avançou, ficando em cima de si e usando sua mão para apertar seu pescoço, foi tão rápido que nem conseguiu se mover.
— Você não vai me pegar duas vezes — o aperto em seu pescoço ficava cada vez mais forte, prendendo seu ar — Agora vou quebrar seu pescoço!
Não tinha forças para o tira-lo de cima de si, e não conseguia sequer puxar o machado para atacá-lo, já que seu braço era segurado fortemente.
Tanjiro continuava imóvel na entrada do templo, ouvia as vozes do oni e da sua irmã, mas estavam tão abafadas nesse momento. Saliva escorria de sua boca, ele parecia se esforçar para manter seu controle.
...
— Tanjiro--! — Chamou seu irmão com dificuldade, já que o aperto em seu pescoço não cessou, e sua visão começou a escurecer. O Kamado pareceu acordar daquele transe, suas pupilas mudaram e uma enorme raiva o consumiu.
Sua velocidade parecia ter aumentado drasticamente, praticamente voou até onde sua irmã e o oni estavam. Deu um chute na cabeça do oni, fazendo-a voar longe e bater contra uma árvore.
— O que?! — O corpo do oni caiu em cima dela e Nezuko o empurrou para o lado, podendo finalmente se mover e olhar para seu irmão.
— Vo-você o matou? — Encarava o mais velho totalmente incrédula, se perguntando de onde veio toda aquela força. — Mas ele é um oni, então... — O corpo sem cabeça começou a se mover, prestes a atacar a Kamado novamente, mas dessa vez ela foi mais rápida, e o chutou para longe.
Nezuko estava incrédula, Não acreditando que ele se mexeu mesmo depois de perder a cabeça.
— Malditos! — A cabeça do oni gritou — Então um de vocês era mesmo um oni! Bem que eu tava sentindo uma presença estranha, o que um humano tá fazendo andando com um oni?!
O corpo do oni começou a correr na direção dos irmãos, tentando atacar Tanjiro, esse que se afastou e tentava desviar dos golpes.
— Para! — Pegou o machado que estava no chão e tentou se aproximar, não conseguindo, pois a cabeça do oni, que havia criado dois pares braços, correu em sua direção, pulando em cima de si.
Tentou o atacar com machado, mas ele mordeu a ponta da lâmina, se prendendo ali, e usando suas mãos livres para apertar com força seus ombros.
— Tanjiro! — Olhou para onde ele estava, o corpo do oni o chutava e socava sem pena alguma. O demônio então segurou seu irmão pelo ombro, com apenas uma mão e o jogou para dentro da floresta, o seguindo logo depois, sumindo de sua vista.
Voltou sua atenção para o demônio que mordia a lâmina do Machado, ele a encarou e sorriu de um jeito estranhíssimo, se divertindo com a situação, qual era o problema desse cara?
As mechas de cabelo do oni começaram a aumentar, se prendendo no cabo do machado e em seus braços. Precisava salvar Tanjiro, mas esse oni não a deixava em paz, precisava se livrar dele rápido.
Soltou o machado, e antes que ele caísse junto ao oni, o chutou com força para longe, fazendo-o bater em uma árvore, como seus cabelos estavam presos ao objeto, acabou prensado ali, não conseguindo sair.
— Isso! — Pode finalmente ir atrás de seu irmão para ajudá-lo, seguiu correndo até a floresta, deixando o oni para trás falando sozinho.
— Droga, enrolei meu cabelo no machado pra roubar, mas ficou enroscado!
[...]
— Tanjiro, cadê você?! — Corria pela floresta o procurando, não conseguindo enxergar muito bem pela escuridão da noite, quase caiu algumas vezes pelo caminho.
Parou ao finalmente sentir o cheiro de seu irmão, que aparentemente ainda estava com o oni. Logo correu até onde estavam, encontrando-os próximos a um penhasco, o oni estava chutando Tanjiro, sem nem dar chance para o outro tentar se defender.
— Para com isso! — Se aproximou e pulou sobre o oni, fazendo os dois caírem do penhasco, seria seu fim se Tanjiro não a tivesse segurado pela gola dole seu Haori.
