História Lethal - Invisible

"Você já se sentiu como se mesmo ao redor de sete bilhões de pessoa, nenhuma delas te notasse?"

POV JUSTIN BIEBER

Heather tinha se oferecido para me ajudar com as coisas do jantar, e eu aceitei.

Eu não sabia exatamente o que Skylar tinha se tornado, mas de todas as pessoas que eu conheço, que sei que amam ela, Heather foi uma das que mais se machucou com essa mudança. Tentávamos não tocar no assunto, mesmo sabendo que isso era completamente inevitável. Sei lá. Tudo que vagava dentro da minha mente era tão estranho que nem eu mesmo saberia descrever. Ela tinha mudado demais; é certo lembrar que, as pessoas mudam. Mas talvez Skylar não tenha mudado, para ser mais sincero. Ela tinha se transformado, na realidade. E eu nem se quer sabia o motivo certo para tudo aquilo. Sabia que eu tinha certa culpa, e isso me matava por dentro.

Isso martelava na minha mente. Skylar tinha se tornado pessoa completamente desconhecida, e eu era o culpado? Provavelmente.

- Heather – Chamei a atenção dela que arrumava alguns petiscos na mesa de centro redonda que tinha em minha sala de estar. Ela me olhou de soslaio.

- Fala – Ela voltou a organizar os petiscos.

- Posso te fazer uma pergunta? – Indaguei receoso.

- É sobre a Skylar, não é? – Ela se levantou e cruzou os braços com um sorriso fraco no rosto e eu assenti – Pode falar. Se eu souber responder, eu te respondo. – Ela deu de ombros tentando se fazer de indiferente, mas eu sabia que no fundo, aquilo tudo a deixava destruída.

- Como ela se tornou isso? – Ela abaixou a cabeça ao ouvir minha pergunta.

- Ah Justin... – Ela suspirou – Foi muito complicado... – Ela foi em direção à cozinha e eu a segui – Ela foi ficando distante de todo mundo, foi ficando fria, sabe? Ela se privava de tudo, desde que você... – Ela me olhou de canto – Você sabe... – Ela respirou fundo. – E desde então, ela já não era mais a mesma. No começo era difícil ver a Skylar sorrir, ela ouvia o seu nome e eram questão de segundos para que ela começasse a chorar. Foi difícil demais pra ela, e eu entendo isso. Mas de repente, de um dia pro outro, ela aparece na escola toda mudada, com roupas estranhas, andando com pessoas estranhas, agindo feito uma... – Ela hesitou em falar – Feito uma vadia. – Finalmente ela cuspiu as palavras. – Ela nem se quer me contava mais as coisas que aconteciam na vida dela. – Ela finalmente terminou de falar, mas acho que só parou porque o choro deveria estar entalado em sua garganta, assim como ele estava entalado na minha.

- Eu fui o culpado disso tudo. – Abaixei a cabeça deixando uma pequena lágrima escorrer.

- Não, Justin! Não se culpe. – Heather colocou as coisas que segurava em suas mãos em cima da mesa e me abraçou fortemente com aqueles braços pequenos dela. – Ela ficou muito assustada. Todos nós ficamos. Ela só está tentando raciocinar isso tudo. Que você voltou. – Ela continuava a me abraçar. – Você não teve culpa de nada.

Heather se afastou e olhou nos meus olhos mostrando através deles, que estava tudo bem. Concordei e sorri fraco. Eu sabia que as pessoas jamais iriam me dizer que eu era o culpado pela Skylar ter se tornado esse tipo de pessoa. Porém, isso já era uma certeza que corria dentro dos meus pensamentos.

Ajudei Heather a colocar mais algumas coisas na mesa central. O silêncio era o que se tinha. Ninguém falava. Era isso o que falar de Skylar causava; pensamentos estranhos e confusos, angustias, culpas.

O silêncio fora interrompido por um barulho de buzina vindo do lado de fora da casa. Alguém tinha chegado.

Abri uma pequena fresta da cortina só para ter certeza de que era um conhecido que estava chegando. E eu estava certo. Ou talvez não; já que eu não sabia mais quem Skylar era.

- É a Skylar... – Suspirei. – E ela está com alguém. – Arqueei as sobrancelhas.

- Deve ser o Jake, o capacho dela. – Ela deu de ombros e eu ri abafado.

