1. Spirit Fanfics >
  2. Lifeline - Before the End >
  3. Treze de Julho

História Lifeline - Before the End - Treze de Julho


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Hello! Olha só quem ressurgiu do mundo dos quase mortos (insira um sorriso sem graça aqui)

Antes de pedir desculpas quero ter um ataque de felicidade aqui Suburbanroses SUA LINDA obrigada por ter ido até o Nyah recomendar Lifeline, nem dá pra dizer o quanto eu amei!!!

Agradecimentos também a todos os comentários!!! Obrigada de verdade, vocês não tem noção do quanto os comentários de vocês me fizeram bem nesses dias.

Pra você que é fantasminha e ainda não apareceu pra dar oi, fica aqui o convite, pode reclamar desse capitulo enoooorrme ou me xingar pela demora uahsaushaush

Falando em demora... Quase um mês depois eu estou de volta, a saga "pedra no rim" virou um pesadelo, eu tô em tratamento ainda, mas já estou bem melhor, nada de crises, amém.

Pra compensar, mais de 10 mil palavras!! Cap recheadíssimo de DixChechas, com muita coisa especial acontecendo, além de ser um dos meus preferidos pelo TANTO de referencia que tem de acontecimentos futuros da série e da segunda temporada (quase que eu coloquei o titulo de "Capitão America aprova essas referências" uaushaushaush)

Falando sem segunda temporada: Vocês sabem que vai ter neh? E que vai ser focada no apz, o que vocês não sabem (pelo menos a maioria) é que faltam uns 8 caps apenas!!!

Acho que é isso, espero que gostem.
Boa leitura.

Capítulo 25 - Treze de Julho


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Treze de Julho

 

• NATALIE COOPER •

"A felicidade é um sentimento
ou um evento?
Acho que ela é aquilo que
nasce em mim
toda vez que você me beija."

Tirei a caneta do papel e encarei o nada por alguns momentos. Suspirei. Li o que eu tinha escrito na página ao lado, mais cedo:

"Ele é como o outono,
desbotado em tons de sépia,
queimado pela vida,
esperando renovação.
Mas me preocupa
que o inverno frio e impetuoso
que mora ao lado,
seja severo demais,
para que ele encontre
minha primavera colorida."

Fechei o diário e apoiei o rosto nas mãos, aqueles dois trechos, com sentimentos tão opostos, definiam o que eu era no último mês. Claro que eu estava radiante, por estar com Daryl, era como a realização de um sonho, mas, ao mesmo tempo, estava preocupada...

Eu sempre soube que aquele caipira caçador era complicado, contudo, quanto mais tempo passávamos juntos, mais eu via o quão danificado e traumatizado ele era. Eu lidava com os danos colaterais todos os dias, porém, por mais que, algumas vezes, eu acabasse me machucando, não eram os efeitos colaterais que me assustavam, eram as causas. As coisas que tinham acontecido com Daryl Dixon, para que ele se transformasse no homem que era.

Ele não tinha feito muito mais que me mostrar as cicatrizes e, depois disso, eu tive que ir deduzindo... Aquele jeito dele ver a si mesmo, vinha de uma longa vida sendo tratado como escória da sociedade, não só pelas pessoas de fora, pelas de dentro também. A falta de confiança, se devia a quebra dela por alguém que devia zelar pelo bem estar dele, cada ponto tinha um porquê, a lista era grande e me tirava o sono, eu sempre acabava com um culpado em mente: Will Dixon, um pai violento e negligente, que tinha detonado o psicológico do filho de muitas formas.

Dia a dia eu tentava compensar e provar que as coisas podiam ser diferentes, um trabalho difícil, considerando que Daryl não se abria e, então, conversar estava fora de questão. Eu me esforçava pra mostrar, com atos, que ele podia confiar em mim.

Via o progresso dele, o quanto as coisas tinham evoluído pra nós, mas ainda havia um assunto no qual estávamos completamente empacados: Sexo. No começo, eu pensei que todo aquele receio era só o lance da confiança, eu não entendia muito, afinal Daryl possuía uma vida sexual antes de mim, Merle e Agnes tinham deixado isso claro. Eu não conseguia compreender por que o problema era comigo.

A primeira conclusão que cheguei foi que Daryl só conhecia sexo através da visão do irmão. Eu não tinha nada contra a ideia de uma transa louca e selvagem às vezes, mas percebi que conhecer só isso na vida não devia ser saudável. Se Daryl gostasse de mim, o que eu esperava ser verdade, talvez ele não quisesse levar o que tínhamos por esse lado. Achei aquele ponto de raciocínio fofo e resolvi aceitá-lo.

Todavia, com o passar dos dias, enquanto eu fazia o possível para manter Daryl longe da casa dele, praticamente fazendo dele um morador permanente do meu sofá, já que ele se recusava a ficar no meu quarto, eu comecei a ver que aquela questão sexual podia ser mais delicada e assustadora do que eu previ.

Foi em uma noite chuvosa e fria, eu tinha jogado uns colchões velhos na sala e víamos um filme antigo, que meu pai havia escolhido e no qual Daryl parecia bastante interessado. Nosso gosto pra filmes era bem diferente, não que isso de fato de incomodasse. Eu gostava de ver Daryl feliz, e gostava mais ainda quando ele e meu pai ficavam no mesmo ambiente, como se fossemos todos da mesma família. Talvez o fato de Peter ter visto Daryl crescer ajudasse muito nisso.

Eu tinha feito uma quantidade absurda de pipoca e estava confortavelmente sentada ao lado de Daryl, escondida debaixo das cobertas. Em um momento do filme, em um movimento totalmente natural pra mim, eu coloquei a mão na perna dele. E todas as suas reações ficaram gravadas na minha mente, passando em câmera lenta...

