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História Lady Dimitrescu - One-shots (resident Evil fanfic) - Monstros


Escrita por: Arwen_Nyah

Notas do Autor


Fiquei pensando ontem à noite e me veio isso!
Ella é uma personagem original criada por mim para a fanfic Belas Criaturas, então espero que gostem. Apenas uma oneshot em família...

Capítulo 1 - Monstros


           Alcina.

Alcina pousou a mão nas costas de Bella e a guiou para dentro da loja, do outro lado Ella agarrou sua mão livre e apertou levemente para tranquilizá-la; sua esposa segurava Cassandra do outro lado e Daniela deitou a cabecinha em seu ombro, sair com três crianças em idades diferentes não era a atividade mais fácil, mas elas estavam ficando boas nisso.

Apesar de todas as luzes fluorescentes, a lua brilhava contra o manto escuro do céu sem que uma nuvem sequer ousasse atrapalhar. Elas escolheram o pequeno centro comercial de Brasov ao invés do shopping, primeiro porque havia menos pessoas por ali e, segundo e mais importante, a dona daquela loja.

O centro comercial não passava de algumas lojas e quiosques espalhados ao redor de uma pequena praça, nos finais de semana havia artistas de rua, mímicos e cantores, espalhados pelo lugar ao tentar arrecadado algum dinheiro, mas tudo estava muito calmo para uma quinta à noite e as mulheres Dimitrescu preferiam assim.

A loja escolhida por elas era a do Srta. Beneviento, uma artesã de bonecas que fazia as peças mais belas sob medida, logo Bela tinha exatamente o que queria para sua casinha. Às vezes Ella argumentava que estavam mimando Bela, mas a menina adorava tanto sua casa de bonecas que Alcina não conseguia evitar.

- Ah, olha só se não é a minha cliente preferida – Donna abriu um grande sorriso para Bela por sobre o balcão – A que devo a honra da sua presença, Srta. Dimitrescu?

- Eu vim buscar a minha caixinha de músicas, tia Donna – e então completou quando notou o olhar de Alcina: – Por favor.

- Ah, eu tenho algo aqui para você!

Alcina e Ella se aproximaram quando Donna colocou uma caixinha de madeira envernizada sobre o balcão e a abriu diante do olhar atento de Bela, uma pequena bailarina rodopiou lentamente enquanto uma melodia doce preencheu a loja.

- Você gostou, querida? – Ella perguntou ao se abaixar ao lado da filha.

- Eu adorei, mama. Obrigada – Bela suspirou contente – Mama, posso escolher outras coisas para minha casinha?

Mesmo de costas para ela Alcina podia imaginar a expressão ansiosa de Bela, seus grandes dourados azuis brilhando em expectativa pela permissão de Ella, a pontinha rosa da língua presa entre os lábios em um pequeno sorriso sapeca que fazia suas covinhas se acentuarem e derretia a todos ao seu redor; aos quatro anos Bela já sabia ser encantadora como Alcina, envolvendo suas mães ao redor dos seus dedinhos.

- Por favor, mama – Bela insistiu e se virou para Alcina, a expressão desenhada em seu rosto exatamente como ela imaginou – Por favor, mamãe.

- Eu também, mamãe – Cassandra chamou sua atenção ao puxar seu vestido – Também quero uma boneca nova!

Como ela podia resistir àquelas covinhas e rostinhos angelicais? Pelo menos Daniela ressonava tranquilamente em seu ombro, completamente desligada do mundo e sequer se importando com todos aqueles brinquedos. Antes de concordar, Alcina olhou ao redor da loja para verificar se estava vazia.

- Claro – Alcina sorriu para as meninas – Podem ir.

As pequenas comemoraram e saltitaram pelo corredor da loja até onde ficavam suas coisas favoritas, as trancinhas de Bela sobre seus ombros a cada novo pulinho e Alcina sorriu novamente para sua alegria infantil.

- Tenho outra coisa aqui para vocês.

