História Lead Singer - Sweet sixteen

Por sorte os pais de Jungkook não haviam descoberto sobre a confusão da noite anterior, caso contrário, o menino estaria de castigo e não poderia assistir a The Neighbours of Saturn se apresentar naquele final de semana.

Não era o evento ou festival dos sonhos; a prima de Daewon estava fazendo dezesseis anos e a banda que tocaria em sua festa havia cancelado de última hora, a obrigando a aceitar a proposta do rapaz de levar a própria banda para animar o aniversário com covers de músicas de rock (e pop atual se ela pagasse alguns won a mais).

A banda e Jungkook se reuniriam na casa de Daewon antes de seguir para o local da festa. No momento Jungkook esperava por seu irmão na sala de estar, buscando se distrair com seu mais do que companheiro gameboy.

ㅡ Tá pronto, pirralho? ㅡ a voz de Junghyun se fez ouvir e Jungkook deixou o pequeno aparelho de lado, ignorando a pergunta do irmão para fazer a própria:

ㅡ Nós vamos de ônibus?

ㅡ É o jeito. ㅡ Junghyun deu de ombros. ㅡ Meu pai pegou o carro para ir à casa da tia Kyunghee com a minha mãe, esqueceu?

Jungkook detestava quando Junghyun se referia a seus pais como apenas dele, dizendo "meus pais" e não "nossos", mas já estava acostumado com o fato de que apesar de todos esses anos, Junghyun ainda não se conformava em não ser o filho único dos Jeon e ter que partilhar quase tudo.

Logo os rapazes se colocavam em frente a casa de Daewon, sendo atendidos pelo mesmo, que já estava devidamente vestido. Sungmin também havia chegado, então só faltava-

ㅡ Cadê o Jimin? ㅡ Junghyun fizera questão de perguntar, esticando o pescoço para procurar pelo loiro por cada canto do cômodo.

ㅡ Nós vamos buscá-lo, o prédio dele fica no caminho para a festa. ㅡ Daewon explicou, pegando as chaves em cima da mesa de centro. ㅡ Se comportem no carro ou o meu padrasto vai me matar.

Jimin não morava muito perto, e sabendo que o caminho não seria um dos mais rápidos, os rapazes decidiram por ligar o rádio do carro para cantar junto às músicas que ali tocavam; estavam tão animados que sequer deram preferência ao rock, como fariam de costume, cantando e dançando até mesmo os hits do momento (Jungkook passou quase toda a viagem se perguntando como Sungmin sabia a letra inteira daquela música das Spice Girls, talvez ele escutasse escondido).

Ao se colocarem em frente ao prédio de Jimin, Junghyun fizera questão de ser o primeiro a sair do carro para se dirigir à portaria e chamar pelo loiro. Eles tiveram que esperar alguns minutos até que, finalmente, Park surgisse no elevador com um sorriso aberto.

Já se fazia semanas desde que Jimin adentrara a vida de Jungkook, contudo, toda vez que o moreno o via, sentia como se fosse pela primeira vez ㅡ o coração acelerado, os olhos incapazes de piscar ou se desviar. Parecia banal, ele sabia, mas ele não podia evitar; Park Jimin era um anjo na terra. Um anjo não convencional, mas ainda um anjo.

Como na cena de um filme de Hollywood, Jungkook o olhou de baixo para cima, parando em cada detalhe. Jimin vestia os costumeiros All-Stars (agora vermelhos) e a calça jeans de cintura alta de sempre, além de uma camiseta preta com uma blusa de mangas arrastão sob ela ㅡ mas o que realmente chamava a atenção eram os seus óculos escuros e redondos, apoiados no nariz de forma que os olhos do loiro ainda pudessem ser vistos minimamente.

Todo aquele momento de encantamento fora quebrado assim que Jimin colocou os pés para fora do prédio e fora recebido por um beijo de Junghyun, obrigando Jungkook a desviar o olhar.

ㅡ Esses dois não se desgrudam, que nojo. ㅡ Daewon murmurou do banco do motorista, em seguida apertando a buzina com força e assustando o casal fora do carro.

ㅡ Vai se foder! ㅡ Junghyun vociferou, causando gargalhadas em Jimin.