Daryl levou um susto, não foi só a força com a qual ele segurou minha mão no impulso, ou todos os sinais corporais, quando ele levantou, com a respiração irregular e saiu da sala com uma desculpa qualquer, foi como ter uma epifania, como se algo se acendesse na minha mente, jogando luz na escuridão. Um estalo, e foi como se um quebra-cabeças todo se montasse, com uma peça a mais que eu nem sabia que estava faltando.

Abuso...

Todo aquele receio de Daryl com sexo, o distanciamento das pessoas, a aversão a contato físico, aquilo eram sinais de abuso. Como em um filme, conectei as cicatrizes com aquilo e a situação ficou ainda mais assustadora. Era o pai dele!

Quando mais eu pensava no assunto mais claro ficava e na mesma escala, mais eu sentia ódio de Will Dixon. Eu estava apavorada, uma parte de mim parecia ter se quebrado... Aquilo me fez compreender Daryl plenamente, entender cada limite, cada trauma e, ao mesmo tempo em que eu queria gritar, eu sabia que o silêncio era a única alternativa, abordar Daryl com aquele assunto, sem que ele desse o primeiro passo, podia destruir a confiança dele em mim.

Depois disso eu tripliquei meu esforços, meu carinho e minha proteção, como se isso pudesse compensar Daryl de alguma forma. Reforcei minha paciência e abdiquei dos meus desejos, afinal, se antes eu já estava esperando pelo tempo dele, depois daquela descoberta, esperar que ele desse o próximo passo era vital.

Se eu pudesse colocar aquele velho atrás das grades eu teria feito isso, se eu pudesse ir até lá e socar a cara dele sem que isso afetasse o Daryl eu faria, a vontade de simplesmente parar naquela casa e pegar todas as coisas do Daryl e tirar ele de lá pra sempre era maior que qualquer coisa. Eu fazia de tudo pra manter ele o máximo de tempo fora de lá.

Minha vida passou a orbitar em torno da necessidade de fazer Daryl Dixon feliz, de protegê-lo do mundo e de dar todo carinho que ele merecia.

A única coisa que eu não vi, naquele momento, foi o erro que eu estava cometendo. Eu era uma garota de dezoito anos, com a própria carga de problemas e traumas, tomando pra si os problemas e os traumas de outra pessoa, colocando Daryl como o centro do meu mundo e o obrigando a me reconhecer como o centro do mundo dele, a única pessoa confiável, o ponto de apoio. Eu fiz pra nós dois um mundinho particular e o transformei no nosso lugar seguro. Mas eu nunca cheguei a pensar no que seria de nós dois um sem o outro, tampouco no que estava acontecendo no mundo ao nosso redor...

— Ainda acordada? — Meu pai perguntou, passando pela porta da oficina e me encarando.

Voltei pra realidade, como quem saí de um estado de transe, e olhei as horas no computador a minha frente, já passava das três da manhã.

— Tudo bem? — Peter Cooper franziu as sobrancelhas na minha direção e eu assenti freneticamente.

Talvez, se eu não estivesse tão ocupada escondendo minhas preocupações do meu próprio pai, eu tivesse perguntado sobre aquelas olheiras fundas e sobre os quilos que ele havia perdido na última semana. Mas eu deixei aquele detalhe passar batido.

— Eu só fiquei programando o fim de semana e acabei perdendo a hora. — Contei uma meia-verdade, enquanto dava de ombros.

— Decidiu para onde vai? — Ele se aproximou dois passos.

— Aqui. — Apontei o mapa na tela.

Meu pai analisou o lugar por um segundo, depois vendo as fotos que eu separei nas outras guias abertas.

— Parece um bom lugar, já falou com Daryl sobre isso?

— Não. E eu nem vou falar. É uma surpresa. — Respondi decidida, manter aquilo em segredo era minha prioridade número dois, a número um era fazer Daryl feliz. — Não ouse dizer nada!

Peter riu meio de canto da minha exasperação, erguendo as mãos em sinal de rendição e dando dois passos pra trás.

— Podia ter pelo menos avisado que sabe sobre o aniversário dele. — Ponderou, encostando em uma das paredes.

Eu vinha contando os dias para o aniversário do Daryl, programando cada mínimo detalhe, mas ele mesmo não tinha me falado nada sobre a data e, conhecendo Daryl, eu podia apostar que não falaria mesmo.

— Vocês tem passado um bom tempo juntos. — Comentou, como se fosse algo casual, contudo havia algo mais em sua voz.

— Isso incômoda você? — Perguntei, virando minha cadeira na direção em que ele estava.

Ele levou alguns segundos pra responder, suspirando longamente antes disso.

— Incômodo não é a palavra certa, acho que está mais para "preocupação".

— Preocupação com o que exatamente? — Franzi as sobrancelhas, sem entender bem o rumo que a conversa estava tomando.

Meu pai me observou por um tempo, jogando a cabeça um pouco de lado.

— Eu me preocupo se você sabe realmente o que está fazendo... — Passou a mão pelo rosto, antes de continuar. — Isso parece estar ficando bastante sério. Já pensou onde vai dar?

— Um dia de cada vez, é isso que eu estou fazendo. — Dei de ombros, eu honestamente não tinha pensado a longo prazo, quer dizer, eu tentava não fantasiar com o futuro, eu sabia que criar expectativas era como construir um castelo de areia. — Eu tenho só dezoito, não preciso tomar nenhuma decisão de vida ou morte agora, acho que tenho tempo pra descobrir onde isso vai dar, não é?

— Tempo... — Peter Cooper riu, como se aquilo fosse alguma piada de mau-gosto, assentindo algumas vezes e depois negando. — É. Você está certa, Natalie, vocês tem tempo.

Deu um sorriso que não me convenceu, desencostando da parede e caminhando até a mesa, dando um beijo na minha testa e desligando o computador.

