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História Le Jardin des Larmes - Zuko (ATLA) - Capítulo Único


Escrita por: 4k1zuk1

Notas do Autor


Oi gente! Tudo bem com vocês?

Resolvi voltar a escrever fanfics. Na verdade não sei se vou voltar a escrever pra valer, mas deu vontade de fazer essa. É a primeira de Avatar e é inspirada numa música chamada "Le Jardin des Larmes", na banda ZAZ.

Peço desculpas pelo capítulo único e extremamente longo, mas é que eu senti que se eu dividisse em capítulos talvez não desse o impacto que eu queria.

Se puderem me contar o que acharam, vou ficar bastante feliz.

Boa leitura!
Espero que gostem (:

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Le Jardin des Larmes - Zuko (ATLA) - Capítulo Único

  

A brisa morna de um fim de tarde ensolarado deu espaço para um sopro fresco que anunciava que a noite, embora ainda estivéssemos no fim do verão, seria um pouco gelada. 

Deviam ser umas quatro ou cinco horas da tarde quando me cansei de mim mesmo e do meu dia — e da minha própria vida — e só havia uma coisa que eu pudesse querer fazer neste momento: me lembrar. Era doloroso demais, mas deliciosamente punitivo. Me martirizar com as memórias do passado acabou virando o item mais aguardado e precioso de toda a minha rotina como Senhor do Fogo e, claro, como ser humano à parte de qualquer cargo. Revisitar tudo aquilo, dia após dia, incansável e religiosamente, significava me punir. E me mandava a mensagem subjetiva de que eu deveria gostar daquilo porque eu sentia e sabia que eu merecia aquele sofrimento todo —  e eu gostava mesmo.

Era como um ritual. Todo fim de tarde eu me retirava para o jardim e me sentava debaixo do sabugueiro que testemunhou inúmeras lembranças minhas. Encarava o lago com os patos como se eu procurasse algo novo neles todos os dias, mesmo que soubesse de cor quantos e quais tinham. Eu faço isso por tantos anos seguidos que não havia nada naquele jardim que eu não soubesse da existência. 

Os gritos de Mai procurando por mim eram audíveis em qualquer canto do palácio, e mesmo assim, eu fingia que não a escutava. Além disso, era perfeitamente possível ouví-la pisoteando o chão e bufando como se ela fosse um rinoceronte bem gordo e impaciente. Me peguei me preparando psicologicamente para o que viria, já que as bufadas, os gritos e os passos estavam chegando cada vez mais perto de onde eu estava.

    — Então você está aí — começou. Ela me olhava irritadiça enquanto eu apenas me limitei a dar um sorriso vazio. Seu corpo apoiava no batente da porta e seus braços se cruzaram formando a típica pose de quem não está para gracinhas. Seus olhos rolaram para trás impaciente.

— Precisa de mim, Mai? — perguntei. 

— Não — rosnou — Vim apenas ver em qual canto da casa você poderia estar se autoflagelando. Por que você sempre faz isso?! — eu sorri novamente, um pouco sem saber o que dizer. Voltei a encarar o lago e me limitei apenas a fingir que não sabia do que se tratava aquela conversa. Ela se irritou mais uma vez, me desejou “boa noite” e saiu impaciente rumo a qualquer canto da casa. 

Aquilo era um tanto quanto cansativo. Eu fazia isso há sete anos, e ela me caçava dessa maneira pela casa desde o dia do nosso casamento — há três anos atrás. Aos trinta anos de idade eu não sabia, verdadeiramente, porque diabos encenávamos aquilo tudo. 

A brisa fresca voltou a soprar e, encarando meu próprio reflexo na água, me deixei levar mais uma vez pelo mesmo filme que eu assistia todos os dias. Às vezes meu cérebro trabalhava de forma seletiva, me entregando de presente apenas os flashes mais memoráveis. Outras vezes ele fazia questão de me alugar por horas a fio, me surpreendendo cada dia mais com a quantidade de detalhes que ele fora capaz de armazenar mesmo depois de tantos anos. Hoje foi um desses dias.

— Pandora… — murmurei para ninguém ouvir, enquanto me deixava levar pelas lembranças.

