1. Spirit Fanfics >
  2. Lay All Your Love On Me >
  3. Lay All Your Love On Me

História Lay All Your Love On Me - Lay All Your Love On Me


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 7 - Lay All Your Love On Me



             It was like shooting a sitting duck,

(Foi como atirar em um alvo fácil)

 little small talk, a smile and baby I was stuck.

(Uma conversa, um sorriso e me apaixonei)

I still don't know what you've done with me,

(Ainda não sei o que fez comigo)

a grown-up woman should never fall so easily.

(Uma mulher crescida nunca deveria se apaixonar tão facilmente)

I feel a kind of fear,

(Sinto um certo medo)

when I don't have you near

(quando você não está por perto)

unsatisfied, I skip my pride

(Descontente, passo por cima do meu orgulho)

I beg you dear.

(eu imploro à você, querido)

Don't go wasting your emotion,

(Não desperdice suas emoções)

lay all your love on me

(deixe todo o seu amor comigo)

 

 

 

               Lety estava com seus pés próximos ao mar há um bom tempo. A cada vez que a onda se aproximava e os molhava, ela sentia uma sensação percorrer seu corpo. É claro que isso não se dava apenas pelo fato da água estar fria naquele dia quente, mas também pelo que ela pensava enquanto estava parada ali. Apesar do beijo ter acontecido apenas uma vez, ele não saía de sua cabeça. Fernando e ela foram dormir depois de admirarem o mar por mais alguns minutos, mas nada mudou. Ele ainda dormiu de um lado, e ela dormiu do outro. Apesar dela ter desejado diversas vezes que ele ultrapassasse um pouco dos limites e a beijasse outra vez, ela agradeceu por isso. Não sabia o que aconteceria com os dois no dia seguinte caso isso acontecesse mais uma vez.

               Por incrível que pareça, o clima não parecia tenso entre os dois. Assim que acordaram, Fernando se prontificou à ir buscar algo para comerem, e Lety não insistiu para ajudá-lo. Preferiu ficar e terminar de separar as madeiras para que continuassem montando a cabana. Graças ao dia livre que tinham sem ter absolutamente nada para fazer, ela já estava quase pronta. Fernando só precisava dar os toques finais, e enfim eles poderiam passar noites dignas dentro de uma cabana de verdade. Não era muito grande, mas era suficiente para que coubessem os dois sem que eles precisassem se curvar para entrar ou sair de dentro dela, como acontecia na barraca.

               Mas, embora estivesse animada e ansiosa com a cabana, aquilo passava poucas vezes em sua mente enquanto ela observava o mar. Ao longe, os golfinhos nadavam em grupo, e ela sorriu pensando que Fred estaria ali no meio. Uma das sensações mais incríveis que sentiu naquela viagem foi ter tido a oportunidade de tocar em um golfinho, mesmo sem saber nadar. Ela sabia que isso só aconteceu graças à Fernando, que se prontificou a ajudá-la e a deixou relaxada sentindo-se segura perto dele. Ela não sabia se algum dia seriam resgatados, mas se fossem, isso era algo que ela jamais iria esquecer. Mas, a viagem inteira se tornaria algo que ela jamais iria se esquecer, principalmente depois do beijo da noite anterior. De repente, Lety sentiu medo. Medo de que caso eles voltassem para suas vidas normais, a relação entre Fernando e ela voltasse a ser baseada por discussões e ofensas. Ela não queria que isso acontecesse, principalmente por saber que os sentimentos que ela tinha por ele, estavam começando a crescer. E acreditem, eu sei muito bem disso.

               Enquanto passava o tempo olhando para o mar, Lety mal notou quando Fernando aproximou-se dela por trás. Mas, ao invés de assustá-la como ele costumava fazer, ele colocou uma flor em sua frente, fazendo-a olhar para ele.

- Para mim? – Ela perguntou sorrindo, pegando a flor. – Que linda!

- Encontrei um lugar cheio delas. Imaginei que você iria gostar.

               Lety cheirou a flor e olhou para ele, sorrindo.

- É linda. Obrigada.

- O que está fazendo?

- Nada. Apenas... Pensando. – Ela voltou a olhar para o mar. – Acha que há essa hora eles já estão nos procurando?

- Acho que sim.

- É estranho pensar que até hoje não nos encontraram, não é?

- Talvez não seja um lugar tão fácil de ser encontrado. Nós dois nem sabemos como chegamos aqui.

- É, tem razão. – Ela riu. – Mas sabe de uma coisa? Às vezes acho bom eles não nos encontrarem.

- Jura?