Donna a despertou dos seus pensamentos ao colocar outra caixa sobre o balcão, dessa vez o conteúdo eram cinco bonecas, as duas maiores mediam aproximadamente dez centímetros, havia duas um pouco menores e uma que aparentava ser um bebê; todas elas tinham aparência muito familiar.

- Somos nós – Ella apontou – Acha que a Bela vai gostar?

Alcina revirou os olhos para a pequena família de bonecas, duas mães e três garotinhas, todas com suas características principais.

- Bela vai adorar – Alcina sorriu.

- Bella vai adorar essa e todas as outras bonecas.

- Minha esposa acha que estamos mimando a Bela – Alcina sorriu para Donna – Mas ela é a nossa v... Princesinha – ela se corrigiu rapidamente – E nossa princesinha adora a casa de bonecas.

- A essa altura está mais para uma mansão de bonecas – Ella provocou.

- Bom, devo dizer que aqui adoramos pais que mimam os filhos – Donna sorriu de forma gentil – Ela vai adorar essas bonecas.

Ella abraçou Alcina pela cintura e apoiou a cabeça em seu braço devido a diferença de altura entre elas, os cabelos loiros da sua esposa cheiravam a morangos como seu shampoo preferido e naquela noite seus olhos brilhavam de um modo especial e lembrava os de Bela. Alcina sentiu uma onda de carinho enorme pela esposa e pelas filhinhas, estar com elas fazia tudo valer a pena.

[...]

Ralph

Ralph jogou o cigarro no chão e o amassou a ponta do sapato. Não passava de um azarão, um cara que sempre reclamava das oportunidades que a vida lhe roubou mesmo que não fizesse muitas coisas a esse respeito; abandonou a faculdade, passou parte da sua vida adulta fazendo pequenos serviços em Buracreste, morando no porão dos pais e insistindo em relações fracassadas.

Até que a oportunidade de ouro, aquela por qual tanto ansiara durante toda a sua vida apareceu. Não exatamente da forma como ele imaginava que seria e, em outras épocas, o trabalho teria lhe dado enjoos, mas quando se é bem pago para trabalhar pouco essas virtudes eram rapidamente esquecidas.

Assistiu de longe as duas mulheres e as garotinhas entrarem em uma loja apesar do horário, a maioria das crianças devia estar na cama àquela hora. Tanto melhor para ele, pensou ao acender um novo cigarro, isso tornaria mais fácil. Pais relapsos tornavam seu trabalho mais fácil.

Tragou mais algumas vezes e dispensou metade daquele cigarro junto ao outro, era melhor preparar tudo de uma vez. Retirou alguns balões da camionete e deixou a porta aberta para facilitar o trabalho.

Ralph olhou novamente em direção a porta da loja, ainda podia ver as mulheres através do vidro, comprando algo no balcão e de costas para a menina loira. Dizem que temos um instinto especial, algo desenvolvido ao decorrer dos séculos como um sistema de segurança que nos permite identificar quando somos observados, dizem que é para manter a integridade física, a sobrevivência acima de tudo. A ironia estava no fato de que, quase instantaneamente, a menina parou defronte a grande janela da loja e o encarou.

Ralph levou os dedos aos lábios, como se conspirasse com a pequena criança, e então balançou os balões brilhantes. A menina sorriu, a maioria das crianças gostava de Ralph com seus cabelos castanhos e sorriso gentil, então ele apontou para os balões e de volta para a criança.

A menina sorriu e assentiu.

Era fácil com algumas crianças, outras tinham o tal instinto de sobrevivência mais acentuado. Ralph assistiu a menina sair da loja e caminhar até ele; não sabia o nome dela e pouco se importava, era mais fácil quando não sabia seus nomes, eles eram apenas pagamentos que o mantinham em uma boa vida numa cidade como Brasov.

Ainda assim, Ralph a observou com cuidado. Casaco vermelho comprido sobre um vestido de cor escura, meia calça, sapatos pretos envernizados, cabelo loiro divido em duas trancinhas e uma boina no alto da cabeça combinando com o casaco. As roupas, alinhadas à loja em que estavam, entregava bem a mensagem: uma garotinha rica.