Eu era um garotinho de onze anos quando a vi pela primeira vez. Nos conhecemos na escola, e a nossa primeira interação foi em uma das disciplinas de práticas marciais. Embora eu sempre fosse um dobrador de fogo e ela não, eu levei um coro que eu jamais esqueci. Depois desse contato inicial, não tardei a fazer amizade com ela. 

Pandora era uma garotinha branquela e magriça, com os cabelos bem negros e cortados em um chanel desgrenhado. Os olhos cor de ouro tinham um olhar que se misturava desdém com indiferença. O uniforme perfeitamente amarrado e alinhado a transformava num conjunto belíssimo de disciplina e... charme. Lembro-me até hoje de sentir minhas bochechas esquentarem ao vê-la parada na minha frente pela primeira vez. Não demorei a me apaixonar.

Ela tinha a mesma idade que eu e, por mais que a maioria das crianças de onze anos esteja vivendo o famoso período da “guerra dos sexos”, o fato dela ser menina nunca foi um problema para mim. Mas é claro que isso não passaria despercebido para a minha irmã e as amigas dela, principalmente a Mai.

Eu me sentia mais “em casa” perto de Pandora do que quando eu de fato estava no palácio. Muitas vezes estávamos brincando de alguma coisa aleatória, mas tantas outras vezes não estávamos fazendo absolutamente nada. Dividir o silêncio com ela era mais uma das tantas outras preciosidades que pude ter ao lado dela, e eu tenho certeza de que ela também se sentia assim.

Quando eu tinha quatorze anos, Mai finalmente confessou os sentimentos por mim e naquele momento eu fiquei feliz — apesar de não ser novidade para ninguém. Eu gostava de Mai, era fácil, tinha a aprovação de Deus e o mundo, então cultivar uma relação com ela beirava ao “natural” ou o famoso “é pra ser”, mas uma parte considerável de mim desejava ouvir os sentimentos de outra pessoa. Depois disso, Mai passou a ficar ao meu lado quase que o tempo todo, não dando espaço para outras pessoas — principalmente Pandora — chegarem perto de mim. Pandora se afastou, e na época — levado por uma estupidez adolescente —, eu também a afastei.

Um ano depois, fui banido pelo meu pai e “ganhei” a cicatriz que não só marca o lado esquerdo do meu rosto, mas também a minha vida. Viajar pelo mundo à procura do Avatar fez com que eu, além de me afastar literalmente, esquecesse dela e todas as memórias que construímos juntos.

Aos dezessete descobri que com a minha partida, Pandora foi alvo de perturbações exageradas por parte de Azula, o que acabou as levando para um duelo. Mas é claro, Azula nunca perde. Pandora foi presa por “desacato a autoridade” e “traição”, mas de alguma forma conseguiu fugir. Encontrava-se foragida e estava sendo tão procurada quanto eu e o próprio Avatar. Lembro-me até hoje de encontrar um cartaz de procurado com nossos rostos estampados. A sensação foi horrível, mas os olhos.. eles permaneceram exatamente os mesmos. Eram os mesmos malditos olhos de que eu tanto senti falta.

Não sei por onde ela andou, ou como conseguiu se esconder, mas tornei a vê-la em Ba Sing Se. Encontrar com ela em qualquer situação já seria chocante o suficiente, mas encontrá-la junto de Aang e os demais, dobrando água e lutando contra mim e Azula, foi demais para a minha sanidade. Minha cabeça já estava começando a ficar confusa naquela época, e vê-la diante tudo o que estava acontecendo foi como levar um tiro. Lembro-me perfeitamente do momento em que nossos olhos se encontraram e a sinapse de reconhecimento fez com que eu me tocasse de que era realmente ela. O cabelo mais longo, o corpo mais saudável, e a mesma maldição de olhar hipnotizante de sempre. 

