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História Let The Blood Run - Accidents


Escrita por: minsugaaw

Notas do Autor


Olá meu amores, voltei rapidinho com um capítulo maior para vocês. Espero realmente que gostem.
Nem preciso dizer nada sobre essa capa maravilhosa que uma leitora incrível fez para a fic. Eu fique tão feliz, vocês nem imaginam <3
Então... deixe o sangue correr.
Nome do capítulo: Acidentes

Capítulo 22 - Accidents


Quando abri meus olhos novamente, não foi por conta da claridade invadindo o quarto. Não, tudo ainda permanecia escuro aqui dentro.

Pisquei algumas vezes e logo pude ver pelas pálpebras entreabertas e pesadas as densas cortinas fechadas barrando os raios de sol. As mesmas cortinas que me fizeram imediatamente recordar de que aquele definitivamente não era o meu quarto.

 Meu pescoço virou rápido na direção oposta, mas não tão rápido quanto as batidas do meu coração aceleraram quando meus olhos captaram a figura deitada logo ao meu lado.

Ao meu lado, na cama, em seu quarto.

Jeongguk.

Um suspiro ficou preso em minha garganta e em sorriso estúpido tomou conta do meu rosto quando lembrei da noite passada. Insegurança, videogames, adormecer e abraços.

Eu recordava de adormecemos no chão, seus braços a minha volta, meu rosto em seu pescoço. Me lembro de inspirar o mais forte que podia querendo capturar o máximo possível do aroma delicioso de sua pele. Minhas mãos ansiosas ansiavam por explorar mais do seu corpo, mas eu me contive em apenas segurá-lo firme próximo a mim com medo de a qualquer momento perder aquele contato tão incrível. A sensação de entrelaçar meus dedos nos seus foi tão surreal quanto poder observa-lo agora.

Respirei fundo tentando acalmar meu coração e tomei meu tempo observando o rosto do homem ao meu lado. Deitado de bruços assim como eu seu rosto era levemente amassado contra o travesseiro e eu não pude deixar de notar os lábios levemente abertos que me permitiam ter um vislumbre dos seus dentes dianteiros salientes como os de uma criança. Suas costas se moviam lentamente de acordo com sua respiração e os músculos bem definidos se destacavam com facilidade contra a camiseta branca de material fino.

A silhueta perfeita do corpo se estendia no colchão. Nós não nos tocávamos, mas a proximidade de nossos corpos era o suficiente para me fazer sonhar de olhos abertos.

Levantei uma de minhas mãos no ar e com cuidado a movi até que estivesse sobre sua cabeça onde os fios pretos se espalhavam sobre o travesseiro. Lentamente e quase que prendendo a respiração, minha mão esquerda viajou pacientemente sobre aquele corpo. Eu quase podia senti-lo, meus dedos formigavam com a vontade de tocá-lo, mas eu não queria que ele acordasse ainda. Sobrevoei com delicadeza, acompanhando atentamente com os olhos cada detalhe e parte do seu corpo que minha mão podia alcançar. Um dos braços relaxado e largado ao lado do corpo, os ombros fortes e temporariamente livres de tenção, as bochechas pálidas e delicadas, sua respiração logo sobre a minha palma. Tão perto.

Levei mais tempo em seu rosto. Eu nunca o havia visto tão pacífico. As linhas de expressão finalmente tinham sumido e os olhos fechados não me lembravam em nada aquelas severas orbes que me encaravam durante o dia. O cenho franzido não existia e exalando toda aquela serenidade eu podia apenas esperar que o garoto abrisse os olhos e sorrisse para mim. Um sorriso genuíno e mesmo que cansado, ainda seria lindo.

Incrivelmente belo, jovial.

Mas eu sabia que ele não sorriria para mim quando acordasse. Eu sabia que assim que as pálpebras se movessem para revelar os belos olhos negros eu não veria mais serenidade naquele rosto, naquele momento eu não estaria mais encarando o garoto, na verdade estarei olhando diretamente nos olhos do herdeiro, do assassino que veste uma máscara ao invés de um sorriso.

E estava tudo perfeitamente... bem.

Vê-lo assim tão vulnerável era incrível e por inúmeras vezes eu cheguei a acreditar que nunca teria a chance de viver uma situação sequer parecida com essa. Eu me sentia leve, era como se nada pudesse me tirar dessa cama porque eu só queria me afundar cada vez mais no conforto da sua presença. Apesar de inusitado, era fácil estar ali.