Crianças ricas eram mais fáceis de enganar, acostumadas a ser super protegidas, tendo tudo o que queriam na hora em que queriam; exceto quando passavam por uma situação de merda em casa, eram como cordeirinhos prontos para o abate e por vezes Ralph as odiava; aquelas coisinhas nojentas não sabiam o que era ter de se virar sozinho, tudo era resolvido com dinheiro do papai.

O som dos sapatos da menininha contra as pedras da rua o despertaram dos seus pensamentos, seus olhos continuavam bem treinados nos balões que Ralph segurava no alto; ela parou a alguns metros de distância, não o suficiente para fugir mas não próxima o bastante.

- Oi – Ralph sorriu em sua direção – Você quer um balão?

- Quero sim – a menina olhou por sobre o ombro, em direção à loja, e voltou – Vou pedir pra mamãe.

- Não precisa, eu te dou um – ele insistiu com um sorriso – Qual o seu nome?

- Bela. Bela Dimitrescu.

- Eu vou te dar um balão, Bela. É só vir até aqui e pegar.

A menina se aproximou, um pouco acanhada, e Ralph não estendeu o balão, não até que já estivesse ao seu alcance. O bracinho estendido, os dedinhos inquietos para agarrar as cordas que prendia o balão e olhos ansiosos eram o que compunham a criança naquele momento, tudo o que ela queria estava sendo segurado bem na sua frente.

- Eu quero o coração vermelho!

- É claro...

Bela se aproximou e Ralph agarrou seu pulso, puxou-a em um movimento rápido. Os balões escaparam dos seus dedos, e um pano embebido em clorofórmio foi pressionado sobre o nariz e boca da menina; ela se debateu tentando se libertar assim como todos os outros fizeram antes dela, como animaizinhos que percebiam tarde demais que haviam caído em uma armadilha mortal e tentavam lutar com todas as suas forças contra um predador muito maior.

Levou menos de um minuto até que ela parasse de se debater e Ralph a enfiasse sem cerimônia no banco da frente da camionete.

Os balões voaram livremente, flutuando calmamente em direção ao céu noturno, enquanto Ralph arrancava com a camionete o mais rápido que podia; calculava ter poucos minutos até as mães darem falta dela e começarem a procurar. Não era o ideal, Ralph preferia fazer aquilo sem que os pais estivessem tão perto, preferia ter tempo para desaparecer em paz; mas o aluguel estava atrasado e ele precisava pagar as contas, tinha um encontro na próxima semana e ele precisava impressionar.

Fez uma curva acentuada em direção a uma das saídas da cidade, o corpo inerte da criança escorregou do banco do carona e pousou no assoalho da camionete. Ele queria ter espaço para amarrar a menina, mas vans brancas não identificadas pareciam muito suspeitas, todo mundo tinha medo delas e ficavam de olho nas crianças; por isso Ralph tinha uma camionete preta, em Brasov ninguém olhava duas vezes para ela, não causava estranheza dentre os moradores.

Uma viatura da polícia passou por ele, não muito rápido e sem as sirenes. O policial acenou e Ralph acenou de volta, tentou parecer tranquilo ao volante como um homem solitário que gosta de dirigir durante a noite; a viatura passou direto e ele respirou aliviado, tudo estava caminhando do jeito certo. As mães ainda não haviam acionado toda a força policial das redondezas, decerto sequer haviam dado falta da criança enquanto estavam muito ocupadas fazendo compras.

- É garota, parece que te fiz um favor – Ralph resmungou sem tirar os olhos da estrada.

Não houve uma resposta, tampouco Ralph esperava por uma. Queria que a menina dormisse durante toda a viagem até o celeiro, lá a manteria no quarto dos fundos depois de uma dose de sonífero; talvez ela ficasse um pouco grogue na manhã seguinte, mas desde que estivesse viva e respirando “A Oficina” e os compradores ficariam felizes, o pagamento seria depositado em sua conta e ele não teria que se preocupar com dinheiro por algum tempo.