- Pelo menos não por agora. Pense bem... Estamos tendo as férias que não temos há tempos. Qual foi a última vez que tirou férias do programa?

- Não sei. Faz uns... Dois anos.

- Viu só? E aposto que você estava desejando por uma há um bom tempo.

- É, eu estava. – Ele sorriu.

- Eu também estava, e acredite ou não, caso eu tirasse férias, eu iria para um resort.

-  Bom... bem-vinda ao seu resort particular. – Ele riu abrindo os braços.

               Lety gargalhou e olhou para a flor.

- Eu adorei de verdade essa flor.

- Ela é mesmo muito bonita.

- Na verdade, gostei mais porque foi você quem me deu.

               Fernando a olhou.

- Eu estou gostando dessa convivência sem discussões... – Ela disse sincera. – Gostando muito. Eu não conhecia esse seu lado sensível e... Gentil. – Disse sorrindo, olhando para ele. – E gosto muito.

- Eu também. – Fernando sorriu e colocou sua mão na cintura dela.

               Os dois voltaram a olhar para o mar, em silencio.

- Quer saber? Tive uma ideia. – Fernando segurou a mão dela.

- Qual ideia?

- Você vai ver.

               Ele a puxou, caminhando em direção à mata.

- Fernando, o que você...?

- Acho que se vamos passar mais tempo aqui, precisamos estar acostumados com tudo. – Ele disse enquanto caminhava.

- Com tudo o que?

- Tudo. Com o que podemos tocar, e o que não podemos. O que é venenoso e o que não é. E com quem estava aqui antes mesmo de chegarmos.

- Está falando de que?

- Deles. – Fernando parou e apontou para uma árvore.

- Você enlouqueceu? – Lety semicerrou os olhos, tentando enxergar algo na árvore.

               Antes que ela pudesse pensar que Fernando estava mesmo delirando depois de passar tantos dias naquela ilha, ela avistou alguns miquinhos descendo pela árvore.

- Ohhh! Que gracinha! – Exclamou encantada.

- Eu descobri que foram eles que pegaram nossas frutas ontem.

- Que espertinhos!

- Quer se aproximar?

- Eu posso?

- Acho que eles não têm raiva ou algo do tipo. – Ele riu.

               Lety aproximou-se da árvore e os miquinhos desceram lentamente, parando em sua frente.

- São tão lindos!

- Se você quiser... Pode colocar nome em todos eles. – Fernando sorriu observando-a. – Talvez eles queiram ser adotados.

               Ela riu, olhando para os miquinhos. Ao contar, percebeu que eram sete, e logo teve uma ideia.

- Acho que vou chama-los pelo nome dos sete anões.

- Você sabe o nome de todos eles?

- Não, na verdade.

               Fernando riu.

- Quer saber? Melhor chama-los de miquinhos. – Lety sorriu olhando para eles.

               Logo os animais se aproximaram ainda mais, mostrando que não se sentiam ameaçados com a presença deles. Sentindo-se totalmente adaptada, Lety snetou-se no chão e Fernando sorriu observando-a conversar com os miquinhos como se eles a entendessem.

- Você já pensou em ser bióloga ou veterinária? – Ele perguntou enquanto a observava.

- Não, nunca pensei. – Ela o olhou. – Mas seria uma boa.

- Sim, seria. Poderia tentar.

               Lety riu.

- Quem sabe um dia? Mas acho que não conseguiria me afastar da televisão.

- É, eu imaginei.

               Em pouco tempo que ficaram ali, outros animais se aproximaram e Lety se divertiu com todos. Fernando não conseguia parar de sorrir enquanto a olhava, e por pouco pensou que seu rosto estava relaxado de tanto sorrir. É isso que acontece quando estamos olhando para alguém que nos encanta. Não conseguimos parar de sorrir. Eu sei muito bem disso, e você provavelmente sabe também.

- Estou me sentindo a branca de neve. – Ela riu.

               Fernando abriu ainda mais o sorriso. Lety levantou-se e olhou para os animais que estavam próximos à ela, voltando-se para Fernando logo depois.

- Eu acho que já me sinto familiarizada com a ilha.

- Eu também. – Ele respondeu.

- Podemos voltar para a praia para terminarmos a cabana? Estou ansiosa.

- Podemos.