Mas eu também já o tinha visto de máscara. Já tinha o visto matando, falando sobre suas facas como se fossem seu primeiro amor ou um amigo imaginário inseparável. Nada no mundo pode se comparar à expressão de prazer que domina seu rosto quando ele tira uma vida. Mesmo por trás da máscara eu pude ver as pupilas dilatando e ainda que não pudesse ver, eu sabia que estava sorrindo.

Naqueles momentos em que ele me olhava sério, seus olhos repreendedores e ao mesmo tempo escondendo por trás da rigidez um orgulho contido. Os sussurros em meus ouvidos me dizendo o quanto nós somos parecidos, detalhando com paciência exatamente o que eu tinha que fazer para deixa-lo feliz. Ali eu sentia que podia fazer qualquer coisa, enfrentar qualquer um e ainda assim venceria apenas para voltar até si vendo um sorriso satisfeito brincar em seus lábios pecaminosos. Era difícil, mas prazeroso, desafiador e me tirava do chão de um jeito completamente oposto. Delirante.

No final eu sou apenas alguém apaixonado. Um homem fascinado por todas as facetas e significados da arte diante de si. E foi assim que eu me vi sorrindo novamente.

Devagar ergui meu corpo fazendo o mínimo de movimentos no colchão até que estivesse completamente sentado. Cruzei as pernas de frente para a cabeceira da cama e finalmente levantei o olhar para analisar o quarto com mais liberdade.

Na realidade era bem parecido com o meu, apesar de ser de maior e definitivamente mais adulto. Jeongguk não tinha pôsteres na parede, mas na parede mais distante, ao lado da porta fechada que eu imaginei ser do closet, eu pude ver uma espécie de quadro com uma faca dentro por trás de um vidro. A porta posicionada à direita estava aberta e forçando os olhos eu podia ver a borda da banheira. Era tudo bem arrumado e estranhamente comum, não que eu esperasse que ele tivesse um mural de vítimas ou fotos autografadas dos seus seriais killers favoritos, mas ainda assim nada parecia pessoal ou íntimo. Aquele poderia ser o quarto de qualquer um.

Ainda curioso querendo saber pelo menos um pouco a mais do que já tinha conhecimento, me aventurei com o que estava ao meu alcance. As duas mesas de cabeceira ficavam dispostas uma de cada lado da cama. Uma delas estava absolutamente fora dos limites já que para conseguir abrir a gaveta eu teria que passar por cima do corpo adormecido de Jeongguk e eu com certeza não queria abusar tanto da sorte. Com isso só me restou a outra mesinha com uma única gaveta.

Me inclinei para frente e segurei o puxador encarando fixamente o rosto de Jeongguk enquanto puxava devagar a gaveta apenas o suficiente para conseguir enfiar minha mão lá dentro. Fiquei procurando em seu rosto qualquer sinal de que ele iria despertar, mas quando ele se manteve imóvel voltei meu olhar mediatamente para a gaveta. Não tinha como ver muito de longe, então apenas empurrei a mão para dentro tentando alcançar qualquer coisa que estivesse ali dentro.

Primeiro minhas mãos tocaram metal, apalpando logo percebi se tratar de um relógio muito provavelmente um bem caro. Esticando os dedos senti plástico e tomei cuidado para não apertar e fazer nenhum barulho. Quase revirei os olhos quando percebi do que se tratava. Camisinhas. Dois segundos depois alcancei o que provavelmente seria o tubo de lubrificante ignorando os motivos de porque ele mantinha aquilo ali tão acessível.

Continuei passeando a mão pela madeira e nada novo era tocado até que o dorso de minha mão resvalou em algo. Virando a palma para cima meus dígitos tocaram couro e passearam pelo objeto até encontrar o cabo de metal. Uma arma. Jeongguk era com certeza um homem prevenido e provavelmente ainda mais odiado do que eu pensava.

Depois de mais alguns segundos procurando por qualquer outra coisa que não fosse tão genérica quanto camisinhas, minhas expectativas foram diminuindo até eu enfim ter a realização de que Jeongguk era inteligente demais para guardar coisas importantes na mesinha de cabeceira. Minha mente logo foi preenchida com observações óbvias do quanto eu estava sendo estúpido e que no mínimo deveria ter ido procurar algo no closet e não numa gaveta de tão fácil acesso. Então antes de eu desistir completamente, estiquei um pouco mais meu braço e passei a mão pelo fundo da gaveta para uma última inspeção. Foi quando eu senti. No fundo da gaveta preso na vertical tinha uma espécie de papel que com cuidado eu puxei e trouxe até meu campo de visão.