Ralph entrou numa estrada de terra irregular e estreita que seria ignorada pela maioria dos motoristas, olhou pelo retrovisor para garantir que não estava sendo seguido e não viu nada além da escuridão, ligou o rádio na frequência da polícia e tudo o que ouviu foi sobre um furto de carro. Apertou o volante até que os nós dos dedos ficassem brancos. Havia certa adrenalina no que ele fazia. Imaginar os pais desesperados, assisti-los chorando frente às câmeras de TV pedindo que devolvessem seus bebês; também, é claro, havia alguma humanidade nisso, na mãe pedindo sua cria de volta. Mas a família daquela ali não parecia ligar.

Se alguém ouvisse seus pensamentos naquele momento poderia atribuir-lhe alguma humanidade, como se ele tentasse se convencer de que a menina não era amada e, portanto, estaria melhor sem a família; mas não, Ralph apenas gostava de admirar sua obra por completo, e em algum momento as mães de Bela Dimitrescu apareceriam na TV, fariam uma campanha e ofereceriam um resgate milionário por ela, tudo para ter seu precioso bebê de volta, e então ele teria seu tão desejado final.

Ralph sentiu algo bem próximo ao remorso após o primeiro, um menininho chorão chamado Jeff que usava uma camiseta das tartarugas ninjas e que chamava pela mãe o tempo todo. A Oficina pagou bem por ele. Transplante de órgãos, foi o que disseram. Semanas depois apenas sua cabeça foi encontrada flutuando em um rio há alguns quilômetros ao norte de Brasov, os filhos da puta sequer haviam se livrado do corpo direito.

Àquela noite Ralph não dormiu bem, sonhou com o garotinho decapitado chorando com catarro escorrendo do seu nariz diminuto, mas na manhã seguinte a lembrança do pagamento que havia sido depositado em sua conta e a quantidade de zeros nele tirou Jeff da sua mente.

É claro, A Oficina tinha todo tipo de clientes que precisavam de crianças para os mais variados… Objetivos.

- Eu quero a minha mãe!

Ralph quase saiu da estrada de terra com o susto. Virou-se e encontrou dois pares de olhos anormalmente brilhantes o encarando com raiva, a criança ainda estava sentada no assoalho e o encarava como se pudesse fazê-lo derreter bem ali.

- Eu quero minhas mães!

- C-como está acordada?

Nenhuma outra criança acordara antes de chegar ao celeiro, Ralph se assegurava de embeber o pano com clorofórmio o bastante para que dormissem por horas seguidas e aquela garotinha estava completamente desperta em menos de uma hora.

- Me leva de volta – a menina exigiu com a voz firme – Agora!

- Fica quietinha aí, estou te levando para um passeio e logo você vê as suas mães.

A forma como aquela criança o olhava, com olhos incomuns e brilhantes, enviavam arrepios por sua espinha. Era como um gato arisco que espreita sua presa, com os olhos brilhando de maldade quando você joga um facho de luz sobre ele; Ralph jurou que podia ver isso na menina, como se ele não passasse de um ratinho preso nas garras de um gato malvado.

- Quantos anos você tem?

Não obteve uma resposta e sim um rosnado baixo e ameaçador. Aquela menina havia mesmo rosnado para ele?

O rostinho outrora angelical agora estava sério, franzido em uma carranca, a menina arreganhou os lábios para mostrar os dentinhos de leite e rosnou mais uma vez. Ralph riu.

- O-oh grandes dentes você tem aí, não é? - provocou – O que vai fazer com eles?

