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História Lagostins e a Six - Limantha - A groupie Samantha Lambertini (1979 - 1982)


Escrita por: Opspam2

Notas do Autor


Samantha tem camadas e vamos descobrir elas aos poucos.
Adaptação de DJTS completamente BR, em outra década, a nossa década perdida.

Peço desculpas por possíveis erros gramaticais, acontece, a revisão foi pequena.

Capítulo 1 - A groupie Samantha Lambertini (1979 - 1982)


Fanfic / Fanfiction Lagostins e a Six - Limantha - A groupie Samantha Lambertini (1979 - 1982)

Samantha Lambertini nasceu em 1965 no início da Ditadura Militar e cresceu em meio ao movimento da Vanguarda de São Paulo. Criada pelos tios, ganhou fama nas noites paulistanas no início dos anos 80.

 

Arthur Dapieve (autor de Samantha, o fenômeno, Lambertini): Um fato curioso sobre a Samantha Lambertini é que se não fosse o período ditatorial, “o fenômeno Lambertini” não teria existido. Ela nasceu em  26 de novembro de 1965, sagitariana com ascendente em leão, filha dos professores da Universidade de São Paulo (USP) Heleny e Norberto Lambertini.

Teve a perda dos pais ainda pequena em 1973 após o sumiço repentino de ambos. Passou a morar com os tios aos quais detinha sua guarda e foi criada em meio a classe alta de São Paulo

Seus pais adotivos eram Afonso Lambertini, o irmão mais novo de seu pai, casado com Germana Racy,  vinda de uma extensa linhagem militar e de grandes dotes financeiros.

Samantha era uma menina, agora rica, branca, com passe livre entre a Vanguarda Paulistana. Sempre foi linda, sempre teve os lábios desenhados, as maçãs do rosto bem marcadas as quais pareciam inchadas, além dos característicos e volumosos fios ondulados de seus cabelos aos quais se tornaram febre no final dos anos 80. Chegaram a criar produtos capilares “by Sammy Lambertini” mostrando que seus cabelos teriam o mesmo volume do dela. E além da beleza tinha uma voz incrível, não precisava se esforçar, nunca fez aula de canto, era natural como um canto do sabiá laranja.

Ao se mudar para os Jardins - bairro paulistano, tinha tudo ao estalar de dedos; dinheiro, drogas, artistas e noitadas

Mesmo possuindo o que desejasse em suas mãos era uma garota solitária, não tinha primos ou outros familiares próximos, seus tios usaram sua adoção como parte de aceitação a cúpula dos artistas contra o regime militar, aos quais Afonso e Germana apoiavam secretamente.  

Afonso Lambertini era um homem frio ao qual não praticava os valores familiares que tanto defendia, estava sempre presente em mesas de debates artísticos, reuniões secretas com militares e adorava pintar nus masculinos. O mesmo nunca retratou a sobrinha em um quadro, deixava que outros pedissem para a pequena posar. E muitos assim o fizeram, sua beleza despertava algo naqueles artistas que frequentavam as reuniões dos Lambertinis.

Se adicionar a negligência afetuosa dos tios com a falta dos pais, é de se entender a solidão da garota.

Porém Samantha era uma criança muito extrovertida e sociável, tinha um riso fácil e adorava ser o centro das atenções. Gostava de ir ao cabeleireiro somente para conversar com aqueles que estavam no salão e saber das últimas fofocas e tendências das revistas  Nova, Claudia e Amiga. Pedia para cuidar e passear com os cachorros dos vizinhos - sua tia Germana não permitia animais na casa.

Certa vez Samantha quis fazer um bolo de aniversário para o carteiro, o que virou uma piada constante nas reuniões do casal Afonso e Germana com o grupo militar, como eles mesmo relatam: “Onde já se viu querer se misturar com os proletariados”.

Todas essas atitudes faziam parte do seu desesperado pedindo para criar vínculos com pessoas. Porém não havia ninguém que realmente se interessasse pela garota dos pais comunistas, ninguém realmente queria conhecer e saber de Samantha Lambertini. 

E foi neste cenário controverso que ela se transformou no ícone, na lenda, no fenômeno. Nós adoramos gente linda e destruída por dentro. E não dá para ser mais translucidamente destruída por dentro e de uma beleza mais clássica como a de Samantha Lambertini.

