História Kitty - Mina e sua coleira;

"Não vai me castigar?"

Capítulo 02 - Mina e sua coleira;

A chuva fina que grudava na janela grande em frente a pia da cozinha daquela grande casa num subúrbio estava deixando Mina entediada. Era como se ela estivesse naquela caixa em que foi transportada de novo: sem nada pra fazer. Bom, pelo menos na caixa ela podia furar o papelão com as unhas afiadas, mas ali, a única coisa que ela tinha para fazer era dormir no sofá.

Se encolheu abraçando as pernas com a própria cauda e apoiou a cabeça nos braços dobrados fazendo o conforto que não tinha de um travesseiro.

É claro que ela não era burra já que andou por toda a casa mesmo sem saber se tinha permissão ou não para fazer aquilo, mas quase caiu na tentação de se deitar na cama coberta com uma colcha florida completamente alinhada e organizada de um quarto no final do corredor depois de subir as escadas. Claramente aquele não era o quarto de seu novo dono, já que o outro decorado com móveis azulados e travesseiros macios parecia ser onde ele preferiria dormir.

Ela só deitou no sofá por essa ser uma das exigências mínimas para a sua compra: um sofá confortável para tirar um cochilo.

As horas se passaram e sua barriga roncou quando ela abriu os olhos de forma preguiçosa. Ela se sentou espreguiçando-se e apoiou os cotovelos nos joelhos colocando o rosto ali. “onde o dono está?”.

Foi como se fosse planejado. Jungwoo abriu a porta com seu telefone entre a cabeça e o ombro carregando algumas sacolas pra dentro enquanto se embolava com as chaves tanta do trancar a porta devidamente.  

Assim que ele desligou a ligação e colocou o paletó molhado num apoio perto da porta, seus olhos encontraram os da garota sentada em seu sofá, com as pernas cruzadas e orelhas em pé.

— Como foi a sua tarde? — Ele suspirou levando as sacolas para o outro sofá e se sentou ali olhando para ela que apenas concordou com a cabeça enquanto olhava para as sacolas e balançava a cauda e tentou farejar o conteúdo sem conseguir conter sua curiosidade. — Você não de falar tanto, certo? Eu li o seu manual… você precisa de roupas confortáveis, comida humana normal lhe serve… você em especial gosta de leite, carinho antes de dormir, uma cama espaçosa e contato físico. Tem mais alguma coisa que eu devo saber? — Ele a encarou esperando uma resposta, mas apenas recebeu um aceno de cabeça. — Será que pode usar palavras? As que você estava dizendo de manhã? — Jungwoo olhou para o chão de certo modo entediado.

— Posso… — Mina disse tão tímida que sua voz parecia sumir.

— Você estava falando mais de manhã — Ele se apoiou no encosto do sofá deixando seu corpo relaxar e fechou os olhos.

— O que é que tem aí? — A garota apontou para a sacola e o mais velho apenas abriu o olho direito para olha-la.

— Eu comprei roupas pra você — Ele jogou o peso nos braços para se levantar e pegou as duas sacolas as deixando ao lado de Mina e depois seguiu para o próprio quarto — Eu vou tomar um banho… você pode tomar um no banheiro do quarto no fim do corredor. — E lá foi ele. Subiu as escadas e a garota ficou sozinha mais uma vez.

Seus olhinhos curiosos a levaram a se ajoelhar no sofá para abrir as sacolas e tirar as roupas de lá, observando atentamente cada peça. Algumas tinham estampas coloridas enquanto outras eram brancas com alguns adereços. Na mesma sacola alguns shorts que provavelmente ficariam um pouco largos e algumas poucas peças de pijama.

Um rubor apareceu no rosto de Mina quando ela abriu a segunda sacola vendo ali peças de roupa íntima. Ela pegou as sacolas e correu para o quarto que tinha visto mais cedo e que o próprio indicou e tentava se lembrar do procedimento que lhe ensinaram antes de ser vendida.

—… Tirar a coleira… pegar uma toalha e não esquecer de passar o sabonete… tirar a coleira… — Ela repetia o que não deveria esquecer enquanto estava parada em frente ao espelho tentando tirar aquele ferrinho que prendia a tira de couro em seu pescoço.

Tentou de um jeito e logo de outro, mas a única coisa que conseguia era arranhar o próprio pescoço e assim deixou uma pequena lágrima cair em desespero por não conseguir fazer uma simples tarefa como tirar a própria coleira.

Por ter mexido nela repetidas vezes, parecia estar mais apertada e sentia o couro lilás quase a sufocando. Ela grunhiu baixinho em mais uma tentativa de tirar a coleira, até que sentiu o seu corpo ser virado.

Lá estava Jungwoo, olhando para a menina enquanto tirava aquilo de seu pescoço e ela finalmente conseguiu respirar como antes.

— Você tem mesmo que usar essa droga? — Ele olhou para o objeto em suas mãos enquanto a menor abaixou a cabeça envergonhada.

Antes de xingar minha linda personagem, Mina, vamos listar as maiores vergonhas de um híbrido diante de seu dono: 1. Não conseguir realizar todas as suas tarefas perfeitamente 2. Chorar na frente de seu dono 3. Irritá-lo com os barulhos “impertinentes” que seu choro causava.

— Eu sempre usei… — A voz quase não passou pela garganta enquanto ela ainda tinha a cabeça abaixada e lágrimas caindo pensando que ele a castigaria.

— Não vai mais usar isso — Ele colocou o acessório sobre a cômoda e assim que voltou a olhar para a gatinha ficou tão confuso quanto um estrangeiro pegando metrô em Nova Iorque. — O que houve?

— O dono não vai me castigar? — Mina limpou as lágrimas com as costas das mãos e Jungwoo ficou ainda mais confuso.

— Por que eu te castigaria? — Ele a segurou o queixo levantando seu rosto para olhar seus olhinhos perdidos e avermelhados e limpou as bochechas tentando imaginar uma resposta plausível para sua pergunta.

— Eles me disseram que se eu não fizesse minhas tarefas… — Ela tentou engolir aquele bolo em sua garganta —… o meu dono me castigaria — Soltar um sorriso seria algo ruim a se fazer?

— Eu não vou te castigar — Ele segurou as bochechas levantadinhas da garota que tinha pequenas pintinhas adoráveis — Eu nunca te machucaria — Jungwoo deu um dos sorrisos mais doces que alguém poderia ter dado a Mina — Agora vá tomar o seu banho — Ele se afastou indo até o guarda-roupa – que no momento só tinha toalhas – e pegou uma para ela.

— Obrigada, dono — A garota sussurrou pegando o pano branco das mãos dele ainda de cabeça baixa. — Obrigada por não me castigar, Jungwoo.

— Eu prometo que nunca vou te machucar, Mina — Ele sorriu de ladinho e logo a garota entrou no banheiro.

Já sozinho, Jungwoo olhou em volta vendo um conjunto de roupas separadas na cama. Suas bochechas pegaram um tom avermelhado quando viu a calcinha perfeitamente dobrada em cima do pijama.

— Jesus, ela é adorável — Ele disse antes de sair do quarto levando consigo o pedaço de couro que machucou sua pequena garotinha.

Espera.. ele poderia chamá-la de “minha”? Bom, acho que sim, né?