História Largue seu preconceito - Mamãe, eu amo um garoto

Mamãe, eu sei que você deve estar me odiando agora, mas eu preciso desabafar e contar tudo que aconteceu comigo.

Eu sei, quem escreve cartas hoje em dia? Mas foi a única forma que eu encontrei de falar com você, já que fui bloqueado de todas as suas redes sociais e nenhum de meus telefonemas são atendidos.

Não faço ideia se a senhora irá ler ou apenas jogará essa carta fora antes mesmo de abri-la, mas eu ainda continuo sendo seu filho, e eu realmente queria reencontrar você, e talvez no futuro, pudéssemos voltar a ser uma família.

Tudo começou há dois anos atrás, quando eu percebi que estava deprimido. Todos os dias pareciam iguais e sem cor, não havia nada de diferente além da monotonia que minha vida era. 

Rotina, rotina e mais rotina.

Acordar, trabalhar e dormir. Para no outro dia recomeçar esse ciclo de novo e de novo.

Nada além disso.

Mas durante meus 38 anos de vida sempre foi assim, por que só agora comecei a pensar sobre isso?

Por que eu me sentia assim? Quer dizer, rotina faz parte da vida de todo ser humano, não é?  E além disso, eu, Kim Taehyung, possuía uma das empresas mais bem sucedidas do país, dinheiro não era um problema, tinha uma mulher linda ao meu lado, e uma filha mais linda ainda. Afinal, o que faltava? 

Mas a cada dia que passava eu parecia me afundar mais em uma tristeza que não tinha explicação. Parecia que faltava algo. 

Então, após alguns meses de relutância, resolvi que precisava de ajuda profissional. Conversando com o psicólogo, ele disse que eu estava estagnado a uma rotina. Não possuía mais sonhos, nem ambições, eu não estava mais vivendo. 

Mas, agora, pensando bem, eu nunca realmente vivi, não é mãe? Minha vida sempre foi em pró dos outros. Desde que eu nasci sempre fui moldado para ser o filho perfeito e bem sucedido. Nem minha profissão eu pude escolher. Você se lembra, mãe, o quanto eu gostava de fotografia? Eu pretendia seguir essa carreira até a senhora dizer que não daria futuro, e praticamente, me obrigar a fazer administração. 

Mas esse era o seu sonho, não o meu. 

Até meu casamento foi moldado pela senhora, me fez terminar com a minha primeira namorada, pois segundo você, ela não possuía "os padrões" que julgava necessários. Então, quando conheci a Kim Sun-hee e você descobriu que ela era de uma família rica, apressou as coisas e me fez casar com ela, pois VOCÊ julgava ser o certo para mim.

E eu nunca questionei nada, afinal, você só queria o meu bem, certo?

No fim eu descobri que estava com depressão, engraçado não? Depois de tanto tempo, só com os meus 38 anos eu fui questionar toda minha vida e em como você manipulou todas as etapas dela, não deixando eu tomar uma decisão.

O meu psicológo me aconselhou a tentar mudar aos poucos minha rotina, tentar ir em outros lugares ao invés do habitual caminho casa e trabalho. E se mesmo assim não adiantasse, iria fazer algum tratamento, provavelmente com remédios. 

Foi pensando nas palavras do psicólogo que naquele dia há dois anos atrás, após um longo e cansativo dia na empresa, resolvi ir em uma cafeteria pegar meu próprio café antes de ir para casa, invés de mandar minha secretária fazer isso. Assim, mesmo que sendo um negócio sem importância, eu estaria saindo da rotina.

Mamãe, foi ali a primeira vez que eu vi ele. 

Jeon Jungkook.

Consigo me lembrar com clareza dele limpando o balcão da cafeteria com um pano. Me sentei num banco em sua frente e ele sorriu me perguntando o que eu desejava.

Céus, ele possuía o sorriso mais perfeito que eu já havia visto em toda minha vida. E eu aposto que se a senhora largasse seu preconceito e conhecesse ele iria achar a mesma coisa. 

Pedi meu habitual café forte sem leite. Afinal, tudo em mim era assim. Amargo e sem graça. 

Não sei como, mas começamos a conversar. Eu comecei a apreciar sua companhia, tanto que passei a ir todos os dias após o trabalho lá para tomar um café e ver o garoto que aos poucos invadia minha vida e pensamentos.

Mais um dia fui até lá e fiz o mesmo pedido e ele comentou sobre minha paixão por café amargo e disse que combinaria com torta, e mesmo eu não sendo fã de doces resolvi pegar um pedaço. E ele estava certo, o amargo com o doce faziam uma ótima combinação. E mais uma vez ele mostrara aquele sorriso que eu tanto amava enquanto eu elogiava seu talento culinário, me fazendo perceber que eu queria ver mais daquele sorriso. Então sempre que podia tentava fazê-lo sorrir só para ver seus olhos quase fecharem e sua bochecha ficar corada.

Ao longo de oito meses conversávamos todos os dias até o horário que a cafeteria fechava, meia-noite. 

Minha relação com minha esposa era tão fria que ela nem me questionou o fato de eu estar chegando mais tarde em casa. Ela nem se importava.

Em nossas conversas, descobri que o Jungkook tinha apenas 19 anos e cursava gastronomia. Esse fato me fez gostar mais dele, achava incrível que ele cursava algo que gostava e não seguiu uma profissão qualquer por causa da ascensão social, como era meu caso. 

