11:50 PM
Rebekah – Floresta
— É logo ali na frente. – Mary apontou para algum ponto na linha do horizonte, Rebekah não soube dizer onde exatamente.
— Olha, sobre o que você me disse mais cedo...
— Fica parada. – avisou a menina do cabelo preto. – Você ouviu isso?
— Não, o que?
As duas pararam de caminhar e se fitaram com estranheza. Para Rebekah era estranho demais imaginar que a única pessoa que estava se esforçando para ajuda-la era justo Mary. Já para a maior, era gratificante poder fazer algo para a menina na qual ela tinha certo carinho especial.
— Não sei. Deve ter sido impressão minha. – ela correu os olhos pelo chão, certificando estar pelo caminho certo, quando viu pegadas.
Pegadas humanas. E ainda por cima recentes.
— Alguém saiu ou entrou lá não faz muito tempo. – admitiu mais para si mesmo do que para a outra menina.
— Como sabe disso?
— As pegadas são recentes. Consegue ver aquilo ali? – apontou para o formato de sola afundado na neve. Rebekah assentiu. – É uma bota tamanho quarenta, masculina. O formato indica borracha.
— Você concluiu isso apenas olhando uma simples pegada? – perguntou chocada.
— Sim. Costumava fazer trilhas com meus avós num passado muito distante. Certas coisas nunca esquecemos. – confessou.
— Uau.
— E sabe o que é mais engraçado?
Rebekah limitou-se a discordar com a cabeça outra vez.
Nada bom vinha depois de uma frase como essa. Frases assim são como um “precisamos conversar” ou “eu sei o que você fez”, que te fazem criar milhões de hipóteses sobre o que a pessoa está falando. É claro que, dependendo do contexto, as chances de você acertar alguma coisa são altas, o que não acontece nesse caso.
— A única pessoa que eu vi usando botas de borracha era...
A frase foi interrompida pela queda repentina da garota. Sem que pudesse se dar ao luxo de terminar sua ultima frase.
— Levanta daí sua maluca. Ficou louca agora? – Rebekah perguntou vendo o corpo caído da menina.
Não houve resposta.
Rebekah encarou a nuca da menina e viu que havia sangue. Subiu os olhos entre os frios negros e encontrou um buraco pequeno, a matriz do tiro.
Sua boca abriu e fechou diversas vezes, incapaz de soltar quaisquer palavras.
Era como se a morte estivesse perseguindo-a. Alguém conhecido aparece para ajudar, e logo depois é morto. Primeiro foi Matt, agora Mary Anne. Quem seria o próximo? Isto é, se é que haveria próximo.
Ver uma pessoa com vida bem na sua frente, saudável, falando com você, e logo depois vê-la caída, morta, sem vida, era no mínimo traumatizante.
Não haviam lágrimas para serem derramadas pela morena, não havia sequer um sentimento que dissesse “estou sofrendo por sua perda”. Tudo que a loira sentia pela morena era agradecimento, pois se não ainda estaria presa no galho da árvore.
Rebekah deu a volta no corpo e continuou caminhando, fingindo não ver uma menina morrer bem na sua frente. Ela acharia esse alçapão e encontraria respostas custasse o que custar.
Mas, como nada acontece como planejamos, alguém já estava com o plano B armado, para o caso do atirador não conseguir controlar a situação da forma correta.
— Você! – foi tudo que Rebekah ouviu antes de ser atingida por um dardo no braço.
— Quem é você? – perguntou enquanto tirava o artefato fincado em sua pele.
— Não reconhece, love? – ela o viu sorrir debochado.
Era ele. O dono da voz que tanto a atormentou naquele cubículo. Aquele era o homem que ela tanto temeu, o mesmo que provavelmente era o causador de tudo isso.
Olhou para o dardo e viu algumas siglas estranhas. O que era aquilo?
— O que você quer de mim?
— Nada. Você não teve a utilidade que eu esperava.
Seus olhos castanhos eram intimidantes, o semblante franzido em diversão também. Quem o visse nesse estado, jamais imaginaria o ser humano que era antes de todo esse jogo maldito.
Rebekah sentiu o corpo mole. Algo de errado tinha com aquele dardo.
— Mas o que...
— Tranquilizante, sweetie. Nos vemos em uma hora.
— VAI PRO INFERNO.
Rosnou irritada, coberta por raiva e desprezo. Após isso, foi breu total.
[...] Uma hora depois.
Rebekah despertou de repente, assustada. Ela teria movido o corpo, se isso fosse possível. O lugar era inteiramente claro, num tom de azul. Uma luz forte estava sobre si, numa mesa de metal.
Um cubículo cercado por três paredes compactas e uma de vidro blindado com uma pequena porta de grades de aço. Uma cela.
Seu corpo já não estava coberto com as roupas de antes. Um avental branco era a vestimenta de agora.
Ela tentou se mexer e uma dor aguda em seus pulsos a impediu. Ela estava amarrada, com algemas. Suas duas mãos e seus dois pés faziam com que seu corpo ficasse estirado e aberto, assim como deveria ser.
"Elemento 183 pronto para uso"
A voz eletrônica anunciou, apavorando a garota, que não conseguia desentalar alguma palavra de sua garganta.
00:56 AM
Mike – Mina
(>Sim<)
“Sim, vou tentar não demorar”
— Pode ser, então, você vem?
— Sim. Esperem por mim.
Mike desligou a transferência e voltou para a outra chamada.
— Ashley e Jessica precisam de auxílio, vocês conseguem dar conta disso sozinhas? – perguntou receoso, preocupado, estranhamente, com as duas.
— Sim, como elas estão?
— Bem, eu acho. O plano continua.
— Ok, vou parar de tomar seu tempo. Boa sorte e... se cuida.
— Vocês também.
Guardou o pequeno rádio no bolso e seguiu pelo caminho que já tinha algum por cento de conhecimento.
Neste havia mais teias de aranha que o comum, e era estreito demais, como se pudesse desabar a qualquer momento. Mike deparou-se com alguns ratos e morcegos pelo caminho, coisa completamente normal, devido a baixa profundidade em que ainda estava.
Seguiu pela inclinação, encontrando outro mapa-guia mais a fundo. Este mostrava um atalho, que daria exatamente na sala onde ele precisava ir.
Decidiu seguir a dica do atalho e o tomou, tendo que afastar uma tampa de esgoto para isso. Felizmente, ou não, como o chalé foi desativado, não havia fezes ou urinas, apenas água corrente.
O túnel era pequeno, o que o obrigou a andar abaixado, corcunda, tendo que dobrar um pouco dos joelhos ainda por cima.
Ao encontrar uma curva, soube que estava onde precisava. Abriu outra tampa pesada acima de si e apoiou os braços para subir, saindo do esgoto.
Lembrou-se da ultima vez em que esteve neste local e deu falta dos lobos, inclusive do amigável lobinho branco que o acompanhou da última vez. Seria um milagre se alguns deles ainda zapeassem por aqui.
Não demorou a encontrar a armadilha que lhe arrancou os dedos. Um calafrio percorreu seu corpo ao notar que ela ainda funcionava. É claro que, antes de acha-la, providenciou um cerrote, que estava num baú antigo destrancado.
Se ele cortasse pela base da armadilha, demoraria mais tempo e as chances de não estraga-la eram grandes. Todavia, se cortasse pelo meio, ganharia tempo, porém as chances de estraga-la eram altas.
(>Base<)
“Mais garantia, perda de tempo”
(>Meio<)
“Menos garantia, ganho de tempo”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.