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História La Guerre pour toi - Presa em Paris


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Oi, gente...

O que eu disse sobre ficar um tempo afastada tem a ver com uma suspeita de fotofobia, mas acredito que se organizar meus horários na frente do PC não terei que interromper as postagens.

Espero que compreendam qual é a grande questão dessa fic. Não se trata da morte ou não de personagens, mas o contexto em que estão inseridos e como lidam com isso e entre eles mesmos.

Boa leitura

Capítulo 16 - Presa em Paris


As horas daquele dia passaram a passos curtos. Lentos. Pesados.

Preparamos nossas armas. Deixamos rotas de fuga trilhadas e repassamos todo o movimento que faríamos até a sede da Gestapo. Os outros grupos também tinham suas posições e aguardariam comandos assim como todos nós.

Notei August preocupado com a rotina do café de seu pai. Ela não queria que Marco abrisse o local naquele dia e nem no seguinte. Talvez com a invasão os alemães teriam um ataque mais intenso a ponto de exterminar franceses aleatoriamente. Mais tarde saberíamos que esse revide seria feito, mas não como um contra-ataque. É bem doloroso voltar a essas lembranças por saber que nossa polícia seria a grande vilã desse dia.

Eu ainda estava preocupada com Anna. Kristoff também não dava notícias há algum tempo e Ruby andava de um lado para outro resolvendo suas tarefas, mas eu sei que sua cabeça pensava no major alemão. E Anna não dava nem um sinal que estava bem. Antes que ela fosse para Vichy eu alertei para não ser impulsiva e conter seus instintos, mas aquela moça eu conhecia bem. Era como eu: apaixonada pelo que acreditava. Olhava Henry lendo um manifesto escrito por Charles de Gaulle e pensava o que aquele menino tinha na cabeça - os olhos sempre tão brilhantes e um coração generoso. Seus pais morreram no bombardeio do mês passado e não tinha para onde ir a não ser juntar-se aos amigos naquele teatro. Eu tinha um carinho enorme por Henry e jamais me perdoaria se algo ruim acontecesse a ele.

Marie. Essa era uma francesa autêntica do cenário revolucionário. Se vivesse na época de Napoleão teria sido um general da armada, certamente. Preocupada com detalhes, posições e canos de armas bem limpos. Tínhamos um inglês calado entre nós - Graham - ele quase não abria a boca, mas sempre que o fazia era para ter algum conselho ponderado ou uma piada sem graça. Já trabalhava em Paris antes da guerra começar e juntou-se a nós por pura aventura. Agora estava ali fumando ansioso pela noite que chegava calmamente. Haviam também outros rapazes que juntaram-se ao grupo, mas não tinha tanto contato com eles. Sei que um trabalhava para meu pai e, como conhecia bem a paixão do senhor Mills, ele fora dispensado naquele dia para ater-se aos nossos propósitos de guerra.

Eu também temia por eles. Cora e Henry. Minha mãe sabia das implicações de ser uma judia em plena dominação nazista. Todo o tempo ela estava atenta ao movimento das tropas, das rondas e brigava muito com meu pai para que ele contivesse seus impulsos revolucionários. Ela cuidava da casa e, em sigilo, era ela quem levava as correspondências dos grupos da resistência - muitas esposas faziam isso. Além de ter todo esse cuidado, sobrava-lhe tempo para escrever para sua outra filha que estava longe de toda aquela confusão. Mamãe era a razão, meu pai o coração. Ele não media esforços para que o movimento tivesse sucesso - uma jornada tripla entre a casa, a fábrica e a resistência - minhas idas ao Marrocos foram motivo de orgulho para ele, de certa forma parecíamos um pouco nesse aspecto - nossos impulsos eram incontroláveis às vezes. No jantar em que conheci Emma foi a única vez em que vi meu pai sendo cordial com os alemães.