O corpo do demônio não teve a mesma sorte, caindo no chão e parando de se mover, a queda pareceu fazer seu corpo morrer.
[...]
Voltaram para o templo, a cabeça do demônio continuava presa a árvore, sem se mexer, isso tinha algo haver com seu corpo morrendo?
Sem ter certeza de sua morte, por precaução, puxou a pequena faca que estava presa ao cinto em sua cintura e se aproximou com cuidado.
"Será que há muitos oni a solta por aí? Este cheiro é diferente daquele que senti em casa, foi um outro oni."
Sua respiração começou a ficar decomposta conforme se aproximava com a faca em mãos.
Por mais que não quase, tinha que fazer, se não ele provavelmente atacaria outras pessoas também.
Seu irmão apenas a observava parado, com um semblante preocupado, esperando-a fazer o que deveria.
"Anda!" — Gritava consigo mesma para fazer aquilo logo para poderem ir embora, mas simplesmente não conseguia.
Mas antes que sequer pudesse fazer qualquer coisa, uma mão tocou seu ombro. Se assustou e virou para ver quem era. Era um homem, aparentemente idoso, com uma máscara de Tengu, um pano em sua cabeça e um Haori azul com estampa de nuvens.
— Não vai conseguir acabar com ele usando isso — Ele diz.
Ficou surpresa, pois sequer ouviu os passos dele se aproximando.
— O que eu devo fazer pra acabar com ele? — Arriscou perguntar.
— Não pergunte pra mim, não consegue pensar com sua própria cabeça? — Respondeu ríspido.
"Se não adianta esfaquear... só resta esmagar a cabeça dele" — Olhou em volta e viu uma pedra que poderia usar.
A pegou e se aproximou novamente, o senhor apenas a observava em silêncio.
Para estraçalhar e esmagar o crânio completamente, teria que bater com a pedra várias vezes, provavelmente ele iria sofrer bastante, mas precisava fazer isso mesmo assim.
"Essa garota não vai conseguir, ela é gentil demais e não consegue tomar uma decisão. Mesmo diante de um oni, o cheiro de bondade permanece no ar, ela sente empatia até mesmo pelos oni.
Michikatsu, ela jamais vai conseguir."
Ela demorou tanto que os olhos do demônio se abriram, estava atordoado, mas ainda assim se encheu de raiva quando percebeu Nezuko ali.
— Maldita! Eu vou te matar! Eu vou devorar você inteira! Vem, verme! Eu não posso ir aí não! Você vai vir aqui! — Gritava e gritava mais insultos direcionados a garota.
— Huh? — Ela olhou para o lado, percebendo que havia enrolado tanto que o sol já tinha começado a nascer.
Os raios de sol rapidamente os alcançaram e o demônio gritou de dor com a queimação, sua pele então começou a queimar e ele desapareceu em cinzas.
Não pode conter seu espanto com aquilo, aconteceu só dele ficar exposto a um pouco de sol, não era atoa que Tanjiro se escondia… Espera, onde estava Tanjiro?
— Tanjiro? — Olhou em volta, mas não viu nem sinal de seu irmão e nem do senhor — Tanjiro?! — Correu até a entrada do templo, talvez seu irmão tenha se escondido lá dentro por causa do sol.
Pode suspirar em alívio quando viu ele ali dentro do cesto, com um pano sobre si, totalmente protegido do sol, mas o senhor não estava ali também
— Ah, é mesmo, cadê aquele homem?
Andou um pouco pela volta do templo e o encontrou do lado de fora, ajoelhado e rezando perto de um túmulo improvisado, ele tinha sepultado as pessoas mortas dentro do templo.
— Com licença? — Chamou sua atenção e o homem se levantou do chão.
— Eu sou Sakonji Urukodaki, presumo que você seja a pessoa que Michikatsu Tsugikuni enviou para me ver.
— Ah, sim! Meu nome é Nezuko Kamado e meu irmão se chama Tanjiro.
— Nezuko, o que você fará seu irmão devorar um humano? — Perguntou de repente, deixando a garota confusa, já que em nenhum momento pensou sobre isso.
Por conta da sua demora para responder, ele se aproximou e lhe deu um peteleco na testa.
