A luz pálida da lua entrava no meu quarto, iluminando-o de um jeito meio fantasmagórico.
Sorrindo, me levantei da cama e caminhei até a janela do meu novo quarto.
Eu e meus pais tivemos que nos mudar para uma nova casa, no meio de uma floresta no Maine, porque meu pai fora despedido do emprego e como nós não tínhamos condições para continuar pagando o aluguel da nossa antiga casa em Nova York, tivemos que nos mudar para aquela casa que era de um amigo de minha mãe. Ele nos deu a casa sem cobrar nada, pois ela estava desocupada há muitos anos, então ele decidiu nos dar ela, pela amizade que tinha com minha mãe.
A casa era pequena com cinco cômodos apenas e uma varanda. Atrás dela havia uma densa floresta que parecia enorme e com várias árvores.
Abri a janela e olhei para fora. Uma brisa suave soprou fazendo meus cabelos ruivos voarem. Eu adorava a noite, as estrelas, a lua, era tudo tão bom, calmo e silencioso. Após mais uns segundos olhando a noite maravilhosa, fechei a janela e voltei para minha cama. Deitei e fiquei encarando o teto de madeira do meu quarto.
O meu quarto era o menor da casa, mas também o que mais tinha móveis. Havia um armário, uma mesa de cabeceira, uma escrivaninha, uma cama de solteiro, uma estante cheia de livros e uma mesinha com uma TV e um videogame em cima dela. As paredes estavam repletas de pôsteres da banda Slipknot e de alguns quadros, em um deles tinha o desenho de uma floresta, completamente queimada, cheia de cinzas. Havia também uma única janela, acima da escrivaninha, que ficava em um dos cantos do quarto.
Eu tinha quinze anos e amava ler. Meu sonho sempre foi ter uma Biblioteca em minha casa, mas esse sonho nunca se realizaria, pois meus pais não tinham condições para ter uma Biblioteca em casa.
Quando eu morava na minha antiga casa, em Nova York, sempre ia à Biblioteca. Eu lia livros de terror, mistério e suspense. Eram meus gêneros preferidos. Agora que eu morava no Maine, eu não poderia mais ir à Biblioteca, porque era muito longe.
Eu e meus pais nos mudamos hoje para essa casa. Minha mãe disse que a casa era muito pequena e que ela deveria ser maior. Meu pai, por outro lado, adorou a casa do jeito que ela é e prometeu que iria arrumar o que fosse preciso nela e procurar um emprego na cidade. Eu estava gostando dessa nova casa e esperava que houvesse mais adolescentes como eu por ali. Como eu era filha única, às vezes era bastante solitário, mas eu gostava muito da companhia dos meus pais.
Comecei a contar as horas no despertador em cima da minha mesa-de-cabeceira e não demorou muito para eu adormecer.
No dia seguinte, acordei com a luz do sol batendo em meu rosto. Levantei-me e caminhei até a porta do quarto, abrindo-a.
Segui pelo pequeno corredor até o banheiro. Entrei e tranquei a porta. Fiz minha higiene matinal e saí do banheiro, indo em direção à cozinha.
Nossa cozinha era o segundo maior cômodo da nossa nova casa, com apenas uma mesa, uma pia, um fogão a gás e uma geladeira.
Ao entrar, percebi que minha mãe estava em frente ao fogão, fritando algo em uma frigideira.
– Bom dia! – a cumprimentei, sorrindo alegremente.
– Bom dia, minha filha – cumprimentou também, olhando para mim e sorrindo.
– Onde está o pai? – perguntei, sentando à mesa.
– Saiu cedo pra procurar emprego – minha mãe respondeu, trazendo a frigideira para a mesa. – Quer?
Eram ovos com bacon. Assenti com a cabeça. Ela colocou os ovos com bacon em um prato e entregou a mim.
– Em que escola eu vou estudar depois que as férias terminarem? – perguntei, começando a comer.
– Eu ainda não sei – respondeu minha mãe, colocando uma chaleira com água para ferver no fogão.
Após comer os ovos com bacon, avisei minha mãe que iria sair para conhecer um pouco mais o lugar.
Voltei para meu quarto, coloquei meu tênis e vesti um casaco qualquer que encontrei no meu guarda-roupa já que lá fora estava um pouco frio.
Saí de casa e caminhei até o quintal dos fundos. A grama estava verde e brilhante. Não havia muita coisa ali, apenas tábuas velhas jogadas no chão e um pneu cortado ao meio. Olhei para a imensa floresta. Uma brisa suave soprava, fazendo as folhas das árvores balançarem, como se estivessem dançando.
Entrei na floresta. Havia árvores que eram altas e tinham troncos finos, outras que eram baixas e tinham o tronco grosso. Fiquei impressionada com aquelas árvores, elas eram tão lindas e passavam uma sensação de paz e tranquilidade. E pareciam ter mais de 100 anos.
Continuei andando, admirando as belas árvores, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Sempre gostei da natureza.
Ao longe, avistei um pequeno córrego. Curiosa, aproximei-me dele. A água era cristalina e brilhava sob a luz do sol, que passava entre os galhos repletos de folhas das árvores.
Fiquei admirando o córrego, me lembrando do meu falecido avô. Ele morava em uma fazenda e sempre que eu e meus pais íamos lá, eu brincava em um rio que havia lá perto. Sorri ao me lembrar disso. Eu sentia muitas saudades de meu avô, eu era muito apegada a ele...
Limpando algumas lágrimas de meu rosto, comecei a caminhar de volta para casa.
