História Life is Really Strange - New mystery

Assim que acordei, comecei a esticar meu corpo. Estava sozinha naquela cama improvisada. Olhei para os lados e nem sinal dela. Foquei minha visão ao telhado, algumas falhas na madeira, pequenos buracos naturais, por sorte as telhas pareciam inteiras, pelo menos vistas de fora.

Virei de lado, já me preparando para levantar, vi o celular de Chloe bem em minha frente. Sentei e o peguei na mão. Não tenho certeza se deveria mexer nele.. mas eu queria.. estava tão fora de mim esses dias, deve ser a primeira noite que eu durmo bem.... sem pesadelos indesejados com certa pessoa.

Max, você não devia fazer isso, melhor deixar o celular de lado.

Suspirei. Podia só esquecer essa ideia.. ou olhar o que tem ali... que indecisão.. pode ser que ela nunca mais confiasse em mim se souber... mas... ela não precisa saber.

Está bem.. eu irei olhar, mas independente do que ver, eu vou agir normalmente. Não acredito que estou fazendo isso!

Digitava possíveis números, testando as combinações. Por sorte era só números.

Mas que droga... o celular bloqueou. Agora já era!

Coloquei o celular onde estava, não devia ter tentado, por que ficar tão curiosa para ver as coisas da Chloe? Claro que ela não esconderia nada de mim.. ou esconderia? Por que estou pensando assim? Ela é minha melhor amiga. Espera...

A toca de Chloe estava caída ao chão e parecia ter algo anotado na etiqueta, peguei a toca e olhei os números, uma sequência de seis.. parecia uma data.. e os dois últimos eram desse ano. Do que seria essa data?

Voltei a olhar para o celular, o tempo de espera já terminou, dava pra tentar a senha novamente. Que sorte! Ao digitar aqueles números, notei que foi desbloqueado. Seu plano de fundo era todo branco com uma caveira negra, nela uma cartola e várias rosas ao redor, todos da mesma cor.

Engoli em seco. Abri a galeria de imagens dela, observando algumas fotos com Rachel.. espera.. elas estavam se beijando.. bom.. eu já imaginava. A julgar pelo fundo da foto, devia ser aquele lugar secreto onde elas passavam um tempo.

Acho que não devia observar mais nada. Fechei a galeria, quando ia bloquear o celular, meu dedo tocou sem querer nas mensagens, eu sei que não devia.. mas já que abriu. Ironia do destino!

Não acredito! A primeira mensagem era de Rachel, Chloe enviou hoje de manhã.

Abri as mensagens, Chloe mandou várias, li algumas de meses atrás perguntando...

“Cadê você? Íamos nos encontrar no ferro velho.”

“Porra Rachel.. se não quer se encontrar comigo é só falar, não precisa me dar um bolo.”

Vi outras mensagens dela pedindo desculpas, outras de que iria acabar com o Nathan até um “sinto sua falta” porém.. a mais recentes são as que me chamaram atenção.

Mesmo sabendo de sua morte, ela persiste em enviar mensagens que nunca chegam, em uma delas ela falou que eu era incrível e queria que ela tivesse me conhecido. A mais recente dizia..

“Eu não consigo te esquecer, já tentei de tudo. Ontem a noite eu e Max nos beijamos.. sei lá.. foi bom.. mas estranho.. ainda penso em você.. mas eu realmente gostei do beijo.. me desculpe por isso. Acho que não devia deixar acontecer novamente, ela só estava curiosa.. diferente de mim naquele dia em que nós... que porra.. vocês são diferentes.. mas tem vezes que ela me traz lembranças de você... realmente estar com ela me faz sentir bem novamente. Se você estivesse aqui, me diria para continuar próximo a ela... mas ela tem agido estranho ultimamente, parece que está ficando louca.. talvez no fundo eu queira confiar nela.. me salvou tantas vezes.. só espero que também possa salvar ela.. caso precise.. não quero perder mais ninguém.. não sei se conseguiria ser forte ainda.. Max é a única amiga que eu tenho.. a única força pra manter meu queixo erguido..”