Voltei para a Nação do Fogo como um herói e uma das primeiras pessoas a me receber foi a própria Mai. A sensação de retornar foi a pior possível, não só por eu sentir que Aang ainda estava vivo, mas também por tê-la visto junto com eles. Se eu já estava começando a questionar se eu estava do lado certo da história, nesse momento eu estava em uma confusão mental generalizada. Eu não aguentei o incômodo, e depois de muita reflexão e orientações do meu tio — e também com uma boa dose de ímpeto meu —, confrontei meu pai e deixei a Nação do Fogo de vez. Eu queria fazer o que era certo, mas também queria desesperadamente entender tudo o que estava acontecendo. 

Ser recebido com deboche e questionamentos por parte de Katara e Sokka, no Templo do Ar do Norte, não doeu nada se comparado com a forma como ela me olhou naquele dia em que me ofereci para ensinar Aang e me juntar ao grupo. Não dirigiu uma palavra à mim ou me atacou, apenas me encarou com um olhar mais frio, de poucos amigos e sem um pingo de paciência. No entanto, graças à Toph, pude fazer parte do grupo. Na semana seguinte, partimos para as Ilhas Ember e montamos acampamento provisório na antiga casa de férias dos meus pais. 

Cada minuto que eu passava perto deles eu tentava me reaproximar dela, mas não sentia tanta abertura assim, ainda mais porque demorou muito para que conseguisse ficar a sós com ela. Sempre havia alguém junto, mas dizem que os primeiros pedidos a serem atendidos são os dos que nunca desistem. 

Tínhamos acabado de jantar e estávamos naquele momento de armar o acampamento novamente e organizar as tarefas do dia seguinte. Quando estava quase desistindo de abordá-la, Toph me puxou para um canto dizendo que tentaria me ajudar. Sem entender exatamente como ela sabia o que eu queria, apenas me disse que sabia que Pandora levantava todas as madrugadas para praticar a dobra de água na parte rasa da praia, e que eu deveria “conversar o que quer que seja com ela”. 

Eu estava tão ansioso que achei que não iria conseguir dormir, mas acabei não percebendo quando cai no sono. Ao longe, ouvi as ondas quebrando na praia e foi o suficiente para que eu despertasse assustado do meu sono leve. Olhei para os lados e todos estavam dormindo ainda, menos ela. Levantei num súbito e fui em direção à praia. 

Descendo as pedras e os montes de areia, a encontrei no meio da parte rasa do mar, com a água na altura dos joelhos. Ela se encontrava apenas com as roupas de baixo e foi um tanto quanto difícil não reparar no seu corpo. Me sentei em um dos troncos e decidi ficar em silêncio, apenas observando.

Meus pensamentos viajaram instantaneamente, divagando em possibilidades alternativas que nunca aconteceram. Não pude deixar de pensar o que seria de mim, ou de nós, se eu não tivesse sido banido. Ou, se teria havido espaço para nós dois cultivarmos algum relacionamento juntos. Teria eu deixado de ser um adolescente medroso e ficado com ela? 

Naquele momento lembrei-me do dia em que visitamos o festival de comemoração da Nação do Fogo, um dia antes de Mai se confessar para mim. Pandora vestia a roupa tradicional de festas e era, sem dúvida, a garota mais bonita do festival inteiro. Eu passei metade do evento apenas olhando pra ela, e conversando com ela quando dava, e a outra metade do tempo eu tentava disfarçar que a olhava tanto. Naquele dia eu quase segurei sua mão na volta pra casa. Eu senti vontade de puxá-la pelos seus dedos brancos, fazê-la rodopiar no próprio eixo e depois estalar um beijo nos lábios que eu tanto fantasiava em sentir o sabor, mas parece que nem a ousadia de um garoto de quatorze anos foi suficiente para conseguir fazer tudo isso. No fim, eu a deixei ir embora sem que ela soubesse tudo o que eu sentia por ela. E eu fui embora sem saber qual poderia ter sido a sua resposta.

— Zuko — ela disse, me tirando do transe. Não percebi que ela se encontrava parada bem na minha frente. — Que cara é essa? — sua feição era séria, apesar do seu corpo aparentar estar relaxado. 

— Estava em outro lugar, desculpe — respondi, coçando a cabeça. Isso eram horas de passar vergonha, afinal? 

— O que está fazendo aqui? — perguntou, de forma bem seca.

— Toph me contou que você tem vindo aqui praticar.