— Isso significa que você pode terminar isso amanhã, agora, sua cama te espera. — Apontou, com um sobrancelha erguida e um meio sorriso.

— Senhor, sim, senhor. — Bati continência, rindo enquanto subia as escadas, ignorando aquela pontinha de um pressentimento ruim que parecia ter nascido no meu estômago.

➷•➷•➷•➷•➷

O sol ardia na estrada, eu acelerava a caminhonete rumo ao nosso destino misterioso. Tinha conseguido manter tudo em segredo até aquele momento, Daryl não sabia para onde estávamos indo, tampouco, que aquilo tinha tudo a ver com o aniversário dele.

— Vai me dizer onde estamos indo? — Perguntou, em um tom desconfiado, observando a estrada e as placas que ficavam pra trás.

— Não. — Respondi de imediato, reprimindo um sorriso. — Não confia em mim?

— Pra ser bem honesto, não.

Ri, enquanto Daryl soprava a fumaça do cigarro pela janela e estreitava os olhos na minha direção. Minha barriga se contorcia em expectativa, eu realmente esperava que ele gostasse.

— Fica tranquilo, Baby Dix, vai dar tudo certo. Na verdade, acho até que você vai gostar bastante. — Olhei de relance para ele, enquanto apertava um pouco mais o volante.

— Minha nossa, Deus me ajude! — Exclamou em um tom debochado, enquanto era incapaz de ficar quieto, mexendo em cada pequena coisinha que estava ao alcance das mãos dele.

Tomei a estrada para Atlanta e foi impossível não lembrar de Merle, ele ainda não tinha voltado pra casa, perseguindo Jason por aí, como faria um assassino de aluguel. Depois de tudo que eu havia descoberto naquele último mês, eu queria que Merle voltasse logo, por mais que o Dixon mais velho não fosse o melhor exemplo do mundo, ele ainda era tudo para Daryl...

Segui por uma estrada adjacente, torcendo para que minha memória fosse boa o bastante pra não me perder ou ter que usar um mapa, afinal, seria bem vergonhoso fazer aquilo justo naquele momento. De toda forma, não era como se tivesse muitas estradas naquela altura do trajeto, o que me dava um pouco mais de segurança.

— Tá bom, devo me preocupar agora? — Daryl soltou, vendo que tínhamos saído da rodovia. — Você não está pretendendo me matar e esconder meu corpo em algum buraco, não é? Por que se for isso, sinto dizer, mas você veio muito longe pra nada. Podia ter me desovado em Dawsonville mesmo, ninguém me procuraria de qualquer jeito.

Acabei rindo, mesmo tento parado um segundo pra encará-lo, afinal Daryl não fazia piadas todo dia, mesmo as sem graça.

— Sua visão de mim é inspiradora, me sinto até lisonjeada. — Debochei, usando meu tom mais polido, como se ele tivesse acabado de me fazer um elogio.

Continuei guiando pela pequena estrada de terra batida que subia o morro, toda a paisagem cercada por paredes rochosas, até que finalmente chegamos.

Estacionei no meio do platô que se abria a nossa frente, uma clareira, cercada por algumas árvores, de onde podíamos ouvir o som das águas calmas do grande lago cristalino que ficava próximo.

— Chegamos. — Avisei, descendo em seguida, e parando em meio a grama baixa que se estendia por todo o lugar.

Era fim de tarde e o Sol estava pronto para se pôr ao longe, dando a todo o verde do lugar um tom levemente alaranjado. Claro que não era o meu tipo de lugar, tampouco o meu tipo de programa, mas estávamos constantemente fazendo coisas que eu gostava, era hora de sairmos um pouco do meu mundo e entrarmos no do Daryl.

— Pensei em fazermos algo diferente esse fim de semana. — Puxei a lona que cobria a caçamba da caminhonete, revelando todos os equipamentos que eu havia comprado.

Não tinha sido fácil tirar a caminhonete das vistas do Daryl pra conseguir colocar tudo aquilo ali, só pra constar.

— Vamos acampar? — Indagou um tanto surpreso.

— E fazer todas as outras coisas que se faz em um lugar tipo esse. — Completei animada.

— E como exatamente você descobriu esse lugar? — Começou a olhar ao redor um tanto curioso.

— Muita pesquisa... — Admiti em um suspiro. — Visitei todos os fóruns e sites possíveis, pra encontrar um lugar legal, que não ficasse abarrotado de gente essa época do ano. Então eu descobri esse pequeno paraíso. No outono aqui fica lotado por causa da temporada de cervos, mas no verão o pessoal não vem muito pra cá, ajuda bastante essa parte ser mais isolada por causa da pedreira, os campistas geralmente preferem as partes mais baixas.

— Descobriu tudo isso na internet? — Perguntou, enquanto eu alcançava a crossbow dele na caminhonete e lhe entregava.

— Ficaria surpreso com o tanto de coisas que dá pra gente descobrir na internet. — Ri, lhe puxando pela mão, seguindo por uma trilha que provavelmente nos levaria ao lago. — Por exemplo, eu descobri que a secretaria do meio ambiente impediu uma mineradora de continuar suas atividades aqui, para que a fauna e a flora fossem preservadas ao máximo.

Daryl colocou a crossbow nas costas, meneando a cabeça e sorrindo meio de canto, enquanto apertava mais o passo pra andar ao meu lado. A caminhada até o lago não foi longa, assim que a paisagem se abriu a nossa frente tive que prender a respiração por um instante. Era lindo!

A água perfeitamente calma e cristalina do lago, fazia um contraste e tanto com o paredão de rochas que rodeava todo o lado direito dele.

— Então, o que achou? — Perguntei, mordendo o lábio em expectativa.

— Acho que vou deixar você escolher os lugares em que eu caço a partir de hoje. — Daryl deu um de seus raros sorrisos. — É um lugar incrível, Bochechas.

