História Last Station (Taekook) - Bogo Sipda - único -

Tudo aconteceu tão rápido. Em um dia éramos completos desconhecidos, eu sendo apenas mais um ser humano no meio de tantos outros, e logo em seguida, Jungkook esbarrava em mim, em mais um dia de calor intenso dentro do metrô.

—Ah, me desculpe—.

O garoto me olhou um pouco assustado, carregava nas costas uma mochila preta e com um tamanho exagerado. Era como as mochilas de grandes viajantes, mas estávamos em um metrô lotado, as sete da noite de uma terça-feira e não em uma escalada grandiosa pelo Everest.

Claro, entendo que pela superlotação seria impossível não esbarrar em alguém. E o que me deixou espantado mesmo fora que diferente de todas as pessoas que esbarravam em mim, aquele garoto foi o único a pedir desculpas. E não era nem pelo fato de ele ser muito mais jovem, naquele instante eu senti algo diferente nos orbes meninis, pude sentir a beleza de dentro para fora.

E lá estávamos, dois desconhecidos, quase cinquenta pessoas apertadas em um metrô, duas almas que juraram serem feitas uma para a outra. Quem imaginaria que dentre vários outros garotos eu me cativaria justo por Jeon Jungkook.

Jeon sempre se mostrou pouco, mas pelo pouco que se mostrava, muito eu via. Cada detalhe não me passava despercebido, nunca passou, desde o primeiro dia, aquele no metrô.

Durante dias me perguntei, por quê ele pediu desculpas?. Ninguém nunca o fazia, a tempos não ouvia tais palavras de algum desconhecido. Mas tudo mudou após o primeiro “Obrigado” também.

Eu não pensava mais no porque de ele ter pedido desculpas, mas começava a pensar no por que ninguém mais o fazia. E fora nas pequenas coisas que ninguém ousava fazer e Jeon usava com frequência, que me apaixonei.

Ele era de uma graça sem fim, todos os dias pareciam únicos ao seu lado. Mesmo que fossem repetitivos e cansativos no trabalho. O garoto sempre dava um jeito de virar tudo de cabeça para baixo e me mostrar o melhor de todas as partes ruins.

Era sem dúvida alguma, minha luz.

—Hyung, o que está fazendo?—.

Os pés descalços vieram em direção aos meus. Apaguei rapidamente o cigarro, sabia que o garoto repudiava meu vício. Seus braços deram a volta em minha cintura, seu peito encontrou minhas costas e ficamos por um tempo aproveitando de nossas companhias e da brisa fresca na sacada de nosso apartamento.

—Estou apenas observando as pessoas, Guk—.

—Você não os acha incríveis?—.

—Incríveis? Um cara acabou de ser assaltado perto do beco. Não há nada de incrível nelas Guk, são todos poços vazios e escuros—.

O pequeno apartamento em que morávamos não residia em um bom bairro, por mais que eu tivesse tentado alugar o melhor apartamento da cidade apenas para meu garoto, meu emprego não nos deu muito mais que algo pequeno, em um bairro afastado e com a vista deplorável de um beco escuro.

—Suas ações são insanas. O homem perdeu o controle, mas não é isso que os tornam fascinantes aos meus olhos, Tae—.

Eu poderia questiona-lo, mas fui subitamente puxado para de volta á sala quente de nosso apartamento.

—Vou fazer um café—.

O garoto foi para a cozinha enquanto eu me sentava sobre o tapete claro da sala. Sempre que perdia o sono era assim.

Ele nunca me deixava sozinho nas madrugadas difíceis.

Jungkook parecia ver além do que qualquer um via, tudo através de seus olhos parecia mais bonito, mais vivo, até mesmo a coisa mais horrível do mundo. Eu nunca poderia entender tais mistérios, mas para mim ele era um tipo de ser superior a nós, humanos. Me espantava a inteligência e raciocínio óbvio daquela pequena criatura de olhos jabuticaba e fios escuros.