Emma. Como gostaria de estar junto dela. Senti uma tristeza profunda enquanto lembrava de seus lindos olhos verdes sobre mim naquela manhã em meu apartamento. Um calor fervoroso, um sentimento pleno de tranquilidade. Essa palavra já não fazia parte do meu vocabulário há meses, mas com aquela major alemã eu sabia exatamente o que significava. Como eu gostaria que aquela guerra nunca tivesse começado, mas se não tivesse começado eu não teria a chance de conhecê-la. Um dilema paradoxal. Se eu não estivesse presente naquele jantar para abordar a mulher alemã que estaria nos espionando, eu nunca teria a oportunidade de conhecer a mulher da minha vida. Sim. Eu me encantei por Emma desde a primeira fotografia que vi em seus arquivos. Uma jovem espiã nazista, filha do general responsável por nossos pesadelos. Eu só não contava que Emma seria uma pessoa confusa e amedrontada. Talvez suas indagações sobre a guerra a faziam ser daquela maneira, mas havia algo mais que eu não tive tempo para perceber. Talvez eu nunca mais tivesse.

- Regina?! - ouvi meu nome ao longe e tive que fazer um esforço maior para retornar dos meus pensamentos - Regina?! - Ruby estava parada na minha frente com um sorriso terno - O jantar está pronto.

Faltava pouco para a ordem de ataque. Em poucas horas saberíamos se nossa ação seria vitoriosa e começaríamos a expulsar o exército de Hitler de Paris. Estávamos todos reunidos no subsolo. Ruby havia preparado um banquete como se fosse uma despedida. Tudo feito com cuidado e o cheiro estava muito bom! Carnatzlach. Um espeto de carne bem temperado. Não sei onde ela conseguiu tantos ingredientes naqueles tempos de escassez, a cigana tinha seus truques. Vinho e queijo não faltaram, mas esse mérito era de Gram. Durante a refeição parecíamos todos satisfeitos e calmos, mas eu bem sabia como estava o coração de cada um. O tic-tac do relógio na parede retumbava por aquele lugar como uma marcha fúnebre. O medo estava à mostra no simples tilintar dos talheres - era evidente a tensão da hora prévia de um confronto importante.

- Aconteça o que acontecer, não voltem por mim, certo?

Aquela frase de Marie ficou solta pela mesa, vagando como um pedinte desagradável. Henry suspirou.

- Digo o mesmo. - ele postou seus talheres nas bordas do prato devagar e olhos para todos nós - Eu agradeço pela família que encontrei aqui. - estava ao meu lado e não pude deixar de segurar sua mão e sorrir. Nenhuma palavra foi dita até o fim do jantar.

Eu sentia meu coração aos pulos e não tinha meios de contê-lo. Faltavam duas horas para partirmos para nossas posições e aguardar a ordem de ataque. Novamente pensei em Emma e onde ela estaria naquele momento. Quem sabe tivesse assumido sua condição de oficial alemã depois que a deixei para trás sem dar notícias? Em meio a tantas preocupações eu desejei algo mais - que Emma não fosse mandada para o front caso houvesse uma retaliação depois daquela noite. Não conseguiria vê-la diretamente contra mim num campo de batalha.

Ainda permanecemos no subsolo após o jantar. Fui até Henry. Estava calado e o brilho de seus olhos diminuíra depois da refeição.

- Está nervoso?

- Um pouco.

- Vai dar tudo certo e em pouco tempo estaremos livres desse terror.

- Prometa que vai tomar cuidado, Regina? - segurei sua mão. Estava gelada. Sorri.

- Só se você prometer que fará o mesmo. - enfim, fiz Henry sorrir. Ele não era meu, mas tinha-o como meu menino. Respirei fundo e deixei-o ali sentado acalmando-se para partir.

Ouvimos o toque de recolher. Silêncio absoluto. Talvez pudesse ouvir as batidas aceleradas do coração de cada um, mas o que eu percebia era um calor nos olhos de meus amigos que dava-me coragem. August estava quieto agarrado ao seu fuzil. Graham acabara de fumar o último cigarro de seu maço e ficou por um tempo olhando para o bolo de papel que fizera nas mãos. Procurei por Ruby, mas naquele instante não tive muito tempo para encontrá-la. Um dos rapazes que ficara de guarda no piso superior gritou algo que, a princípio, não pude ouvir. Segundos depois ouvimos passos apressados pelo corredor e Marie apareceu pela porta com os olhos arregalados.

