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História Les Marcheé - Um novo dia


Escrita por: Marurishi

Capítulo 20 - Um novo dia


 

Amanhecia um novo dia e no palácio de Isle a maioria ainda dormia profundamente. O que não era o caso de Codhe, que tinha o sono leve, frequentemente sendo acordado por pequenos pesadelos que se formavam em sua mente, mas ele logo os expulsava. Acordou com barulhos furtivos na sala e levantou-se num sobressalto.

— Khei? — perguntou desconfiado.

— Sou eu, já estou voltando a dormir. — Ela tentou responder naturalmente, fingindo que apenas havia levantado para tomar água ou algo do tipo, porque temia muito o que poderia lhe acontecer caso o irmão soubesse da sua fuga na madrugada, num café em companhia de estranhos.

— Tudo bem — tranquilizou-se com a afirmação da irmã e deitou-se novamente, queria voltar a dormir o quanto antes.

Virou-se na cama e seus olhos se deparam com o livro em cima do aparador. O livro estava aberto e isso fez Codhe se levantar imediatamente e encarar novamente aquele dragão furioso.

— Mas que livro do inferno! — Fechou o livro com raiva e jogou-o para baixo da cama, voltando a dormir.

 

 *******************

No castelo de Bellephorte, Lady Beriune dirigia-se para a outra ala do castelo, acompanhada apenas por Lorde Meyne. Caminharam em silêncio, ela na frente e ele dois passos atrás.

Lorde Meyne estava incomodado pelas palavras do Imperador. Tinha ciência sobre o que Lorde Thwar falava, pois sabia que Lady Hestea era responsável por muitas das intrigas e fofocas que ocorriam em Imperah, e sem dúvida, era a culpada dos boatos sobre a "Maldição de Boandis" que o Imperador veio a confirmar não se tratar de uma maldição.

Porém, nem tudo era tão claro na sua mente. As preocupações principais eram pelo mal maior que ameaça retornar, não entendeu o porquê do Imperador lhe dirigir um olhar como se ele fizesse parte daquilo. Isso seria uma injúria cruel e desproporcional.

As palavras do Imperador voltavam à sua mente, bem como o olhar sustentado de forma séria e reprovadora. Provavelmente, referia-se especificamente a Lady Hestea como causadora de tudo. Seria mesmo somente por ela ser maledicente? Com tantos problemas sérios e perigosos, não era possível que os Imperadores estivessem preocupados com ela em seu mundinho de caprichos.

Não acreditava que sua esposa demandasse tamanha preocupação. Por mais falsa e inconveniente que ela fosse, seu poder era mínimo e pouco influente quando se tratava de magia. A única diferença que fazia na corte era se tratando de luxo e beleza, o que não tinha nada a ver com a questão central.

Enquanto caminhavam pelos corredores silenciosos, a mente de Lorde Meyne estava focada em questionamentos. Somente os saltos da Imperatriz eram ouvidos em passos ritmados, até que Lady Beriune parou e virou-se para o lorde.

— Não precisa me seguir tão de perto se sua mente está tão longe! Estou irritada com o senhor! — demostrava ira e sob uma névoa roxa sumiu imediatamente da visão de Lorde Meyne, que deixou escapar um suspiro profundo.

— Mas o que foi isso? Eu a irritei assim por nada? — ficou parado no meio do corredor, com o olhar perdido.

Pensou que, talvez, por estar tão absorto em seus pensamentos, ela tivesse lhe pedido ou perguntado algo que ele não ouviu. Irritar a Imperatriz não era algo bom e o deixava muito desconfortável.

Ele voltou à ala oeste do castelo que era reservada a ele e sua família. A família Vell possuía um castelo próprio nas terras do extremos norte, onde residiam seus pais, irmã e outros parentes. No entanto, devido ao seu cargo na Tríade, residia em Bellephorte. Não poderia ser de outra forma, já que sua presença sempre era requisitada pela Imperatriz, com exceções de momentos como aquele.

 

*******************

No quarto da Imperatriz ricamente decorado, a cor roxa predominava. Sendo sua cor favorita estava em tudo ao seu redor, assim como o pérola e o dourado. Lady Beriune sentou-se na penteadeira e abrindo uma gaveta retirou uma caixa de veludo roxo escuro onde guardava um pingente em forma de gota cristalina.

Soltou-o sobre a penteadeira e afastou-se pegando um instrumento musical semelhante a um violino, porém o som era como o de uma harpa. Segurando a vara com leveza e delicadeza, tocou uma bela melodia que encheu o quarto e iluminou os vitrais. Tocava olhando para aquela gota cristalina, concentrando-se na bela música que fluía fazendo o cristal transparente tornar-se um berilo roxo. Quando terminou a melodia, sorriu. O encantamento estava completo e perfeito.