— É muito lerda. Você demora muito para tomar uma decisão, nem conseguiu acabar com o oni antes do amanhecer. Você sabe por que não conseguiu me responder logo de cara? Porque lhe falta determinação!
Ela sequer conseguiu responder, permaneceu estática no lugar o encarando, sem entender o jeito que estava sendo tratada.
— Há duas coisas a se fazer se seu irmão comer um humano, você deverá matá-lo e cortar a sua própria barriga para morrer. Isso significa viajar com a sua irmã que se tornou um demônio, mas coloque em sua cabeça que isso é algo que não pode acontecer de jeito nenhum.
— Se seu irmão tirar a vida de uma pessoa inocente, essa é a única coisa que jamais deve acontecer, você entende o que estou dizendo? — Perguntou por fim.
— Sim! — Respondeu.
— Sendo assim, vou testá-la para ver se está apta para se tornar uma espadachim exterminadora de oni. Carregue seu irmão nas costas e me siga.
[...]
Quando ele pediu para segui-lo, ela não esperava que teria que correr uma maratona, quantos anos aquele homem tinha afinal? Além disso, também não conseguia escutar os passos dele, mesmo que estivesse correndo muito.
Sua maior preocupação nem era seu cansaço, era Tanjiro no cesto em suas costas, o coitado devia estar balançando com tanta correria.
"Tanjiro eu sei que tá balançando muito, mas tenha paciência, você já foi paciente a vida inteira."
"Tanjiro, a sua vida toda ..."
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— Tá indo descer a montanha de novo? Você pode descansar hoje — Disse, ao ver seu irmão preparando o cesto de carvão novamente.
— Não, tá tudo bem! — Respondeu, sem tirar os olhos do que estava fazendo.
— Eu acho que você tá trabalhando demais, não precisa fazer isso quase todos os dias! — Insistiu, esse jeito de seu irmão a irritava algumas vezes, ele sempre fazia mais do que deveria.
— Seu haori está rasgado de novo, eu quero poder comprar um novo para você. Também quero que possamos ter a vida mais confortável possível, não me importo de ter que descer a montanha todos os dias para isso — Respondeu, com seu típico sorriso radiante no rosto.
"Eu juro que vou fazer você voltar a ser humano, que um dia vamos ter uma vida confortável, e você não vai precisar trabalhar tanto."
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Respirava ofegante, tentando regular sua respiração depois daquela corrida. Mal conseguia se manter de pé, ao contrário de Urukodaki, que nem parecia que tinha corrido aquilo tudo.
— Como iss- Eu- Passei no teste...? — Suas palavras saíram cortadas por conta de sua falta de ar, ela realmente queria saber como aquilo a ajudaria a ser uma espadachim.
O senhor apenas se virou, abriu a porta de sua casa e respondeu.
— O teste começa agora, vamos escalar uma montanha.
Nenhuma palavra poderia descrever a cara de tacho que ela estava naquele momento.
Mas antes de começarem o teste, decidiram deixar Tanjiro na casa, então Nezuko o deitou no futon que estava estendido no chão e o cobriu cuidadosamente, para não o acordar de seu sono.
— Eu vou me responsabilizar pelo bem estar do seu irmão — Urokodaki disse.
— Obrigado, conto com o senhor — Agradeceu, era bom saber que tinha alguém com quem contar agora.
[...]
Então subiram a montanha, já estava de noite e tudo escuro, era até um pouco assustador. Já estava exausta, suas pernas pareciam que iam parar a qualquer momento, até já estava tonta.
Estranhou quando o senhor de repente parou de andar e se virou.
— A partir de aqui desça até a minha casa no pé da montanha, dessa vez não vou esperar até o nascer do sol — Após isso, desapareceu entre a neblina e a escuridão da noite, deixando Nezuko para trás.
"Mas é só isso? Ah, entendi, ele deve achar que vou me perder nessa névoa densa."
Ela só deveria chegar lá até o sol nascer, isso é fácil, possuía um bom olfato e já memorizou o cheiro de Urokodaki, não deveria ser problema.