— E…?

— E e-eu queria conversar com você, oras. 

— Sobre? — me encarou.

— Sobre tudo — ela suspirou e depois sentou-se do meu lado. Estava pronto para ter que insistir mais pela companhia dela, mas me surpreendi. Ficamos alguns segundos em silêncio, até eu me dar conta de que ela estava sentada muito próxima de mim e vestindo apenas as roupas de baixo. Senti meu rosto queimar de vergonha. Encarando o mar iluminado apenas pela lua crescente, ela quebrou o silêncio:

— E então? 

— Como assim você é dobradora? E como assim de água? Por que nunca me contou? E desde quando? 

— Muitas perguntas, Zuko. 

— Responda, Pandora — eu me encontrava extremamente ansioso e confuso — Como assim você é dobradora de água?

— Isso é herança da minha mãe. 

— Achei que ela tivesse morrido no parto.

— E morreu — me cortou. — Mas isso não muda o fato dela ser uma dobradora da Tribo da Água do Norte. — minha boca formou um pequeno “o” de espanto.

— E seu pai?

— Ele é da Nação do Fogo mesmo. Eu não sei como eles se conheceram. Nunca quis perguntar para o meu pai porque sempre soube que era doloroso demais para ele falar da minha mãe. Mas nem ele sabia que eu conseguia dobrar água. Ele achou que por eu ser uma cópia feminina dele, eu não herdaria as habilidades dela.

— Então como descobriu?

— Quando Azula me provocou, logo que você partiu. Ela me apurrinhou por horas e quando me cansei eu esvaziei a fonte da praça central toda na cara dela e das urubus que ela chama de amigas — eu estava muito espantado, mas acabei gargalhando. — Não ria, eu fui presa por causa dessa merda.

— Desculpe — disse, ainda rindo. — Mas tenho certeza que mereceram.

— Eu acabei de falar que quase afoguei sua irmã e a sua namorada — ela gesticulou, incrédula.

— Não é possível que você pense que tenho algum laço afetivo com Azula — eu rebati, divertido. — E sobre Mai, bem… não estamos mais juntos.

Consegui apenas ver a cara de tédio dela, e depois ficamos longos minutos em silêncio. Depois disso, ela se levantou e se despediu de mim, alegando sonolência. 

Todas as noites das semanas que se seguiram eu estive lá com ela, a assistindo praticar. Não perdia um dia sequer. Sempre que ela terminava de treinar, ela se sentava do meu lado no tronco e conversávamos aleatoriedades por alguns minutos e depois íamos dormir. Com o tempo, suas defesas foram se quebrando e pude sentir aos poucos que ela voltava a ser quem sempre foi comigo.

Em uma das vezes, após a prática diária dela, ela me desafiou para uma luta. 

— …Você quer lutar comigo? — perguntei, meio confuso e surpreso.

— Sim — sorriu ladina. — Tá na hora de saber se eu já aprendi direito tudo o que a Katara me ensinou. — eu sorri um pouco derrotado e estava prestes a me levantar quando ela completou a frase: — Não se preocupe, só vou usar as dobras. Da primeira vez que lutamos eu te dei a maior surra da sua vida. — Eu soltei um riso frouxo. Ela era linda e incrível, mas sabia ser petulante quando queria.

    — Está bem — me levantei e caminhei até onde ela estava, no meio da areia. — Então, venha.

    Nós lutamos por cerca de uns cinco minutos, tendo eu poucas aberturas para de fato atacá-la. Ela realmente estava bem treinada e confiante, Katara a havia ensinado bem. No entanto, eu ainda era mais experiente.

    Avancei diversas vezes, socando o ar enquanto ela se desviava de mim magistralmente. Após um golpe meu ela conseguiu desviar das minhas labaredas, mas acabou tropeçando num dos troncos que haviam ali e caiu na areia. Eu não consegui parar o impulso no mesmo momento e acabei caindo por cima dela. O tempo que ficamos nos encarando, atônitos, pareceram horas. Ela não fez questão de me tirar de cima dela, e tampouco eu sei dizer se de fato queria sair dali. 