- A polícia francesa está aqui!

Não houve tempo para pensar depois que seu aviso ecoou pelo cômodo. Apanhamos as armas que pudemos e corremos para fora. Havia um corredor lateral no palco do teatro que dava nos fundos do prédio ao lado - era a nossa rota de fuga principal desde o início da ocupação. Os homens entraram pelo salão aos gritos e apontando suas armas, dando voz de prisão para quem eles viam. Eles tinham todos os nomes de quem estava ali, então não demorou muito para que o óbvio viesse à tona - Robin Locksley.

Foi como um estouro de uma bomba. Rápido e inconsequente.

O primeiro tiro veio de Graham. Ele mirou justamente no homem que tinha o uniforme mais pomposo, seu ego britânico não falharia, mesmo entre nós ainda sobraram algumas mágoas históricas e ele não perderia uma chance. Ficamos por alguns segundos sem saber o que fazer, eram franceses como nós, estavam nos caçando como se estivéssemos atentando contra nosso próprio país. O disparo de Gram desencadeou um tiroteio sem sentido. Tentamos nos esconder entre as cadeiras do salão e alcançar a saída. Revidávamos os tiros, mas eles continuavam a descer em direção ao palco encurralando todos nós.

August estava parado ao lado da porta onde deveríamos fugir e atirava contra a polícia ao mesmo tempo que gritava para que nos apressássemos. Olhei ao redor procurando por Henry e gritei por ele.

- Aqui! - Ruby estava junto dele e os dois não estavam tão próximos da fuga quanto eu, assim arrastei-me até eles com dificuldade, os espaços entre as cadeiras não deixavam muitas opções. Dei cobertura para que a cigana e o menino saíssem dali. Assim como eu eles arrastaram-se entre as cadeiras. Acertei uns dois soldados antes de colocar-me abaixada novamente e seguir para a porta de fuga. Gram ainda estava no meio das cadeiras disparando para todos os lados e junto a ele Marie tinha a oportunidade de mostrar o quanto sua mira era eficaz. Ouvimos sirenes do lado de fora do teatro e mais agentes entraram no teatro.

- Venha, Regina! - August gritava enquanto eu observava um policial com algo nas mãos, pronto para arremessar. Tentei mirar nele, mas não adiantou muito. Ele lançou o artefato em direção a Gram e Marie, senti os braços de August em volta da minha cintura e arrastando-me para o interior do corredor de fuga.

- Não podemos deixá-los lá! - eu tentava fazer o caminho de volta, mas a mão de August estava presa ao meu braço como uma tenaz forte que puxava-me para mais longe. Atrás de nós o barulho abafado dos tiros foi cessando após um estrondo maior ter abalado as paredes do teatro. Logo a fumaça alcançou nossos pés e sentimos o cheio de gás entupindo nossas narinas.

- Mais rápido, Regina!

Quando chegamos ao final do corredor e saímos pela porta entreaberta vimos que a proporção do caos era maior que poderíamos imaginar. Eu vi pessoas correndo, gritando, policiais e mais policiais invadindo apartamentos e via seus vultos pelas janelas. Ruby e Henry ainda estavam ali desnorteados pelo tumulto. Estávamos numa posição relativamente favorável, pois era um local bem escuro, mas logo os agentes que invadiram o teatro entrariam pelo corredor que levava até ali.

- Vamos até o café de seu pai e de lá poderemos chegar à minha casa.

- Temos que passar pela avenida principal, Regina! - August pensava no que fazer, mas eu sabia que nosso tempo para isso já havia acabado.

- Não temos muitas opções. - conferi a munição do fuzil e engatilhei. Coloquei Ruby e Henry entre nós dois e encostamos nas paredes do prédio do teatro. Caminhamos lentamente por entre as sombras até que ouvimos o falatório vindo atrás de nós e aumentando a intensidade. Haviam descoberto o corredor. Peguei o braço de Henry e olhei diretamente em seus olhos - Siga com Ruby!

- E vocês?! - Ruby tinha medo nos olhos e tremia.

