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História Lembranças de uma outra vida - VMin - O dia que te conheci - parte 1


Escrita por: Riderlove

Notas do Autor


Olá amores desculpem pela demora e obrigada por me esperar.
O capitulo ficou beeem grande mas foi preciso.
Já vou adiantando que esse momento tão especial na vida dos vmin vai ser contado em 3 partes, então preparem o coração.

Capítulo 12 - O dia que te conheci - parte 1


Jimin entra em seu quarto depois da estranha atitude no corredor de tentar adivinhar qual seria o quarto do fotógrafo Kim Taehyung, um pouco envergonhado. Dentro do cômodo, sua primeira atitude é botar a mão no bolso a procura do seu tão precioso e secreto pertence, o objeto que carregava consigo para todo canto desde que o fora encontrado.

___ O medalhão! … ___ Arregala os olhos assustado por não o sentir com a mão. ___ Onde está? ___ Vasculha os bolsos apressado revirando-os do avesso, apalpa mais uma vez ao retirar as mãos de lá, mas não o encontra.

O desespero já toma conta do coração, que acelerado não o permite pensar claramente. Não consegue se lembrar qual foi a última vez que o viu ou tocou nele em seu bolso. 

___ A mochila. Deve estar aqui! 

Um fio de esperança brota e sem esperar mais um segundo a tira das costa abrindo seu zíper e virando- a de ponta-cabeça na cama sem se importar com os outros objetos que dali caem.

Com olhos atentos, porém apreensivos, e mãos trêmulas com o nervosismo; procura entre seus pertences ali jogados de qualquer maneira. 

Jogava os objetos de um lado para outro, sacudindo a mochila já vazia repetidas vezes, mas não encontrava o que procurava.

Procurou também nos bolsos pequenos e nas pequenas repartições, mesmo sabendo que não teria o colocado ali.

A angústia e desespero já tomavam conta do loiro que sentia seu rosto queimar enquanto anda de um lado para outro no quarto roendo a unha do dedao enquanto tenta puxar na memória onde teria deixado o seu tão precioso  medalhão. 

___ Eu não acredito que o perdi! Como pude???

Martiriza-se inquieto.

Passa a mão pelos cabelos prendendo os lábios inacreditado. 

Volta a remexer nos pertences que antes guardados na bolsa, agora jazem sobre a cama relaxadamente.  Então finalmente se convence de que o objeto definitivamente não está ali.

Triste Jimin deixa o corpo cair sentado no colchão; seus olhos perdidos, rosto apático, em sua mente apenas um pensamento se passava:

" E eu nem consegui abri-lo uma última vez... Nem pude ver seu rosto pela última vez. "

Sentindo as orbes marejadas,  permanece inerte em seu sentimento de perda. Tão apático que não conseguia mexer os braços para enxugar uma lágrima solitária que escorre pela sua bochecha alcançando seus lábios que provam o gosto da tristeza instalada em sua alma.

Tristeza esta que racionalmente não poderia explicar, mas diante da perda, ele apenas sentia falta do objeto que amava, que já fazia parte da sua vida e inegavelmente, já fazia parte de si.

Mesmo que tivesse dito inúmeras vezes a si mesmo que o devolveria ao tesouro da caverna onde o achara; no fundo ele sabia que seria incapaz de fazê- lo. Já não podia viver longe do medalhão.  Do SEU medalhão, e só agora se dava conta disto.

Jimin não podia acreditar que o perdera. Não conseguia aceitar a ideia de que não veria o medalhão novamente, que não o teria nas mãos ou em segurança dentro do seu bolso durante como vinha acontecendo nos últimos dias desde que o achara.

E foi pensando nisto que sua mente clareou, sua expressão então se iluminou de repente.

___ Mas é claro! ___ Se levanta. ___ Foi no lago! Lá foi a última vez que o tirei do bolso!

Cheio de esperança, mais do que depressa, sai do quarto batendo a porta atrás de si com passos apressados. Vai em busca de recuperar o que perdeu.

___ Eu vou encontrá- lo!

Diz enquanto caminha a passos largos pelo corredor que o levará para fora da estalagem.