               Enquanto seguiam de volta para a praia, Fernando notou que Lety observava tudo à sua volta. Estava mesmo levando a sério a conversa de se familiarizar com o lugar, mas ele não a culpou. Ele também estava começando a pensar que talvez ficar preso naquela ilha com Lety não tenha sido má sorte, e sim uma ajuda do destino. Afinal, haviam várias coisas sobre ela que ele não contou para ninguém, e aquela seria uma ótima oportunidade. Assim que voltaram para a praia, Lety não disfarçou sua empolgação e ansiedade para terminar de montar a cabana. Ela ajudou Fernando com tudo o que ele precisou, e diversas vezes eles trocaram olhares entre uma entrega de madeira ou outra.

               Não demorou mais do que parte do dia para terminarem a cabana. Quando Fernando encaixou a ultima parte da madeira, ele deu um passo atrás e olhou para Lety, sorrindo. Ela estava da mesma maneira, mas seus olhos brilhavam enquanto ela olhava para o novo “lar”.

- E então? – Fernando perguntou parado ao lado dela. – O que achou?

- O que achei? – Ela olhou para ele sorrindo animada. – É simplesmente... Fantástica!

- Ficou do jeito que você imaginou?

- Ficou ainda melhor! Fernando... Você é... Incrível! Nenhuma outra pessoa conseguiria montar algo assim apenas com madeira!

- Não exagera, Lety. – Ele riu.

- Não, eu falo sério! Isso é... Quero dizer... – Ela suspirou e olhou para ele, sorrindo. – Olhar para ela agora me faz pensar que... Valeu a pena tudo o que passamos. Não quero que me ache boba, mas... Ficar aqui com você na ilha foi... Uma das melhores coisas que me aconteceu em anos.

               Ele a olhou admirado.

- Há muito tempo eu não me sentia tão bem assim, e agora com isso... – Ela apontou para a cabana. – Eu me sinto de certa forma realizada. E você está sendo tão...

               Fernando deu um passo à frente, ficando ainda mais próximo dela. Lety não conseguiu terminar sua frase, porque a partir do momento que olhou nos olhos de Fernando, nada mais passou em sua cabeça. E foi nesse exato momento que ela percebeu que não estava apenas grata à ele por fazê-la se sentir tão bem como não sentia há muito tempo. Lety também estava descobrindo sentimentos que jamais pensou que teria por ele. E isso era recíproco, embora Fernando jamais tivesse duvidado que algum dia poderia se apaixonar por Lety.

- Eu também estou feliz por estar com você aqui. – Ele disse com o rosto próximo ao dela. – E... Tem uma coisa que preciso te contar.

- O que? – Ela baixou os olhos para seus lábios.

- Sobre o começo das nossas discussões, não foi sua culpa.

- O que?

- Você disse que poderia ser algo que você fez, mas não foi. Na verdade, foi por mim.

- Por você? Por que?

- Porque... Eu...

               A frase de Fernando foi interrompida quando ambos escutaram um barulho estranho vindo da mata. Eles olharam em direção à ela, mas nada aconteceu. O barulho ficou ainda mais alto, até Fernando perceber que ele vinha do alto.

- Não acredito! – Lety exclamou quando percebeu que o barulho vinha de um avião. – É UM AVIÃO!

               Lety correu pela praia, olhando para o céu enquanto o avião sobrevoava sobre eles.

- EI! ESTAMOS AQUI! – Ela gritou balançando os braços. – Que droga! Nós gastamos o sinalizador! Fernando, faça alguma coisa!

- Lety, o avião está muito alto. Eles não vão nos ver aqui. – Fernando se aproximou, olhando para o avião.

- É claro que vão! Nós só precisamos... Precisamos... Fernando! Faça alguma coisa! Tenha alguma ideia! – Disse exasperada.

- Não tem nada que eu possa fazer! – Ele respondeu impaciente.

- NÓS ESTAMOS AQUI! – Ela gritou outra vez, sem sucesso.

- Lety, eles não conseguem te ver.

- E por que você está parado aí sem fazer nada? – Ela o olhou irritada. – Não quer sair daqui?

- Quero, mas não estou sendo bobo à ponto de pensar que um avião que está sobrevoando tão alto vai conseguir nos enxergar aqui em baixo! – Ele respondeu também nervoso.

- Se você fizesse alguma coisa ao invés de ser o dono da razão, talvez eles conseguissem nos ver!

               Fernando não a respondeu. Os dois olharam para o avião que já estava mais longe, até ele desaparecer em pouco tempo. Lety soltou um pesado suspiro e sentou-se à areia.

- Não acredito que perdemos a chance de sermos salvos.

- Para alguém que estava feliz há dois minutos atrás por estar aqui na ilha você pareceu bem desesperada para sair daqui. – Fernando a olhou.

- Você perdeu o juízo? – Ela o olhou. – Uma coisa é eu dizer que estou feliz por estar me acostumando com a ilha, outra coisa é eu escolher ficar aqui ao invés de voltar para casa!