A menina rosnou novamente, dessa vez mais alto e Ralph temeu que o clorofórmio tivesse mexido com a sua cabeça. Isso diminuiria consideravelmente seu pagamento mesmo que a menina fosse do tipo mais rentável. Cabelos loiros, olhos brilhantes, seis ou sete anos e covinhas fofas garantiam que ela não seria levada para transplante de órgãos, provavelmente uma família querendo uma filha como ela ou, quem sabe, propósitos mais obscuros…

Ralph não se importava nem um pouco com o destino da menina, nem com o que fariam com ela, desde que pagassem bem.

Por sorte estavam chegando ao celeiro, ele a colocaria para dormir e de manhã não seria mais problema dele. Um movimento atraiu sua atenção e Ralph desviou os olhos da estrada, a menina subiu no banco do carona e se sentou ainda o encarando.

- Boa menina, fique bem aí.

- Eu quero as minhas mães!

- Suas mães nem ligam pra você – Ralph riu e apontou para o rádio que agora noticiava um pequeno acidente na rua Queen com a avenida St. Bachman – Não estão nem procurando por você. Agora seja boazinha, você vai ganhar uma nova família ou um novo papai que vai gostar muito de você – falou sugestivamente – Entendeu?

- Não! Não! Não!

Bela começou um ataque de birra, bateu os pequenos punhos fechados sobre o colo e chutou painel da camionete com toda a sua força; a atitude da menina, embora para muitos compreensível, iniciou uma fúria insana em Ralph. Aquela fedelhazinha, riquinha de merda, achava que podia bater os pezinhos e ter todas as suas vontades atendidas imediatamente!

Precisou contar até dez e lembrar que os compradores não gostavam de produtos danificados e que o destino daquela pirralha seria pior do que os bons tapas que estava merecendo, para se impedir de machucá-la de verdade.

- Para com isso! - berrou – Pare já com isso!

Ralph estendeu um braço para segurar a menina, impedir que continuasse a chutar o painel, e primeiro agarrou seus braços, mas a coisinha nojenta cravou os dentes pontiagudos na parte inferior do polegar. Ralph guinchou de dor e susto e puxou a mão com alguma dificuldade, aquela coisinha estava tentando fincar os dentes ainda mais profundamente em sua carne como se fosse uma espécie de cachorro raivoso.

- Merda! - gritou ao ver o sangue fluindo do ferimento na mão esquerda – Filha de uma p…

Um baque alto soou contra o teto da camionete como se algo muito pesado tivesse caído ali, fazendo Ralph perder o controle momentaneamente e ziguezaguear pela estrada de terra até conseguir firmar o volante. Ao seu lado, a menina se acalmou e arregalou os olhos ao olhar para cima.

- Mama… - sussurrou quase em reverência.

- Mas o que?

BUM! Uma nova pancada e dessa vez o teto amassou consideravelmente em direção a sua cabeça, a menina bateu palmas e sorriu, parecendo em êxtase. Ralph pisou com força no acelerador, o máximo que podia, e avançou através de uma nuvem de poeira e cascalho. Um barulho alto de metal sendo rasgado fez seus ouvidos praticamente sangrarem, algo estava tentando entrar no carro, arrancar a lateria e pegá-lo… Não! Ralph balançou a cabeça. Era tudo fruto da adrenalina, só isso e nada mais. Aquela menina estranha tinha mexido com sua cabeça e ele iria terminar com isso, que se fodessem os compradores e A Oficina, aquela menina estaria enterrada sob sete palmos de terra antes que sol nascesse.

Não percebeu que havia falado em voz alta até a menina voltar a gritar com todas as suas forças:

- Mama! Mama!

- Cala a boca! Cala a boca! Calaaboca sua merdinha!

Ralph avançou com a camionete e invadiu o celeiro, enviando tábuas de madeira para todos os lados; o baque o fez bater a cabeça no volante com força e a menina devia ter sido arremessada contra o vidro. Levantou a cabeça e gemeu com a dor que se espalhou, além disso, viu que a pestinha havia escorregado de volta para o assoalho e se escondia no espaço abaixo do painel. A luz estava acesa, ele sempre se garantia disso antes de sair para facilitar o transporte de volta e, com cuidado, analisou toda a sua volta procurando pela merda que o atacou.

