História Learning to love - Holi UCLA

Já se passara uma semana e ainda não superei que o menino que passou a vida inteira me humilhando estaria na mesma universidade que eu, considerando que ele nunca fez nem a metade do esforço que eu fiz. Quando eu sai daquela escola, daquela cidade, eu me esforcei o máximo para conseguir realizar o meu sonho que era e ainda é a dança e agora o meu passado volta para me atormentar mais um pouco.

10h45

— Então galera, essa é a ideia essencial do envolvimento da cultura na dança moderna — Susanna, a professora, nos analisava na esperança de que tivéssemos dúvidas.
Estava quase no final da aula teórica e por incrível que pareça eu ansiava para que nunca terminasse.

Era muito fácil prestar atenção, afinal de contas tudo que era relacionado à dança me encantava. Prendia-me a cada palavra dita por ela que alinhava um maço de papéis provavelmente importantes enquanto cruzava as pernas, o que deixava a vista seus sapatos desgastados, mas ainda sim de bom gosto.

— Senhorita Wood — ela me chamou, abaixou seus óculos de grau até a ponta do nariz e me olhou — Hm... Poderia fazer um breve resumo sobre um dos conceitos apresentados hoje?

— Bom, a dança moderna me chamou bastante atenção por explorar as possibilidades motoras do corpo, usar o emprego do espaço e do ritmo corporal em movimentos, além do dinamismo. — Ela sorriu e assentiu em sinal de aprovação.

Assim que a aula teve fim, os corredores ficaram lotados o que já era comum para mim afinal ao longo dos dias eu já tinha aprendido a me acostumar com a movimentação. Um menino com cabelos bem bagunçados e óculos com armação fundo de garrafa passava, assim que me entregou um folheto pequeno e num pulo Claire brotou do meu lado:

— Então quer dizer que você vai no festival?

— Oi? Festival? — Nem se quer tive tempo de ler o papelzinho que haviam acabado de me entregar.

— Festival de cores, os próprios universitários preparam no início do período — ela gesticulava enquanto explicava — para mostrar aos professores a evolução desde o ano anterior, por isso os calouros não participam.

— E como a senhorita sabe disso tudo? — ela riu.

— Digamos que nem todas as minhas amizades envolvem somente álcool — Eu fiz uma cara de surpresa, fazendo um “O” com a boca e Claire me deu um tapinha —, o Tommy, Jazzy e a Ellie estavam me explicando como funciona.

— Bem que você estava precisando, não é amiga? Porque aqueles loucos-por-uma-cachacinha que você chamava de amigos em São Francisco eram a treva.

— Ignorando completamente o que você disse, achei bem interessante, tirando a parte em que temos que dar uma mãozinha nesse evento — ela revirou os olhos —, vamos participar da organização do evento, limpeza e afins.

— Obrigatório? – Ela assentiu e eu dei de ombros. — Tudo bem então, já que não temos outra escolha…

…

Jake, Mike, Tez, Cassy e eu estávamos responsáveis pela decoração e limpeza no final do festival então tivemos que madrugar para começar a decorar o campus. Já havia passado três horas desde que chegamos e ainda não tínhamos feito nem metade da decoração.

— O que acham de colocarmos esses balões aqui? — perguntou-me Cassy que estava em cima do palco.

— Vai ficar legal, mas acho que não temos balões suficientes — disse, enquanto descia do palco.

— Tem mais desses balões na sala de música. Tem como você ir lá pegar, Lauren?

— Claro.

Caminhei em direção aos corredores de salas de música ajeitando algumas coisas pelo caminho. Passei em frente algumas portas que estavam fechadas e logo encontrei a última sala com a porta aberta. Com certeza era aquela. Parei em frente a mesma quando escutei uma voz acompanhada por acorde, que voz!

Tinha alguém ensaiando.

— Com licença, é que eu vim pegar umas coisas aqui e... — parei de falar assim que o garoto se virou para mim.

Perseguição. Era essa a única resposta que eu poderia ter. Tinha certeza que não estava enganada, seus traços agora de mais velho, eram ainda mais desenhados. Minhas mãos se fecharam e respirei fundo tentando expulsar todas as lembranças péssimas que eu carregava em relação ao mesmo.

— Quer ajuda ou vai ficar aí como quem acabou de ver um fantasma? — ele brincou sem perder o jeito meio maníaco e eu senti vontade de correr. Ou ele não se lembra ou está fazendo um ótimo teatro.

— Ahn, B-bolas de decoração, ficam por aqui?

— Estão naquele canto — ele apontou e observou enquanto eu abaixava para pegá-las — e cuid…

Tarde demais, assim que levantei dei com a cabeça num armário e vi pelo menos uma constelação. Pude ouvir uma risada abafada e assim que me virei pra encará-lo e jogar umas boas verdades, ele fingiu que não viu e voltou a tatear as cordas do violão.