 

Samantha Lambertini (vocalista do Lagostins e a Six): Foi em uma das reuniões do tio Afonso que fumei pela primeira vez, estava com o Mário Manga, tive de fingir que sabia o que estava fazendo. Segurei a tosse na garganta, essas coisas, e dei em cima dele como pude. Dá vergonha de pensar nisso hoje, provavelmente foi bem ridículo, mas todos ali se interessavam pela magrela de cabelos esvoaçantes.

            Arrigo me mostrava as músicas da tropicália e as letras que ele escrevia sobre sexo de forma erudita, foi a Suzana Salles que me contou sobre as discotecas e quanto aquilo era libertador.

Nós morávamos em uma localização muito boa, dava para ir andando até o Ibirapuera e ao Banana Power, onde comecei a bater ponto. Eu devia ter uns quatorze, quinze anos quando comecei a ficar de saco cheio daquela casa, daquela rua, procurando o que fazer. Não tinha idade para entrar nas casas noturnas, mas eu ia mesmo assim.

         Se você quer parecer mais velha do que realmente é, basta mostrar o corpo. Aprendi logo que se não usasse sutiã achariam que eu era mais velha, assim como roupa curta, às vezes colocava uma bandana na cabeça e queria ser como aqueles que ficavam nas calçadas das danceterias fumando e com suas garrafas de bebidas.

Elas eram as garotas legais.

Eu estava fumando na calçada com um dos funcionários do Pauliceia Desvairada quando chegou um cara carregando uns instrumentos nos ombros e pegou meu cigarro, trocamos umas três, quatro, frases entre nós, até que ele se virou para o cara e falou: “A gente precisa montar os instrumentos e passar o som”, ai ele se virou pra mim e perguntou:”Você vem?”.  

Foi a primeira vez que entrei no Pauliceia, fiquei lá até às quatro da manhã, ouvi a banda do músico e era algo novo, nunca tinha ouvido aquele tipo de música agitada que fazia o coração pulsar. Suzana estava certa era libertador, me sentia como se fosse parte de alguma coisa.

Dancei, bebi e fumei tudo que me aparecia na frente.

Entrei em casa bêbada e chapada no nível que não lembrava meu próprio nome, me joguei na cama. Meus tios nunca notaram quando eu saia, esse dia não foi diferente.

 No dia seguinte repeti a dose, fui novamente no Paulicéia, no Banana, no Papagaio Disco. Ninguém se importava com minha idade.

Fábio Ferreira (ex funcionário do Latitude 3001): Ah, a Samantha ia muito no Latitude 3001, imagina uma danceteria ser uma Nau em tamanho real no meio da 23 de Maio, aquilo chamava muito atenção dos jovens.

            A gente sabia que a maioria das meninas dali eram menores e mesmo assim deixava entrar, deixar as crianças se divertir né. Eu comecei a reparar nela depois de um tempo frequentando a Nau. Não tinha como não reparar, esguia, com um sorriso… O sorriso da Samantha era sua marca registrada. 

            Ela era bem ingênua e vulnerável, mas dava para ver que tinha algo de especial, talvez a postura e a confiança. A Samantha era a atração no meio daquele barco enorme.

Sempre tinha algum cara de uma banda nova encostando nela, era o início dos anos 80 e o New Wave estava começando, então tinha muita bandinha que aparecia lá para tocar.

Na noite em que a Gang 90 e as Abssordettes foram tocar, tinham outras duas bandas: Dado e o Dente de Leão; e os Tufões. Eram uns caras barbados correndo atrás de rabo de saia, as meninas eram novas, eles sabiam e se gabavam de se relacionar com elas.

Esse dia estava bastante cheio, o guitarrista desse Tufões não tirava os olhos dela, agarrava e ia arrastando ela entre os andares do Latitude. Teve uma hora que cheguei neles para saber se estava tudo bem. 

Eu realmente me preocupava com a Samantha.

Samantha: Aprendi sobre sexo ainda nova, nas reuniões do tio Afonso, eles falavam sobre sexo, escreviam sobre sexo, desenhavam sobre o sexo, então era um assunto corriqueiro, mesmo que ali dentro eu fosse proibida de falar, só ouvir e rir.

            Nas noites você entende que tem que agradar o cara que está afim de você, se ele te olha é porque te quer e eu queria que alguém me quisesse. Era assim que funcionava, nós estávamos lá para agradar os caras .

Depois de muita, mas muita terapia eu consigo entender o que acontecia comigo naquela época.