Uma sensação plena de orgulho inundou meu peito, arrancar sorrisos e elogios de Daryl Dixon era quase uma meta de vida.

Continuamos a trilha entre as pedras, até chegar a parte mais alta, metros acima do lago. Não foi uma subida fácil, na verdade, foi quase uma escalada. Cheguei ao topo ofegante, mas a vista valeu a pena.

— Caralho! — Comecei, e Daryl terminou minha frase com um assobio comprido.

Lá de cima a vista era ainda mais impressionante, a água se estendia por vários metros pelo vale, límpida, o azul cristalino se misturando com o alaranjando que refletia do pôr do Sol que iniciava.

Era um momento único, aquele lugar era diferente de Washington, com suas altas construções e ar esfumaçado, também era diferente de Dawsonville, onde o verde se desbotava e misturava com a terra quase vermelha. O lago e a pedreira tinham seus próprios tons, o verde era mais vivo, o azul mais claro, era como se o lugar fosse vivo, como se enchesse os nossos pulmões com um ar diferente, como se fizesse nossos corações bater em um ritmo próprio.

Respirei profundamente e fiz meu grito ecoar por toda a parte, era como se meu sangue fosse feito de liberdade. Ri de coisa alguma e Daryl me encarou como se eu fosse louca, talvez eu fosse mesmo, vai saber...

— Devia tentar, vai valer a pena. — Incentivei, gritando novamente, ainda mais alto que da primeira vez. Ele negou, dando alguns passos pra trás e depois voltando, o Daryl de sempre, um leão encurralado pelas barreiras que ele mesmo tinha criado. — Vamos, só estamos eu e você aqui.

Ele me encarou por três segundos inteiros antes de finalmente focar no vale a nossa frente e soltar o que mais me pareceu um murmúrio.

— Você pode fazer melhor que isso, Baby Dix. — Empurrei seu braço levemente, caminhando ainda mais pra beirada e gritando um palavrão qualquer, depois outro e outro.

Finalmente Daryl me acompanhou da maneira certa, gastamos nosso repertório de xingamentos gritados ao vento, quando os insultos conhecidos acabaram, arriscamos inventar mais alguns, o que resultou em uma garganta raspando e muitas risadas.

Eu ainda estava rindo quando Daryl me puxou pra perto, uma mão na minha cintura e outra na minha nuca. Meu corpo inteiro se arrepiou. O clima todo mudou em um milésimo de segundo.

Era sempre assim, um olhar e o clima descontraído de uma conversa totalmente casual, virava uma tensão sexual palpável, isso ficava mais intenso a cada dia, talvez fosse o fato de estarmos indo a passos de tartaruga quando se tratava de intimidade. Ambos queríamos, eu via isso claro como água, mas eu esperava que Daryl, mais que quisesse, estivesse pronto para aquilo. Eram duas coisas bem diferentes, eu sabia.

Mas, mesmo com os passos de tartaruga, os beijos eram o ponto alto do meu dia, um evento a parte, que tinha o poder de desligar minha mente de todo o resto. Não existia nada como beijar Daryl Dixon, era único, todas às vezes, eu sempre descobria um detalhe ou uma sensação nova quando os lábios dele tocavam os meus e quando suas mãos pressionavam meu corpo.

Eu montava um caleidoscópio de memorias com cada beijo, e não foi diferente com aquele que trocamos ao pôr do Sol.

Claro que Daryl ainda não me beijava na frente de ninguém conhecido, ele sequer o fazia livremente na frente de estranhos, e claro que ele sempre ficava um pouco constrangido depois, o que, naquela altura, eu já achava muito fofo. Ele tinha um olhar muito específico quando se afastava um pouco, mas não estava disposto a se afastar, era algo que me queimava por dentro, como se mil sois nascessem no meu coração e se espalhassem pelo meu corpo.

Nunca tinha esperado tanto tempo por alguém, eu, honestamente, nunca tinha desejado tanto alguém também, mas não era só isso, era mais... Quando eu estava com Daryl era como se eu me sentisse completa, na contra mão de todos os nossos problemas, estar com ele tornava tudo perfeito, como se ele tivesse algo muito específico que eu nunca soube que estava procurando, mas tinha percebido que era exatamente o que faltava em mim.

Acho que foi exatamente naquele momento, enquanto nossos lábios se separavam devagar, os dedos de Daryl tocavam de leve a minha bochecha e os olhos dele refletiam as cores do pôr do Sol, que eu percebi algo que eu já saia há um tempo: Eu amava Daryl Dixon, eu o amava mais do que já tinha amado qualquer pessoa ou coisa na vida, e, uma coisa perigosa, talvez eu o amasse mais que a mim mesma...

Caramba... pensei, enquanto arrumava o cabelo que o vento tinha bagunçado e sentia os olhos azuis de Daryl em mim, eu não me sentia assustada, surpresa, nem nada assim, era como se amar aquele caipira fosse o curso natural da minha vida, como se nada mais pudesse acontecer senão aquilo. Como se fosse meu destino o tempo todo. E sim, eu tinha noção do quanto isso soava piegas pra alguém que meses atrás achava essa coisa de amor uma babaquice.

Contudo, enquanto ser um tanto piegas e babaca nos fizesse felizes, eu não me importava, eu assumiria esses papeis por nós dois se fosse necessário.

Daryl voltou os olhos para o pôr do Sol que findava e eu olhei o restante da extensão do cume em que estávamos, alguns metros à frente, no meio da vegetação rasteira que se espalhava entre as pedras e a terra, eu vi algo que chamou minha atenção: Algumas flores branca de miolo bem amarelinho, haviam crescido na relva.

— Olha, é uma Rosa Cherokee. — Comentei, enquanto caminhava naquela direção. Daryl me olhou como se eu tivesse acabado de falar grego.