Soojin, a prima de Daewon, não parecia muito satisfeita ao ter a banda de seu primo como atração principal da festa, sequer fizera questão de recebê-los quando eles chegaram ao local. Apesar do contra-gosto da menina, a banda estava feliz em poder mostrar seu trabalho para outras pessoas que não eram seus próprios pais ou os vizinhos dos Jeon.

ㅡ Você sabia que o lugar era fechado, não sabia? ㅡ Jungkook questionou Jimin enquanto os outros garotos ajustavam seus respectivos instrumentos, e como Jimin não tocava nenhum, ficara ali sentado na beira do palco.

ㅡ Sim, por quê?

ㅡ Você veio de óculos escuros. ㅡ Jungkook deu de ombros, e para a sua surpresa, ouviu a risada de Jimin seguida de um:

ㅡ Bobo! ㅡ e um pequeno tapa no braço.

Jungkook poderia jurar que sentira sua pele queimar. Não porque o tapa fora forte, longe disso, mas porque ele estava simplesmente surtando e se sentindo afetado por cada toque que recebia do loirinho.

ㅡ Idiota do caralho. ㅡ praguejou para si mesmo sem perceber, e quis se xingar novamente ao notar que Jimin o escutara.

ㅡ O quê?

ㅡ Foi mal, eu falo comigo mesmo às vezes. ㅡ deu uma risada sem graça.

Idiota do caralho!!!

Daquela vez Jungkook apenas pensou, desejando sair correndo dali naquele instante. Nunca se fazia de idiota na frente dos outros. Estava começando a acreditar que Park Jimin não era um anjo; mas um feiticeiro que o fazia mudar completamente e se tornar um total imbecil em sua presença.

ㅡ Você é engraçado, Jeonggukie, deveria mostrar mais esse lado. ㅡ Jimin começou a falar, atraindo a atenção para si. ㅡ Eu só te vejo sério, revoltado com a vida.

Jungkook precisou de certo tempo para responder, Jimin tinha razão.

ㅡ Minha mãe diz que é coisa de adolescente.

Jimin riu baixo.

ㅡ Eu sou obrigado a concordar com ela.

ㅡ Jimin! ㅡ Junghyun chamou do meio do palco, fazendo ambos Jimin e Jungkook se virarem para ele. Ao invés de dizer algo, Junghyun apenas acenou com a cabeça, como se pedisse para que o loiro se aproximasse.

Jimin se dirigiu a Jungkook antes de se levantar, ironizando:

ㅡ Tenho que ir, o líder está chamando.

Felizmente haviam desconhecidos ali, ou Junghyun puxaria Jimin para um beijo assim que ele se colocou em frente ao de cabelos azuis ㅡ Jungkook podia ver aquilo no olhar do irmão para Jimin. Em seus 18 anos, Jungkook nunca vira Junghyun olhar para alguém daquele jeito.

Talvez estivesse errado, mas Jungkook achava cada vez mais que Junghyun havia mentido na noite anterior ao dizer que ele e Jimin não estavam tendo nada sério.

Não estando na banda (apesar de querer), Jungkook não precisou passar toda a festa no palco, e aproveitou sua situação para comer e beber à vontade enquanto se sentava em uma das cadeiras forradas para assistir à The Neighbours of Saturn... ou Jimin.

Jungkook nunca havia presenciado uma apresentação de Jimin em um palco de verdade, então vê-lo ali fora uma experiência diferente das vezes que o vira ensaiando na garagem velha de sua casa. Detestava soar como um poeta, mas Jimin era como uma força da natureza quando cantava: pulava para todos os lados, dançando enquanto seus cabelos loiros se bagunçavam lindamente na frente de seu rosto, era quase mágica a forma que o garoto não parava quieto e ainda assim não deixava seus óculos de sol redondos caírem.

Em algum momento a banda fez uma pausa, e Jungkook se prontificou em colocar-se de frente para o palco para perguntar a um Jimin exausto:

ㅡ Quer que eu pegue algo pra você?

Jimin sorriu, levantando os óculos até a cabeça.

ㅡ Vodka, por favor.

Jungkook arregalou os olhos, Jimin não parecia o tipo de pessoa que bebia.