    A lua cheia iluminava bastante a praia e eu pude me ver por completo dentro do reflexo dos seus olhos. Eles encontraram os meus como se ela procurasse minha alma. Eu estava tão perto dela que eu tinha absoluta certeza de que ela podia ouvir meu coração bater acelerado. Ela se encontrava ali, parada, como se esperasse alguma coisa de mim, e eu não sabia se devia mesmo fazer o que eu sempre quis. O medo e a insegurança duelavam contra a minha vontade de dar o próximo passo. 

    “Eu deveria beijá-la?” O pensamento ecoava repetidamente na minha cabeça. Percebi minhas bochechas corando e quase ri quando vi as dela também se avermelharem. Aproximei mais o meu rosto e não percebi resistência de sua parte.

    “Foda-se”, pensei. 

    Nossos lábios se juntaram delicadamente, ainda recheados pela minha insegurança. Foi um beijo delicado, tenro e curto. Quando nos separamos, ela estava levemente vermelha e me encarava sem jeito e eu, sorrindo. Eu saí de cima dela, a ajudando a levantar, e caminhamos de volta para a casa para podermos dormir.

    No dia seguinte, percebi que ela me evitava um pouco. Não só isso, mas evitava ficar a sós comigo. Não foi mais à praia no meio da madrugada e fazia as refeições com pressa para não ficar muito tempo perto de mim ou com os demais. Comecei a me perguntar se eu havia feito alguma coisa errada, se ela não tinha gostado do beijo… 

    Uma semana depois disso e dois dias antes do cometa, eu decidi falar com ela. Na primeira oportunidade que tive, encurralei Toph:

    — O que você sabe? — perguntei. Não estava bravo, apenas sério. Toph suspirou.

    — Sobre o que, exatamente?

    — Você sabe de mais coisa, então?!

    — Não sei os porquês, Zuko. Só sei que ela escolheu outro lugar pra ficar durante a madrugada.

    — Onde? — Toph pareceu hesitar — Desembucha, Toph. Eu preciso saber…

    — Na varanda, na parte de trás de casa — disse, relutante. 

    — Obrigado. 

   Eu mal dormi naquela noite. Quando percebi ela se movimentar e levantar, aguardei alguns minutos e depois fui atrás dela. A encontrei na varanda, exatamente onde Toph descrevera. Ela estava de pé, encarando a lua minguante no céu, apoiando os cotovelos no parapeito de madeira, deixando a brisa esvoaçar parte das suas roupas de verão. Impossível não reparar nas curvas do seu corpo de novo. Me aproximei um pouco mais e ela se virou para me encarar, provavelmente já sabendo que era eu. Ficamos alguns segundos naquela situação.

    — Não consegue dormir? — perguntei, quebrando o silêncio. Seus olhos me encaravam do mesmo jeito de sempre: enigmáticos e atraentes. Ela se virou de costas para mim de novo.

    — Eu nunca durmo direito — respondeu. Eu caminhei até parar do lado dela — O que está fazendo aqui, afinal?

    — Tem dias que vou à praia e você não está lá. Queria te ver.

    — Queria? — rebateu, um pouco irritadiça. Ela se virou para me encarar de novo, os olhos já não tão enigmáticos assim.

    — Sim — levei os dedos ao seu rosto e acariciei uma de suas bochechas  — E muito! — ela retirou a minha mão, se mostrando alterada.

    — Você não pode chegar de novo assim e bagunçar tudo o que eu demorei para colocar em ordem.

    — Do que está falando?

    — De tudo, Zuko — aumentou o tom de voz. — Da nossa história! — ela me encarava raivosa enquanto seus olhos marejaram um pouco, e depois bufou. — Você sempre faz isso.

    — O que? O que eu sempre faço?! — eu estava mais confuso do que nunca. 

    — Se aproxima de mim, mexe com os meus sentimentos, e depois me afasta de você.

    — Ei, espera! Eu não sumi!

    — Ah não?! Acha que eu não sei que você sempre esteve apaixonado por mim no passado? Você sempre foi um garotinho medroso e inseguro, e eu sempre estive com você. Todas as vezes em que eu pensei que você diria ou faria alguma coisa, no dia seguinte você sumia! Ou se deixava levar pela Mai, ou pela Azula e sua família. E depois de tudo, ainda por cima, você foi banido. 