Ao entrar em casa, percebi que minha mãe tinha visitas, o que era estranho, pois havíamos acabado de nos mudar e não conhecíamos ninguém ali ainda.
Sentada em um dos sofás da sala, havia uma mulher de uns trinta anos. Ao seu lado havia um garoto, com mais ou menos 16 anos. Ele tinha o cabelo loiro escuro e sua pele era branca. Ele estava jogando em seu celular e ouvindo musica no volume máximo com fones de ouvido.
Fiquei alguns segundos olhando para ele, ele era lindo, antes de me tocar que estava pagando mico, ali parada.
– Oi – falei, meio sem graça.
– Oi – a mulher respondeu, sorrindo.
– Filha, essa é Clarice e esse é seu filho, Luan – minha mãe os apresentou.
Sorri e apertei a mão de Clarice.
– Prazer, Ruth – me apresentei, sorrindo gentilmente.
Luan, o filho de Clarice, permaneceu concentrado no jogo. Obviamente não tinha percebido minha presença ali. Sua mãe deu-lhe uma cotovelada.
- Ai! Doeu! - ele disse esfregando o lugar onde Clarice havia dado a cotovelada. - Por que fez isso? - perguntou irritado para a mãe.
Percebi que a voz dele era linda também e seus olhos eram verdes, iguais os meus. Clarice tirou os fones do ouvido dele e disse:
- Deixa de ser mal-educado menino e diz Oi para a Ruth.
- Que Ruth...? - os olhos dele encontraram os meus e ele sorriu meio sem graça. - Ah oi - disse. - Satisfeita agora? - acrescentou para a mãe.
- Muitíssimo - disse Clarice sorrindo.
- Querem chá com biscoitos? - minha mãe perguntou para nós.
- Ah eu adoraria - concordou Clarice.
Minha mãe fez um gesto para que eu a seguisse. Caminhei com ela até a cozinha.
– Quem é essa mulher? – perguntei assim que chegamos à cozinha.
– É uma vizinha nossa, eu a conheci ontem, quando estávamos descarregando as caixas da mudança – minha mãe respondeu, animada . – Ela é bem gentil. E você poderia virar amiga do filho dela também.
A ideia até que era boa, talvez eu devesse ser amiga de Luan, já que eu ainda não tinha nenhum amigo e ele parecia ter a minha idade. Sorri e olhei para minha mãe.
– Ok, eu posso ser amiga dele – confirmei, sorrindo.
– Que bom. Agora vamos fazer o chá.
Começamos a fazer o chá com biscoitos e quando terminamos, voltamos para a sala.
Clarice olhava a decoração da sala, enquanto Luan ainda jogava e ouvia música em seu celular.
– Aqui está o chá com biscoitos – minha mãe anunciou, colocando a bandeja com o chá e os biscoitos na mesa de centro da sala.
Clarice sorriu e pegou um biscoito e uma xícara de chá.
- Parece estar ótimo - elogiou.
Sentei no outro sofá, ao lado da minha mãe. Peguei um biscoito e uma xícara de chá também.
– Filho, quer biscoito com chá? – Clarice perguntou ao filho.
Ele não respondeu. Clarice tirou um dos fones de ouvido da orelha dele e perguntou mais uma vez.
– Filho, quer biscoito ou chá?
Ele olhou para ela, parecendo irritado por ser sido interrompido novamente no meio do jogo.
– Não – respondeu meio ríspido. – Você sabe que odeio chá e biscoitos.
Clarisse deu um tapa na cabeça do filho.
- Deixa de ser mal-educado menino e pega logo esse chá e esses biscoitos - disse ela. - Desculpa, ele é assim mesmo - acrescentou para nós.
Resmungando, Luan pegou uma xícara de chá e os biscoitos. Tive que me controlar para não rir do tapa que ele havia levado da própria mãe.
– Filha, por que você não convida o Luan para passar a noite aqui? – minha mãe disse de repente. - Assim vocês dois podem se conhecer melhor.
Olhei para ela, perplexa. Eu mal havia conhecido ele e ela já queria que ele viesse passar a noite aqui em casa.
- É filho, você pode passar a noite aqui, não é? Para conhecer melhor a Ruth, ela acabou de se mudar e não conhece ninguém ainda - disse Clarice para Luan também.
Ele olhou para a mãe e deu de ombros.
– Tanto faz – falou indiferente, voltando a atenção para o jogo no celular.
– Ok – falei, dando um gole em meu chá.
Minha mãe e Clarice começaram a conversar, enquanto eu e o Luan permanecíamos em silêncio.
Quando já era quase dez horas da manhã, Clarice avisou que o filho viria ali em casa por volta das sete horas da noite e ela e o filho foram embora.
Quase meia hora depois, meu pai chegou. Parecia animado.
– Adivinhem? Eu consegui um emprego – contou animado.
– Em que lugar? – perguntei, curiosa.
– Em um posto de gasolina, não muito longe daqui.
Eu e minha mãe o parabenizamos e começamos a fazer o almoço.
Quando terminamos de almoçar, ajudei minha mãe a arrumar a cozinha e a lavar a louça e voltei para meu quarto.
Durante a tarde inteira, fiquei lendo, mas eu não conseguia me concentrar na leitura. Eu não parava de pensar no Luan.
Será que me apaixonei por ele? Pensei, mas logo descartei esse pensamento. Não fazia nenhum sentido, era bobagem, nós havíamos acabado de nos conhecer, a única coisa que eu iria ser dele, era amiga.
Nada mais que isso.
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