Não sabia como reagir.. ela ainda enviava mensagens.. como se ela fosse responder um dia.. sua forma de aliviar a dor era tão... diferente.

Soltei o celular e coloquei exatamente no mesmo lugar. Fui até a janela para ver se encontrava minha amiga e bem.. seu paradeiro era óbvio, nadando novamente. Suas roupas estavam penduradas no galho.

-Bom dia Max.- acenou assim que me viu.

-Bom dia.- bocejei, aproveitei para descer as escadas e sentar próxima a água.

-Não quer entrar?- perguntou se aproximando da borda.

-Não. Só quero lavar o rosto.- me inclinei para lavar o rosto.

-Sonhou com você sabe quem?- a voz dela soou baixo.

-Foi uma noite tranquila.- cocei os olhos, espera... acho que entendi a referência.

-Sem Jefferson?- falou rindo.

-Sem Jefferson.- ri junto com ela.

-Lamento dizer, mas só deixei um sanduíche pra você.- saiu da água e pegou a toalha para se secar.

-É o suficiente para conseguir voltar pra casa.- levantei.

Após se secar ela me ofereceu sua toalha, na qual sequei meu rosto. A outra já se vestiu, apesar de seu corpo seco, as roupas de baixo estavam molhadas, então deixou marcas em sua roupa.

-Quer fazer algo diferente hoje?- disse animada mexendo na mochila e pegando o sanduíche pra mim.

-Quero ir na biblioteca.- peguei o sanduíche e já o mordi, estava faminta.

-Ahh Max.. é tão silencioso.. e cheio de nerds.- revirou os olhos e fez uma cara de tédio.

-Não precisa entrar, pode me esperar no carro. Espera... o que tem contra nerds?- respondi.

-Contra? Adoro nerds.- falou rindo, parecia um pouco sem graça. -Que tal se nós duas entrarmos e depois você beber comigo?- disse sorridente fugindo do “assunto”.

-Ainda acho que você pode esperar no carro.- terminei de comer.

-Ahh Max... só um pouco, não vai ficar bêbada.. relaxa..- riu.

-Eu posso fazer companhia, mas não irei beber.- cruzei os braços.

-Ok ok. Vamos voltar pra casa então.- subiu as escadas para pegar as coisas.

Estava em silêncio, perdida em pensamento, enquanto caminhava. Aqueles sonhos estranhos com o Jefferson, eu tinha certeza que não era só um sonho. Era uma visão. Mas será que eu devia procurar por ele?

-Max..- Chloe me tirou do meu transe. -Sua casa está logo ali, por que está me ignorando?- perguntou me olhando com uma expressão estranha, como se ela soubesse de algo.. ou como se eu tivesse escondendo algo.

-Não estou.. só pensando.- olhei para o chão, não queria tocar no assunto, ainda me perturbava.

-Sonhou com ele mas mentiu pra mim?- cruzou os braços e ficou parada bem em minha frente.

-Eu não mentiria pra você.- cruzei os braços também. -Acha mesmo que estou mentindo?-

-Talvez..- suspirou.

-Porra Chloe.. parece que não confia mais em mim.- franzi a testa.

Será que ela sabia sobre o celular? Não sabia se devia confessar ou fingir que nada aconteceu.

-Você quer me manter longe.. pra não precisar me salvar novamente.. aliás.. ele já me matou uma vez.- olhou para o lado, sorte que decidi não falar sobre o que vi no celular... ou poderia gerar uma discussão nada agradável.

-Olha.. eu quero esquecer isso por enquanto tá? Vamos focar em nos manter seguras.- acenou de maneira positiva com a cabeça.

Ao abrir a porta, fui surpreendida por um abraço forte da minha mãe. Ela parecia preocupada, perguntou várias vezes se estávamos bem. Já estava ficando chato. Por sorte, consegui convencer ela a nos deixar ir na biblioteca, não voltaríamos para almoçar, já que deu uma vontade de comer comida chinesa.

