Uma estranha paz fazia-se presente. Era quase como se, finalmente, a guerra tivesse acabado. Mas Karin sabia que não era assim. Sabia que isso era apenas uma calmaria antes da derradeira tempestade.
Com certa dificuldade, a morena levantou-se, apesar de ser realmente tentador parar para dar uma cesta. Precisava encontrar-se com os outros. Perguntava-se se Toushirou estava bem. O seu corpo havia voltado ao normal, portanto, o dele provavelmente também. Olhou para Hyourinmaru que repousava no chão e pegou-a, também precisava devolve-la para o albino.
Percorreu o lugar à sua volta com o olhar, encontrando-se apenas com um monte de edifícios destruídos e poeira. Não sabia onde estava e não sabia como se encontrar com os outros.
Estava completamente sozinha.
Sem perder mais tempo, começou a andar. Era difícil, talvez por usar demasiada reiatsu sentia-se excessivamente cansada. Não conseguia deixar de cambalear. Doía-lhe a cabeça, estava com fome e não tinha forças para gritar na esperança que alguém a ouvisse e viesse ter com ela.
Por isso, limitou-se a continuar a andar.
Estranhamente, a solidão e a falsa paz permitiu-lhe pensar. Pensava no Toushirou, na sua Zanpakutou e na Yuzu. Perguntava-se como estava o seu velho e o Ichi-nii. Será que o Ichi-nii ainda continuava a lutar? Não o vira desde que chegara à Sociedade das Almas, apesar de saber que ele estava lá, em alguma parte.
Pensava em tudo que aprendera, todas as informações passadas por Isane-San e tudo que o Toushirou lhe ensinou. Sobre a reiatsu, a Sociedade das Almas, os Shinigamis e Quincys, sobre as zanpakutous...
Realmente, ainda só havia passado uns poucos dias?? Sentia como se fosse uma eternidade.
Ouviu passos vindos da direita e olhou para lá. Viu como a Tenente subia alguns destroços com certa dificuldade. Ao perceber a sua presença, Hinamori olhou para ela. A morena limitou-se a encara-la de volta. Estava demasiado cansada e sem paciência para mais uma briga com a Shinigami.
A Tenente fez uma leve expressão de desgosto e desviou o olhar.
- Então és tu. - Falou sem emoção. - Vamos, o Capitão Hirako está a cuidar do Shiro-Chan. - Deu as costas para Karin e preparou-se para prosseguir caminho.
- E como posso ter a certeza que falas a verdade? - Perguntou sem largar os olhos dela.
- Não podes. Mas acredito que também não estás capaz para mais uma luta. Bem, se não me quiseres seguir, estás à vontade. O problema não é meu, apenas não me chateies. - Falou sem enrolação. - Ainda tenho que encontrar os Capitães... - Esta última frase fora mais para si mesma do que para a Kurosaki.
Realmente, havia coisas mais importantes naquele momento. Por isso, ainda um pouco cautelosa, a Kurosaki optou por seguir a Tenente de longe.
Hinamori, por sua vez, também estava atenta a qualquer movimento da humana.
Era preciso azar. Encontrar-se com a Kurosaki era o último que queria. Mas isso sempre acontecia, quando menos desejava estar com ela mais ela aparecia. Seria uma maldição ou apenas azar mesmo?
Estava preocupada pelo Capitão de gelo e precisava voltar para perto dele o quanto antes. Mas ainda tinha que encontrar os outros Capitães.
Ela realmente amava o albino, entretanto, um empecilho havia aparecido nas suas vidas e o seu nome era: Kurosaki Karin. Independentemente de quem era o irmão, ela era apenas uma forasteira, uma humana que não devia estar lá.
Era doloroso ver o seu Shiro-Chan a chamá-la pelo primeiro nome, coisa que deixara de fazer com a Tenente depois de virar Capitão. Mas não era só isso. Por alguma razão, a Kurosaki era capaz de usar o Hyorinmaru como se fosse o seu mestre e ainda havia sido afetada pela Bankai do albino!
Porquê?
Porquê ela?
- Né. - Chamou sem muita emoção, isso pareceu surpreender a humana. - Que tipo de relação tu tens com o Shiro-Chan? - Perguntou secamente, sem realmente pensar muito no que fazia. Estava absorta nos seus pensamentos e tudo que estava à sua volta não importava mais. Ela apenas queria saber a resposta.