O quarto estava escuro, mas era possível enxergar as coisas ao redor mesmo com dificuldade, então quando o papel estava a apenas alguns centímetros dos meus olhos eu finalmente tinha algo no mínimo intrigante nas mãos.

Era uma foto. Na imagem uma mulher que ainda parecia jovem demais segurava nos ombros de uma criança que deveria ter no máximo uns quatro anos de idade. Ao fundo eu pude imediatamente reconhecer o jardim da mansão e a localização idêntica dos bancos sobre a grama me fizeram perceber rapidamente que o arbusto mediano atrás das duas figuras era o mesmo que hoje brotava lindas flores brancas, o mesmo que Jeongguk sai no meio da noite para podar e cuidar. Parecia um dia lindo. O cabelo da mulher era preto apenas alguns dedos maior que o meu. Ela usava um vestido claro justo, mas que ao mesmo tempo não parecia limitar seus movimentos, um sorriso sem dentes estava expresso em seu rosto e as mãos que seguravam a pequena criança pelos ombros estavam cobertas por luvas que eu tenho certeza que de que já vi antes. Luvas de jardinagem azuis.

Quando meus olhos desceram para analisar a criança eu não tive dúvidas. O cabelo escuro como o da mulher e o sorriso infantil com dentes salientes que lembravam um coelho não me deixaram ser confundido. Aquele era Jeongguk e a mulher muito provavelmente era sua mãe tanto devido a semelhança física como pelo jeito que a mulher inspirava uma aura protetora sobre o menino mesmo através de uma simples fotografia.

Era estranho estar vendo aquela foto. Já era bem óbvio que eu não sabia muito sobre o Jeongguk mesmo estando morando nessa mansão a quase um ano, mas em todo esse tempo eu nunca tinha ouvido sequer falar de sua mãe. Eu sabia que seu pai morava na mansão apesar de nunca tê-lo visto. De vez em quando eu apenas via vislumbres das prostitutas que ele convidava, mas nunca cheguei a ver o homem, apenas o carro deixando a garagem ou o barulho do helicóptero particular dos Jeon pousando ao longe. Jeongguk parecia bastante satisfeito com o fato de ele quase nunca estar em casa.

Foi engraçado poder ver o moreno tão pequeno na fotografia e inicialmente parecia apenas alguma recordação inocente. Guardar aquilo grudado no fundo da gaveta é estranho, mas Jeongguk é estranho por natureza então não é de se espantar que ele guardasse algo pessoal daquela forma.

Parecia tudo muito comum e eu estava pronto para guardar a foto de novo e voltar a deitar para aproveitar os poucos minutos que me restavam antes de Jeongguk acordar e me botar pra fora do quarto quando eu vi o verso da folha.

“Jeon Jeongguk, 5 anos”

Dizia a caligrafia no topo do verso branco e logo em baixo tinha mais uma coisa escrita à mão.

“A nós não domina”

Reli aquela mesma frase por no mínimo dez vezes tentando buscar um significado para a mesma, mas sem nenhuma mínima ideia. Virei a foto novamente e encarei o garoto e sua mãe.

Nós

Nós seria o garoto e a mãe? Mas quem queria dominá-los? E dominar em que sentido?

Nada parecia claro, nada fazia sentido então apenas me apressei a colocar a foto no lugar e gastar meu tempo pensando deitado antes que Jeongguk acordasse.

A frase se repetia como se ecoasse em minha mente enquanto eu com cuidado fechava de volta a gaveta. Estava pronto para voltar a me deitar como se nada tivesse acontecido quando o homem ao meu lado se moveu. Foi um movimento leve, apenas um levantar de braços para agarrar o travesseiro e cobrir parcialmente o rosto, mas foi o suficiente para me fazer paralisar no lugar e também o suficiente para fazer sua blusa se erguer alguns centímetros na altura da cintura.

Eu teria ignorado completamente aquilo. Era apenas um pequeno pedaço de pele e eu queria voltar a minha posição inicial o quanto antes, mas quando meus olhos encararam a pele morena um arquejo de surpresa ficou preso em minha garganta.