-Que passeio emocionante, indo a uma biblioteca.- reclamou Chloe enquanto eu procurava algum livro para acalmar minha mente, busquei ele na área de ficção, talvez algo fora da realidade manterá meus pensamentos no lugar.

-Esse parece ser bom.- era um livro bem fantasioso, eu lia a sinopse atrás, parecia interessante.

-Só estou aqui para ir beber com você depois.- cruzou os braços e olhou ao redor.

-Ahh Chloe, já disse que não irei beber.- revirei os olhos.

-Olha só aquela garota. Ela tem bom gosto!- apontou, de início nem olhei, mas após receber um cutucão virei o rosto na direção apontada.

Era uma mulher na altura da Chloe, tinha um cabelo mal cortado rosa bem claro, diria que era desbotado, um dos lados era menor que o outro. A mesma usava um gorro preto, camisa bem solta e branca, me lembrou o estilo da Price. Seu top preto aparecia por baixo, assim como suas tatuagens destacadas em sua pele quase pálida. O braço esquerdo tinha muitos símbolos estranhos, diria que imagens tribais ou algo assim. Ao centro do ombro havia uma única tatuagem da mesma cor que o cabelo, parecia um certo tipo de joia. Em seu septo tinha um piercing negro, assim como nas bochechas, dando a impressão de serem covinhas, no canto de cada lábio inferior havia uma argola e no centro, bem abaixo do lábio, uma bolinha. Um visual um tanto incomum, seus olhos tinham um tom de amarelo cinzento, não transbordavam emoção, dava a impressão que ela não estava viva. Isso me causava calafrios.

-O que tem ela?- perguntei, ao meu ver era incomum, mas ainda sim uma pessoa normal.

-Vi ela no estacionamento, depois comprou uma bala na mesma banca que você comprou um cookie, e agora está aqui, nos seguindo.- franziu a testa.

-Olha.. não vamos tirar conclusões precipitadas. Vou levar esse livro.- olhei de longe a mulher, nem pareceu se mover quando passamos próximo.

A mesma estava olhando um livro e o folheando, nem parecia ler. Eu preferi acreditar que foi uma coincidência, não queria me sentir paranoica. Chloe nem era discreta, encarava ela sem disfarçar.

Não sei o que era melhor, o livro ou seu cheiro, eu era daquelas que adorava ficar com a cara nos livros. “Devoradora de livros” era assim que Price me chamava a anos atrás, claro que era uma pequena referência aos jogos que jogávamos.

Depois da biblioteca, cruzamos a rua para ir ao shopping, cujo era um prédio enorme com muitos vidros e na cor branca, diferente da cor mais “apagada” do prédio antigo da biblioteca. Lá fomos a um restaurante chinês. A comida estava ótima por sinal.

Chloe parecia observar ao redor, como se estivesse procurando a garota. Me admiro de não ter notado ela.. talvez até tenha, mas não prestei atenção, pois minha mente estava longe.

-Ela está aqui Max.- sussurrou.

Bem antes dela dizer, já vi o reflexo da outra no espelho, que ficava bem ao fundo do restaurante, mostrando quem entrava e saía.

-Acho devemos falar com ela.- sussurrei, a essa altura já terminamos de comer.

-Vamos beber um pouco, quero ver se ela vai nos seguir até a caminhonete. Lá no estacionamento podemos interrogá-la em paz.- sorriu de canto, com certeza ela tinha algo em mente.

-Chloe, vamos agir com calma.- esperava que ela não fosse fazer alguma loucura.

-Claro Max, claro.- por que a voz dela não me convenceu?

Antes de ir no estacionamento, compramos algumas bebidas, quando chegamos ao tal, Chloe sentou na parte de trás do veículo e abriu uma garrafa, bebendo o conteúdo.

-Beba também Max.- estendeu para mim a garrafa.

-Não obrigado.- neguei com a cabeça.

-Só um gole não fará mal.- sacudiu a garrafa.