Voltei para onde Cassy estava e coloquei os balões em cima da mesa:

— Você não sabe o prejuízo que esses balõezinhos me fizeram ter — ela riu e insistiu em saber —, não adianta teimar, não vou te dizer.

Tez testou os microfones, aproveitou pra fazer um mini karaokê e nos chamou pra participar enquanto ninguém mais chegava, rolou até canção de HSM.

Mike e Jake preparam a iluminação, e eu e Cassy testamos os pós coloridos e as caixas de som, tudo estava completamente ordenado.

— Parece que terminamos — soltei ar pela boca enquanto passava a mão na testa — nós merecemos nos divertir.

...

O festival havia começado há aproximadamente uma hora e no palco se encontrava cinco garotos que estavam apresentando uma dança ao som de um remix da música "Ayo - Chris Brown feat. Tyga" animando a galera.

Eu estava sozinha no meio das milhares de pessoas ali que curtiam e dançavam junto, já que eu não sabia onde Claire e Mell estavam e seria bem difícil procurá-las no meio dessa multidão. Mas eu estava me divertindo, balançando o meu corpo no ritmo da música, o que me fazia sentir bem mais livre, não demorou até que eu começasse a dançar com uns universitários desconhecidos em uma rodinha, por sinal, todos mandavam muito bem.

— Lauren?!

Escutei alguém gritar.

Olhei em volta no intuito de encontrar quem me chamava, mas estava realmente complicado. Voltei a dançar e mais uma vez escutei alguém gritar o meu nome, procurei mais uma vez e dessa vez eu encontrei o dono da voz. Brandon tentava passar por aquela multidão, abri um sorriso para o mesmo e esperei que ele chegasse perto de mim.

— Ufa, pensei que não fosse conseguir — gritou parando na minha frente. — Ahn, e aí Lauren.

— Oi, Brandon — respondi com certa dificuldade por conta do som extremamente alto e abri um sorriso.

— E ai, trabalhou muito? Soube que ficou com a parte da decoração.

— É, foi cansativo...

— Você está linda! — disse fazendo minhas bochechas corarem.

— Obrigada.

— Vocês estão curtindo? Estão animados? — Um cara magro e alto com cabelos cacheados gritava com o microfone em mãos em cima do palco e como resposta a galera gritava. — Bom, agora vamos receber aqui no palco, os veteranos: Shawn Mendes e Jack Gilinsky, que irão cantar para nós.

The way you're lightin' up the room
Caught the corner of my eye
We can both sneak out the back door
We don't have to say goodbye
Cause, it's alright, it's alright
To waste time tonight
Maybe I'm just a kid in love

Shawn Mendes, eu apostava ter visto esse nome em algum lugar antes. Ele cantava maravilhosamente bem. Já o filha da puta do Gilinsky cantava tão bem quanto, o que fazia ele se tornar mais filho da puta ainda. Como eu odiava ele por isso, e talvez se ele me reconhecesse eu passaria a detestá-lo mais ainda.

Senti que Brandon me observava frequentemente, e com isso minha bochecha queimava cada vez mais. Lançamos pó colorido e tiramos muitas fotos, principalmente fazendo caretas. Brandon sempre fazia alguma gracinha ou contava alguma piada que me fazia rir. Ele é legal!

Uma mensagem chegou no celular de Brandon e ele pareceu se esmorecer

— Ei, houve alguma coisa?

— Não se preocupe — ele bagunçou meu cabelo e riu —, mas já estou indo.

Dei um beijo em sua bochecha, como despedida. Ele me deu um abraço e um leve sorriso e, quando eu me virei de costas para ele, ele segurou meu pulso, ficou bem próximo a mim, abaixou um pouco a cabeça fazendo com que sua boca encostasse rapidamente em minha orelha...

— Poderia ser um pouco mais para o lado — falou em meu ouvido, me deixando arrepiada.

...

O festival acabou, o que significava que eu teria que voltar ao trabalho. Eu não estava com nem um pouco de vontade de limpar essa bagunça toda, só de ver que tenho que ajudar a limpar o campus todo me dá um desânimo.

Enquanto algumas pessoas tiravam a decoração, outras desmontavam o palco... eu estava com um saco plástico preto em minha mão e catava algumas coisas que estavam jogadas pelo gramado.

— Deixa que eu te ajudo.

Ouvi alguém atrás de mim

— Ah obrigada. — Sorri agradecida, me virei dando de cara com Gilinsky e desmanchando o sorriso. — Você só pode estar de brincadeira comigo!

— O que foi garota? — perguntou-me até com um tom meio grosseiro.

— Sério Jack, isso já está ficando muito chato!

— Tá ficando louca? Do que você está falando? — Ele só podia estar brincando.

— Jack, para tá eu...

— Lauren Wood, dá pra você parar de conversinha e continuar limpando isso?! — Cassy gritou.

— Lauren?