Era óbvio que sendo o assassino bem treinado que era Jeongguk teria cicatrizes, várias cicatrizes e marcas que recordassem seus anos de treinamento, mas aquilo era diferente.

Eram cicatrizes, mas não pareciam feitas por faca ou balas. Estavam em diferentes direções e ângulos e dessa vez eu não me contive antes de esticar uma das mãos e erguer mais a camisa do moreno revelando metade de suas costas.

Meus olhos cresceram ainda mais e minha boca se abriu algumas vezes enquanto eu encarava as inúmeras cicatrizes que se perdiam nas costas definidas de Jeongguk. Todas pareciam possuir uma mesma estética. Finas, algumas mais longas e esbranquiçadas enquanto outras eram avermelhadas, dispostas em todas as direções. Semelhantes a queimaduras.

Eu simplesmente não conseguia parar de olhar e a vontade era de subir completamente a blusa para ver a dimensão dos machucados passados marcados no moreno. Minha cabeça permaneceu um turbilhão de pensamentos até que o corpo sob minha visão virou bruscamente sobre as costas e agarrou meu pulso com força.

- Mas que merda você pensa que está fazendo, Taehyung? – o rosto de Jeongguk além de raiva carregava incredulidade e eu não soube o que dizer. Apenas continuei parado sentado na cama encarando suas feições agora nem um pouco relaxadas.

- Me responde Taehyung, que merda você estava fazendo? O que você viu? – ele estava exasperado sacodindo meu pulso preso entre seus dedos me fazendo perceber que eu realmente não deveria ter visto aquilo e apesar da pergunta, ele já sabia o que tinha me deixado tão chocado assim.

- Jeongguk... me desculpa. Eu só... – tentei falar e de alguma forma amenizar a situação, mas ele apenas largou meu pulso bruscamente e levantou da cama passando as mãos com força pelo cabelo bagunçado enquanto andava em torno da cama.

Em outra situação eu teria admirado seu estado recém desperto, mas agora meu único desejo era acalmar o furacão que rondava pelo quarto extremamente irritado.

- Eu sabia que isso tinha sido uma péssima ideia. Eu não devia ter deixado você ficar aqui – ele repetiu mais para si mesmo, mas eu praticamente entrei em pânico no momento em que as palavras deixaram sua boca, não querendo ouvi-lo dizer que se arrependia da noite passada.

- Não, não. Eu vi suas costas, mas não é nada demais, não é? Eu mesmo tenho várias cicatrizes e você é muito melhor do que eu e treinou por mais tempo então é claro que teria mais – comecei a falar rápido quase me enrolando com as sílabas e engatinhei na cama ignorando as pontadas de dor nas pernas até que estivesse na borda mais próxima de si permanecendo ajoelhado e sentado sobre meus próprios pés.

- Você não tem noção do que está falando-

- Eu entendo – o interrompi – Eu não devia ter feito isso, me desculpa, mas por favor não fica bravo – me aproximei ainda mais e quando ele não se afastou avancei e abracei sua cintura inspirando fundo com o rosto pressionado contra seu abdome.

Ele não se moveu e eu não conseguia interpretar aquilo como algo bom ou ruim. Alguns segundos se passaram e eu permaneci ali agarrado firmemente ao seu torso, por fim o senti suspirar fundo quase como se estivesse exausto demais para brigar comigo mesmo que tivesse acabado de acordar.

- Me solta Taehyung, vá para o seu quarto – sua voz estava baixa, mas ainda gotejava irritação e eu apertei ainda mais o abraço ponderando em me recusar a soltá-lo.

- Eu não vou falar outra vez. Eu preciso trabalhar e você tem que trocar os curativos. Seus treinos retornam amanhã – e sem mais nenhuma palavra ele apenas segurou meus braços e os retirou do seu corpo dando as costas indo em direção ao banheiro. O som da porta fechando foi a última coisa que ouvi antes de me levantar e sair do quarto.

(...)

Só fui ver Jeongguk novamente no dia seguinte quando nos encontramos à mesa para o desjejum. Não trocamos uma palavra, na verdade ele ao menos levantou o olhar para mim e eu não gostei do tratamento frio que estava recebendo depois de ele ter sido tão cuidadoso comigo naquela noite. Entretanto, assim que engoli o último pedaço de bolo em meu prato ele simplesmente se levantou da cadeira, curvou-se rapidamente em minha direção, cumprimentou Sun noona com um aceno de cabeça e se retirou.