               Ele a olhou magoado, e só então Lety percebeu o que tinha dito.

- Eu... Eu não quis dizer...

- Sabe de uma coisa, Letícia? Tudo o que você disse foi da boca pra fora, porque você sabe que não tem outra opção. Ficar comigo nessa ilha não é tão bom quanto estar na sua casa com o George te trocando por trabalho, mas você finge que está tudo bem porque sabe que se ficarmos aqui discutindo, será muito pior.

- Fernando, eu... – Lety se levantou, mas Fernando deu um passo atrás.

- Você realmente está tão desesperada para sairmos daqui?

- Não, eu não estou desesperada! Mas nós não podemos ser ingênuos, Fernando! Nós estamos.Em.Uma.Ilha! – Ela disse pausadamente. – Quanto tempo conseguimos sobreviver em um lugar assim? Ótimo, montamos uma cabana! Conseguimos comida e estamos nos adaptando. Mas por quanto tempo? Nós não estamos acostumados com uma vida assim!

- Não, não estamos. Alguns de nós está acostumado a ser desvalorizada pelo próprio namorado.

- Isso não é justo! – Ela aumentou a voz. – George não tem nada a ver com isso! E eu não me desvalorizo por ele. George ficou ao meu lado desde quando começamos a gravar o programa, e acredite ou não, ele se preocupou comigo e me apoiou em tudo! Ninguém mais fez isso por mim!

- EU TERIA FEITO ISSO POR VOCÊ. – Ele gritou e Lety o olhou assustado.

- O que?

               Fernando suspirou e levou a mão à testa, tentando se acalmar.

- Eu estou cansado de ouvir você dizer que ninguém te deu atenção como o George, principalmente porque ele não faz isso por você. George se importa mais com o trabalho do que com qualquer outra coisa, e é deprimente ver isso acontecendo todo o santo dia e naõ poder fazer absolutamente nada para te ajudar, simplesmente porque você não quer ser ajudada.

               Ela o olhou com os olhos marejados.

- Eu teria feito tudo por você, Letícia. Eu me preocupei com você desde quando nos conhecemos e eu vi exatamente o que tenho visto nesses últimos dias que estamos na ilha. Uma mulher forte, incrível e encantadora. George provavelmente percebeu isso também, mas ele se esqueceu com o passar do tempo. Eu não.

- Então... Você...

- Sim! Pode dizer que é idiotice minha ter gostado de você logo na nossa primeira conversa. Eu também achei idiotice, até perceber que eu estava morrendo de ciúmes ao ver George se aproximando de você. E quando... Eu vi ele te beijando pela primeira vez...

               Fernando respirou profundamente e olhou para Lety com os olhos cheios d’água.

- Eu não tinha nenhum direito sobre você, e ainda não tenho. Você escolheu ficar com ele, e você não é culpada por isso. Mas sabe no que você tem culpa? De continuar com uma pessoa que não acorda todos os dias e pensa que tem uma mulher maravilhosa ao lado, e que não é grato por isso.

               Lety notou que escapou uma lágrima, e apressou-se em limpá-la. Mas a vontade de chorar não a abandonou, principalmente ao ouvir Fernando dizer tudo aquilo. Ela jamais imaginou que ele algum dia tivesse gostado dela daquela maneira, e saber que isso aconteceu desde o primeiro dia que foram apresentados a fez se sentir ainda pior.

- Eu no lugar dele me sentiria sortudo por ter sido escolhido. – Fernando abaixou a cabeça, encarando a areia. – Mas isso não importa mais. Você já deixou bem claro que está bem assim.

- Fernando...

- É melhor não falar nada, Lety.

               Fernando virou-se e caminhou em direção à mata.

- Aonde você vai? – Ela perguntou magoada.

- Dar uma volta. Não se preocupe, não vou sair da ilha. – Respondeu sem olhá-la.

               Lety apenas o observou até que ele desaparecesse entre a mata. Assim que ficou sozinha na praia, ela sentou-se pesadamente e suspirou olhando para o mar. Sentia-se culpada por ter estragado as coisas com Fernando, e dessa vez, não tinha como voltar atrás. A verdade é que se ela precisasse escolher entre voltar para casa, para George, ou ficar na ilha na companhia de Fernando, ela escolheria sem duvidas a segunda opção. Por isso a culpa estava tão grande. Apesar de ter desejado mesmo que por um segundo que eles fossem resgatados, ela não mentiu quando disse que ali ela estava feliz como não ficava há muito tempo, e tudo isso era graças à Fernando. Mas sabemos que a descoberta de tantos sentimentos não é fácil. Eu sei, e você sabe.