Não havia nada. O celeiro estava vazio. Nada além das suas bancadas de trabalho e o feno que escondia o alçapão que levava ao esconderijo onde mantinha os troféus provenientes do seu trabalho, pequenos suvenires coletados das crianças, mas tudo estava calmo, tudo em seu devido lugar.

Ralph abriu a porta e saiu com cuidado, suas costas estalaram e ele gemeu. A frente da camionete estava destruída e ele teria que reparar o quanto antes. Merda, aquela garota não lhe rendeu nada além de um prejuízo enorme.

Teve a sensação incomoda de ser observado, o mesmo instinto de sobrevivência que atraía a atenção das crianças que ele raptava também o avisou que dessa vez ele era a presa. Todos os pelos do seu corpo se arrepiaram com a constatação. Virou-se devagar com a respiração presa na garganta e lá estava ela, uma das mulheres da loja, agachada sobre o teto da camionete, o encarando com olhos azuis como o oceano que brilhavam de um modo selvagem e sobrenatural.

- Oi.

A mulher sorriu e Ralph gemeu e o medo tomou conta dele como uma erva daninha se espalhando a amarrando as gavinhas em cada canto do seu ser; queria correr, mas de repente as pernas não lhe obedeceram, como se fossem feitas de chumbo ou estivessem coladas ao solo. Ela sorriu ainda mais, seus olhos azuis faíscaram cheios de maldade, e Ralph percebeu que suas presas eram grandes demais, pontudas demais, perfeitas para rasgar a carne...

- Você devia ter nos deixado em paz.

[…]

Ella sorriu ao sentir o cheiro do medo daquele homem patético.

- Você devia ter nos deixado em paz – repetiu com um sorriso - Minha filha queria bonecas novas para sua casinha e só por isso saímos, você fez uma escolha muito errada... Minha esposa não está nada feliz e ela é muito protetora.

- Quem é você? Quem são vocês, porra?

Ella riu e se levantou sobre o carro, agora que Bela estava em segurança ela tinha tempo.

- A pergunta ideal seria o que eu sou – Ella sorriu quando o homem deu alguns passos para trás – O que nós somos.

O cheiro azedo de medo exalava do homem em nuvens mal cheirosas, seus olhos arregalados vagavam entre Ella e a saída como se avaliassem as chances de fuga. Pobres humanos, frágeis e tolos...

Ella adorou o pavor, o tremor que permeava sua voz, e também pode ouvir Bela se mexendo dentro do carro impaciente para sair, mas logo seria a vez dela; um segundo cheiro a atingiu, almíscar e familiar, quando Alcina adentrou o buraco aberto pela camionete com Daniela em seus braços e Cassandra em seu encalço. Sua esposa balançou a cabeça e sorriu, mesmo após séculos juntas Alcina ainda conseguia deixar Ella completamente apaixonada por ela. Sua esposa sempre tão linda e elegante parecia um animal feroz, estava pronta para rasgar aquele homem em pedaços por tocar sua menina preciosa.

- Por favor... Por favor – o homem chorou – Tenha...

- Piedade? – Alcina o interrompeu – Você teria alguma piedade da minha filhinha? Teve alguma piedade das outras crianças?

- C-como você sabe?

Alcina aspirou profundamente.

- O cheiro desse lugar... É um maldito cativeiro – Alcina rosnou – Minha esposa queria chamar a polícia quando o viu colocando Bela no carro, mas eu discordei. Você merece algo muito pior.

- Que tipo de lição?

Alcina adorou o pavor, o tremor que permeava sua voz.

Ella se ocupou em tirar Bela da camionete e verificou se a filha estava bem, felizmente sua menininha não parecia nada além de perfeita como sempre. Não sabia o que faria se algo tivesse acontecido com ela, se não tivessem chegado bem a tempo de esmagar aquele rato.

- Você está bem, amorzinho?