- Damos cobertura até que fiquem a uma distância segura. Vá até o café de Marco, arrombem a porta e sigam para os fundos. Lá tem um corredor...

August disparou contra a escuridão. Voltei-me para ajudá-lo e não vi nem Henry e nem Ruby outra vez. Escondemos atrás de algumas latas de lixo e havia muito entulho em volta, mas logo os agentes conseguiram posições favoráveis para ver onde estávamos.

Essas ações são tão rápidas que não conseguimos raciocinar com exatidão. Atirar era um ato aleatório, ainda mais na escuridão em que estávamos, porém, não tínhamos vantagem alguma e August foi atingido no braço. Ainda deitado no chão ele conseguia atirar com sua pistola, mas o número de policiais era grande demais para contê-los. Assim, quando nossas balas acabaram, não havia outra coisa a se fazer. Lançamos nossas armas nos chão e nos rendemos. Alguns agentes afastaram-se dali e, dos quatro que ficaram, um veio até mim e colocou a lanterna bem próxima do meu rosto ofuscando um pouco minha visão.

- Ela está aqui!

Aquilo realmente me deixou mais apavorada do que levar um tiro. Mais dois policiais saíram dali e no meio dos dois que sobraram veio um oficial fardado como eles usando um quepe que encobria seu rosto.

- Enfim, consegui pegar você, Regina Mills. - mesmo com pouca luz reconheci aquele rosto pavoroso. Era o major Hook. Como ele estava ali e usando o uniforme da polícia francesa eu não saberia dizer. Sem pensar muito eu logo cuspi em seu rosto. O que veio depois foi tão rápido quanto o meu próprio pensamento. Levei um bofetão. Minha cabeça sacudiu e senti o rosto latejar, um gosto de sangue brotou dentro da minha boca, mas eu permaneci quieta e não deixaria a dor mostrar-se para aquele homem repugnante.

August sangrava. Hook fez sinal para que um dos policiais o levassem dali e ele mesmo agarrou-me pelo braço. Deixamos o beco. Fui colocada com brutalidade em um carro da Gestapo. Mesmo atordoada e sendo arrastada eu vi corpos no chão em frente ao teatro e mais pessoas sendo presas. Procurei por August e quando o carro começou a se afastar pude vê-lo debatendo-se entre os policiais. O carro virou uma esquina e nada mais poderia fazer. Pensei em Henry e Ruby e desejei que tivessem chegado ao café.

- Alemães são tão incompetentes que precisam de ajuda para prender a resistência?! - eu provoquei. Aquele homem sentado ao meu lado causava-me ao mesmo tempo nojo e medo. Não poderia reclamar quando levei um soco nas costelas depois de perguntar aquilo. Perdi o ar. Em seguida ele agarrou meu rosto e senti seu hálito de morte.

- É arrogante, não é? Preciso ver até onde vai essa coragem quando estiver no quarto que separei para você. Uma costela quebrada será a menor das suas dores, querida.

A dor me deixou zonza e não consegui responder nada. Eu queria. Não deixaria Hook intimidar-me. Eu seria torturada e, talvez, morreria naquela noite, mas não me acovardaria diante de seus insultos ou de sua violência. Eu lutaria até que meu coração parasse.

A partir do instante em que o carro parou na sede da Gestapo eu deixei qualquer receio do lado de fora. A morte era uma certeza. Apenas desejei que meus pais estivessem bem e seguros. Que Ruby e Henry tivessem chegado ao meu apartamento e ficassem escondidos lá até que tudo terminasse. E o mais importante: que Emma não estivesse naquele lugar quando Hook arrastou-me para dentro. Eu tinha certeza que não sairia viva dali e não queria que ela se envolvesse atraindo para si a mesma situação em que eu estava.

Fui jogada em uma cela escura. A porta não tinha escotilha e não havia janela, apenas uma abertura minúscula no alto de uma das paredes deixava um pequeno feixe de luz entrar. Estava frio. Ralei meus joelhos e as costelas ainda doíam muito. Aquele animal conseguira mesmo quebrar alguma delas e eu sabia que viriam mais hematomas, ferimentos e humilhações. Hook estava à minha caça há muito tempo, agora poderia fazer o que quisesse comigo.