 

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               Lety passou um tempo sozinha na praia, esperando Fernando voltar para que ela se desculpasse. Mas ele não voltou, e cansada de esperar, ela resolveu ir para a cachoeira para espairecer. Aproveitando que estava sozinha, Lety se despiu por completo e entrou na água, na tentativa de se acalmar. Mas, a discussão com Fernando não saía de sua cabeça, e a culpa também não a abandonava. Um nó se formou em sua garganta ao pensar que Fernando estava magoado com ela, e que não a perdoaria tão facilmente. Ele era orgulhoso, e ela sabia muito bem disso. A ideia de passar o resto dos seus dias naquela ilha com Fernando zangado não a agradou, principalmente por pensar que estavam tão felizes com a nova cabana. Enquanto pensava nessa possibilidade, Lety lembrou-se do beijo da noite anterior. George não tinha o costume de beijá-la tanto, já que na maioria das vezes só lhe dava um carinhoso beijo no rosto. Mas ela tinha certeza que nas poucas vezes que eles se beijaram, em nenhuma delas ela sentiu algo tão intenso quanto sentiu quando Fernando a beijou. Foi como se ela simplesmente flutuasse, enquanto seu peito se enchia de um sentimento inexplicável. Uma única vez que Fernando a beijou, foi suficiente para que ela tivesse certeza que jamais sentiu isso por George ou por qualquer outra pessoa.

               Ao ouvir um barulho próximo à cachoeira, Lety virou-se e percebeu que Fernando tinha acabado de chegar, e estava olhando para ela.

- O que está fazendo aqui? – Ela perguntou abraçando o próprio corpo, na tentativa de esconder qualquer parte do seu corpo que ele pudesse ver.

- Estou proibido de vir à cachoeira? – Ele perguntou com frieza.

- Não, mas... Eu estou... Sem roupa!

- Eu notei. – Ele disse olhando para suas roupas próximas à agua.

- Se notou, então para de me olhar!

- Não seja boba, Lety.

               Ela o encarou.

- Só vim saber se está tudo bem. Quando voltei para a praia você não estava lá.

- É, eu fiquei entediada te esperando.

- Não deveria estar me esperando.

- Depois de tudo o que você me disse? É sério?

- Esquece o que eu te disse.

- Não vou esquecer.

- Mas deveria.

               Lety bufou.

- Eu vou voltar para a praia. Pode ficar à vontade. – Ele virou-se, mas Lety o chamou.

- Não. Espera.

               Ele parou de andar e virou-se para ela.

- Pode... Entrar na água.

- O que?

               Ela não repetiu a frase. Não queria que ele a levasse a mal, mas também não queria ficar sozinha ali, principalmente depois de tudo. Fernando percebeu isso, e então aproximou-se, tirando seus sapatos.

- Feche os olhos.

- O que? – Ela o olhou confusa.

- Preciso tirar minha calça.

               Ela riu, fechando os olhos. Demorou um tempo até que ela ouvisse o barulho da água e percebesse que ele estava se aproximando.

- Posso abrir?

               Ele não a respondeu de imediato, mas quando respondeu, ela sentiu seu corpo se arrepiar ao ouvir a voz dele tão próxima.

- Pode.

               Assim que abriu os olhos, ela percebeu que ele estava ainda mais perto do que pensou. Ao contrário do que fez antes, Lety não tentou se esconder ou ficou envergonhada por ele olhá-la. Pelo contrário.

- Eu não vou esquecer o que você me disse.

- Deveria...

               Lety continuou a encará-lo profundamente, e Fernando não desviou o olhar.

- Eu tenho medo.

- Medo de que?

- Medo de algo nos acontecer aqui. Não é como se eu desejasse muito voltar para casa ou que eu sinta falta da nossa rotina, mas... Apesar de estar feliz por estar aqui com você, eu tenho medo do que pode nos acontecer. E se não nos adaptarmos? E se com o passar do tempo percebermos que não nascemos para isso?

- Definitivamente não nascemos para isso.

               Ela ficou em silencio.

- Mas isso não quer dizer que não vamos  conseguir sobreviver aqui.

               Lety sorriu.

- De qualquer maneira eu não acho que vamos passar o resto da vida aqui. Em algum momento alguém vai aparecer para nos buscar.

               O sorriso dela diminuiu.

- E se isso acontecer... Como... Vamos ficar?

               Ele a encarou.

- Como você quer que a gente fique?