Suspirei, cedi em beber um gole. Blargh, com certeza fiz uma careta. Aquela garrafa azul e aquele gosto amargo, não era minha melhor experiência. O pior foi sentir o líquido queimando minha garganta enquanto descia. Ouvi as risadas de Chloe e franzi a testa, devolvendo a garrafa.

-Sua cara foi muito engraçada.- falou entre risos.

-Haha!- zoei.

-Ahh Max, não dá uma de ranzinza.. ria também.- fez uma careta zoada, não me contive em rir dessa vez.

-Olha quem chegou.- fiz um sinal com a cabeça, a mesma olhou para o lado e viu aquela garota de cabelo rosa desbotado, a mesma parecia procurar alguma coisa.

-Vamos interrogá-la.- saltou da traseira da caminhonete e foi até a outra.

-Chloe não!- era tarde demais, as punks já estavam frente a frente.

Me aproximei delas, pelo jeito Chloe estava irritada com essa possível perseguição.

-Qual o seu problema? Por que não nos deixa em paz?- empurrou a outra tocando em seu ombro, ambas ficaram em silêncio.

A mão da Price não desgrudou do ombro dela. Chloe estava com os olhos arregalados, como se visse um fantasma, já a outra apenas mantinha aquele olhar sem vida, aparentemente costumeiro. Se estivéssemos no ano 3000, diria que ela era um robô.

Será que devia separar as duas? Ou apenas aguardar? Também poderia optar por violência.. mas bem.. eu não era assim.

Talvez a melhor opção fosse esperar, parecia que estava acontecendo algo entre elas.. algo sobrenatural.

-O que foi isso?- cerca de minutos depois Chloe colocou a mão na cabeça, parecendo confusa.

-O que você viu?- a voz da garota era quase tão fria quanto seu olhar.

-Eu vi... sei lá.. tinha um cara.. ele era enorme e me surrou.. eu não sabia bem por que.. mas era tão pequena.. espera.. aquela nanica era você?- ainda parecia confusa.

-Infelizmente. Agora tenho certeza de quem eu procurava.- aqueles olhos sinistros me focaram.

-Heey... não encoste na super Max.. se ousar machucar ela eu..- se colocou em minha frente, fiquei até um pouco sem graça com ela tentando me proteger.

-Sei do que você é capaz, e acho que gostaria de saber que não é a única.- meus olhos vibraram, eu realmente não sabia se ela também viajava no tempo.

Estava bem confusa, eu queria conversar com ela e saber mais, porém isso me assusta um pouco, assim como também acho que assusta Chloe, acho que deveria deixar elas caírem na porrada.. ou só... conversar? Respirei bem fundo antes de tomar a decisão.

Levei a mão ao ombro de minha amiga.

-Está tudo bem, vamos conversar com ela um pouco.- disse baixo, acalmando os nervos da outra.. eu espero.

-Você é uma viajante do tempo né?- perguntou enquanto nos aproximamos da caminhonete, Chloe estava emburrada, não duvido que ela adoraria sair na porrada com a punk de cabelo rosa.

-Sim.. mas como sabe?- perguntei tentando engolir aquilo tudo.

-Eu tive um sonho. Nele um homem estranho de óculos.. Jefferson.. eu acho.. ele me enforcava.. sentia um certo desespero. Achei que fosse só um sonho.. mas aconteceu outra vez.. mas ela me salvou.- apontou para Chloe.

-Espera.. você pode entrar nos meus sonhos? E.. isso ainda não explica como sabe sobre mim.- franzi a testa, ainda era suspeito pra mim.

-Não foi por querer. Pode-se dizer que acidentalmente nossas mentes se sincronizaram e eu fiz você ter pesadelos. Pra ser sincera.. aquele Jefferson parece ser algum tipo de trauma.- ela ia se encostar na parte de trás da caminhonete, onde Chloe estava sentada, porém um som, que mais parecia um rosnado, vindo de minha amiga, a fez mudar de ideia.

-Ainda não me disse como sabe sobre meus poderes.- cruzei os braços.

-Acaba com ela super Max.- Chloe se divertia com a situação.