POV SKYLAR HILL DUPONT

Tinha pedido para que Jake me deixasse na casa de Justin; talvez para provoca-lo um pouco, mas o principal motivo é que eu não queria usar o meu carro para uma coisa dessas. Durante o caminho as perguntas de Jake invadiam os meus tímpanos, eram coisas completamente irritantes sobre o Justin, e sobre o que eu iria fazer na casa dele. Eu apenas o ignorava. Eu não devia explicações alguma.

Assim que chegamos, eu saí de cima de sua moto sem nem me despedir. Depois de tantas perguntas o que ele realmente merecia é um tapa bem dado na cara. Fui andando em direção à porta da casa de Justin, até ver a mesma ser aberta por... Heather?

Sorri irônica ao vê-la e logo depois vi Justin aparecer atrás dela.

- Alguém já chegou? – Perguntei seca.

- Eu. – Heather disse um pouco baixo.

- Que seja. – Bufei dando de ombros e adentrando a casa de Justin.

O que Heather estava fazendo na casa dele? Quer dizer... Não que eu me importasse. Mas só de pensar que eles estavam se aproximando tanto... Balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos insanos. Se eles estavam juntos ou não... Não me importava de jeito nenhum. Justin deixou de existir dentro do meu coração, no momento em que eu deixei de ser eu mesma. Digo; a antiga Skylar.

Os dois arrumavam algumas coisas, e riam enquanto falavam algumas besteiras, e certa insegurança me invadiu. Heather e Justin? Isso não encaixava dentro da minha mente. Talvez eu esteja enlouquecendo.

{...}

Todos haviam chegado. Estávamos na mesa da sala de jantar comendo as pizza’s pedidas. Todos conversavam; menos eu.

- Vocês lembram aquele dia que o Chaz foi falar com uma mulher na balada, e acabou descobrindo que ela não era realmente uma mulher? – Grace relembrava coisas de quando Justin ainda fazia parte, digo; antes dele ter sido sequestrado.

- E depois aquele filho da puta ficou me seguindo querendo um beijo meu. – Todos gargalharam. E eu não me contive, soltei um pequeno riso também.

- Também teve aquele dia que a gente estava voltando da boate, e apareceu um cara bêbado no porta-malas do carro do tio Jeremy. – Carrie fez com que todos gargalhassem; menos eu mais uma vez.

Eu queria rir, queria sorrir. Queria fazer parte disso tudo. Poder ter meus amigos de volta. Mas eles não precisavam mais de mim, e hoje foi o dia em que eu tive a certeza disso. Minha presença lá parecia ser indiferente. Ninguém ligava. Ninguém notava. Não sei por que diabos eu estava aqui na realidade.

- Sem contar que aquele cara não sabia nem aonde ele morava. – Ryan completou mastigando um pedaço da sua pizza.

- E o dia que a Heather foi jogar comida no Justin no refeitório da escola e do nada todo mundo começou a tacar comida um no outro? – Chris falava com um copo de refrigerante em sua mão.

- Esse dia foi péssimo. Jogavam bolinho de pimenta dentro do meu olho e eu fiquei na enfermaria por sei lá quanto tempo. – Grace bufou, mas logo em seguida gargalhou

- Vocês lembram quando a filha do diretor foi cantar no show de talentos, e ela cantava super, mas super mal mesmo? – Heather relembrou e por um momento eu senti um nó na minha garganta. Eu lembro exatamente desse dia. Lembro que eu e ela começamos a rir descontroladamente da cara da garota, e tivemos que sair do auditório e tomamos a bronca mais feia de todas.

- Como esquecer o ataque de riso que você e a Skylar deram? – Ryan debochou.

Heather olhou para mim e eu olhei para ela. Ela sorriu de canto e eu abaixei a cabeça tentando esconder a angustia que eu estava sentido.

Eu sentia tanta falta deles. Por que tudo tinha que dar errado na minha vida? Eu estava sentada em uma mesa diante das pessoas nas quais eu compartilhei as melhores histórias de minha vida. As pessoas que eram como família para mim, e agora, nesse exato momento, eu me sentia deslocada perto deles. Como se eu fosse um entulho. Um pedaço de nada diante de inúmeras coisas sem valor. Algo que jamais seria notado. Eu não sabia quem eu tinha me tornado. E talvez eu quisesse ser a antiga Skylar de volta. Mas o que fazer quando tudo o que você mais quer ser, não se encaixa mais dentro de si mesmo? Eu tinha dito a todos que aquela Skylar tinha morrido.