Eu tentei, juro que tentei, mas foi impossível não cair nos encantos dele. Me vi apaixonado pela forma quase inocente que ele via o mundo. Me apaixonei pela sua risada, e até mesmo sem admitir, gostava de quando brincava com a nossa diferença de altura, pois mesmo com 19 anos de diferença, aquele garoto estupidamente alegre era bem mais alto que eu.

Comecei a contar também sobre minha vida, da minha filha que estava no ensino médio com seus 15 anos. Contei sobre minha esposa, e até sobre minha paixão por fotografia.

E, droga, eu sentia que ele ficava incomodado quando eu falava sobre minha família, principalmente da minha mulher. E percebi que se eu descobrisse que ele tivesse alguém em sua vida eu iria me sentir incomodado também, e então eu comecei a perceber a proporção que aquilo estava tomando. 

Era errado, não? Eu ainda era casado e tinha uma filha. Eu não deveria estar caindo de amores por alguém com a idade para ser meu filho, e ainda por cima um homem.

Com isso em mente eu resolvi me afastar. Passei a mandar minha secretária buscar o café lá, pois não queria o encontrar e cometer alguma loucura. Eu, Kim Taehyung, com 38 anos fugindo de alguém como uma garotinha do colegial. Eu me sentia tão ridículo, mas não podia botar toda minha vida e conquistas em jogo, e afinal, o que ele iria querer com alguém tão sem graça e com o dobro da idade dele? Eu poderia estar confundindo as coisas, não é? 

Mas com o meu afastamento parece que todos os sintomas da depressão voltaram com força. Eu não sentia mais vontade de sair da cama. Só queria desaparecer.

Meu plano de me afastar estava dando certo, até no dia do meu aniversário. Acordei, encontrei minha esposa e filha tomando o café da manhã. E nenhuma das duas disse nada. 

Haviam esquecido do meu aniversário.

Apenas soltei um riso sem humor para eu mesmo e fui para a empresa, pois eu só servia para isso em casa, gerar dinheiro. 

Naquele dia resolvi adiantar alguns contratos que eu tinha que analisar e assinar. Não queria ir para casa. Apenas pedi que a minha secretária trouxesse meu café de sempre e a dispensei, pois já havia dado o horário do expediente e não havia mais ninguém no prédio.

Escutei a porta abrir e escutei uma voz masculina me chamando. 

Era ele. 

Naquele instante senti todo o ar desaparecer. 

Ele começou a falar, mas eu não estava prestando atenção em sua fala. Apenas me foquei na beleza dele.

Ele estava tão lindo.

Jeon era a pessoa mais linda que eu já havia visto. 

E então tentei me focar em suas palavras e ele perguntava o que havia de errado e por que eu havia desaparecido. 

Eu não conseguia falar. Me sentia tão ridículo de admitir em voz alta que estava fugindo. 

Mas então, mãe, Jungkook apenas se aproximou e me beijou. Senti todas os medos e incertezas desaparecerem naquele momento. 

Eu só queria mais e mais dele. E ele me deu mais. 

Naquela noite, em meu escritório, eu deixei ele me levar até o sofá que havia no canto da sala, me despir e me fazer dele. 

Enquanto o corpo dele se movia sobre o meu e minhas unhas cravavam em suas largas costas, todos meus questionamentos desapareciam. A cada jura de amor que ele sussurrava em meu ouvido, cada vez mais parecia que aquilo era o certo. 

Em meio ao topor do prazer foquei meu olhar em seu rosto suado. Toquei em sua bochecha e ele sorriu e beijou minha mão, logo após beijou meus lábios abafando meus gemidos. Ele é tão lindo e doce, e até hoje não sei como ele se apaixonou por mim, por alguém tão amargo e sem graça.

Quando finalmente chegamos em nosso limite, o abracei forte. Nunca tinha experimentado algo tão bom. Após alguns minutos, ele me fez esperar e correu para pegar uma caixa que havia trazido com ele. 

Ele havia se lembrado do meu aniversário. Senti meus olhos ficando úmidos enquanto eu sorria.

Com aquele sorriso que eu tanto amo ele me entregou a caixa e lá de dentro eu puxei uma câmera.

Mamãe, ele disse que escolheu aquele presente pois eu não deveria desistir de nada por causa da opinião dos outros e que nunca é tarde demais para seguir meu sonho. E em meio a risadas e beijos tiramos as primeiras de muitas fotografias nossas. Juntos. 

Então eu percebi que eu não precisava de nenhum remédio ou tratamento, eu apenas precisava de Jeon Jungkook em minha vida para ser feliz.

E no final, Jungkook tinha razão. O doce combinava com amargo. O seu jeito doce de ser quebrava o meu amargo, e assim, fazíamos a combinação perfeita.

Sim, mamãe. Eu estou apaixonado por um garoto e por isso eu larguei minha família e eu espero que um dia minha esposa e minha filha me perdoem, mas eu tenho que começar a viver por mim mesmo, e não pelos outros. 

Mãe, ele tem o sorriso mais bonito, a voz mais angelical e é a pessoa mais inteligente que eu conheço. E eu seria imensamente feliz se a senhora tentasse largar um pouco do preconceito e viesse visitar meu novo lar, ao lado da pessoa que eu amo. 

Só lembre-se que eu ainda sou seu filho e que eu te amo muito. 

Com amor,

Kim Taehyung.