 Taehyung deita a cabeça no encosto do banco traseiro do táxi, já está chegando ao vilarejo onde se localiza o sítio arqueológico. Começa a pensar na breve pesquisa que fizera sobre o príncipe dono do solar que hoje é a pousada de Luz; então sua mente se move até o momento do banho que tomara pela manhã. 

Apesar de não ter dado importância ao que aconteceu no momento do ocorrido, agora; durante a viagem de volta que se encontrava no fim, começa a lembrar. Se sente intrigado.

" O que foi aquilo? Uma lembrança de algum filme que vi? Algum sonho que tive? Um delírio? 

Se questiona levando em conta que no momento da "visão" , estava a mais de um dia sem se alimentar,  acabando de acordar de um suposto desmaio e muito afetado pelo pensamento fixo de achar a história de um príncipe que nem ele mesmo sabia se existia ou não. 

" Tudo isso contribuiu para um belo de um delírio. "

Analisa em pensamento com o cenho franzido. 

Seus pensamentos são interrompidos quando o táxi para em frente à estalagem. 

Ele levanta a cabeça vendo que chegara ao seu destino e se prepara para pagar a corrida e saltar do carro.


Jimin alcança a porta da saída da estalagem apressado,  precisava voltar correndo ao lago para procurar seu medalhão e voltar a tempo de trabalhar um pouco com Patrick,  o historiador chefe da expedição. Já fazia um tempo que não sentava com seu velho amigo para estudar as peças já catalogadas.

Perdido em seus pensamentos urgentes, Jimin não se dá conta de que um velho camponês que puxa uma carroça com frutas provavelmente cultivadas por ele mesmo, em passos cansados cruza com ele. Apenas nota o senhor que já ía à uma certa distância, quando o ouve praguejar irritadiço por conta da roda de sua carroça ter quebrado, fazendo com que pendesse para o lado, derrubando vários dos caixotes que antes estavam cuidadosamente empilhados, agora muitos deles quebrados pela queda deixavam as frutas espalhadas pelo chão de barro.

Solícito,  Jimin apressa- se em ajudá-lo. 

___ Não se abaixe, deixe que eu cato para o senhor.

Fala preocupado ao ver o velhinho se contorcer numa careta de dor, ao tentar se abaixar para pegar um dos mamões que caíra ali.


Taehyung que desce do táxi ali perto também vê o que se passa. Ciente das dificuldades que  uma pessoa de idade teria para catar aquilo tudo, e não tendo visão de que havia alguém para ajudá- lo pois a carroça de roda quebrada estava justamente entre ele e aquele que agachado apanhava algumas das frutas espalhadas; corre para lá na intenção de ajudar o pobre senhorzinho. 

Chegando perto pega um dos caixotes que não quebrou na queda e sem proferir palavra alguma para o velhinho que se curvava e agradecia, apenas lhe dirigindo um sorriso labial indicando-lhe que o que fazia, não era incomodo nenhum, começa a guardar de volta as frutas ali com agilidade.

Começa pelo lado de trás da carroça, seguindo o caminho das frutas concentrado na tarefa de tirá- las do chão o mais rápido possível. 

Alcança um mamão grande e lustroso que milagrosamente não se partira nem sofrera dano algum mesmo parecendo estar bem maduro.

Ao mesmo tempo que  sua mão toca a fruta, antes que pudesse tirá- la do chão; percebe que uma outra mão havia feito o mesmo movimento. Uma outra mão na intenção de pegar a fruta para guardar, agora toca a sua mão. 

Uma mão pequena, de pele clara e macia, sem querer, segura a fruta e a sua mão.

Ao sentir o toque que envolve suas mãos,Taehyung deixa o olhar passear num caminho pelo braço de veias bem marcadas na pele aveludada, ombros cobertos pelo tecido da camisa larga que o vestia, passando pelo pescoço onde o pomo-de-Adão se move ao que o desconhecido parece engolir a saliva nervosamente até chegar em seu rosto, sendo preso no olhar que o fitava em surpresa pelo modo como seguraram a mesma fruta despropositadamente. 

Automaticamente os dois pares de olhos se analisam, se buscam, se prendem; se atraem.


