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História Learn - Convivendo com o Intitulado Inimigo


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá!! ^^

Enfim trouxe o novo capítulo nem tão tarde, mas também não muito cedo kkkkkkkk. Dessa vez não há o que enrolar, apenas comemorar os mais de 170 favoritos... Até agora estou meio absorta quanto a essa margem kkkkkkkkkkk. Muito obrigada a todos que comentaram no capítulo passado, ajudou muito a me sentir mais confiante e empolgada para trazer esse novo capítulo <3.

Como não sei se voltarei a postar até o ano novo... Quero deixar aqui meus desejos de Feliz Natal e Ano Novo a todos vocês e suas famílias e agradecer por vocês terem me proporcionado um ótimo ano, seja comentando e favoritando XD.

Fiquem com o capítulo (peço perdão pelos erros de ortografia não corrigidos) e boa leitura! Beijos ;*

Capítulo 24 - Convivendo com o Intitulado Inimigo


 

 

Havia notas de um céu azul e ensolarado quando o avião pousou no aeroporto JFK, em Nova Iorque, às três horas da tarde. O voo transcorreu com tranquilidade, com poucas turbulências e estava tudo de acordo com os planos de bordo, no devido horário.

Para Jessica, por mais que existisse essa calmaria, sentia que a tempestade estava apenas por vir. Odiava Hamptons, não por causa da paisagem ou das pessoas fúteis que viviam por lá, tinha mais haver com o motivo de estar indo para a vila. Teria de enfrentar seu pai e todo seu resmungar desaprovador. Certamente alguém deveria ter falado para ele do desfecho da missão contra a guerrilha, precisa estar preparada para o momento em que terá de enfrentar o patriarca Jung. Sorte sua que não iria direto para a mansão dos pais, adiaria o encontro. Como não é boba, se hospedaria na casa de campo que havia adquirido anos atrás. A casa ficava afastada das mansões da colina, perfeita para ter dias de verdadeira paz.

A comissária de bordo se aproximou assim que o avião pousou, oferecendo a simpatia que o dinheiro pode comprar, dando boas-vindas a sua chegada ao seu país em nascera, oferecendo-se para carregar suas bolsas para fora do jatinho particular. Era hora do desembarque. Jessica não tinha motivos para descontar sua frustração sobre ela, então negou a ajuda e pegou sua bolsa de colo, seguindo para fora do avião.

Como o corredor do avião era estreito, por pouco não esbarrou em Yuri que estava tirando uma mala do compartimento de segurança acima do assento. Seus olhos escuros pediram desculpas antes de cair sobre a mala, abriu espaço para que passasse e se empertigou a falar nada. Usava negro da cabeça aos pés — uma blusa de mangas compridas, jeans rasgado e sapatos Oxford —, contudo não foi o caimento perfeito das roupas em seu corpo que atraiu a atenção de Jessica. Os lábios de Yuri assumiram uma linha reta, tensos, desde que embarcaram no jatinho. Jessica pensou na possibilidade da morena ter medo de aviões, mas isso não condizia com sua profissão como assassina. Ela deveria cruzar os mares em muitas aeronaves, possivelmente deve ter enfrentado voos piores que estes e por isso sua tensão e aparente palidez deveria ser produto de outra coisa. O que poderia ser permaneceria como um mistério.

Ela não dormiu bem, percebeu as olheiras profundas formando círculos escuros sob os olhos. Havia rigidez em seu olhar que perturbou o âmago, provocando um estranho frio na barriga, desaparecendo rapidamente como se dissipassem uma nuvem de fumaça.

Sabendo que estava obstruindo a passagem da Jung, Yuri silenciosamente pôs seus óculos escuros e levantou a alça da mala, carregando-a consigo para fora do avião, percebendo que ela não tomaria a atitude. Precisava se apressar em seu trabalho, mas sabia que isso era apenas uma desculpa para escapar do olhar profundo e avaliador que lhe lançava.

Jessica não pode descer logo atrás porque o procedimento para sua saída exigiam dois passos. Primeiro sua segurança saia, avaliava o terreno e segundo ela poderia pisar no primeiro degrau da escada para sair do avião. Assim que a comissária — que tinha ido à porta do jatinho — a chamou para perto, soube que estava tudo pronto para descer. Suspirou felicitada com a permissão, não aguentava mais esperar. Seu corpo foi envolvido pelo vento abafado da cidade e os ouvidos dominados pelos sons do avião e da pista mais a frente, onde trafego de aeronaves era constante.