            Perdi minha virgindade no Latitude, era um cara de uma banda… Não importa qual, ele ficou andando comigo para cima para baixo dos andares da Nau, Ele estava afim de mim e eu afim dele, por ele dizer que estava afim de mim. Me dizia o quanto eu era linda e o quanto eu o provocava. Eu só estava lá, sorrindo e sendo simpática, de certa forma isso era provocativo.

Ele me levou até o último andar, que chamávamos de porão, era onde ficavam os jogos, os tabuleiros, onde a galera ficava para fumar e conversar sem o barulho das bandas. O Latitude era um barco de verdade, todo de madeira com a lateral, até nos fundos, de janelas redondas e dela era possível ver o lago que construíram em torno do barco.

Pela janela podia-se ver também uma briga falsa de piratas, os atores se vestiam com chapéu, pé de madeira e lutavam de espada de plástico. Tinha uma também sereia, era uma figurante que se vestia com um biquíni apertado e ficava acenando para todos.

Ele me levantou meu vestido e empurrava o seu corpo contra o meu como se socasse um saco de batata. Não senti nada, sei que deveria, que deveria me mexer ou fazer algo, mas estava assustada o suficiente para ficar imovel e deixá-lo fazer seu trabalho.

Foi incômodo e dolorido.

No final ele virou para mim fechando o ziper da sua calça: “Se quiser voltar lá para seus amigos. Mais tarde tem nosso show hem”.

Eu não tinha amigos, mas sabia que era o sinal para eu ir embora e realmente desejava voltar para as partes de cima da danceteria. Não veria o show deles.

Renata Prado (ex artista da Vanguarda Paulista e escritora de As Manas): Conheci a Samantha no Projeto SP, na Barra Funda, era noite da Blitz e o lugar estava cheio.

Todos os olhares se voltavam para ela. Era olhado para ela que o Evandro cantava, que os caras viravam o rosto para acompanhar e as garotas invejavam.

Samantha: A Renata virou minha melhor amiga - e única.

Renata: Foi com a Samantha que acabei entrando no meio da Vanguarda Paulista, a gente odiava esse nome, mas os jornalistas achavam que éramos os sucessores da tropicália. Não, estávamos bem mais no underground. Escrevi letras para a Tetê Espinola, sendo a única que saiu do nosso mundinho e acabou caindo nas graças do público.

A Samantha era a minha irmã mais nova, íamos para todos os lugares juntas. Certa vez fizemos um som com uns garotos da Zona Sul, ela tinha uns quinze e eu uns dezenove, nesse dia todo mundo estava levemente dopado de cola e tomavam anfetamina. Ela dormiu no chão em meio a um monte de gente ainda doidona.

Eu me perguntava constantemente: Será que ninguém além de mim se preocupa com essa menina?

A resposta era não.

Samantha: As drogas eram fáceis e se você quisesse ser magra e aguentar a paulada de um dia depois do outro a benzedrina ou bifetamina tinham que fazer parte do café da manhã.

Renata: A Samantha quis morar comigo, era até compreensível, ela e um vaso naquela casa tinham o mesmo efeito. Mas eu só permiti depois que colasse o grau.

Ela era muito inteligente e tinha facilidade para absorver informações, dava inveja, ela tinha um raciocínio rápido e uma língua afiada.

Samantha: Adorava ler, lia de tudo, de bulas dos remédios da tia Germana até a bíblia. Amava Admirável Mundo Novo e  Guerra dos Mundos de H.G Wells.  As Meninas da Lygia Fagundes Talles, Casa de Pensão do Aluísio Azevedo, a coleção Sabrina da Penny Jordan, entre outros. Me perdia nas leituras, às vezes ficava tão compenetrada que deixava as cinzas do cigarro cair nas páginas.

Quando as reuniões com  artistas ou com os militares aconteciam no andar de baixo, eu ficava lendo no meu quarto como abajur aceso. Lia qualquer coisa que aparecesse, era como se meu cérebro precisasse comer aquelas palavras.

Mas odiava a escola, eram sempre os mesmos assuntos e exaltação do Governo decadente. Eu não era alienada, sabia que aquilo estava para ruir e a metodologia do ensino era deprimente por continuar a tentar emplacar ideias de nacionalismos para nós.

As quartas cantávamos o hino da Bandeira e me colocaram para cantar, precisava ser alguém da minha sala e infelizmente fui a escolhida para fazer. Como me saí bem não trocaram mais.