-No sonho.. ele falou algo sobre voltar no tempo. E bem... quando sua amiga tocou em mim. Nossas lembranças se cruzaram. Enquanto ela via meu passado, eu vi o dela. Aliás.. ela sabe sobre nós agora.- olhou de canto para minha amiga. -Mas não a deixa menos suspeita.- franziu a testa.

-Me deixa raciocinar.- respirei fundo, pensando na situação. -Você pode ver o passado e causar pesadelos as pessoas... isso quer dizer que a visão com o Jefferson não foi uma visão do futuro.. só um sonho.- suspirei em alívio.

-Talvez... mas ainda é perigoso. Quanto mais forte a conexão de nossas mentes, mais real se torna seu sonho, chegando a ponto de você ser morta enquanto dorme.- a voz dela soou um pouco sombria.

-Vamos acabar com isso então.- Chloe pegou um pé de cabra, que estava em baixo de uma lona, próximo onde a mesma sentava.

-Calma aí..- fiquei na frente da minha amiga, a impedindo de bater na outra. -Por que se conecta comigo se isso é perigoso?-

-Não escolho isso, acontece as vezes. Mas.. depois dos assassinatos.. tem ocorrido com mais frequência.- sua misteriosa voz me dava a entender que éramos suspeitas disso tudo. -Viram o jornal essa semana?-

-Eu vi sobre vários casos de suicídio.- lembrei de como me senti ruim com aquilo, tanto que mudei de canal.

-Não foram suicídios.. todos foram assassinados.. alguém manipulou aquelas pessoas.. alguém como nós.. eu me conectei com o assassino uma vez.. ele é cruel.. ele quer acabar com os grande líderes e causar uma desordem na sociedade. As pessoas que morreram são grandes influências.. seus seguidores ou fãs... muitos deles... estão se matando por conta disso.. é catastrófico.- aquilo pareceu abalar um pouco a frieza dela, não entendo bem.. mas isso incomodava ela.

-Ligamos pra você se vermos algo suspeito.- Chloe me puxou pelo braço, ainda estava um pouco chocada com o assunto, não sabia bem o que dizer, apenas me lembrei de fazer uma importante pergunta.

-Como se chama? Vamos nos ver novamente?- disse antes de ser puxada para dentro do veículo.

-Me chame de Morgana, nos veremos por aí.- olhei ela pelo retrovisor, estava parada, com sua expressão fria, nos olhando partir.

-Acha que ela está mentindo? Parece uma louca.- Chloe acelerou com tudo.

-Não sei.. acha que deveríamos investigar?- olhei para a mesma, cujo estava com um enorme sorriso.

-Super amigas detetives. Assim que se fala.- me deu um soquinho no ombro.

-Devíamos pegar alguns jornais e começar a analisar. Acha que o sumiço de Jefferson possa estar ligado a esses supostos assassinatos?- olhei para a estrada, ainda pensando naqueles sonhos.

-Não esquece mesmo aquele gatinho né?- riu. -Vamos pegar o bandido, somos boas nisso, não somos?-

-Talvez.. mas estamos sem pistas.. talvez aquela garota possa ajudar.- acho que não devia ter dito em voz alta.

-Viu o nome dela? Parece de uma bruxa.. aliás.. ela é estranha.. tem tatuagens e cabelo pintado.. não gosto dela.- bufou.

-Chloe.. você também tem tatuagens e pinta o cabelo.- a mesma começou a rir.

-Mas eu também não sou confiável.. justamente por isso.- ri junto com ela.

Realmente era verdade, mas ela sempre estava ao meu lado, portanto confiava nela, sabia que ela nunca faria nada pra me machucar ou até que algo eu não queira.

Ao chegar em casa, peguei os jornais que minha mãe assinava, levei todos para o quarto. Sentei a cama, enquanto minha amiga ficou no puff. Ambas começamos a ler os jornais.

-Parece que eles estão morrendo enforcados em casa, e todos, antes de morrer, deixam uma carta dizendo que mereceu aquilo, além de influenciar pessoas de uma maneira errada.- comentei em voz alta.