Abaixei, pra me certificar que eram mesmo daquela espécie, não que eu fosse uma perita em flora.

— Tem uma lenda aqui da Geórgia que diz que, quando os colonizadores encontraram ouro nessas terras, eles quebraram o acordo que tinham com os Cherokees, e os tiraram de suas aldeias, obrigando-os a fazer uma caminhada penosa até Oklahoma. — Comecei a explicar, enquanto Daryl se aproximava de mim. — As crianças começaram a morrer pelo caminho, de fome, frio ou exaustão, fora as doenças... Algumas apenas se perdiam na mata, ao se afastar das famílias. As mães, inconsoláveis, choravam por todo o caminho. Os anciões temiam que elas morressem de tristeza antes do fim da caminhada, então eles oraram ao deus deles, para que um sinal de esperança fosse dado a elas, na manhã seguinte, onde suas lágrimas haviam caído, nasceram essas flores, uma homenagem as crianças. Cada uma das cinco pétalas representando uma tribo Cherokee e o miolo amarelo representando o ouro. Um símbolo de esperança, que acabou ajudando as mulheres a finalizarem a caminhada.

— Aprendeu isso na internet também? — Daryl apoiou o peso em uma das pernas e me olhou como se eu fosse algum tipo de doida que fica pesquisando tudo.

Balancei a mão no ar, indicando que mais ou menos.

— Trabalho extra de história. — Dei de ombros. — Eu precisava de pontos pra não ficar de recuperação, o meu professor era daqui da Geórgia, com um gosto apurado pra lendas indígenas. Acabei gostando da história, acho que daria uma animação legal da Disney.

Daryl meneou a cabeça e segurou o riso ao ouvir o final, ele sempre implicava com a minha predileção por desenhos.

— Acredita nisso? — Pareceu meio cético. — Na lenda, eu quero dizer....

— Se eu acredito que algum deus pagão fez flores nascerem no solo, porque anciões pediram? Não. Claro que não. — Neguei, erguendo levemente o canto do lábio em uma careta. — Eu nem sei se acredito plenamente no que está na bíblia, quem dirá nisso... Mas os Cherokees tiveram fé, e, no fim, as flores foram o incentivo decisivo pra eles. A fé é uma coisa poderosa, ela traz esperança e ter esperança pode mudar tudo. Eu não sou exatamente religiosa, nem nada assim, mas, às vezes, tudo que as pessoas precisam é algo em que se apoiar pra passar por determinada situação, isso pode vir de diferentes jeitos: deuses, amigos, música, flores... No fim a esperança é só algo que te ajuda a trazer sua força interior pra fora.

Arranquei uma das rosas Cherokee antes de levantar e caminhar até Daryl com ela em mãos.

— Eu tinha esperança de fazer dezoito e magicamente ter uma nova vida, não aconteceu exatamente assim, mas honestamente, eu não posso reclamar de onde eu cheguei. — Ri, colocando a flor no bolso da camisa dele e lhe roubando um beijo.

Daryl meneou a cabeça e deixou um riso escapar pelo nariz.

— Vamos, temos que voltar e montar acampamento, antes que escureça demais. Você pode filosofar mais depois que acendermos uma fogueira. — Tocou levemente o meu braço, dando um passo de volta para a trilha que nos levara até ali.

Olhei o horizonte uma última vez e então observei a água cristalina muitos metros abaixo de mim.

— Amanhã vamos nadar nesse lago, e eu não vou aceitar uma negativa como resposta. — Deixei claro, enquanto o seguia de volta pela trilha.

— Sim, senhora! — Respondeu prontamente.

— Fácil assim? — Estreitei os olhos.

— Você merece um voto de confiança dessa vez. — Me observou por meio segundo, antes de voltar os olhos para o caminho, e aquele simples momento foi suficiente pra eu saber que ele estava feliz.

Meu coração se encheu de orgulho, a lista de coisas que eu fiz direito na vida não era muito longa, se é que existia uma lista. Mas, naquele instante, eu sentia que havia acertado com Daryl, por um momento eu realmente acreditei, e esperei, que as coisas pudessem dar certo. Era tudo sobre esperança, no final das contas.

Descer foi, por incrível que pareça, mais complicado que subir, eu escorreguei umas mil vezes, sorte que Daryl tinha diploma em andar em lugares como aquele.

Quando escureceu, já tínhamos acendido a fogueira e armado a barraca, revelei minha ideia maravilhosa de assar marshmallows, Daryl nunca tinha feito isso, nem eu.

No meu caso, era por sempre ter vivido em cidade grande, comprávamos marshmallows em pote, nunca tínhamos acendido uma fogueira. No caso do Daryl, era até difícil acreditar, mas a realidade me deu um tapa na cara e eu entendi rapidamente o motivo. Impedi minha mente de ir por aquele caminho, era um bom momento e eu não queria estragar aquilo.

Assar os marshmallows não era tão fácil quanto parecia, perto demais e acabava tudo esturricado, longe e não fazia efeito, mas quando era feito direito valia totalmente a pena.

— Quem diria que precisa de habilidade pra colocar um doce no espeto e queimar no fogo... — Comentei, enquanto perdia o quinto marshmallow.

— A habilidade é exatamente pra não queimar tudo, Bochechas. — Daryl me estendeu o dele, perfeitamente assado.

— Eu devia fazer uma careta pra sua presunção, mas como você está me dando praticamente todos os seus marshmallows, eu vou te perdoar. — Dei de ombros, enfiando o doce inteiro na boca enquanto Daryl revirava os olhos e colocava outro no fogo.

Ele me explicou, pela terceira vez, exatamente onde segurar o espeto e eu não reprimi a careta daquela vez, enquanto lambia os dedos totalmente melecados.

