1. Spirit Fanfics >
  2. Liberdade e Compaixão >
  3. Capítulo Único

História Liberdade e Compaixão - Capítulo Único


Escrita por: LucasFMachado

Notas do Autor


Esta é uma história que escrevi para um concurso literário que minha escola está participando. Sempre tive interesse na cultura indígena e no processo de colonização do Brasil, pois me ajuda a entender parte do comportamento das pessoas à minha volta. Espero que gostem da história!

Capítulo 1 - Capítulo Único


No estado brasileiro de Pernambuco, em 1845, ouvia-se o canto da jandaia, quando na tribo dos Caiapós acordava Ubirajara, o respeitável cacique, líder de todos. Ia caçar e pescar cedo com seus companheiros para dar de comer as índias e aos curumins. A tribo que antes era rica em recursos, agora vivia na míngua por conta das explorações que sofriam do homem branco. Ubirajara era um grande guerreiro, mas quase morreu há cerca de dois anos, quando tentou enfrentar um homem europeu, que disparou um tiro em seu braço. Por causa dos cuidados que recebera dos integrantes de sua tribo, ele se salvou da derradeira hora. As armas de fogo! Sim, eram estas que causavam toda a devastação da egrégia natureza e dos índios. Os Caiapós possuíam fortes crenças em seus deuses e realizavam rituais e oferendas para eles, mas o homem branco era egoísta, queria que acreditassem em um só deus, que para eles era perfeito e condenava a todos os que não o seguissem. Mas esta era a grande incógnita dos Caiapós e de outras tribos brasileiras: “Por que um Deus tão bom e digno de admiração pode causar tanto mal a qualquer um que se opõe a ele? ” – Esta era uma das inúmeras perguntas que os injuriados indígenas tinham e não podiam fazer, pois corriam risco de morrer e serem escravizados.

A terra que era de todos e a natureza que podiam gozar sem limitações, hoje era explorada por homens que foram bem recebidos por seus ancestrais, e se aproveitaram disso, escravizando os pobres indígenas, roubando suas riquezas e tirando suas terras.

O cacique era casado com Iracema, índia bonita, responsável por confeccionar cestos, objetos de cerâmica e reparar artigos de caça e pesca, era pura de coração, sempre ajudava os índios mais velhos e as crianças, deixando muitas vezes de comer para que estes não passassem necessidades. Iracema e Ubirajara faziam de tudo pela tão amada tribo, mas era difícil, pois não podiam se estabelecer fixamente em locais repletos de recursos, já que se fossem descobertos, coisas horríveis poderiam acontecer. O velho pajé Maanape era também de extrema importância, pois era ele que transmitia todos os costumes e ritos para os pequenos curumins, além de realizar rituais perfeitos, que por meio de músicas, gestos e gritos, além da usual pintura corporal, fazia com que toda a tribo fosse envolta de um brilho que só Maanape podia fazer, era algo mágico e que encantava até os mais ásperos corações. O honorável pajé, apesar de sério, tinha delicadeza e sabia como lidar com os problemas da tribo e de cada índio em si, era uma pessoa primorosa!

Em catorze de fevereiro de 1845, Ubirajara e outros índios experientes foram a caça de capivaras e de frutos, levando os índios novatos para que aprendessem a sobreviver e, obviamente, para que se familiarizassem com a mãe natureza. Acontece que, alguns dias antes, José Maria e Joaquim, dois portugueses puros, junto com seringueiros e alguns mineiros, decidiram explorar as riquezas da Caatinga, a fim de expandir o comércio com os estrangeiros. Como moravam na capital, viajaram léguas a cavalo, acompanhados de uma tropa de jagunços, pois sabia que o bioma era habitado por várias tribos indígenas violentas, logo, a prevenção era necessária.

Junto com a tropa, ia no mais bonito e caro cavalo o coronel Pedro Eustáquio, homem com mais de cinquenta anos, usava um tapa olho por ter perdido um dos olhos em uma das várias guerras que já ganhou, assim, levava em seu uniforme dezenas de medalhas e nas costas uma arma de fogo. Português de nascença e católico fanático, odiava índios e negros, considerava-os inferiores e do diabo; na opinião dele, a única serventia destes seres era servir e louvar os “homens de bem”.

Viajaram léguas e léguas até chegarem na Caatinga no mesmo dia em que os Caiapós realizariam suas atividades, prepararam um acampamento e lá se instalaram, em seguida, exploraram a fundo as lindas e virgens terras puras do bioma. Os índios viram de longe a presença dos homens, voltaram para a oca, pegaram seus arcos, flechas, machados, zarabatanas e outros armamentos para enfrentar aqueles homens brancos que, aos poucos, devastavam cada vez mais o solo indígena. Eis que se escondem, e ficam na espreita dos portugueses, que cada vez mais destruíam aquelas terras, o cacique Ubirajara, silencioso, puxou o arco com força e soltou a flecha que atingiu de forma certeira o peito de um dos seringueiros, que morreu na hora. Desesperados, armaram-se e começou uma violenta e infindável guerra.