Ah! os seus lindos fios negros.

Fios estes que foram se perdendo lentamente, não levaram mais do que alguns meses para que o garoto estivesse completamente sem nenhum dos fios.

Ele chorava, chorava muito. Mesmo que eu dissesse o quanto havia ficado lindo assim.

Ele chorava, e eu também, mas não era exatamente pelo cabelo perdido. Muito menos pelos remédios tomados, ou por não conseguir sequer mais dormir em nosso pequeno apartamento.

—Droga Guk, eu fumo desde os dezessetes anos. E você nunca sequer colocou um dos malditos cigarros na boca—.

Apertei suas mãos, ele não respondeu. Não porque não queria, mas porque os fios e tubos que o ajudavam respirar não o deixavam.

Os dias pareciam passar tão rapidamente, e quando dei por mim, a primeira neve do inverno caia sobre a janela do hospital.

E eu sabia, sabia que estava chegando a hora.

Não era como a hora que eu tanto esperava para chegar do trabalho e abraçar meu garoto, ainda com a mochila grande nas costas. Não era como a hora em que acordávamos bem cedinho e o mais novo me enchia com suas carícias e manhas. Ou como as horas em que passávamos dando prazer um ao outro entre as quatro paredes do quarto pequeno e abafado.

E mesmo querendo que essa hora nunca pudesse chegar, ao contrário das outras boas horas. Ela chagou rápido, tirando meu bem preciso de mim.

—Hyung, sabe o que eu mais acho fascinante nas pessoas, todas elas?—.

Os tubos não mais atrapalhavam a fala de Jungkook. Ele respirava com dificuldade, mas seus olhos ainda brilhavam. Como na primeira vez, no metrô.

—Eu acho fascinante o fato de todas viverem tanto, fazendo o mau. Talvez eu tivesse que fazer o mau também não é? Talvez eu pudesse viver mais assim como os outros—.

A voz baixa e rouca foi cortada por uma tosse seca, eu gostaria de faze-lo parar de falar pois sabia o quanto se esforçava no ato. Mas ainda ali sua voz me acalmava.

—Não fale tolices, meu amor. A maldade não traz bem nenhum a ninguém, descanse tendo em mente que apenas pessoas de corações​ bons, como o seu, poderão ir para o céu estrelado—.

Outra tosse. Ele ainda era lindo, meu garoto.

—Então todas as vezes em que olhar para o céu, poderá me ver?—.

—Não se preocupe com isso, Guk. Logo estarei contigo—.

Claro que naquele momento eu não diria o óbvio, que eu não estaria com ele pois não tenho um coração puro, nem atitudes boas, muito menos vejo bondade em tudo. Me partia o coração saber que nossas almas, destinadas a estarem juntas, não estariam brilhando lado a lado como lindas estrelas.

Então o meu garoto sorriu, mesmo no leito, sorriu gracioso.

—Me desculpe, Jungkook—.

Disse baixo, enquanto sua mão perdia a força entre as minhas. Os aparelhos apitavam alto avisando que ele havia mesmo ido. E as lágrimas grossas já escorriam dos olhos, molhando o moletom azul que usava.

O metrô chegava as sete, a estação estava vazia por conta do inverno rigoroso. Mas a pouca neve que caia do céu já começava a formar uma fina camada no chão.

Eu sabia que não iria para onde meu garoto estava, não era merecedor, mas a dor me deixava inconsciente, insano.

O metrô chegava as sete.

Descendo da plataforma, coloquei-me sobre os trilhos.

A noite fria trazia consigo o céu escuro e estrelado. Mesmo que fosse difícil vê-lo por conta da poluição, mais um mau do homem. Ele estava lá, meu garoto estrelado estava no céu.

A vista turva pelas lágrimas não viam quase nada, mas a audição capturou a chegada do metrô. Já eram sete horas.

E ali, aonde tudo começou, eu fiz com que terminasse.

No metrô das sete.