— Se tivesse me deixado caçar alguma coisa, podíamos estar assando comida de verdade na fogueira agora. — Apontou, um tanto contrariado, mas não estava realmente bravo.

— Eu trouxe comida de verdade, ou quase isso. — Indiquei as várias porcarias que eu tinha comprado, juntas em um canto. — Eu até fiz sanduiches.

— Eu estou falando de carne, isso é o que devíamos estar assando. — Retrucou, abrindo uma lata de cerveja, gelada, graças ao isopor com gelo que eu também trouxera.

— Olha só, Baby Dix, não me leva a mal, mas nem todo esse seu charme caipira, nem seus olhares sexys, nem seus beijos quentes, me convenceriam a comer um pobre bichinho que você matou. — Meio brinquei e meio falei sério, enquanto comia outro marshmallow.

Daryl encarou o chão, constrangido, enquanto meneava a cabeça várias vezes, ele ainda não tinha aprendido a aceitar elogios.

— Você come carne, não vejo qual a diferença, Bochechas. — Devolveu, como se precisasse tirar o foco dele mesmo.

— Primeiro: eu nem como tanta carne assim. Segundo: eu já compro limpa e embalada, não preciso pensar de onde veio... — Respondi superior, como se aquilo realmente mudasse alguma coisa.

— É a mesma coisa. — Daryl não deixou barato.

— Eu sei! — Ergui as mãos. — Me deixa ser a iludida hipócrita, ainda não estou pronta pra abdicar dos meus hambúrgueres, não posso ser perfeita o tempo todo. — Me fiz de ofendida e Daryl reprimiu uma risada.

Ele não parecia muito contente com o marshmallow, era quase como se uma guerra estivesse acontecendo nos dedos dele.

— Não vejo graça nesse doce, se antes ele já era enjoativo, assim melequento é ainda pior. — Resmungou, enquanto tentava se livrar dos marshmallows nos dedos.

— Você está bebendo cerveja enquanto come doce, claro que está horrível. — Eu ri vendo a bagunça que aquilo estava virando. — Me dá aqui.

Sem pensar no impacto que aquilo teria, levei os dedos de Daryl até a boca. Minha intenção era só pegar o marshmallow, eu não tinha me dado conta do quanto aquilo seria erótico, até ver os olhos do Daryl em mim.

O azul escureceu e ele prendeu a respiração. Nenhum movimento. Soltei a mão dele e fiquei sem saber o que fazer a seguir. Foi bastante difícil controlar o impulso de pular no colo dele e matar aquele desejo que tinha acabado de se espalhar por todo o meu corpo, mas quando Daryl desviou o olhar, eu acabei recuperando a razão

Um silêncio totalmente constrangedor se instalou entre nós, apenas o som irritante dos grilos e uma ou outra coruja piando esporadicamente. Eu devia ter dito alguma coisa pra quebrar aquele clima, mas estava ocupada demais montando cenas mentais bastante detalhadas de como aquilo podia ter acabado.

Peguei o celular no bolso, tanto pra olhar a hora, quanto pra tirar um pouco o foco dos meus devaneios pervertidos, eu já tinha ajustado o alarme para tocar meia-noite, porque eu queria desejar feliz aniversário para o Daryl nos primeiros minutos do dia treze. Porém, mesmo sabendo que o aparelho avisaria, acabei tão ansiosa por causa daquela situação toda, que peguei no celular pelo menos umas dez vezes nos minutos seguintes.

— O que tanto você olha nesse treco? — Daryl perguntou rude e eu guardei o aparelho no bolso no mesmo instante.

— Nada. — Menti, dando de ombros e cutucando a fogueira com um dos espetos.

Daryl começou a mexer nas flechas da crossbow, incapaz de esconder o quanto estava inquieto, eu precisava deixar as coisas naturais de novo, ou aquela noite acabaria o oposto completo de como tinha começado.

Acendi um cigarro e dei algumas tragadas enquanto observava o que Daryl fazia.

— Você fez essas? — Apontei algumas flechas que não pareciam compradas, enquanto estendia o cigarro pra ele.

— É bom pra distrair. — Respondeu, pegando a bituca dos meus dedos. — Mas faz um tempo que não faço mais, eu tenho caçado menos de toda a forma....

— Eu atrapalho a sua rotina, não é? — Comentei neutra, enquanto pegava uma flecha.

Ele me observou por alguns momentos antes de finalmente negar.

— Você mudou minha rotina sim, mas não atrapalha. — Respondeu sério e eu sorri abertamente,

— Ainda bem, porque, mesmo que eu estivesse atrapalhando, não pararia de monopolizar seu tempo. — Brinquei e Daryl acabou rindo. — Mas já que estamos aqui, vamos fazer umas flechas.

Recebi um olhar um tanto incrédulo.

— Sabe fazer flechas?

— Claro que não, mas tudo se aprende na vida, não é? — Devolvi animada e Daryl meneou a cabeça.

Acabei descobrindo que eu não levava muito jeito pra esculpir madeira, contudo, pelo menos, nossa atividade levou o clima constrangedor embora.

Algumas cervejas e uns pacotes de salgadinho depois eu já tinha desistido, mas ainda brincava com um galho qualquer.

— Vamos jogar "se"? — Perguntei do nada e Daryl, mais uma vez, me olhou como se eu falasse grego. — É simples, eu faço uma pergunta e respondemos. Só isso.

— Parece o tipo de coisa totalmente sem graça. — Ele não tentou esconder a falta de empolgação.

— Não é, você vai ver. Eu começo. — Respondi, olhando para o céu por um segundo, pensando em uma podia perguntar. — Se você pudesse ter um superpoder, qual seria?

Daryl franziu as sobrancelhas e meneou a cabeça.

— Sei lá, ué.