Meados dos anos 1600 


P.O.V Vantê 



Naquela manhã de primavera, já estava me sentia entediado antes mesmo de me levantar da cama.

Alex me esperava de pé ao lado dela, em sua postura sempre ereta, segurando as roupas que havia separado para mim antes mesmo que eu acordasse; assim como fazia todos as manhãs. 

A mucama terminava de organizar meu café da manhã que como sempre, eu tomava ali mesmo no quarto. Não havia necessidade de descer até a gigantesca sala de jantar para o desjejum, afinal, o tomaria sozinho mesmo. Como em todos os dias... 

Eu nem mesmo fazia questão de tirar o pijama, muito menos sair da cama. Não fosse por Alex que como sempre, não me permitia fazer assim.

___ Não é saudável para sua mente, ficar de pijamas o dia inteiro, jogado nesta cama, majestade! Levante-se. Eu o ajudarei a se vestir depois do banho, e então; tomará seu desjejum sentado à mesa e se sentirá mais feliz.

Todas as manhãs ele insistia nisso; e mesmo quando enroscado preguiçosamente em minhas cobertas,  me negava a fazê-lo; o mesmo insistia até me convencer a levantar dali por livre e espontânea pressão. 

Só nunca chegamos a um acordo quanto a sala de jantar.  Sentado à cabeceira da enorme mesa de madeira de lei, na companhia apenas dos criados a minha volta à espera de algum comando para começarem a me servir; eu sempre começava o dia com o peso da realidade batendo bem forte em minha cabeça: Eu, o enjeitado da família, o filho ingrato e desobediente que como castigo por recusar- se a casar com Ordha a princesa, sua prometida desde o nascimento, recebi o exílio do castelo e total abandono da família por ordem do meu próprio pai.

O fato é que Ordha, mesmo sendo muito bela, educada, dona de pares de olhos azuis brilhantes, cachos loiros tão reluzentes quanto os raios de sol, e um sorriso gentil e entusiasmado, nunca fora uma opção para ocupar meu coração, que dirá minha cama, por um único e simples motivo: Eu não gosto de mulheres. E essa é a verdade mais absoluta sobre mim.

Por me sentir tão mais sozinho e completamente entristecido com todos esses pensamentos e lembranças na tal sala de jantar do solar; Alex concordou em providenciar o meu desejo por uma pequena mesa em meu quarto, onde ali; minhas refeições diárias poderiam parecer um pouco menos miseráveis. 

Naquela manhã específica no entanto, depois de cumprir todo o "ritual matinal" que Alex, meu valete e único amigo desde a infância me obrigou a fazer para o meu próprio bem _ palavras dele mesmo _ por mais incrível que pareça; realmente me senti um pouco mais revigorado. 

Olhando através da grande janela que por minha vontade permaneceria fechada, mas Alex insistia em abrir para arejar, vi que o clima estava agradável e o céu de um azul intenso. Convidativo a um passeio.

Posso dizer que os olhos do meu amigo e fiel valete brilharam mais que uma estrela quando anunciei que sairía para conhecer a pequena cidade onde a quatro meses era agora meu lar, mas que até então não havia explorado por conta de viver meus dias recluso em meu gélido e sem vida casulo de exílio; o meu solar.

Já dentro da carruagem, observo o movimento de damas e cavalheiros que ali transitavam que ao avistar meu veículo, interrompiam suas conversas, voltando suas atenções para o luxo e requinte ali irritantemente representados por conter o brasão da minha família no estandarte erguido através de uma das laterais da carruagem.

Uma atenção indesejada e desnecessária. 

Fazendo um sinal para meu valete, peço que pare a carruagem.

___ Vou descer! 

Digo assim que os cavalos são brecados. 

___ Mas, m-majest…

___ Nem tente me impedir, Alex! E não me chame assim em público.

O interrompo num tom que não dá margem para réplica. 

Obediente, ele torce o nariz, mas desce junto comigo, dando ordem ao cocheiro que leve os cavalos de volta ao solar. 

___ Eu e a majestade caminharemos um pouco.

___ Alex não me chame assim! 

___ Mas majest… Digo... Milorde,  o senhor é o princip…

___ Não ouse terminar essa frase, Alex!

O corto rapidamente.