- Sim, mama – Bela abraçou seu pescoço – Esperei por vocês como mandaram fazer caso me perdesse.

- Muito bem, filha – Alcina elogiou sem tirar os olhos do homem caído – Vamos cuidar disso e voltar para nossa casa.

- Vamos lá, querida – Ella reclamou – Não brinque com a comida.

- Comida?

Alcina revirou os olhos para a tendência do homem em repetir perguntas.

- Nós não caçamos com frequência, mas por que nos privar de um pequeno prazer como esse? Você raptou nossa filhinha, agora vai dar algo em troca.

- Alcina... – Ella avisou de novo – Acaba logo com esse idiota.

- Amor, é por isso que eu te amo – Alcina sorriu – Me conhece tão bem.

O homem tentou fugir, correu em direção a Alcina como se pudesse passar por ela, e Ella saltou sobre ele no momento em que o alcançou; caíram pesadamente contra o chão e o idiota amorteceu a queda, Ella sorriu.

- Isso vai doer só um pouquinho – Ella avisou – Ou muito.

Ella se abaixou e cravou as presas na jugular da sua presa, arrancando um berro de dor e medo quando a carne foi dilacerada. O sangue fluiu livremente, quente e fresco, e ela o sugou avidamente deixando que escorresse pela garganta. Sua presa se mexeu ao tentar se livrar, mas Ella o segurou e impediu de fugir; aquele idiota tentou roubar sua menininha, uma das suas maiores preciosidades.

Teve vaga consciência de que sua esposa colocou Daniela no chão, a menina mais nova que mal tinha completado seus dois anos de vida cambaleou de um lado para o outro até que seu corpinho conseguiu manter o equilíbrio, Cassandra ajudou a irmã a se equilibrar e sorriu. Elas estavam bem, sua família estava segura e era hora de caçar. Cravou os dentes com um pouco mais de força e sugou o sangue da sua presa.

- Ella...

Ao ouvir a voz da esposa, Ella se afastou e olhou para ela; Alcina se aproximou e lambeu lentamente seu queixo, beijando-a em seguida.

- Vem aqui – Ella chamou – É noite de caça.

Alcina sorriu e se agachou do outro lado do homem caído, imitando seu movimento cravou as presas em seu pescoço e sugou com força; o sague quente escorreu deliciosamente por sua garganta, tão saboroso e nutritivo, o medo acrescentava um tempero a mais e ela simplesmente adorava. Aquele rato que se denominava um homem gorgolejou horrivelmente e Alcina se afastou, estendeu a mão em direção às suas menininhas que estavam paradas lado a lado encarando a cena.

- Venham aqui – chamou-as carinhosamente – Estão com fome?

As meninas assentiram e se aproximaram, ambas segurando as mãozinhas de Daniela para guiá-la, e Alcina as levou até o homem caído, levantou seu pulso e indicou onde deveriam morder.

- Agora, vocês cravam os dentinhos aqui como mamãe mostrou.

- Alci – disse Ella ao se afastar do homem que aquela altura mal estava vivo e gorgolejava ao se afogar no próprio sangue – Dani ainda é um bebê.

- Ela não é um bebê e precisa aprender, amor.

- Vá em frente então...

Alcina estendeu o braço do homem em direção às filha e Cassandra sorriu exultante, faltando apenas dar pulinhos de alegria antes de cravar os dentinhos afiados na pele macia do pulso exposto, Ella acariciou os cabelos escuros da menina e sorriu para sua expressão faminta.

- Muito bem, querida – Ella elogiou – Você é tal natural...

Foi preciso afastar Cassandra do homem, ela era sempre a mais selvagem ao se alimentar e suas mães precisavam ficar de olho para que dividisse com suas irmãs ou não passasse do ponto certo. Em seguida, Bela se aproximou, por ser dois anos mais velha era mais paciente do que sua irmã, e seus dentinhos rasgaram a carne bem ao lado da marca deixada por Cass.