- Você está bem? - voz fraca. Uma mulher. Não vi onde estava, mas em algum canto daquela cela havia uma mulher aprisionada. Sentei no chão e tentei firmar os olhos para enxergá-la. Logo ela deixou-se mostrar na fraca luz que vinha daquela abertura - Quem é você? - usava roupas surradas, parecia um uniforme cinza claro, mal costurado e feito de um tecido grosso. O mais assustador eram as manchas de sangue espalhadas nele.

- Sou Regina.

- O que está acontecendo lá fora? - ela aproximou-se um pouco mais e pude ver seu rosto. Uma mulher loira, traços acentuados com olhos grandes e uma boca bem feita, cabelos desgrenhados. Sua magreza e suas olheiras denunciavam que já estava ali há alguns dias, possivelmente.

- Estão prendendo todos que encontram pela frente. - respirei e as costelas doeram mais. Mesmo com dificuldade insistiria em saber quem era ela - Qual o seu nome?

- Kristin. - ela arregalou os olhos quando ouvimos passos chegando próximos a porta - Eles estão voltando!... - uma lágrima caiu pelo rosto daquela mulher e o pânico tomou-lhe por inteira fazendo com que voltasse para as sombras. Um soldado entrou de repente na cela e pegou-me pelo braço arrastando-me para fora.

Fui empurrada por um corredor repleto de soldados alemães que olhavam-me como se fosse um pedaço de carne. Chegamos frente a uma porta. O soldado abriu e jogou-me lá dentro. Caí novamente e um dos meus joelhos ficou realmente como um pedaço de carne crua. Chão sujo e silêncio. Quando levantei minha cabeça o mesmo soldado arrancou-me daquela posição fazendo-me sentar em uma cadeira de ferro gasta e com o estofado rasgado. Havia pouca luz de uma lâmpada pequena no alto do teto bem sobre a minha cabeça. Ao meu lado uma mesa velha e, então, percebi os instrumentos que seriam usados em mim - a tortura estava bem próxima e eu não poderia escapar dela.

Não pude prestar muita atenção no que estava ali em cima, pois Hook apareceu bem na minha frente e agarrou meus cabelos com violência fazendo com que inclinasse a cabeça para trás de uma vez.

- O que achou da sua suíte, Regina? Confortável?...

- O que quer de mim?

- Ora, você é bem direta! Eu gosto disso!... Mas não somos anfitriões ruins! - soltou-me e arrastou uma cadeira para sentar-se mais perto - Teremos calma e paciência... Apreciamos uma boa conversa! - lentamente ele colocou uma das mãos sobre o meu joelho, o menos machucado, e começou a subir vagarosamente a mão entrando por baixo do meu vestido. Eu quis revidar naquela hora, mas ele segurou meu pescoço com força quase tirando-me totalmente o ar. Tentei me debater para fugir dali, mas era impossível. Cada vez mais ficava ser ar e ele fazia mais força com os dedos enquanto a outra mão tocava-me por baixo com brutalidade.

- É assim que Emma faz com você, querida?! - riu - Acho que ela é mais delicada, não é?!... Talvez uma outra pessoa possa ter feito diferente... - ele soltou-me. Puxei o ar de uma vez ainda sentindo os dedos sujos do major. Fiquei de cabeça baixa por um tempo. Aquela investida deixou-me fatigada.

A porta se abriu e vi botas sujas de barro entrando pela sala. Vieram até onde eu estava e, em seguida, o homem abaixou-se para olhar-me na mesma altura dos olhos. Hook levantou meu queixo e lá estava ele.

- Eu disse, Regina!... Antes que sentisse saudades eu estaria bem na sua frente!

O capitão inglês havia nos traído. Por causa dele todos nós ficamos vulneráveis e a polícia francesa sabia de todos os locais onde os resistentes estavam escondidos. Aquela reunião tinha sido uma armadilha e colocando-nos como tolos e ingênuos. Eu era a mais tola de todos. Acreditei que poderia descobrir o que aquele homem misterioso estava planejando, mas Robin foi mais esperto.