Qualquer conversa que se referisse aos meus títulos  estavam terminantemente proibidas. 

Eu queria esquecer que fazia parte da família real, queria esquecer que por causa de manter títulos e alianças políticas com outros reinos, fui rejeitado e expulso pelo meu próprio pai.

Ainda me lembro de suas palavras daquela noite, quando me recusei a firmar o compromisso com Ordha e sua família. 

___ Saia do castelo. Deixe seu ouro, suas roupas e tudo que possui enquanto príncipe; assim como o próprio título.  ___ Esbravejava aos berros. ___ Se não quer me obedecer, não o quero como filho! Esqueça que carrega meu sangue, esqueça que um dia me chamou de pai.


Nada doeu mais do que aquela última sentença.

Os bens, o título, o castelo; nada disso importava pra mim realmente. Apesar de saber que minha vida seria muito desconfortável sem eles. 

Ouvir meu pai; aquele que desde sempre foi meu herói,  meu modelo a seguir; me rejeitando, ainda mais sabendo que ele nutria desconfianças sobre o real motivo de eu não aceitar Ordha como noiva. Isso abriu uma ferida em minha alma que nunca pararia de sangrar.

Se não fosse por minha amada mãe me enviar ao solar herdado de seu próprio pai, meu avô; e depois implorar por misericórdia do rei para que fosse benevolente e não deserdasse seu filho, afirmando que assim evitariam escândalos e burburinhos desnecessários  acerca do não cumprimento da promessa de casamento com a filha do reino vizinho; não sei em que condições e lugares estaria vivendo agora.

Mas desde que deixei o castelo, ainda que não tivesse sido destituído do meu título de nobreza e permanecido com todas as minhas posses, sinto- me envergonhado ao ser tratado como príncipe, pois pra mim, desde aquele dia; já não era mais o filho do rei. Assim como para ele, eu tenho a mais absoluta certeza que em seu coração; ele já não era mais meu pai.


___ Me desculpe, senhor! É só a força do hábito. 

Alex me traz de volta das minhas lembranças perturbadoras. 

Solto um suspiro pesado, na intenção de com isso me livrar de todo o peso que a triste recordação daquela noite me trouxe.

___ Vamos Alex! Vamos esticar as pernas!

Dou um sorriso, ainda que por enquanto um tanto amargurado, mudo de assunto tentando calar a mágoa dolorida que insiste em gritar no meu peito ao ressuscitar aquelas lembranças.

Sempre subserviente, Alex segue ao meu lado pela rua de pedras do centro da pequena cidade interiorana ao qual moramos agora.

Sendo um jovem de boa aparência, boa postura e bem vestido em roupas elegantes; mesmo que sem a carruagem pomposa, percebo que atraio os olhares tímidos das moças que cruzavam caminho comigo; mas nenhuma delas me desperta algum interesse.

Ao meu lado, Alex ri soprado, divertindo- se discretamente cada vez que uma ou outra um pouco mais ousada, sustentava o olhar por mais que alguns segundos, deixando claro seu interesse. 

Meu amigo o fazia, pois me conhecendo bem, sabe claramente das minhas preferências. Zombeteiro, compadecida- se das pobres moças que se lançavam na esperança de receber de mim, uma reciprocidade , nem que fosse no olhar. O que obviamente, não  aconteceria.

___ Por Deus, Alex. Contenha- se!

Ordeno, mas o acompanho no riso, ainda que me esforçasse para contê-lo.

Chegando à rua do mercado, paro um minuto para observar o beco das frutas.

Variadas e de todas as cores, me chamam a atenção, então decido entrar.

___ Não sabia que ía querer fazer compras, senhor. 

___ Não quero… hmmm,  vamos apenas jogar um jogo.

___ O senhor adora jogos. Não é mesmo?

___ Sim. É verdade! 

___ Então me diga, senhor. Qual jogo perderei hoje?

Pergunta divertido, já que conhece bem o meu lado super competitivo, que sempre faz de tudo por uma vitória. 

Eu rio e respondo.