- Apesar de você dizer que George não me valoriza, e apesar de eu concordar com isso agora, não quero fazer nada pelas costas dele. Não seria certo.

- É, eu imaginei que diria isso.

- Mas não posso fingir que nada aconteceu aqui, e que nada está acontecendo.

- E o que está acontecendo? – Ele se aproximou ainda mais.

- Bom... Algo que eu pensei que jamais aconteceria entre nós dois. Eu... Senti algo a mais quando você me beijou, e sei que isso não foi coisa da minha cabeça.

               Fernando olhou para os lábios dela, sentindo seu coração disparar.

- Eu sei que provavelmente você está com raiva de mim, e não te culpo por isso. Eu fui uma boba por não ter percebido que você me tratava tão bem quando nos conhecemos, mas não vou ser boba para me esquecer de tudo o que você me disse. Depois de tantas discussões, eu acabei me esquecendo que nós dois realmente nos dávamos bem no início, e isso aconteceu outra vez quando ficamos presos aqui. Nós aprendemos a conhecer o outro, e eu... Soube a pessoa incrível que você é. Natasha tinha muita sorte por ter você.

- Acredite ou não, Natasha não conseguia tirar o melhor de mim. – Ele sorriu divertido. – E eu não estou com raiva de você.

- Não?

- Não. Magoado, talvez.

- Eu sei. Desculpe.

- Espero que um dia George saiba te valorizar como você merece.

- Eu acho que... Não quero esperar por isso.

- Não?

- Não. – Lety aproximou seu rosto. – Estou muito bem assim, com quem eu estou.

               Fernando sorriu, e quando notou que ela estava próxima o suficiente, fechando seus olhos, ele a beijou outra vez. Para ele, a discussão que tiveram mais cedo não importava mais. Lety já tinha dito que sentia algo por ele, e isso era suficiente. Ele não queria pensar no que aconteceria caso voltassem para casa. Ele só queria aproveitar aquele momento, que ele tanto desejou há dois anos quando a conheceu. Apesar de todas as discussões e alfinetadas durante todo esse tempo juntos, Fernando jamais deixou de pensar em Lety como uma mulher incrível, que despertava algo nele sempre que não estava na defensiva, retribuindo suas ofensas. Por várias vezes Fernando a observava durante o programa, e até mesmo nos bastidores, quando ela estava sozinha tomando um café. Ele só não esperava que algum dia tivesse a oportunidade de dizer tudo isso para ela, e ainda melhor, de poder beijá-la.

               Enquanto o beijo se intensificava, Fernando tomou a liberdade de segurá-la pela cintura e puxá-la para mais perto. Lety não se envergonhou, pelo contrário. Cruzou seus braços em volta do pescoço dele, demonstrando que estava tão empolgada com aquele beijo quanto Fernando. Embora ele estivesse se esforçando para respeitá-la ao máximo, e para não acelerar as coisas entre eles, foi impossível para ele esconder todos os desejos que se fortaleceram durante o beijo, estando tão próximo dela daquela maneira. Quando perceberam que estavam ultrapassando todos os limites, Fernando pausou o beijo mas manteve o rosto próximo ao dela, com a testa colada à dela. Por um tempo os dois respiraram ofegantes, tentando acalmar os ânimos, até que as respirações se igualaram outra vez.

- Eu não quero fazer nada que você não queira. – Ele disse com o rosto próximo ao dela.

- Eu quero isso tanto quanto você, acredite.

               Fernando a olhou e ela sorriu. Aquilo foi um convite para que ele voltasse a beijá-la, dessa vez sem medo de estar indo longe demais. Lety não o afastou e não o repreendeu quando ele voltou a tocar em sua cintura, e subiu suas mãos lentamente por suas costas. A água gelada não foi suficiente para conter o calor que subiu no corpo de ambos, e quando se deu conta, Fernando transferiu os beijos para o pescoço dela, fazendo-a fechar os olhos e apertá-lo ainda mais contra seu corpo. Apesar de estarem dentro da água, isso não os impediu de sentir todas as sensações maravilhosas a cada toque e a cada proximidade de seus corpos. O corpo de Lety estava prensado contra o peito de Fernando, e isso o deixava ainda mais excitado.