Na pista estavam estacionadas duas SUV Ford da cor preta, com vidros com a porcentagem de fumê chegando à beira dos cem por cento, provavelmente todos blindados, e a sua espera estava o motorista Siwon. A guarda pessoal de Jessica era formada por quatro homens altos e parrudos com cara de poucos amigos, que usavam pontos em seus ouvidos, óculos escuros e ternos feitos sob medida para disfarçar o volume dos músculos. Eles carregavam as malas para dentro dos carros, tomando muito cuidado com as bagagem da chefe. Yuri conversava algo com Siwon, que balançou a cabeça em concordância antes de retornar para o carro.

— Está tudo pronto, Srta. Jessica. Não haverá imprevistos para seguirmos até Hamptons — A morena falou para Jessica logo que a viu se aproximar e abriu a porta para que entrasse. Ela deveria ir no banco de trás, era mais confortável.

Jessica apenas acenou com a cabeça e entrou no carro. Na frente um dos seguranças tomou seu posto de vigilante, sentando-se no banco do passageiro. Siwon e ele se cumprimentaram, pareciam se conhecer. A Jung olhou para o lado de fora com dúvida e viu que Yuri iria no outro carro que seguiria o seu. Aquela era a escolta.

Desde que Tiffany e Yuri descobriram o problema em sua segurança, da possibilidade de alguém estar infiltrado entre sua guarda pessoal, as coisas estavam daquela maneira. Sempre tensas. Andava se sentindo paranoica ao pensar que poderia estar sendo vigiada, mesmo estando sozinha em casa e rodeada pelo silêncio. Talvez estivesse pegando certas manias de Tiffany, contudo a insegurança constantemente a assustava, perseguindo-a como um fantasma. A vulnerabilidade a deixava irritada. Não podia ir a uma cafeteria sem que fosse seguida por dois guardas, muito menos sair às compras em butiques do centro, sem antes arrastar consigo a escolta armada. Era ridículo. Até mesmo a ideia de alguém querer machucá-la ganhava tons de galhofa.

Quem iria perder tempo com um peão, quando poderiam ir atrás do rei? Seu pai era dono daquela empresa, ela apenas tinha parte no que está assegurada numa herança quando ele morresse. Portanto, enquanto ele estivesse vivo, ela não era nada além de alguém que conduziu o barco quando o capitão não pode. Uma mera substituta.

A viagem durou quase duas horas por conta do trânsito, que apertou num trecho da cidade entre as pontes. Foi cansativo todo o trajeto, boa parte entediante, mas que valeu a pena quando finalmente o carro estacionou na entrada da sua casa da praia.

A casa era linda pintada em tons marrons e brancos, erguida entre tijolos de barro vermelho e madeira de carvalho, construída no final dos anos sessenta por uma família não tão rica, numa época em que o valor de imóveis e terrenos naquela área era bem menos exorbitante que os preços de hoje em dia, pois Hamptons passou a ser almejado por celebridades de Hollywood e cantores de contratos milionários, o que consequentemente acabou valorizando os terrenos. Havia um andar no qual todas as janelas dos quartos davam vista para o mar. Muitos vitrais compunham a parte dos fundos, abrindo visão direta para a varanda que se estendia num tablado de madeira na areia, com uma pequena área que servia de deque para tomar sol na espreguiçadeira ou apenas desfrutar de um café da manhã na mesa de veraneio. O vento que vinha da costa tinha o gosto salgado e estava agradavelmente frio, contrastando com a temperatura que os termômetros marcavam na cidade. Os tons brancos em que a madeira da casa foi pintada refletia parte da luz do sol e dava mais visibilidade a casa, que era possivelmente a mais simples de toda a vila, porém a não menos luxuosa. O telhado tinha sido reformado recentemente e por isso o verniz brilhava. Jessica tinha seu lado requintado e mobiliou a casa da maneira como achou preferir, combinando o estilo antiquado e velho da casa, com móveis caros e de qualidade.