— V-Você.. sabia? 

— Claro que sabia, até um cego poderia dizer! — retrucou — E agora você volta achando que nada disso aconteceu. Eu levei muitos anos para te esquecer, Zuko. Eu não sou de ferro.

    Eu não sabia o que dizer. Ela disparou aquele monte de informação em cima de mim e eu só consegui ouvir. Eu estava tão preocupado com os meus sentimentos que jamais tinha parado para pensar nos dela, ainda mais depois de todos esses anos. Mas eu precisava consertar aquilo.

    — Eu mudei, Pandora… — me aproximei dela, ela não se afastou. Levei minha mão ao seu rosto de novo e acariciei. Ela fechou os olhos com o meu toque, colocando a mão por cima da minha. Aproximei meu rosto do dela e beijei sua bochecha e depois sussurrei ao pé do seu ouvido: — Eu não vou a lugar algum.

    Ela me abraçou com urgência. Seus braços entrelaçaram meu pescoço e eu retribui com tudo o que eu tinha. 

    — Por favor, me perdoe — continuei — Eu jamais quis te machucar, na verdade eu sempre quis que você soubesse de tudo o que eu sentia, mas nunca tive coragem de te dizer — Ela voltou a olhar para mim, os mesmos olhos enigmáticos que eu tanto adorei. 

    Dessa vez, foi ela quem me beijou. Um beijo mais intenso, mais acalorado, com um toque a mais de urgência. Senti seus dedos roçarem meus cabelos e descerem devagar pela extensão do meu pescoço. Desci minhas mãos até a sua cintura, e a puxei para mais perto de mim. Ela arfou, e eu entendi o recado.

    Ela colou seu corpo no meu com mais vontade e eu gemi por entre o beijo. Eu desci minha boca em direção ao seu pescoço, e me demorei ali enquanto a ouvia gemer baixinho. Mas ainda não era o suficiente. 

    Ergui ela do chão e a coloquei sentada no parapeito de madeira, assim ficávamos na mesma altura. Continuei a beijar seus lábios — tão viciantes quanto pensei que fossem — e senti suas pernas envolverem minhas costas e me puxando para mais perto. Ela riu com o meu gemido, nossas testas coladas e nossos olhos fechados.

    — Assim você me deixa louco, Pandora — disse, ofegante — Se continuar assim, eu não respondo por mim.

    Ela riu da minha situação, seu olhar ladino me fisgou e quando vi, ela mordia provocativa o seu lábio inferior. 

    — Você é louca — a beijei de novo.

    — Você gosta — ela respondeu, em meio aos beijos.

    — Pode ser perigoso — beijei seu pescoço, ela gemia baixo no pé do meu ouvido, me levando à loucura.

    — Você corre o mesmo risco que eu, Zuko — eu perdi tudo quando ela pronunciou o meu nome e me olhou daquele jeito ladino de novo. Voltei a beijá-la, e minhas mãos desceram em direção às suas coxas e as apertei. Ela arfou de novo com o meu toque e fez menção de tirar a minhas blusas. Eu é que não iria a impedir.

    Tirei a regata que ela usava e desci os beijos do pescoço até os seios. Me demorei ali e aproveitei a melodia dos seus gemidos enquanto sentia seus dedos na minha nuca. Subi os beijos pelo mesmo caminho, e voltei a encontrar a sua boca. Com uma das mãos eu apertei sua bunda e com a outra massageei seu clitóris com o polegar, por cima do shorts. Senti ela descontar o tesão arranhando minhas costas. 

    — Não precisa se conter.

    — Zuko, pelo amor de Deus — disse, melodiosa — Eu preciso de você.

    Ergui ela no meu colo novamente, e a deitei no chão, com as nossas roupas embaixo. Ela retirou o próprio shorts, tamanho era o tesão, e depois quase arrancou a minha calça com a minha cueca junto. Invertendo as posições, ela ficou por cima e beijou meu pescoço, depois percorrendo meu peito e abdômen, e parando próxima a minha virilha. Eu já estava fora de mim.