Naquela tarde meus treinos pessoais com Hoseok hyung recomeçaram. Ele me auxiliava com movimentos mais leves e que não forçassem tanto minha perna machucada, mas ainda assim a utilizando para que eu não estivesse debilitado da mesma quando o próximo desafio ocorresse no próximo sábado. Apenas mais quatro dias me separavam da minha próxima luta e eu relembrei vagamente das 4 pessoas que morreram naquela primeira noite de lutas, Jennie entre elas. Eu ainda sentia raiva do modo prepotente com que aquele ser repugnante tirou a vida da garota e caminhou até mim se direcionando a Jeongguk como eu sequer estivesse parado logo ao lado.

A vontade de ser ainda melhor para conquistar aquele título ainda me acompanhava a cada passo e eu queria muito aquilo, mas hoje cada vez que eu tentava me concentrar a fundo nos movimentos que realizava, as imagens da foto e das costas cicatrizadas de Jeongguk me voltavam a mente me fazendo quase ouvir a frase escrita no verso da fotografia sendo sussurrada contra meu ouvido.

Com um baque surdo então senti meu corpo cair sobre o tatame, o impacto de minhas costas com o chão me deixando sem ar por alguns segundos.

- Se concentra garoto, essa é terceira vez que você se distrai – meu treinador falou me encarando de cima antes de se afastar pronto para começar de novo.

Respirei fundo fechando os olhos por alguns segundos para relaxar meus músculos cansados e ignorar a dor latejante na perna. Frustrado com a bagunça que estavam meus pensamentos, a única alternativa sensata naquele momento me pareceu ir direto ao ponto para poder tirar aquilo da cabeça o quanto antes e voltar a me concentrar como devia nos treinos. Então num lapso de frustração apenas deixei meus pensamentos fluírem pela boca.

- Hyung, porque o Sr. Jeon nunca está em casa? – perguntei ainda encarando o teto e a julgar pela pausa que Hoseok hyung fez, ele provavelmente havia sido arrebatado pela surpresa da pergunta completamente aleatória.

- Hmm... Ele é um homem ocupado. Ele possui muitas propriedades e negócios para tomar conta em todo o país – o homem disse simplório e eu o pude ver dar de ombros quando me impulsionei e apoiei meu corpo sobre os cotovelos.

- Mas eu de vez em quando escuto o Jin hyung praguejar baixinho dizendo que sempre sobra tudo para o Jeongguk resolver sozinho – franzi o cenho para ele mostrando minha confusão para com sua resposta.

- Aqui nós não questionamos o que o dono da casa faz ou deixa de fazer – seu tom me alertava de que eu não deveria falar coisas desse tipo e eu acatei já que aquele realmente não era meu ponto de interesse.

- E a mãe do Jeongguk? Eu nunca ouvi falar sobre ela – falei devagar tentando soar o menos interessado possível. O olhar que Hoseok hyung me deu dessa vez foi mais duro e eu de imediato percebi que aquele era um assunto delicado.

- Nós também não falamos sobre ela. Nunca – ele disse rápido e direto sem demonstrar nenhum interesse em se aprofundar no assunto, mas eu precisava de alguma coisa, qualquer coisa.

- Mas hyung eu-

- Ela morreu quando Jeongguk tinha 5 anos. É tudo o que precisa saber – ele desviou o olhar agora parecendo de certa forma triste ao lembrar de algo enquanto encarava seus sapatos – Não toque nesse assunto perto do Jeongguk ok? Por favor – concordei com a cabeça atordoado com a mudança repentina de atitude do meu treinador que parecia preocupado com a possibilidade de Jeongguk chegar a ouvir sobre o que falávamos, mas logo voltou a sorrir quando eu concordei em ficar quieto.

Então conformado com o fato de que não conseguiria arrancar mais nada de Hoseok, apenas aceitei sua mão estendida e me ergui para voltar a treinar.

(...)

Na quarta-feira, eu estava no jardim deitado de barriga para cima na grama observando as árvores enquanto o sol se escondia por trás das nuvens. Tinha sido um dia cansativo e eu ainda sentia meus cabelos úmidos no braço dobrado que apoiava a parte de trás de minha cabeça. O treinamento foi intenso e eu já sentia minha perna bem melhor, mas ainda me preocupava que não estivesse 100% para as semi-finais da Aequum.