               Ele não queria ter pensamentos tão impuros de Lety, principalmente porque sentia-se na obrigação de protege-la e cuidá-la, mas naquele momento foi impossível não sentir tanto desejo por ela. Isso já tinha acontecido antes, mas ele conseguia se conter e disfarçar por trás do seu jeito encrenqueiro de provoca-la. Mas, naquele momento ele não precisava se conter, e Fernando aproveitou para suprir seus desejos. Lety sentiu o membro dele já enrijecido quando ele a segurou pela cintura e a aproximou ainda mais de seu corpo. Por um tempo ela esqueceu-se completamente de tudo o que aconteceu com eles até ali, e dedicou sua total atenção para o que estava acontecendo ali. Os toques delicados de Fernando, que embora cautelosos, conseguiam excitá-la completamente. Até o momento em que eles já tinham ido longe demais para voltar atrás.

               Lety cravou suas mãos nos ombros dele quando o sentiu dentro dela, mas não resistiu em deixar escapar um fraco gemido à ponto de levar Fernando à loucura. Ele a apertou ainda mais contra seu corpo, e se movimentou lentamente enquanto aproveitava cada sensação. Em todos os anos que estiveram juntos, eles jamais imaginaram que não precisaria de muito esforço para descobrirem que se completavam, de todas as maneiras possíveis. Acreditem quando digo que vejo isso todos os dias, e ainda assim me encanto com a maneira que as pessoas se descobrem e se encontram. Fernando e Letícia poderiam se envolver com qualquer pessoa, mas apenas quando se encontrassem saberiam o significado do “encontro de almas”. Naquele momento, dentro da cachoeira, eles perceberam que o que sentiam pelo outro ia além do que imaginavam.

               Eles não se esforçaram para esconder toda a excitação e extase que sentiam, e quando chegaram ao auge juntos, Fernando apertou Lety contra seu corpo e assim ficaram por um tempo, com as respirações ofegantes e os rostos próximos. Depois de um tempo, ambos se olharam e sorriram cúmplices. Fernando beijou Lety carinhosamente e continuou a olhá-la com ternura.

- Acha que estamos mesmo sozinhos aqui? – Lety riu.

- Espero que sim. – Fernando sorriu divertido.

 

 

 

 

 

                                                                          •••

 

               Fernando e Lety riam juntos há vários minutos. Nem mesmo se lembravam o que tinham falado de tão engraçado para rirem daquela maneira, mas era um costume isso acontecer desde quando se conheceram. Todas as vezes que terminavam de gravar o programa, sentavam-se no backstage para conversar. Isso durava horas, e eles mal notavam o tempo passar.

- Você é louco, Fernando. – Lety disse ainda rindo.

- Não sou tanto assim. – Ele sorriu olhando para ela.

               Enquanto ela se recuperava das gargalhadas, Fernando a admirou por um tempo. Já tinha notado o quanto Lety era bonita desde a primeira vez que a viu, mas com o tempo, isso estava ficando cada vez mais nítido. Ou ela ficava ainda mais bonita a cada dia, ou Fernando estava começando a sentir algo por ela. Ele sabia o quanto Lety era incrível, e conhecendo-a melhor, ele tinha ainda mais certeza disso. Poderiam facilmente se tornarem ótimos amigos, mas Fernando já não sentia por ela apenas um sentimento de amizade. Ele estava pronto para convidá-la para um encontro, e levando em conta que ela parecia pensar o mesmo sobre ele, ela iria aceitar o convite. Teria uma festa da emissora no fim de semana, e era uma boa oportunidade de Fernando convidá-la para ser sua acompanhante.

- Lety...

- Sim? – Ela o olhou, depois de se recuperar das gargalhadas.

- Eu... Queria saber se você...

- Lety! – George se aproximou.

- Oi George. – Ela sorriu.

- Fernando, como vai?

- Bem. – Fernando respondeu um pouco desanimado.

- Espero que não esteja interrompendo.

               Fernando olhou para Lety, esperando (ou torcendo) para que ela dissesse que sim. Mas logo ela sorriu e balançou a cabeça negando.

- Não. Só estamos conversando.

               “Só estamos conversando”. Fernando encarou os dois enquanto conversavam.

- Vai ter uma festa da emissora nesse fim de semana, estão sabendo?

- Sim.  

- Então... Se você ainda não tiver sido convidada, eu queria saber se você quer me acompanhar.

               Fernando a olhou desejando que ela dissesse não. Mas ele já a conhecia bem o suficiente para saber que ela não faria isso.

- Eu adoraria. – Respondeu sorridente.

- Ótimo! Nós combinamos o horário para que eu te busque depois, tudo bem?

- Certo.

- Até logo! Fernando, nos vemos depois. – Ele bateu no ombro de Fernando e afastou-se.

- Uau, da pra acreditar? Nunca pensei que George me convidaria para alguma coisa. – Ela riu e Fernando forçou um sorriso.

- É... Quem diria...