    — Tem certeza disso? — perguntei, ofegante — Eu já não respondo por mim.

    — Acho que agora é um pouco tarde para parar — e sorriu provocativa.

    Ela começou beijando e dando lambidas curtas e bastante sedutoras no meu pau, parecendo descontar a tortura que fiz com ela minutos antes. Quando cansou de brincar, caiu de boca me fazendo ver estrelas. A sensação era indescritível

— Meu deus — eu ofegava e me controlava para não gemer tão alto — Pandora, por favor…

— O que quer, Zuko? — me perguntou provocativa e sedutora, enquanto ainda me chupava.

— Venha aqui — implorei.

— E se eu não for? — respondeu, me desafiando. Levantei meu tronco num impulso e puxei seus braços na minha direção. Ela apoiou seu corpo no meu e então a virei deitada no chão. Agora eu estava por cima, e estava no comando. Voltei a beijar seus seios e desci pelo tórax, e depois parei no seu ventre, bem na borda da calcinha. Puxei o tecido com a boca e terminei de tirar com os dedos. Ela gemeu. Chupei cada cantinho dela, me demorando o suficiente e vendo ela ir à loucura. Ela era deliciosa.

— Zuko… — ela gemia meu nome, e eu ficava cada vez mais excitado.

Quando introduzi meu dedo, ela gemeu mais alto. Não demorou muito para ela gozar. 

Voltei a deitar do lado dela e ela me beijou com vontade, ainda bastante desejosa. Ela me pegou de surpresa quando montou em cima de mim, e desceu os quadris lentamente, me fazendo encaixar dentro dela. Eu estava surtando de tanto prazer. A visão daquele momento é uma das mais preciosas que eu tenho. 

Senti-la por dentro e por fora era indescritível, e a diferença de temperatura das nossas peles — a minha bem mais quente que a dela — gerava um contraste delicioso. Ela subia e descia em mim, sem tirar os olhos dos meus. 

Eu levantei meu tronco me apoiando nos meus braços, sem tirá-la de cima do meu colo. Ela continuou a subir e descer, e me beijava segurando minha nuca com as suas mãos. Pandora estava me levando ao êxtase.

— Zuko — disse, ofegante — Eu..

— Não se contenha — respondi. — Eu também vou…

Eu tenho certeza de que vi estrelas. 

Ela me abraçou enquanto íamos ao ápice juntos, e depois de recuperarmos o fôlego, nos beijamos de novo. Dessa vez, um beijo mais calmo e lento. Nos deitamos de novo em cima das roupas, ela apoiada no meu peito e eu acariciando seus cabelos negros. Ela me olhou cansada e corada, mas sorria.

— Você é linda — beijei sua testa, ela sorriu. — Eu não vou a lugar algum,  prometo.

Ficamos abraçados por um tempo, e quando estávamos quase pegando no sono, ela me acordou para nos vestirmos e voltarmos para junto dos outros. Ainda estava escuro, o que facilitou a nossa chegada furtiva para onde os demais estavam. Ela me deu um beijo tímido na bochecha e foi em direção ao canto onde ela estava antes, me levando pelas mãos. Deitamos juntos, sem receios, e pegamos no sono.

Não nos importamos nem um pouco com os comentários no dia seguinte sobre estarmos abraçados e juntos o dia inteiro. Eu apenas me separava dela quando precisava treinar Aang. Era como se fôssemos morrer se não ficássemos juntos. E eu devia ter levado isso em consideração até o final…

    Quando o grande dia chegou, tivemos que fazer algumas escolhas e nos separarmos. Pandora foi bastante enfática de que seria melhor ela ficar com Sokka, Toph e Suki, acompanhando Aang, e que eu e Katara deveríamos ir juntos. Todos concordaram, afinal ela estava certa, mas meu peito doeu com a ideia. Se eu soubesse o que viria a acontecer, eu imploraria para que ela fosse junto comigo.