- E você Sky? – Justin indagou e todos sorriam fraco. Eu não sabia explicar tudo o que eu estava sentindo naquele momento.

Eu queria chorar, queria espernear. Queria pedir perdão para todos aqueles que eu machuquei, queria me mostrar que eu me importava. Mas eu sabia que se fizesse isso, eu me machucaria. E eu não queria mais de forma alguma ferir a mim mesma.

E quanto ao Justin; ele estava ali, tão sorridente, tão contagiante, mas ao mesmo tempo tão frágil, que era como se uma pena o pudesse destruir.

- O que que tem eu? – Tentei ser menos grossa possível, mas acho que isso foi em vão. Droga! Por que todas as coisas que eu fazia, eu as fazia de forma errada? – É... é... – Eu estava perdida. – Eu preciso ir ao banheiro. – Me levantei da mesa e sai o mais rápido que pude.

Estava cansada e com vontade de ir embora. Tudo o que eu queria era ir para o conforto de minha casa. Ou talvez nem lá. Luke começaria a encher o meu saco e eu precisava pensar. Ou melhor dizendo, evitar pensar em qualquer coisa. 

Passei pelo quarto de Justin e por um minuto parei em frente à porta entreaberta. Estava indecisa sobre entrar ou não. Será que tudo continuava igual? Ou ele tinha mudado todas as coisas que nem eu? Talvez agora as coisas da Heather estivessem lá. Fechei os olhos com força. A curiosidade falou mais alto. Ouvi as risadas vindas da sala de jantar, eles estavam muito entretidos para perceber a minha demora. Talvez nem até tivessem notado. Eu me sentia invisível e por tanto tempo tudo que eu queria era isso. Agora já não parecia mais tão certo. Talvez eu até pudesse pular a janela de Justin e voltar pra casa. Eu também não ligava muito para o que eles fossem falar de mim.

Eu estava confusa e perdida. Tudo que eu havia construído nesses dois anos estava desmoronando lentamente. Mas eu encaixaria as peças no lugar de novo e tudo voltaria ao normal. Não me sentiria mais desse jeito frágil que eu estava sentindo agora e continuaria não me importando nada.

Adentrei o quarto, acendendo a luz sem nem mesmo olhar o interruptor. Aquele quarto me trazia tantas lembranças. Nossa primeira vez havia sido ali. Havia sido ali que ele havia dito que me amava pela primeira vez. Havia sido ali que talvez eu tivesse passado os melhores dias da minha vida.

Tudo estava como eu me lembrava. Sua cama estava com o mesmo lençol azul marinho de sempre. Todas as nossas fotos ainda continuavam lá, Justin tinha até um porta-retratos com uma foto minha na praia. Todas aquelas lembranças me atingiram de uma só vez. O cheiro dele estava impregnado em todo canto daquele quarto. O cheiro que eu mais senti falta nesses dois anos. Era se como eu estivesse em uma abstinência e finalmente havia conseguido sentir o alivio que esse cheiro me proporcionava. Inspirei fundo, tentando guardar na minha memória aquele cheiro tão bom e acolhedor. Comecei a me aproximar da cama dele e me sentei nela. No criado-mudo havia um bilhetinho meu grudado com mais um porta-retratos. O bilhete dizia “nunca esqueça que eu te amo, xx Skylar”. A foto no porta-retratos era uma foto minha e de Justin em que estávamos de costas caminhando na praia com ele me abraçando. Heather havia sido a pessoa que havia tirado.

Uma lágrima começava a escorrer de meus olhos. Por que tudo isso tinha que acontecer? Por quê? Por que a viagem não poderia simplesmente ter corrido bem? Nós teríamos voltado e nada teria mudado. Justin ainda seria meu. Eu ainda seria sua. Ele não estaria frágil desse jeito. Mais uma lágrima escorria de meus olhos.

- Bonita foto, não?

Tomei um pequeno susto com a voz de Justin atrás de mim. Limpei as lágrimas com pressa e me virei séria para ele, limpando qualquer resquício de fragilidade que havia antes em mim.

- A fotógrafa também, não acha?

Ele me encarou confuso e eu comecei a andar em direção a porta. Antes que eu pudesse sair ele agarrou meu braço com força me trazendo pra perto dele. Nossos rostos estavam tão pertos um do outro que eu conseguia sentir a respiração dele em meu rosto. E lá estávamos nós, paralisados e olhando um dentro dos olhos do outro. Eu tentava me manter fria e não me entregar. Mas Justin já mostrava o contrário. Os olhos dele mostravam o quanto ele estava frágil e o quanto ele precisava de mim. Era um pedido silencioso, que não precisava ser explicado com palavras.