Infelizmente ela não teve a oportunidade de abrir sua própria residência. Precisou esperar uns instantes dentro do carro até que os seguranças avaliassem o perímetro. Quando terminado ela pode entrar pela cozinha, já que a porta da frente ficava nos fundos. Sentiu uma espécie de nostalgia dominá-la ao sentir o cheiro da madeira dos móveis da sala de jantar e da sala de estar. Aos poucos foi se sentindo em casa, chegando a tirar os saltos e o blazer do terninho executivo — tinha viajado assim que saiu do trabalho, nem se deu a chance de vestir roupas confortáveis —, a tensão e cansaço constante iam gradativamente desaparecendo. O chão de linóleo manchado estava frio, mas isso apenas era um relaxante aos pés cansados. Jogou suas coisas no sofá e abriu as portas corrediças que davam diretamente para a varanda, abrindo as cortinas para que a luz do final do dia entrasse na casa e a iluminasse. Se abraçou quando um estremecer atravessou a coluna, ficando empolgada com o som das ondas e das gaivotas que grasnavam ao longe. Não tinha vindo para Hamptons a férias, mas não conseguia conter o júbilo de felicidade por estar num lugar que poderia chamar de seu, ficando longe da selva de pedra que era Seoul e do ar confinado de seu escritório.

Estava prestes a atravessar correndo o deque, louca para pisar na areia fina e branca, quando escutou a voz de Yuri atrás de si.

— Quais são os planos para hoje, Srta. Jessica? — A Jung soltou um suspiro audível antes de se virar e encarar a figura alta da morena, que se mantinha a metros de distância, do outro lado da sala de estar.

Ela parecia fazer isso de propósito, pensou Jessica ao notar a distância que sempre as separava. Percebeu que ela estava rígida demais, tanto que as mãos estavam fechadas em punhos ao lado do corpo. Não compreendia o motivo para que estivesse rígida, não havia nenhum tipo de perigo naquela casa. Jessica também podia não gostar do seu sorriso debochado e muito menos do olhar confrontador, mas definitivamente desgostava da pessoa silenciosa e taciturna que andava a suas costas como uma sombra.

— Por hoje apenas nos estabelecemos — Ela se forçou a responder no mesmo tom frio e impessoal que a assassina usava, notando que um pouco de cor havia retornado aos lábios cheios de Yuri, que não estavam pressionados como antes. Retornou para dentro da casa, parando no meio da sala. — Você pode tomar um descanso... Parece cansada.

Não foi uma ordem, na verdade tinha sido um ato de gentileza e fez questão de expressar isso com sua voz mais suave. Yuri se a surpreendeu com o gesto, mas nada expressou. Aproveitando-se do fato de que ela não podia ver seus olhos, respondeu:

— Não vim para descanso, senhorita. — A resposta provocou desconforto em Jessica, que abriu a boca para protestar, sendo silenciada pela morena que desviou o rosto e seguiu para dentro da cozinha. — Irei guardar as compras, com licença.

Saiu sem dar um sorriso. Não houve afrontas e nem implicâncias, apenas se retirou e foi fazer o que tinha dito. Ela tinha recebido uma função de Tiffany, então a cumpriria.

Jessica a olhou escapar da conversa e desaparecer no outro cômodo, impedida de dar qualquer opinião. Escutou os seus batuques em armários e na geladeira, sua segurança tinha comprado mantimentos para os dias que ficariam na casa. Suspirou, sentia-se extremamente frustrada e não compreendia o motivo da frustração. Yuri estava esquisita, como se estivesse alerta para qualquer ataque iminente ou coisa parecida e ainda por cima evitando sua presença com mais constância que antigamente.

Largou os pensamentos ao ver que não tinha necessidade para pensá-los e se deitou no sofá, aproveitando o som do mar que entrava pela porta dos fundos e a visão aconchegante, para tomar seu descanso. O corpo gritou em alívio por sua atitude. Se Yul não queria descansar, ela não iria desperdiçar a oportunidade para dormir. Começou a fazer mentalmente sua agenda para os dias que ficaria em Hamptons, olhando para o teto branco da sala. Teria três dias para esquecer o trabalho. Não contava o dia da festa, pois esse seria o mais estressante da viagem. Amanhã faria a visita de rotina na casa de seus pais, ajudaria a mãe no que pudesse e se possível, no tempo livre, sairia com a irmã para fazer compras ou somente tomar um drinque num bar à beira mar. Estava disponível, em certos termos...