Fechei meus olhos e inspirei fundo tentando me livrar daqueles pensamentos quando escutei passos cada vez mais próximos de onde eu estava. Abri apenas um olho para encarar Jin hyung parado à apenas alguns metros de mim com um sorriso divertido no rosto.

- Ah, Jin hyung – cumprimentei com um sorriso antes de voltar a fechar os olhos e repousar.

- Você não deveria estar treinando? – ele perguntou sarcástico e eu só dei de ombros em resposta o que lhe fez rir.

- Jeongguk não vai gostar de saber que estava burlando treino – balancei minha cabeça negativamente e abri os olhos mais uma fez para encarar o homem que decidiu se aproximar e sentar ao meu lado.

- Eu não vejo nem a sombra dele desde segunda de manhã – confessei sentindo a mágoa transparecer em minha voz.

- Ele teve que viajar a trabalho e resolver algumas coisas – Jin hyung falou chegando mais perto e eu apenas concordei com a cabeça relembrando de Hoseok hyung me dizendo o Sr. Jeon trabalhava muito. Definitivamente não é o que parece já que Jeongguk está sempre trabalhando.

Fiquei em silêncio e acabei me distraindo com um galho pequeno disposto entre meus pés o qual eu usei para fazer pequenos furos na terra.

- Quando eu tinha mais ou menos a sua idade eu também costumava deitar em baixo de alguma dessas árvores e apenas fechar os olhos para sentir a brisa. Essa parte da propriedade é realmente a mais agradável – o homem falou num tom leve e nostálgico, mas para mim a única coisa que ficou clara em minha mente é que Jin hyung realmente está aqui a muito tempo e se ele está aqui a tanto tempo assim ele com certeza sabe de mais coisas do que imaginei.

- Jin hyung, o que aconteceu com a mãe do Jeongguk? – quando virei para encarar seu rosto ele não me encarava de volta. Seus olhos ficaram distantes e um sorriso fraco brincou em seus lábios.

- Por que pergunta sobre ela? – ele questionou de volta ainda com o olhar ao longe.

Eu não pretendia dizer realmente o porquê, mas senti que Jin hyung sempre foi sincero demais comigo para que eu mentisse sobre um assunto delicado como aquele.

- Eu vi uma fotografia dela com o Jeongguk quando ele era criança – confessei.

- A que fica no fundo da gaveta dele? – Jin hyung falou num tom divertido, mas ao mesmo tempo repreendedor o que me fez baixar a cabeça levemente envergonhado por ter mexido nas coisas do moreno.

Ele apenas gargalhou ao meu lado e balançou a cabeça em deleite.

- Eu tirei aquela foto. Aqui mesmo nesse jardim de frente para o arbusto favorito dela – seu tom era suave e o sorriso se manteve – Jeongguk caiu e ralou o joelho cinco minutos depois.

Meus próprios lábios se torceram em um sorriso ao imaginar o garoto correndo e brincando por essa mesma grama e caindo no chão antes de correr para mãe reclamando do machucado. Não parecia algo que Jeongguk faria mesmo quando criança.

- Ele fazia muito disso?

- Na verdade, não. Ele sempre foi uma criança quieta, quieta até demais para o gosto de alguns. Mas ficou ainda mais depois que ela morreu – escutei atento deixando Jin hyung seguir contando suas memórias.

- Eu não deveria estar tendo essa conversa com você, mas eu acho que é um costume meu dizer mais do que devia a você – ele riu consigo mesmo e desviou o olhar para mim rapidamente – Sooyoung morreu de um acidente de carro 4 meses depois que eu tirei aquela foto. Foi trágico e devastador para todos nós, mas principalmente para Jeongguk, por isso não tocamos no assunto nessa casa.

- Então foi acidental? – questionei.

- Um pouco estranho, mas sim. Um acidente.

Parecia bastante comum, acidentes de carro acontecem a todo instante e milhares de pessoas morrem nesse tipo de acidente por ano. Mas então o sussurro leve me lembrou de mais uma coisa.

- No verso da foto tinha escrito uma frase – revelei – “A nós não domina”. O que isso significa?

- Você não deveria se preocupar com isso garoto. Talvez seja apenas uma frase de incentivo – o homem acenou a mão em descaso.

- Não me parece como uma frase de incentivo e a caligrafia não parecia ser masculina – insisti – Você acha que ela escreveu aquilo para o Jeongguk? Mas quem poderia querer domina-los?