Soltou o instrumento, guardou o pingente na caixa e fitou seu rosto jovem e bonito no espelho.

Os anos pareciam não passar para ela e a imagem que via era a mesma de sempre: a aparência de uma mulher jovem. Sempre usava muita maquiagem, quase um exagero, mas havia um motivo para isso, não era apenas vaidade. Pele perfeita, lábios vermelhos, olhos castanhos bem marcados, bastante delineados e com longos cílios postiços, que lhe davam uma aparência completamente diferente de quando estava sem maquiagem, o que lhe era muito necessário.

Ninguém podia dizer ao certo qual a idade real dos Imperadores, pois estavam no governo há muito tempo e pareciam nunca envelhecer. Essa era parte da magia de Les Marcheé que os nobres de Bellephorte não compartilhavam com o povo, bem como a magia de mudar a aparência das coisas, que era sempre muito útil.

Usando desse talento, passou a mão sobre a caixa de veludo roxo, mudando sua cor para um tom de marsala.

— Roxo seria muito óbvio, marsala é uma cor bonita e continua sendo nobre — falou alto enquanto sorria de canto.

 

 *******************

No salão, depois da reunião, o Imperador permaneceu apenas na companhia dos Lordes Lynzeths, voltou seu olhar para o grande livro que permanecia aberto sobre a mesa.

Aquele era um livro de mapas, escalas e gráficos, continha topografias de todo o império bem antes mesmo dele ser nomeado de Les Marcheé. Narrava as mudanças que ocorreram na geografia devido a eventos naturais ou mágicos. Era um livro onde todos os acontecimentos eram relatados e posteriormente usados para estudos.

Naquele momento Lorde Thwar folheou até achar as páginas que desejava, confirmando o que já sabia na história e geografia: que o mal dos dias antigos teve sua entrada por onde hoje é a cidade de Boandis.

Era uma infeliz coincidência, afinal aquele pequeno evento desastroso da morte dos pássaros não tinha relação com o mal selado pelas Musas no passado. Eram poderes completamente diferentes.

O mal selado estava bem protegido e não poderia ser despertado tão facilmente sem que houvesse a mão dos Imperadores para isso, talvez por isso, Lady Beriune estava tão confiante de que os últimos eventos em Boandis não mereciam tanta atenção, muito menos quem os causou.

Mas Lorde Thwar não estava satisfeito, havia algo que não fazia sentido em sua mente. A biblioteca particular de Bellephorte era sem dúvida muito bem cuidada, seu acesso era restrito e a própria Imperatriz era responsável pelo local, nada entrava ou saía dali sem que ela soubesse.

Raramente o Imperador ia à biblioteca, seu tempo era dedicado à proteção das fronteiras, mas sabia que Lady Beriune amava a leitura e dedicava parte do seu tempo às letras. Assim, ela frequentemente estava lá.

Na biblioteca particular também haviam livros em branco que um dia seriam escritos, livros reservados às histórias do futuro. Esses livros eram guardados todos juntos, e quando aconteceu um pequeno incêndio ali, os Imperadores ficaram aliviados ao saberem que não houve danos sérios, além de alguns desses livros em branco, que, por não conterem nada e estarem danificados, foram separados dos demais que estavam bons para o uso. Eles foram esquecidos em uma estante.

Seria fácil não notar a falta de qualquer um deles, afinal, não eram mais que obsoletos e estavam ali por mera falta de vontade dos Imperadores de jogá-los fora. Contudo, eventualmente Lady Beriune costumava usar esses livros como rascunhos, fosse para simples anotações, desenhos e até magias escritas na forma de músicas. Não magias comprometedoras, mas experimentais, pequenos acúmulos de poder e conhecimento que Lady Beriune gostava de anotar para estudos. Esses livros de anotações eram vigiados, pois a Imperatriz era muito cautelosa com esses assuntos.

Assim, o Imperador se perguntava como um desses livros havia saído da biblioteca e ido parar nas mãos de Codhe Protheroi, que por coincidência, além de pertencer a mesma família Imperial dos dias antigos, também era de Boandis. Evidentemente não era o livro que preocupava o Imperador, mas sim o conteúdo que havia sido inserido nele. Afinal, Codhe manteve o livro para si e isso significava que o conteúdo havia lhe despertado o interesse e era isso que preocupava Lorde Thwar.

 


Notas Finais


Obrigada a todos que chegaram até aqui.


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