E com esses pensamentos agradáveis, acabou adormecendo, acordando horas mais tarde num solavanco, erguendo-se zonza do sofá. Tinha dormido muito tempo, o suficiente para que o sol se pusesse e a escuridão dominasse a casa. Pelo menos não estava completamente escuro, alguém tinha ligado o abajur da sala e iluminado o cômodo com uma luminosidade agradável, que estimulava o sono. Esticou o corpo, moveu o pescoço e sentiu-se perfeitamente bem, relaxada como não se sentia há um bom tempo.

Percebeu um cheiro agradável vir da cozinha, motivo que a acordou de seu cochilo e seguiu o aroma. Encontrou Yuri de costas, silenciosamente cozinhando, no balcão de mármore ao seu lado havia uma tábua de corte e alguns legumes perfeitamente cortados em tira. Ela estava preparando alguma carne, assando no azeite que lançava um cheiro perfumado no ambiente. Estimulado pelo cheiro o estômago de Jessica rugiu, fazendo-a corar pela falta de delicadeza.

Ela não soube se o som de sua barriga foi alto suficiente para sobrepor o chiado da carne, mas Yuri se virou logo em seguida. Dessa vez não usava óculos escuros e em seus olhos ônix conseguiu notar nuances de surpresa, não esperava sua aparição, como se tivesse sido flagrada cometendo um crime.

— Achei que estivesse dormindo... — Yuri falou em tom casual para disfarçar a surpresa.

Ela percebeu que os olhos da presidente estavam inchados e o cabelo levemente amassado, estava revolto caindo pelos ombros delicados e curvos. Estava com uma aparência mais saudável e relaxada, as maçãs do rosto tomaram um tom rosáceo. Aquela visão lhe agradava intimamente.

— E eu achei que você tivesse ido dormir — Jessica retrucou com sarcasmo, a mente ainda sob o efeito do sono, perdendo a desinibição e consequentemente a intimidação que sempre sentia ao estarem próximas, se sentou no banquinho do balcão e bocejou. O sono ainda estava ali em suas feições. — O cheiro da sua comida me acordou.

Admitiu ao ver que ela esperava uma explicação menos grosseira e mais abrangente. Yuri sabia que tinha um motivo para ter acordado, pois quando a observou pela última vez a viu ressonando baixinho, profundamente adormecida.

Jessica tentou ver o que ela fazia no fogão, mas não conseguiu por causa do corpo da morena que impedia sua visão. Sua curiosidade fez com que Yuri risse, era a primeira vez que via um lado diferente da Jessica que conheceu no escritório, e essa imagem não era intimidante e nem imponente, não se tratava da empresária bem sucedida. A presidente da Lucius. O visual descomposto mexia com seu âmago, revirando o estômago do avesso. Sua roupa estava amassada e a blusa fora da calça, alguns dos botões superiores estavam abertos. Parecia mais jovem e agia de acordo com sua idade. Acima de tudo aparentava estar livre como se tivessem tirado suas algemas. O trabalho a prendia e o estresse a transformava na empresária dura, enquanto que a teimosia era fruto do cotidiano repetitivo.

Yuri encerrou a conversa e colocou um pedaço de bife assado num prato branco, acompanhado de aspargos fritos e legumes temperados, cozidos no vapor, servindo-o a Jessica. Precisava alimentá-la e como não havia nenhum cozinheiro ali, por mera necessidade teve que assumir esse papel, embora não fosse a melhor cozinheira do mundo. Ao menos acreditava que poderia matar sua fome quando necessário. Jessica não reclamou por ser servida, agradecendo com um pouco de estranheza, mas faminta demais para renegar o prato. Pelo cheiro e a cor da carne que estava suculenta, a comida parecia bem atrativa, então tratou de experimentá-la. Não era nenhum prato premiado de um restaurante de luxo, porém tinha um tempero que agradou seu paladar.

— Quer alguma coisa para beber? — A morena questionou ao ver o semblante da presidente mudar de desconfiado, para deliciado, o que inflou minimamente seu ego de cozinheiro. Valeu a pena ter cozinhado algo para ela.