ㅡ S-só tem refrigerante. ㅡ o menino nem se deu conta que gaguejou.

ㅡ Eu me esqueci que é uma festa de dezesseis anos. ㅡ a forma com que Jimin falava fazia parecer que ele não havia se esquecido, realmente. ㅡ Pode ser só água, muito obrigado.

Geralmente Jungkook não se disponibilizaria a fazer tal coisa, tanto que não oferecera nada ao resto da banda, mas, sinceramente, já estava cansado de repetir que Jimin mexia consigo.

ㅡ Sua presença de palco é incrível. ㅡ se viu obrigando a comentar enquanto Jimin virava o copo d'água, sedento.

O loiro não agradeceu, talvez estivesse cansado demais para falar. Ele apenas deu um sorriso sincero que fez o coração de Jungkook se revirar dentro do peito.

Enquanto observava Jimin secar o suor do rosto com as costas da mão, Jungkook chegara a uma conclusão que faria qualquer um rir.

Estava apaixonado.

Mas, ao contrário do que pessoas normais fariam, ele não iria atrás dessa paixão e buscaria se envolver com Jimin, sabia que Junghyun também tinha sentimentos por Park (por mais enigmáticos que fossem) e não estava disposto a enfrentar seu irmão mais velho por um rapaz ㅡ justamente, um rapaz, de sexo masculino, pelo qual nunca havia se interessado antes.

Havia inúmeras questões ali, desde seus princípios em relação a seu irmão, a sua sexualidade e sua inexperiência com paixões arrebatadoras, até o fato de que Jimin poderia simplesmente não gostar dele de volta.

ㅡ Tomara que eu exploda. ㅡ Jungkook conversava sozinho durante os parabéns de Soojin, do qual Jimin cantava junto a Junghyun, literalmente; o de cabelos azuis se colocara ao seu lado no pedestal do microfone, quase encostando seus rostos para compartilhá-lo.

A festa se encerrou mais cedo do que o esperado, e ao lado do local do aniversário, a banda se uniu para comer os pedaços de bolo que a mãe de Soojin os dera. Depois, voltaram para o carro e seguiram caminho até o prédio de Jimin, não tão animados quanto há algumas horas.

ㅡ Eu só não convido vocês para entrar porque acho que no meu apartamento não cabe tanta gente. ㅡ Jimin dizia, ainda no carro, quando eles pararam.

Jungkook queria ir ao apartamento de Jimin, imaginava que ele era parecido com o dono: talvez tivesse pôsteres do David Bowie e Joy Division por todos os lados, talvez fosse mais minimalista com cores suaves e poucos móveis, ou talvez fosse surpreendente, uma bagunça.

ㅡ Pode dizer que você guarda algo super bizarro naquele apartamento, Jimin, a gente sabe. ㅡ Sungmin brincou, tirando Jungkook de seus devaneios.

ㅡ É essa a visão que vocês têm de mim?

ㅡ Eu aposto que ele tem uma coleção com mais de 600 All-Stars e óculos de sol, mas tem vergonha de mostrar. ㅡ Daewon entrou na brincadeira, fazendo todos rirem daquela vez.

ㅡ Vocês são uns idiotas! ㅡ Jimin exclamou, abrindo a porta para finalmente sair do veículo. ㅡ Eu tenho uma coleção de calças jeans, duh.

Enquanto os meninos riam da piada, Jimin chamava a atenção de Junghyun, ao lado de Jungkook, para acenar delicadamente, num gesto quase carinhoso. A risada de Jungkook morreu em sua garganta.

O resto da viagem se passou em silêncio, apenas o som suave do rádio tocando ao fundo. Daewon deixara os Jeon em sua casa, e sabendo que naquele horário seus pais ainda estariam acordados, os irmãos não precisaram ter tanto cuidado para adentrar a residência.

Ambos pretendiam apenas subir para seus quartos e passarem o resto da noite acompanhados de si mesmos, mas quando estavam prestes a se separar no topo das escadas, sua mãe surgiu de repente na porta do próprio quarto, dizendo com a expressão fechada:

ㅡ É melhor vocês terem uma explicação muito boa, mocinhos, ou o castigo vai se prolongar ainda mais.