-Esses quadrinhos são tão engraçados.- falou rindo.

-Chloe.- bufei.

-Eu só quis descontrair. Olha só.. essa foto aqui.. parece que foi tirada naquela rua do mercado, vi uns apartamentos lá. Tem um desenho na janela de uma rosquinha enorme.- trouxe o jornal pra perto. Realmente era verdade.

-Incrível, essa pista foi ótima. Espera... esse lugar está pra alugar..- franzi a testa.

-Errr.. bom.. esse lugar parecia aquele da capa.. e talvez esteja procurando um apartamento.. morar sozinha parece melhor do que brigar com minha mãe.- revirou os olhos.

-É o mesmo apartamento.. mesmo número.. mas por que será que dias depois suicídio, já está pra alugar?- pensei em voz alta.

-Quer invadir um lugar a noite? A imobiliária deve ter informações importantes.- abriu um sorriso.

-É perigoso.. olha só essa imobiliária.. deve ter muitas câmeras de segurança.- suspirei, apesar de estar quase concordando.

-Será divertido, você é a super Max.- sorriu de canto.

-Vou pensar... mas antes, vamos bolar um plano, coletar endereços.. quero todas as informações possíveis.- levantei para pegar um papel e caneta.

-Sim senhora, vou buscar na internet mais coisas. Deve ter fotos que esses jornalistas não postam no jornal.- ela estava mesmo empolgada com isso, era até de se desconfiar.

-Chloe.. não está querendo resolver esse caso pra mostrar que somos melhores que a Morgana né?- cruzei meus braços, a mesma riu um pouco sem graça.

-Claro que não Max. Eu só quero pegar os bandidos.- falou bem rápido e começou a digitar no meu notebook.

Por que ela não me convenceu? Dessa vez não teria nada envolvido.. sei que ela não é do tipo de pessoa que faz as coisas pra ajudar.. mas sim com um propósito... na maioria das vezes próprio.. bom.. mas acho que essa competitividade entre elas, pode nos ajudar, uma Chloe dedicada parece ser bem útil. Irei analisar com mais calma as imagens do jornal.

-Maaaaax olha isso.- corri para ver.

-Pensei que estivesse procurando algo importante.- me mostrou um vídeo de uma manobra de skate radical.

-Não era bem isso.. mas aproveitei. Olha.- mudou de aba, onde havia uma notícia sobre o desaparecimento do Jefferson, ele estava sendo procurado e já ofereceram recompensa.

-Acha que ele está por trás disso?- perguntei imaginando ele drogando as pessoas e obrigando a fazer besteira.

-Talvez... podemos investigar nas redes sociais das vítimas.- acenei de maneira positiva com a cabeça.

-Genial Chloe.- sorri de canto.

Começamos a procurar nas redes sociais. Todas as pessoas que se mataram eram bem de vida, até demais pra querer se matar. Eram bem conhecidos por sinal. Tinham grandes empresas.. mas o que não queria me calar era o apartamento. Era tão simples.. por que alguém tão bem de vida iria morar em algo tão simples? Espera.. e se for fachada para algo que ele fizesse?

-Hoje a noite iremos visitar a imobiliária, tem muitas perguntas sem respostas.- falei baixo, ainda tinha certo receio.

-Quem é você e o que fez com a Max? Haha, nunca pensei que iria realmente concordar com isso..- falou rindo.

-Vamos ser cuidadosas certo?- peguei a câmera.- Pra nada dar errado.- acenou de maneira positiva com a cabeça, fui abraçada e tirei uma foto.

Acabei saindo com uma cara engraçada, pois estava abaixada ao lado dela, antes de ser abraçada. Ela estava um pouco inclinada na cadeira, usando apenas um braço, ainda fez um sinal de “dois” com os dedos.

-Ahh Max, ficou tão boa.. olha sua expressão está ótima.- falou pegando a foto da minha mão.

Me levantei e sentei na borda da minha cama. Estava sorridente, era tão bom ter a companhia dela. Peguei meu celular e vi que tinha mensagens do Warren. Abri para ver.