— Ah, vamos, você pode fazer melhor que isso, Baby Dix, só vai ser legal se você realmente considerar. — Incentivei, sem tirar os olhos dele, assim não teria outra escolha a não ser responder.

— Responde você primeiro...

— Okay. — Ajeitei a postura, enquanto listava superpoderes mentalmente. — Acho que eu escolheria telecinese, seria incrível!

Daryl meneou a cabeça para minha resposta e considerou aquilo por um momento.

— Acho que eu escolheria poder falar com os animais. — Revelou meio incerto.

— Esse tiro sairia pela culatra. Seria horrível. Você ouviria os esquilos e coelhinhos dizendo "por favor senhor Dixon, não atira essa flecha em mim". — Imitei os animaizinhos e Daryl caiu na risada, aproveitei pra roubar um beijo rápido dele. O clima de outrora totalmente esquecido. — Sua vez.

Ele pensou por um tempo, enquanto eu me remexia inquieta esperando pela pergunta.

— Se o mundo acabasse, o que você faria?

Okay, tinha sido uma pergunta meio mórbida, mas quem se importava?

— Se o mundo acabar estaríamos mortos, então não faria diferença, certo? — Retruquei, pensando na situação.

— Eu estava pensando em algo nuclear ou biológico, sei lá, alguns sobreviventes... Não dificulta.

Reprimi a risada enquanto pensava.

— Essa é fácil. Eu juntaria algumas coisas, viria pra cá, traria o meu caçador preferido e viveríamos do que a terra dá. Tipo Adão e Eva. — Ri da minha imagem mental e os olhos de Daryl brilharam na minha direção, percebi que tê-lo incluído nos meus planos significava algo pra ele.

— Quer dizer que então você ia comer minha caça, não é, espertinha? — Debochou acusatório.

— Eu não disse isso. — Me defendi no meio de risadas. — Eu disse que te traria comigo e viveria do que a terra dá, bichinhos indefesos não estão inclusos nisso.

— Se você diz... — Deu de ombros, fingindo não dar a mínima.

— E você, o que faria? — Devolvi a pergunta.

— Acho que vir pra cá seria mesmo uma boa ideia, viver em um lugar assim não seria nada mal. — Encarou o nada, como se divagasse.

— Decidido então, se o fim do mundo acontecer, esse é o nosso destino. — Ri, alcançando um cigarro e tragando uma vez antes de estendê-lo para Daryl. — Minha vez agora, seguindo a vibe mórbida de fim do mundo: Se hoje fosse seu último dia de vida, o que você faria?

Ele deixou os olhos focarem longe, roendo o canto dos dedos por um momento, como se pensasse nas opções, respirou fundo e tragou o cigarro profundamente, seus olhos encontrando os meus através da fumaça. A minha resposta surgiu clara na minha mente, se fosse meu último dia, só havia uma coisa que eu queria fazer... Amor com Daryl Dixon.

E, como se fosse transmissão de pensamento, eu sabia, pelo jeito como Daryl me encarou, que aquela seria a resposta dele. Talvez fossem as íris azuis, ardendo junto com as chamas, talvez fosse a incapacidade dele de formar aquela frase, ou o silêncio que tinha sentado entre nós, eu simplesmente sabia...

— Sei lá o que eu faria. — murmurou, desviando os olhos para o chão, tragando novamente. — E você, o que faria?

Deixei um riso escapar pelas narinas, enquanto contemplava o fogo por um momento, antes de encarar Daryl.

— Você sabe... — Falei como se não fosse nada, mantendo meu olhar nele.

As íris azuis focaram em mim, vi Daryl engolir em seco. Ele sabia. Não éramos crianças, nem estúpidos. Estendi minha mão para alcançar o cigarro.

— Mas hoje não é nosso último dia, então, nada errado em ir devagar. — Sorri, tragando e soprando a fumaça, tentando voltar as coisas para o clima normal. Daryl continuou me encarando, sem dizer uma palavra.

Senti vontade de perguntar o que ele estava pensando, mas eu sabia que já tínhamos ultrapassado nossa cota de momentos constrangedores por um dia.

Finalmente meu celular começou a apitar no bolso, indicando que finalmente era meia-noite, ou seja, estávamos no primeiro minuto do dia treze de julho, aniversário do Daryl.

Não pude evitar o sorriso.

— Então era por isso que estava tão interessada no celular, estava esperando uma ligação... — Daryl comentou enquanto mexia no fogo com um graveto.

— Não é uma ligação, é um alarme. Está avisando que é meia-noite. — Expliquei animada e ele estreitou os olhos na minha direção.

— Por que você precisa saber que é meia-noite?

Sorri, estendendo o aparelho pra ele, onde na tela ainda brilhava o título do alarme: "Baby Dix Niver".

— Como você sabia? — Perguntou meio sem jeito, me devolvendo o celular.

— Merle contou no meu aniversário. — Revelei, mantendo meu sorriso. — Por que você não me contou?

— É um dia como qualquer outro, não tem importância pra precisar ser falado. — Daryl deu de ombros.

— Discordo.

— Então é por isso que estamos aqui? — Fez um gesto abrangendo o lugar. — É algum tipo de presente?

— Não. Estamos aqui porque eu achei que você gostaria, não é um presente. Mas claro que eu tenho um presente também. — Levantei empolgada, correndo até a caminhonete e pegando o embrulho, que eu tinha escondido entre as minhas coisas.

Voltei com o mesmo entusiasmo, estendendo o presente e sacudindo-o freneticamente, quando Daryl ficou me encarando sem reação mais tempo que o esperado. Ele finalmente pegou o pacote e simplesmente ficou segurando.

— Você não... — A frase ficou sem fim, Daryl estava constrangido, cheguei a me perguntar se eu tinha mesmo feito a coisa certa comprando um presente.