— Adoraria uma taça de vinho. — Desejou Jessica, apoiando a mão sob o queixo, desafiando-a ao erguer uma de suas sobrancelhas.

— Sua adega fica no porão, certo? — Yuri lembrou que em sua exploração na casa, aproveitando-se do fato de Jessica estar dormindo para decorar a planta da casa, descobriu a adega que ficava abaixo da cozinha. Bastava abrir uma porta perto da geladeira e descer uns lances de escada que encontraria um lugar cavernoso, onde havia uma coleção grande de vinhos caros e alguns até mesmo raros. — Volto já.

Alertou antes de se retirar e em menos de minutos voltou com uma garrafa na mão. Colocou-a sobre o balcão. Sabia que estava sendo observada atentamente pela dona da casa, que não reclamou por ela parecer saber onde tudo estava posicionado. Sem nenhuma dificuldade a morena achou o saca-rolha, que ficava guardado numa gaveta, e pegou uma taça dentro de um armário.

— Você não vai me acompanhar? — Jessica perguntou enquanto a observava abrir a garrafa, referindo-se a única taça sobre o balcão.

— Estou trabalhando...

— Isso não te impediu no trem.

Yuri parou no meio do caminho e ergueu o olhar, vendo-a desafiá-la mais uma vez. Sorriu minimamente para aquilo, de maneira mordaz e atrevida, pegando uma taça para si. Não faria mal tomar um pouco de vinho com sua chefe, ainda por cima a convite dela. Encheu os copos até a metade e passaram a beber silenciosamente, desfrutando do sabor cítrico da bebida. O som do talher raspando o prato era o único som produzido, para surpresa de ambas, o silêncio não era desconfortável.

— Você não vai comer? — A presidente notou tardiamente que apenas ela comia e já estava praticamente terminando tudo, enquanto bebericava do vinho, voltando a olhá-la. O sabor ácido e adocicado da bebida dominou a língua, que ao tocar o estômago lançou um jorro esfuziante de eletricidade e prazer em seu corpo.

— Já jantei. — A resposta seca e simples fez com que Jessica parasse um instante e a avaliasse.

Teria feito alguma coisa de errado para fazer com que ela agisse assim novamente?

— Aconteceu alguma coisa para você estar assim? — Apontou em sua direção, tentando explicar que não gostava da tensão que voltou a cobri-la da cabeça aos pés, assim como a secura de suas respostas.

A questão pegou a morena desprevenida, tinha dado muita bola e mostrado o desconforto que dominava seu interior. Devolveu seu olhar com firmeza e coragem, não ligando se isso poderia se tratar de uma insubordinação, buscando desviar sua atenção da verdade.

— Não aconteceu nada, Srta. Jessica. — Disse com um sorriso se abrindo no rosto.

Mas era tarde demais, a Jung notou o quão forçado e falso era. Parecia ter uma necessidade absurda de atuar naquele momento, como se ela quisesse convencê-la de que tudo estava bem.

Jessica poderia ter retrucado e teria feito com muito prazer, se o seu celular não tivesse tocado, interrompendo-a. Num suspiro de quem dá trégua ao inimigo para se armar, pulou fora da banqueta de ferro em sua cozinha e seguiu o som do toque, encontrando o aparelho dentro da bolsa. Ela não largou a taça nenhuma vez e atendeu a sua ligação, enquanto bebia do vinho, indo ficar em sua varanda. A ligação era de Tiffany, que parecia um pouco cansada com a carga de trabalho, mas preocupada o suficiente para dedicar um minuto do seu descanso e ligar para a amiga, que agora estava bem distante. Não precisou ser observadora para notar que ela estava a sondando, para ter certeza de que não havia matado Yuri no meio do caminho.

Quando Tiffany apareceu em sua sala, dias atrás, propondo aquela loucura como troca de sua proteção, se obrigou a fazer uma promessa de que não trocaria nenhum tipo de farpa com a morena, desde que ela se mantivesse quieta em seu lugar. E estava cumprindo com sua promessa... Até demais.

— Tiffany? — Yuri se aproximou dela na intenção de encher sua taça, assim que a viu encerrar a ligação. Não quis atrapalhar.