- Garoto... Você não quer seguir por esse caminho – ele negou com a cabeça – Não tem nada demais sobre isso. Já fazem anos que ela se foi.

- Eu sei, mas você disse que foi um acidente estranho. E se ela deixou uma frase assim como um aviso? Talvez tivesse querendo dizer algo ou-

- Chega dessa conversa. Esqueça o que eu disse Taehyung, foi um acidente comum e você vai apenas perder seu tempo com teorias sem fundamento – ele levantou a mão e bagunçou meu cabelo sorrindo para mim, mas aquele sorriso definitivamente não alcançou seus olhos.

- Tudo bem – concordei, mas enquanto o observava se levantar e dar as costas caminhando em direção à casa a única coisa em que podia pensar era se havia a possibilidade de Jeon Sooyoung não ter morrido por um acidente.

(...)

Na tarde de sexta-feira eu me peguei deitado no quarto encarando mais uma vez os pôsteres não tão mais interessantes que decoravam as paredes.

Eu só tinha mais aquele dia antes da luta e Hoseok hyung achou melhor me dar uma folga para não acabar sobrecarregando minha perna.

Eu já tinha jogado videogame o suficiente para uma vida e olhando ao redor da casa nada parecia interessante o suficiente para gastar energia, então apenas deitei a cabeça no travesseiro e pensei.

Fechando os olhos eu voltei a lembrar daquela noite.

Fazia dias que eu pensava nos mesmos momentos, nos toques de Jeongguk, na sensação de acordar e a primeira coisa diante dos meus olhos ser o seu rosto relaxado e livre de preocupações. Eu queria poder vê-lo mais vezes assim, gostaria de ter liberdade o suficiente para tocá-lo sem temer uma reação negativa. Eu queria o seu todo assim como ele me consumiu lentamente por inteiro.

O desejo de ir dormir logo após lhe ver sorrindo insanamente enquanto corta a garganta de alguém e acordar com seus braços protetoramente ao meu redor.

Parecia distante, mas eu não estava disposto a aceitar apenas fantasias depois de ter aquele breve gosto da realidade.

Então cansado de apenas não fazer nada, levantei e agarrando um casaco desci até a entrada da mansão.

Depois de convencer o motorista a me tirar dali garantindo que Jeongguk iria ficar bastante irritado se voltasse e soubesse que ele se negou a me levar a algum lugar, consegui finalmente chegar ao shopping da cidade.

Não estava cheio apesar do que imaginei antes de sair de casa. Garotas passavam por mim com sacolas de lojas e crianças brincavam no playground enquanto os pais esperavam de braços cruzados sem trocarem uma palavra.

Com as mãos nos bolsos eu os observei quieto seguirem suas vidas monótonas esquecendo por um momento que eu era como eles apenas alguns meses atrás.

Eu definitivamente poderia ser o garoto atrás do balcão preparando um sorvete para a adolescente loira. Ou talvez o atendente da loja de jogos indicando as melhores opções para os garotos ansiosos para gastar ainda mais tempo diante da TV. Talvez até ainda estivesse naquele supermercado trabalhando até tarde e sem folgas o suficiente. Se Jeongguk não tivesse me encontrado talvez eu realmente estivesse por ali ganhando pouco dinheiro para manter a casa e o estômago daquele bêbado cheio de comida.

Uma onda de alívio sempre me invade quando lembro de que erradiquei aquele ser desprezível do mundo.

Com um último relance voltei a caminhar pelos longos corredores ocupando minha mente tentando adivinhar quem eram aquelas pessoas ou que faziam da vida. Era um hobbie bastante interessante se você não nada mais interessante para fazer e estava funcionando em me manter relaxado.

Depois de mais alguns minutos eu decidi que era melhor voltar para casa, mas antes outra coisa prendeu minha atenção.

O zumbido constante vindo de dentro da loja e o design na porta de entrada eram bastante peculiares. Dali eu pude ver claramente um adolescente apertar os olhos enquanto outro homem se inclinava sobre o seu braço concentrado demais para se importar com a dor do outro.

Com um sorriso curioso, não precisei pensar muito antes decidir entrar na tal loja. Enfim existia um motivo real para usar o cartão de crédito que Jeongguk havia me dado longos meses atrás.

Uma hora depois eu deixei a loja com a promessa de retornar. Caminhei lentamente pelos corredores puxando as mangas da blusa escura até os pulsos enquanto seguia as placas de informação buscando o estacionamento aonde o motorista provavelmente ainda estaria me esperando.

