História Lie to me - Capítulo Único

Rangiku estava morrendo.

Ela arquejou, lutando para encher seus pulmões de ar. Estava tão difícil respirar. Tudo doía. Sua visão estava escurecendo, então decidou fechar as pálpebras para não ver as formas turvas à sua volta, mas até isso pareceu exigir muito de si. Aquilo era o preço a pagar por perder vergonhosamente para um quincy.

Em seus momentos finais, as lembranças de uma vida toda voltaram à mente. Não seus grandes feitos, mas sim as coisas simples; um sorriso de agradecimento, um abraço acompanhado de uma xícara de chá, um beijo de bom dia. Os momentos verdadeiros. Por que todo o resto, ela percebeu, era baseado em mentiras. Na verdade ela já sabia, porém não queria aceitar. Mas por que continuar o fazendo em um momento como aquele?

E todas aquelas mentiras giravam ao redor de uma pessoa. Ichimaru Gin. Elas começaram desde o momento em que ele surgiu com aquela roupa de shinigami na pequena casa que dividiam. Quando ele partiu pela primeira vez e ela o obrigou a mentir.

Os anos seguintes àquilo foram os piores. Rangiku não podia fazer nada a não ser esperá-lo. Então decidiu tornar-se uma shinigami para encontrar um caminho; outra mentira. Ela já tinha um caminho, e ele a levava até Gin.

Porém a mais absurda das mentiras foi quando ela tentou se convencer de que o odiava.

Rangiku engasgou, provavelmente com o próprio sangue mas seus olhos estavam fechados para ter certeza. Virou-se para o lado e cuspiu o líquido, arquejando furiosamente. Ouviu uma gargalhada vir de algum lugar ao redor. O quincy ainda estava ali? Por quê? Aquela luta parecia ter ocorrido há anos...

Ela concentrou-se nos olhos azuis de Gin para distrair sua mente do que estava acontecendo. Mas inevitavelmente ligou aquilo a última vez que viu aqueles olhos com vida. A morte dele foi a primeira vez que as mentiras ruíram, deixando somente a verdade pura. Foi quando ela descobriu que ele a amava e lhe disse todas aquelas coisas para protegê-la. Mas que idiota, ela não precisava que proteção, só precisava dele.

Agora que a verdade estava diante dela de novo, ela percebeu que o amava incondicionalmente.

Contudo, já que sua vida era totalmente baseada em mentiras, por que não contar mais uma, a última? Repetiu para si mesma mentalmente que tudo ficaria bem, e seja lá onde estivesse, ela estaria com Gin. Mesmo que ela soubesse que provavelmente ele estaria ocupado demais para isso, queimando no inferno, continuou se concentrando naquele pensamento. Estou indo, Gin.

Um sorriso moldou seus lábios rosados e então ela parou de respirar.