Tinha vontade de vomitar toda vez que pegava o microfone para cantar. Como eu poderia entoar sobre a bandeira se foi ela que matou meus pais?

Me formei em 82 e foi o melhor dia da minha vida, quando entreguei o diploma  nas mãos da Renata sabia que estava livre, finalmente poderia respirar.

Quando estava arrumando minhas roupas, minha tia entrou no quarto me perguntando: “Você viu meu exemplar do Lusíadas?" . Eu apenas respondi: “Sei lá, não vou morar mais aqui”. Ela  respondeu : “Vou ter que comprar o jornal para pegar outra edição”, deu de ombros e saiu.

Renata:  Nós moramos em um dos novos apartamentos da Santa Cecília e morar com a Samantha era como ter um Golden em casa (risos), ela não dormia e me acordava animada, sempre me fazia levantar com um apelido novo, dizia: “Bom dia, meu alecrim dourado”.

Ela tinha um riso mais alegre, mais leve, sorria com os olhos e também estava mais madura, não era mais aquela garota inocente de pouco tempo atrás.

Quando comecei a me envolver com os músicos e a compor com eles, passei a estudar canto, praticava demais para conseguir encontrar as notas e como sugerir as interpretações.

Às vezes a ouvia cantar no chuveiro ou lavando a louça, ela cantava Caminhante Noturno, sua voz soava tão fácil, empostada e afinada. Queria sentir raiva, mas era impossível sentir raiva de alguém como a Samantha.

Samantha: As danceterias estavam sendo tomadas por bandas de New Wave, cada dia eu conhecia um baterista novo, um vocalista novo e entrava nos lugares para acompanhar as bandas.

O Brisa tocaria naquela noite no Rose Bom Bom e estava de azaração com o vocalista, então enquanto desço a Oscar Freire vejo o Paulão brigando com uma menina punk, de jaqueta de couro, coturno, cabelo preto meio arrepiado que parecia ter levado um choque e balançava irritantemente um livreto nas mãos enquanto gritava com ele no meio da rua.

Paulo Carvalho (ex segurança do Rose Bom Bom): Sem nome na lista ou apresentando o ticket não entrava.

Heloisa “Lica” Gutierrez ( jornalista,ex colaboradora da revista Bizz): Eu gritava com um armário 4x4 que queria entrar para entrevistar os caras do Brisa e do Voluntarios da Patria antes dos shows e lógico dar um jeito de acompanhar depois.

Na época eu escrevia para alguns Fanzines e era importante, a cena pós-punk, punk e new wave estavam fervendo e precisávamos falar sobre o som que estava rolando nas ruas.

Mas o cara não entendia e me negava a entrada, até que aparece aquela pequena burguesa cheirando cola com perfume do Jardins. O segurança apenas abre a porta e a deixa entrar. Não aguentei e gritei, abrindo os braços fazendo uma cena mesmo: "Essa groupie cheirando a cola você deixa entrar, agora eu, que só quero falar com os caras me barra! Mais vale uma mamada antes do show do que sair nos jornais!”

Paulo: Eu só disse:"Tá crowd garota, xispa daqui”. Quando fui fechar a porta às minhas costas, vejo a Samantha voltando.

Samantha: Quem ela pensava que era para falar de mim? Gritei de volta: “Não sou groupie não. E nem tô aqui para dormir com os músicos, eu vim pela música, igual você! Só que diferente de você, além de tomar banho, eu sou a inspiração para as músicas deles, eu sou uma musa!”.

Lica: Dei risada na cara dela.

Samantha: Quis socar aquele nariz enorme e aquela cara branquela.

Lica: O 4x4 puxou a garota pra dentro, ela ficou irritada, deu pra ver nas narinas se abrindo e as sobrancelhas cerradas em desprezo. Continuei rindo e xingando da calçada: “Vai tomar seu leite, ô maria-xampu!".

Samantha: O Rose era charmoso, a decoração era toda em preto e branco, o chão era quadriculado, as mesas com toalhas de vinil roxo, sofás de vinil, persianas pretas, caixas de som, máquinas de fliperama, bar e tinha até uma pequena loja lá dentro.

A casa era toda envidraçada e na galeria haviam luzes de neon coloridas, que ao abrir as persianas, invadiam com sua luz a pista.  O Brisa tocou suas músicas. Jhonny, era um cabeludo magro, mas musculoso, cantava e tocava sem camiseta. As músicas eram agitadas, a bateria era muito ruim, descompensada, porém o pessoal só queria pular e se empurrar.

