História Last Season - Romance Gay - Lembrança

               Sábado - 23:39
                                Andrew: 

Tínhamos acabado de jantar, a dona Lauren foi a primeira a subir para o quarto dormir, Aileen e Oliver também já tinham ido. 

Eu, o Adam, Lisa e a sua amiga Vitória ficamos na sala jogando jogos de tabuleiro em dupla por pelo menos umas 2 horas, e todos já estávamos cansados e com sono.

- Melhor vocês duas irem dormir. - Falei quando terminamos mais uma partida do jogo. - Amanhã vamos acordar cedo pra irmos na cachoeira.

- Vamos, Lisa. - Vitória falou se levantando e jogando seus longos cabelos cacheados pra trás. - Vamos separar as roupas.

- Tudo bem, vou tomar um banho antes. Boa noite, meninos. - Lisa respondeu e também se levantou indo com a Vitória até o andar de cima.

- Tá com sono? - Adam perguntou, ainda sentado no tapete, de frente pra mim em volta da pequena mesa de centro redonda. - Porque eu não estou.

- Não, não tô... Vou ficar deitado na cama usando o celular até conseguir dormir.

- Beleza, vou tomar um banho. - Respondeu e se levantou, indo ao banheiro do andar de baixo.

Arrumei o jogo na caixa, organizei algumas coisas que estavam desarrumadas e fui para o quarto.

Era um cômodo bonito, com um chão de madeira clara, duas camas e ao lado de cada uma tinha uma pequena cômoda, um tapete preto no centro, dois guarda-roupas pequenos e uma mesa em um dos cantos. Adam havia colocado seu notbook em cima, provavelmente terminando algo pendente da escola.

Abri meu guarda-roupa, peguei uma blusa leve e vesti, me deitei na cama da esquerda e fiquei usando o celular... realmente estava sem sono algum.

Alguns minutos depois a porta do quarto se abriu. Adam entrou, apenas com uma toalha vernelha amarrada na cintura, pegou algumas roupas e saiu, mas antes de realmente passar pela porta olhou pra trás e por uma fração de segundos olhou nos meus olhos.

Me virei para o outro lado, com uma sensação horrível no peito. Eu sabia que não podia, que não daria certo, que em hipótese alguma eu estragaria uma relação de amizade tão boa que tínhamos, mas e agora? Como eu iria continuar isso sem conseguir ficar desse jeito perto do Adam? E não entrava na minha cabeça como eu podia sentir isso com uma pessoa oposta a mim.

Não creio que Adam desconhecia esse sentimento, já tivemos uma conversa breve sobre isso, e não foi nada bom, eu estava bêbado e ele nós dois fomos dormir na casa do Oliver depois de uma festa, no ano passado. Queria apagar isso da minha memória.

                             Lembrança: 

- Cara, você tá só o bagasso. - Adam falou e se deitou ao meu lado.

- E você bebeu mais que eu e ainda tá de boa. - Respondi me virando pra ele e sorrindo.

- Resistência, um dia você se acostuma. E eu nem bebi tanto. - Adam respondeu também se virando pra mim é sorrindo, mostrando duas covinhas em suas bochechas.

- Você tá bonito, sabia? - Falei me sentando... - Com essas argolas nas orelhas e esse cabelo amarrado.

- ... Obrigado, eu acho. - Ele respondeu, parecendo confuso e envergonhado.

Eu estava bem bêbado, no dia seguinte me esforcei pra lembrar dos detalhes e tive uma ressaca horrível, mas creio que foi bom isso ter acontecido no final das contas.

Ele também se sentou de frente pra mim e ainda me olhava confuso. Comecei a me aproximar dele, coloquei a mão direita sobre seu rosto e comecei a curvar meu corpo sobre o seu. Nossos rostos estavam a centímetros de distância e eu sentia cheiro de álcool vindo dele e de mim, até que ele segurou meus pulsos e se levantou da cama. Ainda me lembro do perfume que ele usava naquela noite e do longo suspiro que ele deu.

- Andrew, é melhor você descansar. Tá bêbado pra caralho. - Ele estava de pé virado de costas pra mim, e eu também não me virei, fiquei sentado pensando naquela merda toda.

- Desculpa.

- Por que? - Ele perguntou e saiu do quarto,  depois disso nunca mais tocamos no assunto.

                          ●●● 

E agora, naquele quarto quente eu me lembrava de toda essa merda que tinha acontecido. Isso só fez eu gostar mais ainda do Adam, ver que ele não foi babaca comigo ou não ter se afastado me surpreendeu. Ele apenas agiu normalmente.

A porta se abriu novamente e ele entrou, se jogou na cama e respirou fundo. Estava vestindo uma camisa vermelha grande e uma samba-canção azul e preta. Levantei da minha cama e liguei o ventilador de teto, o calor parecia ter piorado.

- Cadê o Andrew que conheço, aquele que dorme super cedo? - Adam perguntou sorrindo olhando pra mim. Larguei o celular e comecei a encará-lo.

- Esse Andrew está com insônia.

Adam se levantou e sentou na minha cama, ao meu lado. Me afastei pra que houvesse mais espaço.

- Você tá bem? Esse ano tá complicado, né? Terceiro ano... um monte de pressão na cabeça.

- Sim, tô muito feliz de estar no último ano, mas a pressão é bem grande. E você? Como está em casa? - Perguntei lembrando o quanto ele dizia ser difícil conviver com os pais.

- Nunca está tudo bem em casa... Sempre uma reclamação diferente, um motivo pra eu ser um desgosto pra eles. - Adam respondeu parecendo completamente triste.

- Imagino o quanto é difícil... Mas pense nos nossos planos, vamos pra faculdade , eu, você, a Aileen e o Oliver, as coisas vão melhorar e vamos morar juntos. - Falei tentando animá-lo. 

Tínhamos planos de morar juntos, ou pelo menos fazer a faculdade e não nos separamos, Adam planejava morar comigo, com o Oliver ou a Aileen, trabalhar e dividir os gastos.

- Verdade, isso tudo vai acabar logo... - Ele respondeu parecendo um pouco melhor. - Você é o melhor amigo que alguém poderia ter. 

Adam olhou nos meus olhos e parecia guardar mil coisas dentro de si. Era como se dentro daqueles olhos castanhos tivessem tantas coisas que eu queria saber, ouvir, ajudar.

Olhei pra frente e respirei fundo. Adam era uma pessoa incrível, que eu sabia exatamente a personalidade que tinha e isso só fazia eu querer protegê-lo mais ainda.

De repente, senti uma mão quente em minha perna, e quando olhei para o lado Adam me encarava com o olhar mais confuso que já vi, um misto de tristeza com felicidade. Ele aproximou um pouco mais e deitou sua cabeça em meu ombro, ainda com sua mão em minha coxa. Quase como se fosse um instinto, comecei a fazer carinho naqueles cabelos bagunçados, amarrado pra trás todos desajeitados.