História Kingsman - A ordem dos Juízes - Três.

— Ele está aqui.

— Aqui... Diz, aqui, na festa? — piscou algumas vezes.

— Sim. — assentiu. — Vamos, precisamos encontrá-lo.

     Eles voltaram para dentro do suntuoso salão onde o baile acontecia a toda, e os vestidos balançavam as saias rodadas, formando um espetáculo colorido. Tilde e Gale conversavam animadamente, sentadas em volta de uma mesa decorada com tecido bege, bebiam champanhe, coradas.

    Galahad e Eggsy grudaram os olhos na pequena multidão ali confinada, prestando muita atenção nos homens, a procura de um em especial, um que possuía uma grande cicatriz no rosto e parte traseira do pescoço. Mas sem sucesso, parecia que o enigmático pai em potencial havia evaporado.

— Com licença. — Gary sentou-se ao lado de Tilde, e Harry ao lado de Gale.

— Onde você foi? — a loira questionou ao marido.

— Hum... Um bafinho de bebida... — ele riu dela, dando lhe um selinho nos lábios.

— Querido, preciso que peça para o motorista levar Gale em casa, o pai dela precisou sair às pressas e...

— Harry, por favor. — o loiro ergueu uma sobrancelha, desafiador. — Leve essa jovem dama para casa, em segurança.

      Depois de encarar o mais novo por pelo menos 30 segundos, ele sorriu para a moça e assentiu com a cabeça.

— Não se preocupem cavalheiros, posso pedir para meu motorista vir me buscar. — a morena se pronunciou, percebendo a troca de olhares entre os homens. — Papai precisou ir embora mais cedo, mas tenho como ir sem ele.

— Seria deselegante fazer essa desfeita, gentil donzela... — Harry falou charmoso, achando graça por ver a jovem morena corar mais ainda, ela de fato, era uma donzela intocada.

— Hmm... — Gary fez, olhando de lado para a esposa, que também sorria maliciosa.

— Parem com isso... — Gale pediu tímida.

— Vamos dançar amor? — a loira disse, já puxando Eggsy pelo colarinho para o centro do salão.

— Me concederia a honra? — Galahad pediu respeitoso, erguendo-se do assento e oferecendo sua mão para a jovem.

     Ela sorriu e depois de alguns segundos, aceitou a mão e em seguida o braço oferecido. Ela era uma mulher muito bonita e seu vestido caro chamava muita atenção, e o fato de eles terem uma diferença de idade também contribuía para aumentar os olhares indiscretos sobre eles.

     A valsa soava alto, sendo produzida pelos instrumentos clássicos da orquestra, que dava ares ainda mais nobres para o baile da realeza sueca. O casal começou a mover-se no salão, Harry a conduzia com maestria, e isso também era uma exigência da Kingsman. Enquanto eles fluíam naquela valsa, Gary os observava enquanto também rodopiava com Tilde.

— Ei, olhe lá... — a loira sussurrou. — Parecem feitos um para o outro...

— Sim, pai e filha.

— Shiu! Que feio! — chamou a atenção do marido, fechando o semblante. — Harry é um homem bem apessoado, e é um cavalheiro. Não vejo porque não daria certo.

— Til, eu estou brincando. — sorriu. — Ele merece ser feliz... Se for com ela, tudo bem.

— Não exagere, eles acabaram de se conhecer!

    Continuava a valsa, e os casais mantinham o movimento anti-horário, giros e meneios.

— Você é uma parceira adorável. — Galahad elogiou. — Muito leve...

— O-obrigada... — praguejou mentalmente por ter gaguejado, suspirando a cada rodopio. — Eu já estou cansada... Podemos ir? — pediu sorrindo sem jeito.

— Claro.

     Conduziu a jovem, que se abanava com o leque devido sua vergonha e timidez, até o casal de amigos que ainda dançava.

— Com licença, nós já vamos. — Gale disse, abraçando Tilde. — Eu nem sei se posso abraçá-la alteza, mas vou fazê-lo mesmo assim.

— Nada de alteza, Gale! Agora você é a minha amiga. Venha me ver, eu vou te ligar.

— Com certeza. — olhou para Gary. — Até breve, Mister Gary.

— Até, Miss Gale.

    Harry conduziu a jovem até o carro preto da companhia. Abriu a porta do carona e depois de percebê-la acomodada, fechou a mesma, indo para o outro lado do veículo, onde tomou seu lugar.