               A partir daquele dia, a relação entre Lety e George se intensificou ainda mais, até o dia em que Fernando viu os dois se beijando do lado de fora da emissora. Ele sentiu algo que nunca sentiu antes, e não gostou nada disso. Sua única reação foi ficar na defensiva, e melhor do que continuar tendo sentimentos não recíprocos por Lety, ele preferiu trata-la com frieza até chegarem ao ponto de começarem as discussões até não se suportarem mais. Mas, no fundo, Fernando jamais deixou de sentir algo por ela, mesmo que tentasse esconder isso por trás das ofensas e alfinetadas. E com isso, Lety acabou esquecendo-se de que Fernando era uma pessoa maravilhosa, e que por um momento ela pensou que eles se dariam bem, e que ele era o tipo de homem que ela teria sorte de ter ao lado. Com o tempo ela pensou que George era o homem ideal para ela, e que apesar de sua ausência, ele a fazia feliz. Mas a verdade é que ela desejava tanto que isso fosse verdade, que acabou se enganando.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

               Pela primeira vez desde que chegaram, a noite não estava estrelada e calma. A chuva os surpreendeu, e enfim tiveram certeza de que a cabana tinha sido muito bem construída. Enquanto o mar se agitava e a chuva caía molhando toda a areia da praia, Fernando e Lety estavam abraçados dentro da cabana, tão confortáveis quanto se estivessem em um hotel luxuoso. Ou talvez apenas pelo fato de estarem juntos. Fernando a aninhou em seus braços e os dois observavam a chuva caindo pela abertura da cabana. Estavam em silencio há algum tempo, apenas aproveitando o momento e a proximidade dos dois.

- Ele quase não me beijava. – Lety comentou, quebrando o silencio.

- Quem? – Fernando perguntou enquanto acariciava o cabelo dela.

- George.

- Mesmo?

- Sim. Na verdade, raramente ficamos juntos como um casal mesmo. Na maioria das vezes quando estamos em seu apartamento, ele fica no computador trabalhando.

- E vocês nunca... Fizeram nada?

- Bom... Sim. Mas poucas vezes. Normalmente acontecia em ocasiões especiais.

               Fernando suspirou pesadamente.

- Vai me achar um idiota se eu disser “ainda bem”?

               Ela riu.

- Não, não vou te achar um idiota.

- Na verdade, não gosto de pensar no que vocês fazem. Prefiro acreditar que ele fica o tempo inteiro no computador e nem ao menos olha para você. Não que eu deseje alguém assim para você.

               Lety riu mais uma vez e olhou para ele.

- Você realmente tem ciúmes dele?

- Não sei se ciúmes é a palavra certa, porque até então nunca tivemos nada. Mas não gosto de ver a maneira que ele te trata.

- É tão ruim assim?

- Você merece mais do que isso.

- Acha que eu te mereço?

- Você me considera “mais” do que isso? – Ele sorriu.

- Com certeza.

- Então sim, você me merece.

               Ela sorriu e o beijou carinhosamente.

- Você tinha razão. Eu não deveria ter me desesperado quando vimos aquele avião.

- Por que?

- Porque se ele tivesse nos encontrado e nos resgatado, não estaríamos aqui agora.

               Ele sorriu e beijou sua testa, apertando-a contra seu corpo. Por um tempo eles ficaram em silencio, até Lety ficar pensativa.

- Eu não quero que as coisas mudem quando voltarmos.

- Pensei que não quisesse fazer nada pelas costas de George.

- E não vou. Quando chegarmos, vou dizer a verdade para ele, e falar que não quero mais continuar com seja lá o que tivemos.

- Vai fazer isso?

- É claro.

               Fernando sorriu e a olhou.

- Quero ser sincera e dizer que nós tivemos ótimas férias juntos.

- Férias... É um bom termo para isso.

               Lety gargalhou e Fernando a puxou para um beijo.

A sensação que Lety sentiu quando o beijou pela primeira vez tinha desaparecido, mas deu lugar para algo ainda mais forte. Depois do que fizeram na cachoeira, e depois da certeza de que não era um sentimento passageiro, eles perceberam que poderiam facilmente ser felizes naquela ilha, apenas pelo fato de estarem juntos. Seria difícil pensar em se separar depois de tudo, e nenhum dos dois conseguiria mais ficar longe um do outro. Essa, talvez, seja minha consequência favorita de uma paixão. Quando duas pessoas percebem que o que sentem é tão forte à ponto de sentirem-se completos quando estão juntos. E naquele dia, oficialmente Fernando e Letícia se entregaram ao que sentiam pelo outro.

 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...