No final do show cheiramos algumas carreiras, a noite de São Paulo brilhava mais que tudo, o pó cintilava naquela cidade. Quando estavamos fumando na cama depois do sexo ele me disse:  “Eu te amo tanto e nem sei porque você não me ama também”.

Respondi: “Eu te amo o tanto quanto me permito amar alguém”. Era verdade. gostava de estar com ele porque ele gostava de mim, mas aquilo não era amor. Já havia sido vulnerável antes e não me permitiria ser de novo.

Ele não poderia me iludir.

Eu tinha insônia e simplesmente não conseguia dormir, já o Jhonny até roncava. Comecei a bisbilhotar as coisas dele e achei uma folha muito rasurada com uma letra que ele estava escrevendo. Claramente ele estava falando sobre mim, tinha os versos: "Dezessete anos e fugiu de casa/ Pelo caminho garrafas e cigarros/ A vida é bela o paraíso um comprimido”.

Comecei a ler aquilo, estava errado, falava dos meus brincos grandes, do coração vazio e tentava rimar algo com asfalto. Peguei um lápis e comecei a reescrever e organizar os versos. Me incomodou como tentava me retratar de forma tão vaga, então deixei uma estrutura que não falasse necessariamente de mim, mas do que estava acontecendo naquele ano. Era como se fosse um retalho de todas as garotas que eu conhecia pela noite.

Era para a música falar de todas e não de uma, mas ele era burro o bastante para não notar o que tinha na frente.

Quando ele acordou joguei o papel nele e falei: "Arrumei a letra, deveria ser sobre todas as meninas, não sobre mim. Mas é só uma sugestão”.

Ele leu e me olhou com a cara de quem estava tendo uma ressaca braba: “O que acha de eu colocar um turru, turu no refrão?”.

Aquilo me irritou e eu só respondi: “Faz o que quiser, se quiser enfiar no cu enfia também”.

Renata: Natasha estourou, tocou na 97 FM e virou hino nas rodas de amigos. Todas queriam ser a Natasha, mas todas já eram a Natasha. A letra era da Samantha, porém o Jhonny fingiu que sonhou com a música e acordou já cantando ela.

Jhonny Silvestre ( ex-vocalista do Brisa): Naquela época a gente fumava e cheirava 24hs por dia, foi a mão de Deus que me fez escrever essa música.

Renata: Ninguém via a genialidade que aquela garota tinha, nem mesmo ela. As pessoas só queriam se aproveitar dela. Se tornou minha missão fazer a Samantha usar a voz e o talento da escrita.

Samantha: Eu não suportava ouvir Natasha, as meninas que iam às danceterias e acompanhavam as bandas de perto achavam legal ser uma inspiração, mas eu não. Não mais.

Antes fosse só o filha da puta do Jhonny que me usou.

Certa vez estava na padaria Basilicata, era de manhã, voltava de mais uma noite de algum lugar, com alguns caras, algumas músicas e muitas drogas. Pedi café e champanhe, era um equilíbrio perfeito. O champanhe me dava sono, já o café acelerava. Então os dois juntos davam um balanço legal, um baratinho de leve.

Quando chegou meu pedido no balcão, o cara sentado na banqueta ao lado começou a rir, disse que aquilo era doido e que iria servir isso na sua casa noturna.

Meses depois lá estava, no La Cidade, o drink café com champanhe chamado  “la manhãna”.

Ah nem fodendo, depois disso eu não deixaria mais ninguém usar minhas ideias, elas eram minhas!

Eu não tinha mais o menor interesse em ser a porra da musa de alguém.

Eu não sou a musa.

Eu sou esse alguém.

E ponto final.


Notas Finais


Notinhas:
Arthur Dapieve é jornalista e autor de diversos livros biográficos de bandas, dentre eles O Trovador Solitário, sobre Renato Russo. Sim, tem bastante inspiração do Renato na história, mesmo que de forma sutil. Culpa do Cao que colocou a bandinha para tocar "Que país é esse?".

Durante os anos da ditadura militar era comum professores "sumirem".
O movimento da Vanguarda Paulista era mesmo tido como sucessores da Tropicália, mas o pessoal gostava do underground e como era composto por universitários eram doidos como todo mundo na época. É os anos 80 sabe.

É isso gente, até o próximo capítulo.


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