Os índios conheciam aquelas terras como ninguém, então corriam, se escondiam e disparavam flechadas certeiras; em uma dessas, José Maria, um dos líderes da expedição foi morto. Joaquim ordenou que todos voltassem para a segurança até a chegada de reforços, e assim fizeram. O coronel pediu para um dos jagunços levar até a cidade um telegrama suplicando por reforços.

Dois dias depois, os reforços chegaram, mais de cento e cinquenta soldados portugueses bem armados chegaram à Caatinga, foram mata dentro. Os índios tentaram resistir, mataram alguns, mas foi inútil contra a enorme tropa portuguesa.

Foi um massacre sangrento que quase pôs os Caiapós em extinção. Entre os mortos, estava o pajé Maanape, líder dos rituais, deixando no coração dos poucos Caiapós sobreviventes uma mágoa incurável.

Seis meses depois do massacre, Inês Magdalena, jovem gaúcha descendente de italiana de vinte e três anos, pesquisadora e exploradora do Brasil e sua cultura descobre por meio da imprensa o trágico ocorrido, revoltada com isso, decide partir para Pernambuco de Jipe para tirar satisfações. Junto com ela vai seu noivo, também gaúcho, Jean Pierre, descendente de francês, rapaz doce que também ficou indignado com tamanho absurdo.

Quando Inês e Jean chegaram à parte da Caatinga pertencente a Pernambuco, entraram no bioma e ficaram impressionados com o desmatamento e com a visível intervenção do homem em terras tão bonitas. Encontraram o lugar onde os Caiapós residiam em estado deplorável, ocas sendo reconstruídas, o povo magro por desprover de alimentos e carregando nas faces bugras um semblante de tristeza e dor. Inês, muito inteligente e apaixonada por leitura, sabia várias palavras no idioma indígena, então chamou pelo cacique e Ubirajara se aproximou receoso que aquele casal de pele clara fosse fazer mal a eles, mas a ternura na voz dela o confortou e todos da tribo começaram a se aproximar e ficaram em júbilo quando Inês e Jean Pierre entregaram aos caiapós três cestos cheios de alimentos. Ubirajara perguntou se tinham alguma outra intenção além de ajudar a tribo e Inês, sem eufemismo, disse que os portugueses deveriam ser mortos e torturados pelo que fizeram, Ubirajara, Iracema e os outros da tribo espavoreceram-se com a raiva e com a falta de compaixão da moça.

Iracema disse se queriam realmente ajudar, ela e seu noivo Pierre deveriam viver junto e como os Caiapós para aprenderem os costumes indígenas e para que conhecessem e entendessem a verdadeira dor que sentiam.

Inês traduziu aquilo para Pierre, ambos se olharam e até cogitaram em não consentir com tal acordo, mas que mal tinha? Afinal, tinham viajado por horas e horas até o outro lado do Brasil, e, como Inês era pesquisadora, ela pensou que seria bom uma experiência na prática. Então, meio hesitantes, Inês e Pierre assentiram no acordo, viveriam como os índios.

Quando Maanape faleceu, Oiapoque, jovem índio discípulo dele assumiu o lugar de pajé, apesar de não ter a experiência do mestre, sabia conduzir bons rituais e ensinar aos demais.  Pierre, com a ajuda de Inês e alguns livros que sua noiva carregava, conseguiu aprender a linguagem dos Caiapós e, em seguida, ficou muito amigo de Oiapoque, aprendendo e interessando-se cada vez mais pela cultura. Inês também ficou fascinada, os costumes indígenas, o trabalho árduo, os ritos, as crenças e a paz daquele povo extorquiu dela toda a raiva que ela antes sentia. Inês e Pierre já estavam lá havia mais de um ano, já viviam quase desnudos, casaram-se ao estilo indígena e, principalmente, aprenderam a ter total respeito com a natureza, que tudo, desde a menor das formigas até a grande onça-pintada, deve ser respeitado. Inês e Pierre choraram muito quando se deram conta das pessoas que eram antes de conhecer a fascinante cultura Caiapó, não poderiam ficar ali para sempre, mas teriam a tribo Caiapó como segundo lar e visitariam sempre que possível. Inês já carregava no ventre uma criança que, independente do sexo, teria nome e batismo indígena, por gratidão a todo o bem que os Caiapós fizeram para eles, não só para o conhecimento, mas também para a alma.