— Sim — Agradeceu pela gentileza de encher sua taça e abriu um sorrisinho que desprendia ironia. — Ela parece mais preocupada com a possibilidade de eu te matar, do que com a chance do espião me matar.

— Ela tem seus motivos, mas não acredito que seja verdade. Fany se preocupa com você — Afirmou como se a defendendo, o que de fato poderia estar acontecendo, nem ela mesma sabia o que estava tentando fazer.

Jessica deu de ombros para sua resposta, aceitando a situação, estava acostumada a isso de brincar com a amiga e provocar a morena, e deu um passo a frente na intenção de seguir para a praia, até que parou no caminho e se virou para Yuri.

— Tem algum problema se eu for sentar na praia, ou existem riscos demais? — Questionou com zombaria, fazendo descaso de sua situação complicada.

— Enquanto eu estiver aqui você estará segura — Yuri respondeu com forçada tranquilidade, parecendo um pouco indignada com a pouca fé que a presidente colocava sobre si. Irritava-se também com o descaso demonstrado, poderia agir mais preocupada com sua segurança e não o completo oposto. Bufou mentalmente quanto a isso, pois ela estava a duvidar de sua competência. — Vá em frente.

Desafiou-a e isso acendeu o olhar de Jessica, que ergueu o canto da boca num sorriso de quem vencia algo, mas não queria se gabar. Aquela era a primeira vez em horas de convivência mútua que conseguiu quebrar sua áurea tensa, para provocá-la como normalmente fazia. Tinha afetado seu orgulho profissional e agora que aprendeu tal técnica, poderia usá-lo quando quisesse. Satisfeita, descalça seguiu pela praia, indo se sentar num monte de areia. O vento e a sensação da areia em seus pés revitalizavam suas energias, lembrava ter lido algum artigo científico que falava sobre andar descalço na areia, ajudava a descarregar as energias negativas acumuladas.

Sem que esperasse sentiu uma presença ao seu lado e ao olhar para cima, viu que se tratava de Yuri. Ela não a olhou quando se sentou e colocou a garrafa entre elas, novamente abrindo distância, porém não muita. Dava para sentir o calor de seu corpo e tal descoberta fez seu coração acelerar.

Elas terminaram compartilhando um agradável silêncio, como se estivesse aproveitando a presença da outra, cada uma presa em pensamentos — estavam confusas com o que estavam a partilhar naquele momento —, até que Jessica se sentiu na vontade de quebrá-lo.

— Você poderia ter recusado, sabe?

— O que eu poderia ter recusado? — Yuri não entendeu de primeira ao que se referia, dirigindo o olhar até ela, encarando seu perfil.

O vento brincava suavemente com seu cabelo castanho, lançando na noite seu perfume delicioso em sua direção. Em sua cabeça não conseguiu parar de pensar no quanto ela era absurdamente linda, até seu perfil era perfeito e belo, ainda mais de perto... Uma dor fina se instalou num pedaço de seu coração ao ver que era muita tentação estar ao seu lado e segurar certos impulsos. Seria tão fácil esticar a mão e...

O que? O que verdadeiramente queria fazer? Estava confusa e em dúvida de qualquer coisa que surgisse em sua mente naquela noite.

— Sobre vir para cá... Tiffany pode ser sua superior, mas se eu recusasse teria encerrado ali mesmo a conversa e você não precisaria estar comigo. — Se voltou para ela, olhando diretamente em seus olhos, não notando o conflito interno pelo qual passava e a leve decepção que endureceu seus orbes ônix. — Ela poderia ter mandado outra pessoa em seu lugar, Taeyeon certamente teria se voluntariado para isso.

— Mas você sabe que Tiffany não permitiria que isso acontecesse — Yuri manteve o olhar firme, ficando repentinamente irritada pensando na possibilidade que a presidente ergueu, como se a própria quisesse livrar-se dela. Não gostou dessa sensação de ser excluída de algo, tornando incontrolável o impulso que teve de rebater suas ideias. — Tiffany não colocaria em risco a vida de Taeyeon.

— Oh, é verdade. Colocar a vida da namorada dela em risco seria imperdoável — Soltou uma risada suave e se remexeu na areia, esticando as pernas para frente do corpo.