Então começou a andar mais rápido para descer a montanha, se arrependendo quase instantaneamente por achar o treinamento fácil. Tropeçou em uma corda no meio do caminho e vindo de uma outra direção, pequenas pedras voaram e se chocaram em seu rosto, era uma armadilha.
Atordoada por isso, deu alguns passos para frente e caiu em outra armadilha, havia um chão falso e caiu direito em um buraco. Tinham armadilhas por toda parte, então esse era o treinamento.
Conseguiu sair de onde estava e continuar seu percurso, mas não deu nem três passos e ativou outra armadilha, um pedaço de tronco veio em sua direção, por pouco não foi atingida. Isso não era nada bom, se continuasse ainda em armadilhas desse jeito, não conseguiria descer a montanha a tempo do nascer do sol.
Além disso, essa montanha tinha o ar rarefeito, muito mais do que na montanha em que morava, por isso sentia falta de ar.
Por mais cansada que estivesse, não podia parar, tinha que chegar a tempo. Então apertou o passo e tentou correr mais rápido. Não tinha certeza se conseguiria voltar, talvez até desmaiasse no meio do caminho pela falta de ar e o cansaço.
"Não, eu vou voltar!" — Ela parou, antes de qualquer coisa precisava controlar sua respiração e tentar sentir o cheiro das armadilhas. Se tivesse o olfato de seu irmão isso seria mais fácil, mas tinha que tentar do mesmo jeito.
Se concentrou em localizar as armadilhas e sentiu seus cheiros, então rapidamente começou a correr novamente, continuando seu caminho de descer a montanha, podendo agora desviar com mais facilidade das armadilhas do que antes.
"Consegui, peguei o jeito! As armadilhas feitas por mãos humanas têm um cheiro um pouco diferente."
Mas por mais que conseguisse localizá-las agora, não conseguia se esquivar de todas e novamente caiu em outra armadilha. Um bambu que estava preso ao chão, se soltou e a arremessou, fazendo-a cair no chão de terra.
Apesar disso tudo, sua habilidade física não permitia que desviasse de todas, sendo caindo várias vezes por outras armadilhas e se machucando.
Mas ela passaria por isso, a todo custo, estava fazendo isso por Tanjiro afinal, seu irmão mais velho não desistia em uma situação assim, e ela também não iria.
[...]
Enquanto isso, na casa de Urokodaki, Tanjiro ainda dormia profundamente no futon e o senhor, que estava sentado ao seu lado, esperando a volta de Neuzko, o cobriu com o cobertor.
Ele encarou a janela, ainda estava escuro lá fora, faltando pouco para o amanhecer. Logo após isso conseguiu ouvir os passos de Nezuko se aproximando, ela havia voltado a tempo.
Ela abriu a porta com a pouca força que lhe restava, parecendo mal conseguir se manter de pé. Estava com as roupas e o rosto sujos, machucados e arranhões pelo rosto e provavelmente pelo resto do corpo.
— E-eu consegui voltar… — Disse usando o pouco ar que tinha, então suas pernas cederam e ela se ajoelhou no chão, segurando o batente da porta, enquanto respirava profundamente. O senhor nada disse, apenas a observou e Nezuko não tinha ideia de qual era sua expressão por trás daquela máscara.
O senhor continuou sem dizer nada, observando a garota à sua frente, que tinha se esforçado tanto. Então em sua mente, lembrou-se das palavras da carta que havia recebido.
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"Perdoe-me pela carta repentina,
Sakonji Urokodaki.
Estou enviando uma jovem que deseja se tornar uma espadachim caçadora de oni, ela teve coragem de me desafiar, mesmo desarmada.
Sua família foi massacrada por um oni, seu irmão mais velho sobreviveu e se transformou em um deles, porém julguei que ele não atacará humanos. Sinto que estes dois possuem algo diferente dos outros. A garota parece ter um olfato aguçado, assim como o senhor, talvez ela seja capaz de superar as dificuldades e se tornar uma caçadora.
Peço para que o senhor a treine, sei que este é um pedido egoísta, mas peço que por favor faça isso.
Espero que o senhor cuide bem de si mesmo e dos irmãos, por gentileza.
Meus votos sinceros,
–Michikatsu Tsugikuni."
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— Eu a aceito como aluna, Nezuko Kamado.
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