    Aang, Sokka, Suki e Toph vieram ao nosso encontro depois de muitas horas. Eu estava no chão recebendo os cuidados da Katara quando os vi adentrar o pátio e sem ela junto. Eles estavam cabisbaixos e chorosos, sem conseguir pronunciar uma palavra com nexo sequer. Quando Toph finalmente conseguiu me contar o que aconteceu, eu senti meu corpo se desfazendo em pedaços.

    Pandora sofreu uma queda em um dos balões da Nação do Fogo. Caiu em meio ao matagal e não conseguiram encontrá-la. Após Aang vencer meu pai e estabilizar a situação caótica que se encontrava por causa dos balões, os quatro desceram até a floresta e passaram a vasculhar todos os cantos. Ficaram horas procurando, mas não a encontraram. Eu levantei possesso, mesmo ferido.

    — Eu preciso do Appa.

    Eu passei dias procurando. Retornava para o palácio apenas para comer e logo em seguida voltava para a floresta para procurá-la. A recuperação dos meus ferimentos foi muito lenta devido a minha falta de descanso, mas eu não parei. Não encontrá-la não era uma opção.

 

    Dois meses depois eu completei dezoito anos e fui coroado Senhor do Fogo. Eu me dividia entre consertar a Nação e procurar por Pandora. Simplesmente não fazia sentido não encontrar nem o seu corpo. Ela tinha que estar viva, eu queria que ela estivesse viva.   

    Eu procurei por ela todos os dias durante cinco anos e não encontrei nenhum sinal sequer dela. Nem um pedaço de roupa, nem um adereço de cabelo. Nada. O exército declarou Pandora como morta e ela teve um funeral simbólico em um dos lugares mais respeitáveis do memorial da Nação. Eu não tinha mais forças para procurá-la. Eu ajoelhei na lápide e chorei como nunca havia chorado na minha vida. 

A partir daí eu me senti uma casca vazia. Eu tinha vinte e três anos, mas sentia-me com setenta. Quando fiz vinte e seis, a pressão para que o Senhor do Fogo se casasse e gerasse herdeiros aumentou, e seguindo conselhos do alto escalão da Nação, Mai e eu nos casamos. Mas até então, não tivemos nenhum herdeiro. Afinal, como poderia? Acho que uma das piores partes disso tudo é que Mai realmente gosta de mim, e tudo o que nós somos, na verdade não somos. Nunca fomos e jamais poderíamos ser. Eu nunca poderia dar à Mai o que ela quer de mim, e ela jamais poderia ser o que eu preciso.

Eu vinha ao Jardim todos os dias — desde os meus vinte e três anos —, religiosamente, para me lembrar dela. Não queria visitar a sua lápide pois ela nunca esteve lá. Eu vinha ao Jardim porque era o lugar preferido dela quando brincávamos no Palácio, quando éramos crianças. Vinha ao Jardim porque tudo o que eu olho nesse lugar, me lembra dela. Vinha ao Jardim porque, escondido em um dos cantos do parapeito de madeira da varanda, ela havia escrito seu nome e o meu com a minha adaga. Eu vinha ao Jardim todos os dias porque eu prometi que eu não a abandonaria nunca mais, e mesmo assim, me sinto nadando em culpa por ter desistido de procurá-la mesmo depois de tanto tempo.

Quando volto das memórias, no presente, eu sempre estou chorando. Não só por nunca mais poder vê-la de novo, mas também por me sentir perdido sem ela. É como se eu sentisse que as coisas estão fora do lugar e que nada é capaz de consertar o que está quebrado. E, estupidamente, eu não quero que esse sentimento se vá, porque é a única coisa concreta que me conecta com ela agora. Pandora jamais voltará, e eu me recuso a substituir qualquer resquício de sua existência, ou memória que tenha dela, por outra coisa.

 

“Todas as noites eu entro com você neste pequeno jardim de lágrimas

Todas as noites eu coloco meu coração para baixo em seu baú de flores

Ontem seu beijo foi querido, mas as frutas têm gosto de sal

Ontem seu beijo foi querido, agora você sorri do céu

É se está calmo no jardim de lágrimas”
 


Notas Finais


Muito obrigada por lerem!

Se quiserem ouvir a música, é essa aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=iR2IuOasSYU


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