Karin analisou a Tenente. Hinamori não olhou para ela, apenas continuou o seu caminho.
Era óbvios os sentimentos que a Shinigami nutria por Toushirou, para não falar que ela o conhecia à mais tempo. Talvez por isso, Karin optou por responder seriamente, deixando-se de bobagens.
- Nós estamos a namorar. - Afirmou um pouco constrangida. Eram palavras difíceis de gesticular. Sentia-se estranha e um pouco tímida ter que falar em voz alta, já que ela e Toushirou não haviam tido muito tempo para falar sobre si mesmos, por culpa da guerra. Ainda assim, não era nenhuma mentira. Eles já se tinham beijado e declarado, então realmente estavam no meio de uma relação.
Conforme a Tenente ouviu a resposta, o seu corpo congelou.
As duas ficaram paradas por alguns minutos. Karin pôde observar como momentaneamente o corpo de Hinamori tremeu, mas a mesma pareceu ser capaz de se controlar novamente.
Ainda em silêncio, a Shinigami limitou-se a olhar para cima, para o céu, como se procurasse pelo quente e aconchegante pôr-do-Sol que tanto gostava.
Karin não podia dizer que sentia pena da Tenente, pois seria mentira. Mas mesmo assim, preferiu esperar a Shinigami se recompor.
- Eu... Odeio-te. - Falou por fim, enquanto tentava conter os soluços.
Bem, isso não era surprese nenhuma. A própria Kurosaki também desgostava bastante da Tenente.
- Então acho que estamos quites. - respondeu enquanto olhava para um outro lado qualquer.
As duas permaneceram quietas por vários minutos mas Karin, corroída pela curiosidade e aproveitando que estavam num momentos de conversar e dizer verdades, decidiu respirar fundo para ganhar forças de quebrá-lo.
- Né, como conheceste o Toushirou? - Perguntou baixinho, por momentos desejou não o ter feito graças ao seu tamanho orgulho.
Hinamori ficou um pouco incrédula inicialmente, mas no fim , decidiu contar, aproveitando também para recordar os bons momentos vividos.
- Foi à muito, muito tempo em Junrinan, no 1º distrito de Rukongai. Fui criada por uma anciã e, mais tarde, veio o Shiro-Chan murar junto. Em Rukongai, as famílias não costumam ser compostas por pessoas do mesmo sangue, isso só costuma acontecer com os nobres. Afinal, a Sociedade das Almas é um mundo enorme cheio de almas umas mais antigas que as outras e é muito difícil encontrarmos os nossos parentes de sangue, para não falar que aqueles com reiatsus mais fortes têm maior tendência para perderem as memórias da sua vida passada. O Shiro-Chan era como um irmão mais novo para mim naquela época. Ele não passava de um moleque, não era muito social, adorava comer melancias e sempre com um orgulho demasiado grande para o seu pequeno corpo. Eram bons tempos... Despois disso, eu fui para a Academia Shinigami e tornou-se cada vez mais difícil ir visitar a Avó e o Shiro-Chan. Tempos depois, ele também decidiu tornar-se num Shinigami, o que não demorou muito para. - Ela parou. Estavam agora sentadas no chão, uma ao lado da outra, a uns poucos metros de distancia.
Karin não sabia se devia estar feliz pelo que ouvira. Aquele era o passado de Hinamori e Toushirou, afinal... Talvez estivesse um pouco ciumenta por não ter podido conhecer o Albino tão bem como a Tenente. Entretanto, só de ouvir, era como se passasse a conhece-lo um pouquinho melhor. A história de Hinamori também lhe permitiu entender melhor a relação dos dois. Apesar da Tenente ter desenvolvido sentimentos românticos por Toushirou, ele nunca a deixou de ver como uma preciosa amiga, ou até mesmo irmã. E muito provavelmente, ele sentia certa necessidade de proteger a Shinigami.
Apesar de não gostar da Tenente, saber que para ele, ela era só como família tranquilizou-a e fez-lhe ver que Hinamori não tinha só lados ruins. Apesar de ainda não gostar dela.
CONTINUA...
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