___ Hoje jogaremos um jogo diferente! Acabo de criá- lo.

Digo tentando formar um ar de mistério. 

___ Interessante!

Ele cola a cabeça desconfiado.

___ O nome do jogo será:  O cidadão comum. 

___ E em que consiste o jogo e quais são as regras, majestade?

Suspiro esperançoso.  Realmente estava de muito bom humor agora; jogar um jogo de fantasia me faria ainda melhor. 

___ O jogo, meu caro Alex, consiste em entrarmos nesse beco e agirmos como cidadãos comuns. Dois amigos, pessoas comuns, fazendo suas compras comuns, numa manhã comum. Apenas.

___ Hmmm… Acho que ainda não entendi a parte onde eu perco… afinal; sou mesmo uma pessoa comum.

Pergunta acostumado com as incontáveis e inevitáveis derrotas ao longo dos anos.

___ Perde se me chamar de qualquer coisa que não seja meu nome de batismo. Já eu, perco se alguém que não seja você me chamar de algum título além de senhor, é claro, pois isso inevitavelmente qualquer vendedor ou comprador nesse beco, nos chamará,  por não conhecer nossos nomes.

O vejo gargalhar.

___ O senhor sabe que eu não vou conseguir. Não é justo!

___ Qual é,  Alex? Fomos criados juntos no castelo. Somos amigos de infância. Não deve ser tão difícil assim. As vezes acho que você só me chama por meus títulos pra me irritar!

___ Fomos criados juntos sim. Mas antes mesmo de aprender a falar seu nome; aprendi a chamá-lo de majestade. Chama- lo apenas de Vantê é quase que impossível pra mim. Terei que fazer um esforço sobre-humano.

___ Aí está!  Você acabou de me chamar pelo nome! ___ Indico animado. ___ Vamos, você consegue! Eu acredito em você. 

Incentivo um tanto zombeteiro dando- lhe dois tapinhas no peito para em seguida me adiantar em direção ao beco das frutas.

___ Espera aí!  Qual é o prêmio para o vencedor?

Pergunta num tom mais alto, já que eu andava à frente, um tanto distante.

___ O de sempre, meu caro! ___ Respondo sem virar pra encará-lo, sabendo da sua cara de desespero que sempre faz. Pois depois de perder; é ele o responsável por me trazer rapazes que estão dispostos a me dar uma noite inteira de prazer em troca de um ou dois dobrões  de ouro com a discrição que tal situação pede.___ Uma noite de luxúria! 

Digo simplista sinalizando com as mãos que era apenas aquilo, ao virar para ele que para seus pés atônito. 

___Majest…

___ oh! Já vai começar perdendo?

Pergunto num sorriso travesso com uma breve expressão inocente,  tão breve quanto falsa.

___ Essa não valeu! Ainda não estamos no beco, tecnicamente. 

___ OK! Mas a partir de agora,  deste exato momento; vale. Que o jogo comece! 

Rio ao ver a expressão desesperada daquele que sente mais uma derrota se aproximar. Em seguida dou as costas para ele, seguindo meu caminho beco a dentro com passos despreocupados e irreverentes, mãos dentro dos bolsos da calça enquanto sou alcançado por um Alex ofegante depois de uma pequena corrida que dera agora mesmo pra me alcançar. 

O beco das frutas era bem popular e naquela manhã estava repleto de compradores que transitavam de uma barraca a outra; ávidos por conseguir as melhores frutas frescas.

Haviam muitas barracas com os mais variados tipos de frutas. Na maioria, cultivadas pelos próprios donos das barracas que claramente eram simples fazendeiros, donos de chácaras e sítios. 

Dentre tantas opções de barracas que se organizavam em fileiras até onde a vista podia alcançar na cumprida rua do mercado, uma barraca me ganhou a atenção. Apenas uma.

Não pela variedade de frutas e legumes viçosos,  nem pela banca da frente cheia da minha fruta favorita; mamão. Eles realmente pareciam muito apetitosos e ganhavam destaque organizadamente na parte frontal da barraca; mas o que me chamou atenção ali, estava bem na minha frente, a poucos passos de distância, vestido numa surrada camisa de um tecido barato de cor branca amarelada, com os primeiros botões abertos e mangas arregaçadas acima dos cotovelos. Ele atendia uma jovem senhora e seu marido, entregando-lhes o que acabaram de comprar,  sorrindo agradecido pelas poucas moedas recebidas em troca.