— Qual o destino? — ele funcionou o motor do carro, olhando-a de canto.

— Hampstead¹.

— Temos uma dama da alta sociedade aqui. — lhe ofereceu um sorriso, e quase morreu do coração ao ver que ela tirou a máscara de borboleta do rosto.

     Por Deus! Ela era lindíssima, com traços marcantes e delicados. O rosto de pele clara era harmonioso, olhos castanhos e pequenos, lábios carnudos, sobrancelhas arqueadas emoldurando sua beleza. E ainda haviam os cabelos escuros, lindos como cascatas longas quando soltos do penteado. Ela era uma beldade, jovem e nunca desbravada.

— Desculpe, mas estava cansada de todo esse aparato. — sorriu abertamente, mostrando os dentes perfeitos.

— Fique à vontade. — engoliu em seco, rezando para ela não ter percebido.

     Parecia que naquele momento, todas as coisas que Eggsy lhe falara, começaram a fazer sentido e ele se via ansioso e até inseguro em relação à jovem ao seu lado. Ela era tão linda, tão jovem e tão... Cheirosa! Galahad se viu pensando nos detalhes das atitudes dela, admirando-a na educação e comportamento, uma verdadeira lady.

     Parou o veículo em frente ao portão de ferro fundido, cujas torções no metal escuro, faziam belos enfeites mesclado à imponência da propriedade e até mesmo dos muros.

— O senhor gostaria de entrar? — ela disse e mordeu o lábio inferior, arrependida. — Oh, me perdoe! Não estaríamos sozinhos, Austin, nosso mordomo com certeza está... Não pense mal de mim.

— Não se preocupe. — assegurou, saindo do carro e abrindo a porta para ela.

— Obrigada e mais uma vez, me perdoe. — estava ruborizada, e não sabia dizer se era reflexo do vestido vermelho em seu rosto. — Nossa, pareço uma idiota...

— Não, você não é idiota. — ele beijou a mão dela, e depois sorriu. — Seria um grande privilégio revê-la.

— Em breve? — levou a mão ao peito, e se recriminou mentalmente mais uma vez. — Desculpe, acho que não levo jeito para conversar com homens... Sou imbecil.

— Não se deprecie, você e adorável. — acariciou o queixo dela com o polegar. — Em breve. Boa noite.

— Boa noite. — ela respondeu, virando as costas e entrando na propriedade.

    A jovem chegou e encontrou a porta da sala aberta, nem sinal do mordomo.

    Do lado de fora, Harry andava de um lado para o outro, lutando contra o desejo absurdo de chamá-la aos gritos e pedir por um beijo de despedida, por mais estranho e precipitado que parecesse isso.

    Gale andava pela sala principal, assustada com a desordem no local. Pensou em gritar, mas de que adiantaria? Seu coração batia desesperado em seu peito, mas mesmo assim ela prosseguiu. Descalçou os sapatos de salto alto, e se pôs a caminhar pela residência com destino à sala de negócios de seu pai, prendendo a respiração pelo trajeto. Sua atenção foi presa para a garrafa de uísque Statesman, fechada sobre a mesa do escritório que estava revirado também. Neste momento alguém a agarrou por trás, tapando lhe a boca enquanto apertava seu pescoço com o braço livre.

     Desespero fazia seu corpo borbulhar, e o instinto de sobrevivência falou mais alto que o medo. Elevando as pernas para o alto, ganhou impulso suficiente para derrubar seu algoz que era bem maior que ela. Aproveitando a deixa, ela correu dele, mas seu tornozelo foi capturado pela mão grande do homem que já tinha se recuperado e vinha tentando novamente imobilizá-la. Por treinar jiu-jitsu e ser forte apesar de feminina, a morena conseguiu rastejar até alcançar a mesa e se levantar, o homem a segurou pelo pescoço mais uma vez. Foi quando ela conseguiu tatear a garrafa de uísque, batendo-a contra a cabeça de quem quer que fosse aquele infeliz que a atacava.

     Mais homens surgiram pela porta, foi aí que ela gritou. Nada mais fez sentido, ela apenas assistiu os seis homens serem derrubados pelo seu gentil parceiro de dança, que com um bizarro óculos que era meio escuro e meio de grau, batia ferozmente neles com um guarda-chuva preto. Ela permaneceu estática mesmo quando tudo acabou, e envolvendo-a pelos ombros, Harry a conduziu novamente para o carro indo diretamente para a casa dele.

.........................................................