A maneira como Jessica havia falado, poderia se passar como um comentário maldoso, mas a morena percebeu que não era exatamente isso.

— Você soa como se estivesse com ciúmes. — Yuri acusou criticamente.

— Ciúmes não. Inveja.

Jessica voltou a rir de si e de todo o contexto da conversa, onde tinham ido parar, mas ao ver que sua afirmação tinha deixado Yuri surpresa, sentiu que precisava se explicar de maneira descente. Mordeu o lábio inferior com inquietação, esse era o problema que o álcool provocava, ela se tornava muito mais sincera do que gostaria.

— Não me olhe estranho — Pediu ao desviar o olhar para frente, sentindo-se incomodada com seu olhar, focando-se nas ondas do mar que quebravam no escuro. A espuma branca era iluminada pelas luzes externas de sua casa, que estavam acessas àquela hora da noite. — Apenas sinto inveja delas, do sentimento entre elas, e isso é normal... Sou humana, sabe?

— Ás vezes não parece... — Yuri comentou com sinceridade, atraindo sua atenção do mar e abriu um sorriso para mostrar que estava brincando, ainda que estivesse sendo verdadeira. — Mas te entendo. Também tenho inveja das duas.

Teve de admitir a contragosto, expondo uma fraqueza, considerava esses tipos de sentimentos fúteis e totalmente desnecessários. Principalmente para alguém com seu trabalho, que não deveria criar raízes e nem sentimentos. Fria e calculista faziam parte de seu dicionário, mas ainda existia um lado humano e empático que a tornava naquilo que evitava ser. Por isso que se surpreendia ver Jessica confirmar sentir o mesmo. Pareciam dividir até uma pequena confissão.

— Elas parecem ter um relacionamento perfeito. — Jessica grunhiu em resposta, não controlando o pensamento antes que saísse de sua boca.

— Parecem ter sido feitas para a outra. — Yuri completou sua frase, ganhando um resmungo de aprovação. Elas se entreolharam e repentinamente começaram a rir, a risada explodindo dos lábios.

Estavam a rir não apenas da situação, mas delas mesmas, da cena pitoresca. Aqui estavam batendo um papo amistoso, como se fossem amigas, não de longa data, e sim que estavam a se conhecer, dividindo opiniões em comum sobre o relacionamento de suas amigas. Era tão diferente de quando se conheceram, não havia faíscas ou intrigas, somente conversas bobas e sem gênero, nada de brigas de egos.

Jessica não sabia se era a circunstância incomum ou o fato de ter bebido, quem sabe até mesmo o ambiente tranquilo e amistoso, que favoreceu aquele tipo de aproximação. Naquele instante podia sentir que existia uma tensão entre as duas, mas ela não era a de sempre, a que provocava brigas ou embates verbais. Essa tensão as aproximava como se fosse magnética. Seus ânimos haviam dado trégua e ela gostava disso. Também gostava de risada de Yul, do timbre mais calmo e suave que sua voz tomava quando estava quieta.

Lentamente a risada foi morrendo e Jessica notou o sorriso de Yuri. Um sorriso que abrilhantou o rosto moreno, deixando um rastro avermelhado nas bochechas, e acendido os olhos escuros, que, mesmo no claro-escuro, pareciam brilhar. Gostava daquela expressão.

Jessica imediatamente desviou o olhar, se sentindo incomodada com a sensação borbulhante que cresceu no peito repentinamente, gelando a espinha. Culpou a bebida por provocar-lhe tal sensação, mas sabia que ela apenas potencializou esse sentimento que existia em seu âmago. E a ansiedade que tinha desaparecido, ressurgiu, abrindo alas para uma expectativa que fez seus lábios formigarem. Lambeu os lábios para afugentar tal sensação e, num átimo de velocidade, se levantou da areia cambaleando, pois seu equilíbrio tinha sido afetado pelo vinho.

— Está ficando frio, por que não entramos? — Disse na tentativa de escapar daquela comoção interna, notando uma breve confusão tomar o rosto de Yul, que rapidamente foi substituída por frustração e depois se tornou ininteligível, neutro.

— A senhorita tem razão... — Se ergueu não se esquecendo de pegar a garrafa e seu copo.