As mães assistiram, orgulhosas, suas menininhas participarem da primeira caçada ao lado delas. Bela se afastou ao menor comando de Alcina, então a mulher incentivou que Daniela reproduzisse o gesto da irmã mais velha; normalmente não a ensinariam a caçar tão cedo, mas não poderia deixá-la de fora de um evento em família como aquele. Enchendo sua mãe de orgulho, Dani se agachou e usou os dentinhos afiados para rasgar a carne da sua vítima, um pequeno rosnado escapou da sua garganta e para Ella e Alcina não havia coisa mais fofa do mundo; ambas as mulheres sabiam que Daniela estava mais inclinada a mastigar a carne da sua presa do que realmente beber seu sangue, ainda muito acostumada a sua mamadeira para saber exatamente o que fazer.

- Já chega – Ella a afastou com alguma dificuldade – Eu sei que queria continuar, mas lembra do que a mamãe disse? Não pode beber dos mortos, querida.

De fato, o corpo do homem jazia inerte e sem vida jogado no chão como um boneco de pano descartado por uma criança descuidada.

- Vamos, bebê – Alcina pegou Daniela no colo – Mostre seus dentinhos para a mamãe.

Daniela arreganhou os lábios e mostrou as presas em tamanho diminuto, completamente vermelhas pelo sangue.

- Olha pra isso! – Ella comemorou e ajeitou os cabelos ruivos da menininha, Daniela parecia sempre um pouco selvagem ao se divertir e agora sabiam que isso se aplicava a caçadas também – É a nossa vampirinha

- Sim, ela é – Alcina concordou com um sorriso nos lábios e virou-se para olhar para as filhas mais velhas – Elas são.

Ella riu e aproveitou a oportunidade para ajeitar o cabelo de Cassandra e a pegou nos braços.

- Então, vampirinhas, querem ir pra casa e brincar com as suas bonecas novas?

- Quero sim, mama – Bela comemorou e se virou para Alcina estendendo os braços – Mamãe, me pega também?

- É claro que sim, meu amor.

Alcina a pegou com o braço livre e beijou seu rostinho bonito, fazendo Ella sentir uma onda de ternura tão forte que sequer podia explicar. Sua família significava tudo para ela, era o que fazia aquela vida eterna valer a pena. Bela deitou a cabecinha no ombro de Alcina e sorriu feliz ao se aconchegar à mãe.

- Ok, talvez as estejamos mimando – Alcina admitiu – Mas olha só para elas!

- É, Alci, olha só para elas – Ella revirou os olhos em brincadeira – Vamos lá, o carro está ali adiante.

- Você e sua mania de brincar com a comida... – Alcina revirou os olhos em brincadeira – Faz tanta bagunça quanto suas filhas.

- Esse merecia.

- Concordo.

Ella se aproximou e aplicou um beijo carinhoso no rosto de cada filha nos braços de Alcina e então nos lábios macios da esposa, ao que Cassandra protestou por ter ficado por último e precisou aguentar ser praticamente amassada em um abraço de urso da mãe. Ella as amava mais do que tudo.

- Vamos – Alcina chamou e Ella pousou a mão livre na base das costas da sua esposa enquanto caminhavam até o carro, sempre tivera a necessidade de tocá-la de alguma forma – Precisamos de algum tempo em família.

Antes de sair daquele celeiro infernal, Ella lançou um olhar para o corpo inerte no chão. Os olhos do defunto encaravam o teto do celeiro com um brilho opaco e sem vida.

Nunca mais uma criança seria mantida em cativeiro ali, o último cativo daquele lugar maldito seria seu próprio carcereiro.

E havia pessoas que acreditavam que elas eram os monstros a caminhar sobre a terra.



Notas Finais


Nessa fanfic elas são vampiras do modo clássico e não como no jogo.
Desculpem, mas eu não resisti a imaginar Daniela tomando uma mamadeira cheia de sangue... Ela é tão fofa!
Em breve volto com mais contos pra vocês! 🥰 Então deixem comentários e sugestões!


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