“Max, a Blackwell volta as aulas amanhã de manhã. O diretor perdeu muitos documentos e pediu para avisarmos a maior quantidade de pessoas possíveis.”

Acho que essa noite teria que dormir cedo.. ou investigar.. hmn.. meu deus.. que indecisão.. bem.. posso deixar pra depois. Melhor responder a mensagem, aliás.. fazia duas horas que ele me enviou aquela mensagem.

“Estarei lá, obrigado, irei avisar a Victoria e Kate.”

Quase de imediato ele me mandou uma carinha sorrindo. E após digitou uma mensagem. Deixei ele esperando para enviar a mensagem para as duas, vai que não saibam sobre a volta as aulas. Decidi então ver a mensagem dele.

“Depois da aula.. será que podemos ir pro cinema? Minha perna está ótima.. mentira ainda está quebrada.. mas queria conversar com você sabe...”

Mandou uma carinha tímida. Pensei em como responder, não sabia se aceitava ou não, até que ele mandou outra mensagem.

“Pode trazer sua amiga punk..”

Por que tinha a impressão que ele não queria que ela fosse? Talvez tivesse dito isso pra me convencer a ir. Sinceramente, não estava com vontade de ir no cinema, mas ainda achava que era bom se distrair, melhor pensar nisso depois, agora tenho coisas demais na mente.

“Amanhã te dou a resposta, ok?”

Ele respondeu com um “joinha” imediato.

Larguei o celular e fiquei olhando para os adesivos que tinha no telhado. Deixei os pensamentos me levarem, até que sentir a cama “afundar” em meu lado. Virei o rosto e vi Chloe com os olhos em mim.

-Advinha quem pegou o endereço da imobiliária? É perto daqui.- disse sorridente.

-Obrigado Chloe.- bom.. ainda estranhava o fato dela estar tão dedicada assim, mas isso era ótimo.

-Rachel iria adorar te conhecer.- seu rosto se virou para o teto, assim como o meu.

-Aposto que ela era muito importante pra você.- suspirei.

-Ela era tudo que tinha depois que você partiu... e-eu sinto falta..- virou de lado e se encolheu, virei de lado também.

O cabelo dela estava caído na frente dos seus olhos, mas eu o retirei.

-Eu estou aqui com você agora está bem? E não quero deixá-la. Prometo estar sempre contigo.- a mesma me olhou e sorriu de canto.

-Ahh Max, você é uma doçura.- me abraçou.

-Não deixe isso te abalar, está bem? Você é a pessoa mais divertida que conheço.- acariciei o cabelo da mesma.

-Você é a nerd mais legal que eu conheço.- ambas rimos.

Alguns minutos de silêncio nos mantiveram juntas, mas logo decidimos afastar o abraço e começar a planejar como iríamos invadir a imobiliária durante a noite. Muito relutante eu concordava com isso... mas.. sentia que isso faria bem para todos nós.. ninguém mais morrendo e parecendo ser suicídio.. o mundo pode ser um lugar melhor. Sentia um frio na barriga.. só de pensar em tudo que faríamos daqui a poucas horas. Só esperava que ocorresse tudo bem.

Ainda não me saía da cabeça aquela mulher, tão punk como a Chloe, eu jurava que elas iriam se dar bem.. mas ao invés disso.. parece que minha amiga não confia nela.. aliás.. não sou a única com habilidades aqui. Temo que ela seja um empecilho pra mim.. mas espero que se torne apenas uma aliada em tanto.

Não quero ter mais nada pra me preocupar.. mesmo sabendo que o Jefferson foi um pesadelo causado por ela, acredito que aquele cara ainda queira acabar comigo. O que me intriga é ele saber sobre viagem no tempo.. eu voltei no tempo quando contei a ele.. não tem como ele saber.. deve ser coisa da minha cabeça.. não tem como ele me culpar.. foi o David que prendeu ele.. acho que estava ficando mais paranoica do que esperava.. vou tentar manter minha mente no lugar, com todas as minhas forças.