- Vocês tinham um espião, querida... Nós também!... Depois que mandei o major Kristoff para longe daqui com mensagens falsas e dias contraditórios o capitão Loksley veio para executar nosso plano para descobrir onde cada rato estava escondido no meio do lixo de Paris... - Robin levantou-se e apenas observou Hook conduzir seu discurso - Você pensa que é esperta... Ele sabia que você se aproximaria dele caso desconfiasse de alguma coisa... Foi tão previsível!

- Assim como a lealdade de um inglês também é previsível! - olhei Robin diretamente e ele abaixou a cabeça afastando-se. Hook agarrou-me novamente pelos cabelos.

- Eu quero que diga-me onde está Jean Moulin!

Fiquei um tempo olhando para o major. Depois eu ri. Ele franziu a testa e vi raiva em seus olhos. Eu continuei a rir.

- Está louco!... Eu não sei onde ele está! - o major afastou-se e deu-me as costas, parecia pensativo. Robin sentou-se em uma poltrona no fundo da sala de frente para mim.

- Regina, você entende o que vai acontecer aqui caso não me diga a verdade?

- Sim, major. Você vai me matar.

- Não, Regina! - aquele grito veio com um bofetão mais forte e o sangue desceu imediatamente pelo meu queixo. A pele do meu rosto ardeu, mas não tanto quanto meu ódio. Eu segurei as lágrimas. Apertei os lábios e tentei ignorar o que ele dizia ou fazia. Ficou sobre mim, apertou meu pescoço mais uma vez e esbravejou - Eu vou arrancar a verdade de você, sua francesa estúpida! É você que vai pedir pela morte, meu bem!

Ele olhava-me com gana, caso fosse apenas de sua vontade teria me matado naquele minuto, mas precisava tentar tirar a verdade de mim, portanto, teria que controlar seu instinto. Saiu dali ofegante. Eu não gemi, não suspirei, não chorei. Apenas abaixei minha cabeça. Vi meu vestido corando com o sangue de caía da minha boca e lembrei daquela mulher na cela. Eu poderia ficar como ela ou até pior.

- Levem essa mulher daqui.

Hook deu a ordem e o soldado cumpriu. Retirou-me dali com a mesma violência que cheguei. Fui empurrada até a cela. Novamente eu caí e meus joelhos já estavam anestesiados. Demorei um pouco mais para levantar daquele chão frio. Sentia os dedos do major na minha garganta e tossia bastante.

-  Que bom que voltou rápido! - a loira que estava presa comigo tinha uma doçura incomum na voz. Ela chegou até onde eu estava caída, ajoelhou-se e colocou minha cabeça no seu colo. Eu não entendi o motivo daquela frase, mas saberia logo - Eu saí dessa cela algumas vezes e demorei bastante a voltar...

- Torturaram você.

- Claro! Estamos aqui para isso... - ela ajeitava meus cabelos com suavidade e eu sentia a ponta de seus dedos magros - Espero que tenha mais sorte que eu...

- Quem é você, Kristin? Por que está aqui? - tentei virar-me para olhar seu rosto, mas ela impediu.

- Calma, descanse... Eu vim parar aqui porque não concordei com as ordens que recebi. Agora aguardo minha execução...

- Então, você... - levantei um pouco a cabeça e rapidamente fitei os olhos daquela mulher estranha e me surpreendi que não tenha prestado atenção no seu sotaque antes - ... Você é...

- Sim, sou alemã, Regina. Sou uma enfermeira que se recusou a trabalhar nos corpos de crianças francesas. Como o Führer não admite que tenhamos compaixão pelos que são diferentes de nós, posso incluir-me entre os arianos traidores.

Deitei novamente em seu colo e calei-me de uma vez. Eu estava bem perto de descobrir até onde a crueldade dos alemães era capaz de chegar. Ou se havia limites para ela. Logo adormeci exausta das dores e da tensão, mas ainda em tempo de ouvir Kristin balbuciar algo mais sobre sua estadia na prisão da Gestapo.

- ... Ontem foi um dia ruim... Acordei no meio da madrugada com dez soldados sobre mim...


Notas Finais


Obrigada por acompanharem e até o próximo


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