A acompanhou para dentro da casa, que estava mais aconchegante que o vento da praia. Yuri parou na entrada da sala, fechando a porta atrás de si, observando Jessica pegar sua bolsa, blazer e sapatos, seguindo para a escada. Sua garganta ardeu e a mente exigiu que a impedisse, mas se limitou na hora, restando nada a dizer.

— Tenha uma boa noite, Srta. Jessica. — Se curvou minimamente em respeito a sua superior e saiu da sala, indo para o quarto de hóspedes que ficava no andar de baixo.

Ela não dormiria na casinha que ficava ao lado da casa principal — antigamente era um armazém, no qual Jessica reformou para que seus empregados tivessem um conforto para descasar —. A casinha estava ocupada pelos outros seguranças, restando a Yuri a opção do conforto da casa. Se isso servia de consolo, assim seria melhor para cuidar de Jessica caso ocorresse alguma emergência.

Mas quem ela queria enganar, sabia que aquilo não daria certo e o que havia acabado de sentir, apenas confirmou suas suspeitas. Estava se tornando numa mulher fraca, tanto que esqueceu de guardar as taças e a garrafa que trouxera consigo.

No momento em que escutou a porta do quarto de hóspedes se fechando, Jessica pode relaxar e voltar a respirar com mais calma. Tinha prendido a respiração durante bom tempo, como se temendo respirar da maneira errada na frente de Yuri. Era uma sensação frívola. Fazia tanto tempo que não se sentia assim, agitada por dentro e tensa por fora, que até a estranhava. Foi tudo tão repentino e voraz que durante aquele momento na praia, achou que tivesse passado uma vontade enlouquecedora de querer um conforto. Os lábios voltaram a formigar ao relembrar do sorriso amplo de Yul, a maneira natural como seus lábios se esticavam e... Se forçou a parar de pensar, estava ficando amedrontada.

Que diabos estava pensando?

Acreditando que estava enlouquecendo, subiu correndo as escadas e entrou na suíte principal que era seu quarto. Naquele andar tinha apenas mais um quarto, mas ela o havia transformado num escritório e se arrependia de ter feito, pois quando vinha ali não era para trabalhar. Deveria tê-lo reformado e transformado num quarto de hóspedes. Mas pouco importa. Jogou as coisas que carregava no chão e se sentou na cama. A cabeça pesou e caiu de costas o colchão, perdendo as forças que tinha, o coração acelerado como se tivesse corrido milhas. Estava um bagaço.

Se levantou com pressa e foi diretamente no banheiro se olhar no espelho, garantir que não havia nada de diferente com ela. Olhou e olhou, mas não viu nada de estranho. Tinha o rosto mais avermelhado, mas isso era natural de quando bebia vinho ou qualquer tipo de bebida com teor alcóolico. Suspirou pesadamente quando percebeu que não tinha chance de entender, o que estava se passando com ela e decidiu que era hora de tirar a roupa, tomar um banho quente, vestir pijamas confortáveis e ir dormir. Ainda estava sentindo o jetlag e como no dia seguinte precisava acordar cedo, foi logo tomar banho.

Vestida num pijama bastante confortável, se deitou na cama, cobrindo-se com o pesado edredom, que tinha cheiro de um gostoso amaciante. Provavelmente sua mãe tinha mandado alguém para limpar a casa antes de sua chegada.

Desligou as luzes num console perto da cabeceira da cama, pegou o celular, olhou as mensagens e e-mails, deveria fugir do trabalho, mas ele nunca escapava dela, tinha se acostumado a olhar como estavam os negócios. Descobriu que sua irmã tinha mandado uma mensagem durante a tarde, e dizia que estaria a esperando na casa dos pais para que elas pudessem combinar um dia juntas. Um sorriso nada forçado cresceu em seu rosto, adoraria passar o tempo com ela, então preferiu não responder e dormir logo, para que o dia seguinte chegasse.

E embora tivesse dormido uma tarde inteira, logo que a cabeça encostou no travesseiro, as pálpebras se fecharam e mergulhou num sono sem sonhos.


Notas Finais


E está dado o pontapé... Vamos ver o que vai dar nesse Yulsic kkkkkkk

Gostaram? Por favor, faça um autor feliz ao deixar seu comentário! Até a próxima! ^^


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