Jean Pierre já tinha um vasto conhecimento sobre a cultura indígena e era conhecido entre várias tribos da Caatinga. Junto com Inês, Jean fez um plano para tentar libertar a Caatinga das mãos lusitanas. Todas as tribos fariam uma união pacífica para entrar em acordo com os portugueses, dando a eles uma pequena parte inabitada do bioma para que trabalhassem e, em troca, deixassem os índios em paz em suas terras. Jean já se comunicava no idioma indígena fluentemente e conhecia mais de um idioma, então, ele e Inês, com o coração repleto de paz e de compaixão, conseguiram informar todas as tribos, isso resultou em uma união das mesmas, membros de tribos inimigas cumprimentavam-se e conversavam, pois tinham o mesmo sonho: Desfrutar em paz da liberdade na Caatinga.

Começaram a passeata, todas as tribos, cada uma com suas características, estavam sem armas, apenas com coragem e compaixão no olhar. Mais tarde, os portugueses viram a gigante multidão de índios que se aproximava, o coronel Pedro Eustáquio, sem compaixão e com ódio no olhar, mandou que matassem todos aqueles índios, mas Joaquim refutou, dizendo que os índios não pretendiam atacar. Jean Pierre, Inês e Ubirajara, que estavam na frente de toda a multidão, se aproximaram do coronel e falaram de coração aberto o plano que tinham, não com ódio, mas sim com paz, com compaixão e com muito amor! O coronel riu, e com bafo de charuto disse que o Brasil inteiro pertencia a Portugal, pois eles haviam descoberto aquelas terras e eram os senhores dos ultrapassados e limitados índios. Para Eustáquio, os índios deviam entregar a Caatinga inteira curvados diante deles. Inês, sem hesitar, repudiou a atitude do coronel, disse que todos mereciam respeito e que os índios estavam lá há muito mais tempo, além disso, eram um povo tão avançado quanto os portugueses, porém, de um modo diferente e utilizando culturas diferentes. Eustáquio considerou a colocação da moça como uma blasfêmia, e ameaçou exterminar todos ali presentes se não se retirassem, mas Jean, convicto de si, disse que não estavam para brigar ou guerrear, apenas lutar pelos direitos que pertenciam aos índios. Joaquim convenceu-se que aquele povo estava certo, afinal, ele não gostaria que intrusos invadissem a casa ou a cidade dele e tirassem tudo deles por terem forças maiores e armas mais eficientes. O coronel ordenou para que Joaquim voltasse junto com os seus, mas o moço já estava ao lado da multidão de indígenas. As centenas de soldados e jagunços que ouviam tudo impressionaram-se com a valentia e com a persuasão daquele povo em defender o que era seu, Jean e Inês usavam cada vez mais argumentos contra o coronel, até que este, revoltado, apontou uma arma para a cabeça de Ubirajara, mas, atrás dele, estava um dos soldados com a arma apontada para sua cabeça, que justificou-se dizendo que ninguém ali estava em busca de sangue, queriam apenas direitos. Frustrado, Pedro Eustáquio abaixou sua arma e viu-se só, todos os portugueses foram para o lado dos índios, pois entenderam e sentiram algo que o coronel nunca parou para pensar: COMPAIXÃO!

De repente, vendo o rosto daquele povo sofrido, mas unido pela sede de liberdade, Pedro Eustáquio sentiu algo estranho passar em sua mente, lembrou-se de todos os inocentes que matou e torturou, por que não resolveu de outra forma? Viu que os índios eram um povo tão amado por Deus quanto ele, e que a violência não resolve problemas, e sim a paz, a amizade e o amor. Pedro caiu por terra, chorou pela primeira vez, beijou o solo nordestino e agradeceu por estar naquela pátria tão amada. A demonstração de sensibilidade do coronel sensibilizou a todos, foi uma comoção geral, um marco na história!

Os portugueses, Pierre, Inês e os índios entraram em acordo, os portugueses iriam tirar do bioma apenas o necessário para o sustento e para o progresso da nação, sempre respeitando as tribos e a natureza, e prometeram jamais explorar os índios, pois assim como eles, eram seres humanos cheios de amor e cultura para oferecer.

Meses depois, tudo se encontrava em paz na região, havia nascido Aiyra, linda menina filha de Inês e Pierre. A notícia da passeata percorrera o Brasil todo, os índios até criaram esculturas de Pierre e Inês, pelo bem que fizeram. Chegou o dia da triste despedida, o casal deveria voltar para o Rio Grande do Sul, pois sentiam uma incomensurável saudade da família. A despedida foi muito triste, mas o casal prometeu voltar sempre que possível.

Assim, Inês e Jean Pierre partiram seguidos de muitos aplausos e congratulações, partiram cada vez mais apaixonados, felizes com a filha, com tudo o que aprenderam e com a certeza de que os portugueses e as tribos indígenas viveriam em paz a partir de agora, pois todos aprenderam o significado de COMPAIXÃO!

                                                                                                                         FIM


Notas Finais


Obrigado por ler! :D


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...