Naquele momento, era como se tudo ao meu redor houvesse desaparecido. Eu só conseguia enxergar aquele homem de lábios grossos, cabelos loiros e uma pele branca que brilhava humedecida pelo suor produzido através do trabalho braçal que obviamente era rotineiro. Nota- se pelos braços de musculatura um tanto tonificada.

"Oh céus,  que homem!"

Minha voz interior exclamou quase que em descontrole total. 

Embasbacado.

Sim. Assim eu estava. Embasbacado,  quando ouvi a voz me cumprimentar de repente. 

___ Bom dia milorde! Em que posso servi-lo nesta manhã? 

Sem perceber, eu havia caminhado até ele, como se tivesse sido puxado, como se eu fosse uma marionete sendo arrastada pelas cordas na mão do ventríloquo,  como se houvesse um fio me puxando para mais perto dele.

Num segundo o observava de longe, e no outro já estava ali, parado em frente a sua barraca, sem conseguir desviar meus olhos de sua figura rústica porém  sexy. 

Ele me encara confuso a espera da minha resposta que simplesmente não vinha. Minha mente parou de funcionar no momento em que pus meus olhos sobre ele, e agora; sendo analisado pelas orbes castanho escuro que me encaram numa expressão curiosa e até um tanto divertida pela situação incomum, eu simplesmente não encontro controle sobre minha fala ou qualquer coisa em meu corpo.

Minhas mãos suam dentro do bolsos, retorcendo os dedos um no outro, meu coração bate tão forte, que chego a temer que o outro pudesse ver o tecido da minha camisa pulsar com os solavancos em meu peito.

Meus lábios se movimentam atrapalhados algumas vezes balbuciando tentativas falhas de palavras enquanto pisco os olhos rapidamente quando ouço a voz baixa e suave me chamar mais uma vez enquanto levanta as sobrancelhas, agora; um tanto preocupado com minha demora pra responder.

___ Milorde? 

Situação mais constrangedora, eu nunca havia passado. Nunca antes na minha vida, algum homem havia me deixado sem palavras daquela maneira.

"Responda alguma coisa, Vantê!  Não fique aí parado como um dois-de-paus."

Minha voz interior ordena irritada com toda aquela situação. 

Oras! Mais galanteador que eu, não havia na Côrte. Nas festas do palácio,  eu conquistava e roubava os corações tanto de mulheres, as quais não me interessavam nem um pouco; quanto dos mais belos homens que secretamente acabavam as noites em meus lençóis e na maioria das vezes, implorando por poder voltar mais vezes. O que nunca acontecia. Eu não era um homem dado a repetir cardápio,  que dirá companhias noturnas.

Mas estranhamente, aquele simples vendedor de  frutas, que aparentava ser tão desprovido de bens, mesmo mal vestido em suas roupas de tecido que nem nunca sonhei em tocar, que nada se parecia com os elegantes e requintados trajes que eu tirava vorazmente dos cavalheiros com os quais me relacionava. Aquele rústico dono da barraca,  tinha me tirado o chão, as palavras e roubado minha sanidade apenas pelo fato de estar na minha frente.

Em desespero por ver os segundos passarem sem que eu formulasse sequer uma palavra, finalmente sou salvo por Alex que com mão pesada em meu ombro me tira dos devaneios em que a beldade loira a minha frente me colocara.

___ Pelo que estou vendo, seus planos foram por água abaixo; milorde!

Num sobressalto, me dou conta de que Alex se refere ao fato do belo vendedor de frutas ter me chamado assim, me reconhecendo e pondo fim na brincadeira que eu mal havia começado com Alex,  sobre tentar se passar por uma pessoa comum, sem posses e títulos.