Quando enfim estava ao livre percebi que já estava escuro e que aquele estacionamento definitivamente tinha uma péssima iluminação.

Caminhei devagar pelo pátio relativamente e de longe avistei a SUV preta me esperando. Não era muito difícil perder um carro daqueles de vista.

O frio atingia forte o meu rosto e eu mal podia esperar para tomar um banho e dormir pelo resto da noite porque estranhamente eu me sentia cansado demais para quem praticamente não fez nada o dia inteiro.

O poste sobre o carro estava apagado e eu estranhei, mas não me retrai, continuei andando até estar a cerca de dez quinze metros do carro. Foi quando eu ouvi os passos atrás de mim.

Meu pescoço virou rapidamente na direção do barulho e vasculhei atento em meio a área mal iluminada. Nada. Ninguém estava ali ou pelo menos eram o que queria que eu acreditasse.

Virando o rosto para frente continuei caminhando, mas uma de minhas mãos deixaram o bolso da jaqueta para alcançar a faca escondida no cós na parte de trás da minha calça.

Não demorou mais do que alguns segundos antes de eu receber o primeiro ataque.

A pessoa era rápida. Seu corpo saltou por de trás dos carros enfileirados e cruzei os braços na frente do rosto evitando que o bastão de metal atingisse meu rosto.

Me afastei alguns passos e me posicionei antes que ela partisse para cima novamente. Seu rosto estava coberto parcialmente por uma espécie de máscara, mas o corpo feminino era perceptível devido a roupa de couro escura extremamente justa.

Quando ela me golpeou de novo eu estava preparado. Bloqueei o ataque com um dos antebraços e a faca que eu segurava com a mão esquerda cortou seu braço direito. Com um chute forte no estômago ela caiu de joelho no concreto e eu caminhei até si para rende-la quando um golpe por trás na cabeça me fez cambalear.

Me virei tonto pelo golpe e um soco me acertou o rosto. Dei mais alguns passos para trás e tentei me posicionar num canto onde pudesse ter as duas garotas quase idênticas no meu campo de visão, apesar da mesma estar meio turva por causa do golpe.

Rangi os dentes e segurei a faca com força. Quando eles avançaram eu rosnei determinado a não perder uma luta no meio de um estacionamento ridículo.

Eu conseguia bloquear os golpes com meus braços, mas meus pés estavam lentos demais e não me obedeciam como eu desejava. Com um ataque lateral o bastão da primeira garota atingiu minha coxa machucada e eu mordi meus lábios para não gritar de dor preferindo agarrar o metal e puxa-la de encontro a mim para nocauteá-la com uma cotovelada certeira no nariz antes de segurar seu corpo mole e jogá-la na direção da outra garota que cambaleou com o peso do corpo.

Mas ela foi rápida e logo se desfez do corpo correndo até mim com ódio no olhar. Minha cabeça doía e eu mal conseguia mover a perna devido a dor latente do golpe recente, mas eu me mantinha de pé determinado a lutar. Ou pelo menos era o que iria fazer se no segundo seguinte a garota não estivesse caída no chão agonizando de dor enquanto agarrava um dos ombros.

Quando virei meu rosto para olhar na direção de onde veio a bala meu cenho franziu ao encarar Jimin de pé com a arma ainda erguida. Seu rosto sério revelava sua insatisfação de estar ali e eu apenas tive tempo de encará-lo surpreso antes que ele direcionasse seu olhar para mim e com a expressão rígida dissesse:

- Vamos, Jeongguk está esperando por você na mansão.

E eu não tinha dúvidas de que ele definitivamente iria me receber bem mais irritado do que quando acordou naquela manhã.


Notas Finais


Só quem não sobreviveu ao cabelo azul do Taehyung e o backhug de taekook levanta a mão !!!!!!
Quase tenho um treco hoje, mas felizmente consegui terminar o capítulo e trazer no dia previsto pra vocês. Fico muito feliz em estar conseguido escrever com mais frequência e receber o apoio de vocês só me incentiva ainda mais, então espero vê-los comentando e me dizendo o que estão achando, cada uma de vocês é extremamente bem-vindo tá ?
Enfim, espero que tenham tido uma boa leitura. Até a próxima, sintam-se a ontade para me seguir no twitter (@minsugaaw) e conversar comigo <3


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