Ele começou a olhar para a minha boca e se aproximar de mim. E antes de me dar conta do que ele estava fazendo, me afastei bruscamente, tirando sua mão de meu pulso com força e me mantendo a uma distância segura dele.

- Skylar... – ele começou a falar, mas eu o interrompi.

- Você quer tanto se aproximar de mim, mas não pode nem me dizer tudo o que aconteceu nesses dois anos. Vamos lá, Justin. O que aconteceu?

Minhas palavras foram duras e frias. Ele se espantou por um instante e depois voltou a ficar sério. Um pouco preocupado eu diria.

- Não.

- Como assim não? Eu tenho o direito de saber o que aconteceu! Eu era sua namorada, eu te amava.

As palavras pareceram atingir ele de uma maneira que eu não havia esperado. Mas eu estava sendo forte. Me mantendo forte.

- Amava... – ele suspirou – Skylar, eu não quero que você se sinta culpada por nada que aconteceu, você não precisa saber o que aconteceu comigo, acredite em mim. Você não quer saber.

- É logico que eu quero saber! Ou você acha que eu estou fazendo papel de babaca aqui?

Começava a me alterar. Justin somente suspirava e me olhava com pena. E isso era tudo que eu não queria. Ele estava começando a me tirar do sério.

- Não.

A voz dele falou e eu vi lágrima nos olhos dele.

- Eu mereço saber a verdade! Eu mereço!

No momento eu parecia uma criança mimada que não havia ganhado a boneca que queria no Natal e estava fazendo um escândalo por isso. Mas eu não ligava, eu queria a verdade.

- O que realmente aconteceu, Justin? O que te tornou assim, todo frágil? O que eles fizeram com você?

- Você pode, por favor, parar de gritar? – ele disse um pouco baixo para mim.

Respirei fundo. Tinha que me recompor. Não foi isso que eu trabalhei duro por esses dois anos. Para chegar na frente dele e me desesperar e me descontrolar. Justin estava frágil e não era na base dos gritos que eu arrancaria alguma coisa dele. Eu teria que ser cuidadosa para descobrir a verdade.

Fui me aproximando dele lentamente, chegando cada vez mais perto e tentando ao máximo controlar a minha vontade de beijá-lo.

- Justin, por favor, o que aconteceu? Você não sabe o quanto que eu me preocupei com você nos últimos anos, foi como uma tortura, não saber que você estava vivo... – me aproximei dele, colocando meus braços ao redor de seu pescoço e acariciando sua nuca, o que o fez estremecer – Me diga, Justin, o que eles fizeram para você se tornar tão frágil? Eles te machucaram? Ameaçaram machucar seus pais? Eu?

Tentava me mostrar o mais frágil possível, o mais parecido com a Skylar de antes possível.

- Eu não sou qualquer um, Skylar. Eu sei exatamente o que você está fazendo. E não, eu vou continuar não te falando nada.

Afastei-me dele e bufei.

- Tudo bem, Justin. Você quis assim. Não venha me procurar. Eu também não quero mais saber. E você estava certo sobre uma coisa. Não é minha culpa. Por muito tempo eu me culpei. Mas é tudo sua culpa. Sua culpa que eu estou assim. Sua culpa que nós todos não somos o que éramos antes. Sua culpa que a sua mãe sofreu por dois anos. É tudo a sua culpa. Cansei de me culpar por tudo que eu fiz. E eu estou finalmente me libertando disso. Eu não quero mais saber de você e qualquer um dos outros. Cansei de me preocupar. Você está de volta. Você está bem. Ótimo, agora vá viver sua vida e me deixa em paz. Pra sempre. Eu não te amo mais.

Eu havia acabado de contar a maior mentira da minha vida. Mas se não era gritando, nem tentando emocionalmente, seria na base do fingimento.

Justin me encarava perplexo e com lágrimas nos olhos. Em uma parte enterrada de mim, aquilo me machucou e tudo o que eu quis dizer era que eu o amava e que queria que ficássemos juntos e que era tudo mentira. Mas eu estava determinada a descobrir tudo que havia acontecido naqueles dois anos. E se ele não iria me contar, eu descobriria sozinha. Por bem ou por mal.