___ Não sou milorde!

Respondo rápido, sem desviar o rosto do vendedor parado a minha frente que agora me analisa de cima a baixo incrédulo, para em seguida dizer:

___ Como não? Mesmo que eu não reconhecesse o brasão da pomposa carruagem da qual o senhor desceu a instantes atrás na entrada do beco, suas roupas finas e caras certamente diriam que o senhor é alguém que pertence à corte.

Fala com um sorriso doce, porém seu olhar é desafiador, como um adulto quando pega uma criança na mentira.

Alex atrás de mim abafa o riso com uma mão enquanto resmunga num tom baixo para que apenas eu pudesse ouvir.

___ Parece que dessa vez quem ganhou foi eu.

Meu rosto queima. 

Queima de desapontamento por ter perdido o jogo, logo de cara, para Alex. Queima pelo vendedor que estragou meu jogo, me desmentindo com sorriso um tanto debochado. _" Porra… Até assim ele fica lindo." _ E principalmente, meu rosto queima por estar ali na presença do homem mais sensual que já vi na minha vida, e não saber o que dizer ou fazer.

Me sinto nervoso, trêmulo, e agora já não consigo sustentar o olhar àquele que me encara com olhos brilhantes enquanto morde o lábio inferior, parece se divertir com minha falta de jeito em esconder quem sou e minha total falta de poder verbal..

___ V-v-vamos e-embora Alex! E-eu não sei o q-que vim…

Me viro de costas pra ele com passos apressados e um tanto irritado por ter perdido o jogo talvez até tímido por não saber como me portar na presença daquele que em poucos segundos parecia ter abalado minhas estruturas. Começo a me afastar até que ouço sua voz .

___ Espere milorde!___ Ouço-o sair detrás da sua banca e dar uma breve corrida para me alcançar, mesmo que eu ainda não estivesse tão longe assim. ___ O senhor vai embora sem comprar nada?

Pergunta.

Noto um certo tom temeroso em sua voz, então me viro pra ele.

Quando o faço, o que vejo, são olhos apreensivos de um belo homem ofegante pela corrida, mas parecia ofegante também por medo de perder a venda que achou que realizaria à mim. O pobre homem certamente tira todo seu sustento apenas das vendas de suas frutas e legumes.

Meu peito se aperta pela idéia de ter provocado sua aflição, por faze-lo correr atrás de mim para que eu não fosse um dos clientes que apenas passam por sua barraca mas não leva nada.

Dou três passos lentos que me fazem chegar até ele que segurando um mamão nas mãos continua a me encarar temeroso. 

Vejo que fui o causador daquele temor que o loiro sentia. Meu coração fica pequeno, arrependido por isto.

___ Me desculpe.

Digo.

___ Eu que tenho que me desculpar se de alguma forma lhe ofendi. Vi que não gostou que eu te chamei de milorde.  Por favor não desista de suas compras pela minha falta de modos. Eu estou extremamente arrependido.

Ele faz menção de se ajoelhar perante mim, mas o seguro pelos braços antes que pudesse completar tal ato.

Me repreendo em pensamento por ter deixado que ele se martirizasse daquela forma.

___ Por favor não faça isso!

Peço ainda segurando na altura de seus bíceps.

Com toda aquela proximidade, me perco na imensidão do olhar que agora se prende ao meu com intensidade recíproca.

Por alguns segundos posso analisar seu rosto mais de perto e minha respiração chega a falhar por conta de tanta beleza nos detalhes do seu rosto tão  angelical mas demoniacamente sedutor, despertando um palpitar em meu peito nunca sentido antes.

Ele me analisa também, assustado pela intensidade com o qual minhas mãos seguravam seus músculos o mantendo perto de mim. Perto demais. Porém, vejo em seu olhar que me analisa todos os traços com admiração e poderia até arriscar dizer, que me analisavam com desejo; assim como eu.

Alex, perto de nós, pigarreia sem graça, nos tirando da troca de olhares que nos falava mais do que qualquer palavra, fazendo com que retomássemos ciência de onde estávamos.

Com olhar angelical o vendedor me pergunta:

___ A-as frutas não te agradam? O mamão hoje não lhe parece…

___ Irresistivelmente delicioso! 

O interrompo sem desviar o olhar dos seus lábios. Uso a entonação certa para o fazer entender que não era sobre o mamão que estava me referindo.

Ele cora, e meus olhos brilham ao ver isto.

Alex, perto de nós, baixa a cabeça, desconcertado, totalmente desambientado na atmosfera densa que de formara em volta de mim e do desconhecido vendedor de frutas que acabei de conhecer, mas que já gerava em mim sensações intensas das quais eu já nem fazia esforço de fugir.

" Sinto muito, Alex.  Não posso perder essa oportunidade. "

Me desculpo mentalmente ao meu amigo.

O loiro à minha frente me dirige um olhar tímido.

Ele entendeu o meu recado..

___ Eu quero!

Digo firme com a voz rouca e profunda.

Alex levanta o olhar à mim,  com medo de que eu vá dizer algo impróprio ou que avance no flerte descarado com o vendedor que com as bochechas tão vermelhas de timidez, quanto sua boca deliciosamente convidativa e que já quero beijar, me fita em expectativa temerosa.

___ Quero todas as frutas! 

Digo rápido em seguida dando um pigarro. Não queria continuar flertando e correr o risco de ser mal interpretado como um pervertido ou inconveniente; já tinha deixado minhas intenções claras o suficiente, agora não iria flertar de novo. Os vejo soltar o ar que prendiam no peito, aliviados.

___ T-todas, milorde?

O vendedor gostoso gagueja incrédulo. 

___ Sim, todas! Pode entregar no meu solar? ___ Compadecido com o desespero que demonstrou ao correr o risco de não fazer a venda, resolvo comprar, mesmo que a dispensa do solar não estivesse com falta de nada. ___ Entregar pessoalmente? Pagarei extra por isso! 

É claro que eu não ia perder a oportunidade de poder encontrá- lo novamente, né.

Ele sorri. Parece feliz.

___ Mas é claro, milor…

___ Por favor, não me chame assim.

Peço me aproximando mais dele, porém agora solto seus braços que prendia em meus dedos dando- lhe a opção de se afastar, se quisesse. Mas ele não o fez.

Cara a cara, pego o mamão que ele ainda segura, fazendo questão de tocar seus dedos sentindo o calor da sua pele embaixo da minha e nesse momento é como se uma faísca acedesse e se espalhasse através do braço atingindo todos os pontos sensíveis do meu corpo ao mesmo tempo, incendiando também meu coração que já batia acelerado com apenas aquele toque.

Meus olhos procuram os dele que transitam entre os meus olhos e meus lábios, enquanto os seus se entreabrem deixando claro ali, que ele também sentiu tudo que acabei de sentir.

___ Me desculpe senhor. Como devo chamá-lo então? 

Sua voz sai vacilante num tom baixo, suave e melódico, quase rouca, e me arrepio.

" Como ele pode esbanjar  tanta sensualidade mesmo numa pergunta simples?"

___ Me chame pelo meu nome. Meu nome é Vantê, é um prazer te conhecer.

Digo simples, ainda hipnotizado em seu olhar, ainda segurando suas mãos que me estende a fruta.

___ Eu sou Jimmy, Vantê.  E é um prazer te conhecer também! 

Se apresenta a mim usando aquele mesmo tom. Aquele tom que tão sexy que me prendia ali cada vez mais perto dele, mesmo sabendo que estávamos em público, mesmo sabendo que poderia estar deixando Alex desconfortável. Ele me prendia a atenção a cada movimento de seu peito que subia e descia pesado pela nossa proximidade, a cada segundo que retribuía o olhar cheio de significado.

"Jimmy"... Sexy até mesmo em cada letra de seu nome. Nome este; que de agora em diante estaría gravado em meu coração como à ferro e fogo.


Notas Finais


E então o que acharam?
Comentem a opinião de vcs aqui e interajam no Twitter na hashtag # FioVermelhoSangue me marcando @writerRiderlove pra a fic ganhar engajamento e mais pessoas conhecerem a minha obra.
Queria dizer aqui que todo amor em forma de comentários , favoritos e as interações no Twitter tem me emocionado demais.
Mais uma vez agradeço por vcs estarem fazendo parte desse sonho de ser escritora cmg. ❤
Bjs.


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