Sim. Era a coisa certa. Daryl precisava aprender que não tinha nada errado em deixar as pessoas gostarem dele.

— Vamos, abre! — Pedi. mantendo meu humor e ele olhou de mim para o embrulho verde metálico algumas vezes antes de finalmente abrir.

Ergueu a peça na mão, contra o fogo, vendo a parte de frente. Era um colete, negro, não tinha muito detalhes daquele lado, apenas dois botões e um bolso.

— Isso é couro, deve ter custado uma nota. — Foi a primeira coisa que ele disse, me encarando um tanto bravo. Revirei os olhos.

— Nem começa, eu não perguntei quando você gastou pra me levar naquela torre. — Ergui a mão pra que ele parasse. — E, não é só um colete de couro, olhe atrás.

Daryl ainda não parecia muito conformado, mas fez o que eu mandei, e suas feições mudaram totalmente quando ele viu o detalhe traseiro. Um par de asas enormes, exatamente iguais a do meu colar, estampavam as costas.

Brinquei com o meu pingente, enquanto tentava sem sucesso, reprimir um sorriso, haviam diversos motivos pra ter comprado aquele colete, um deles era porque, eu sabia, em se tratando do Daryl, aquilo era o mais próximos que teríamos de um símbolo de compromisso.

— Agora que você tem asas, você é um espirito livre também. Aceite isso como um símbolo da sua libertação.

Ele me encarou com aquele jeito intenso, que tinha um tipo de poder magnético em mim, e então vestiu o colete, assentindo e murmurando um obrigada tímido. Nem em meus devaneios mais pervertidos eu imaginei que a peça ficaria tão boa nele.

— Pode apostar que a peça não era tão sexy assim na vitrine. — Soltei, inclinando a cabeça pra olhar melhor. Daryl bufou, como se eu tivesse acabado de falar uma besteira enorme. Ele não tinha ideia de quão sexy era, e isso apenas o deixava ainda mais irresistível.

Eu me aproximei alguns passos e o puxei pra mim, pela gola do colete.

— Feliz aniversário. — Desejei, colando meu lábios nos dele.

Havia uma intensidade impar naquele beijo, o modo como Daryl apertava meu corpo contra o dele, o modo como nossas bocas se devoravam... As coisas quase saíram do controle, mas eu tive um momento de lucidez e me afastei um pouco.

— Então, gostou? — Apontei o colete, dando alguns passos pra trás e tentando voltar as coisas para o clima normal.

Daryl assentiu murmurando outro agradecimento e eu sorri de canto, indo em direção a caminhonete.

— Na verdade, eu gostei muito. — Revelou, enquanto eu estava de costas pra ele.

Sorri orgulhosa de mim mesma. Tirando os momentos constrangedores, aquele dia estava sendo perfeito. Na verdade até os momentos constrangedores estavam perfeitos, a espera era excitante também.

Voltei em seguida, carregando a caixa de uma doceria.

— Eu comprei cupcakes. Canto parabéns e você assopra as velinhas? — Sugeri, segurando o riso.

— Nem a pau! — Daryl retrucou no mesmo instante, como se fosse um gato fugindo da água, eu caí na gargalhada.

— Eu sabia que essa seria sua resposta, mas eu tinha que tentar, não é? — Passei por ele e voltei a me sentar no tronco perto da fogueira, chamando-o com a mão.

Tentei não fazer alguma pergunta que pudesse trazer lembranças ruins, mas Daryl se sentiu confortável o bastante pra me contar de alguns aniversários com Merle. Assim nossa noite passou depressa...

— Ele me ensinou a nadar, atirar, me levou para meu primeiro porre... Coisas do Merle. — Comentou um tanto saudoso, ter o irmão mais velho longe por tanto tempo devia ser difícil.

Eu esperava que Merle ligasse, deixaria Daryl feliz, por isso tinha dito para o meu pai passar o número do meu celular. Preferi omitir isso do Daryl, pra não criar expectativas.

— Você não fala muito sobre seus aniversários, o que é estranho, afinal você fala muito sobre tudo. — Apontou, abrindo uma lata de cerveja, devia ser quase duas da manhã.

— Okay, vou fingir que você não acabou de me chamar de tagarela. — Me fiz de ofendida. — Não tem muito pra falar, minha mãe gostava de dar festar enormes com pessoas que eu não gostava, eu acabava comemorando com quem estivesse disponível, nada demais...

— Ela não ligou de novo? — Daryl questionou e eu fiz uma careta, não queria estragar aquela noite falando da minha mãe.

— Não. Ela ainda deve estar brava comigo, por eu estar aqui, é uma traição pra ela. — Tentei responder sem me envolver no assunto.

— Sente falta dela? — A pergunta me pegou totalmente de surpresa.

— Sentiu falta do seu pai quando foi pra Malcon? — Rebati de pronto, um pouco mais rude do que eu queria.

— Eu estava ocupado sentindo falta de outra pessoa... — Daryl soltou um riso pelas narinas, enquanto dava um longo gole em sua cerveja. — Mas acho que eu teria sentido falta se tivesse passado tanto tempo longe.

— Ele é um idiota, não faz sentido sentir falta de alguém assim. — Devolvi um tanto agressiva, não só pela minha mãe, mas porque era inconcebível que Daryl fosse sentir falta de um abusador como o pai dele.

— Ele é meu pai, sangue é mais denso que a água, não é? Ele é um idiota, e eu sinto raiva dele a maior parte do tempo, mas ele e o Merle são minha única família. Não podemos virar as costas pra família.

Daryl falou aquilo tão naturalmente, que era como se eu tivesse entrado em choque, eu queria gritar que ele não podia gostar daquele monstro, mas entendi que um filho não podia ser culpado por amar o pai, apenas o pai podia ser culpado por maltratar um filho.

Aquela conversa começou a me incomodar, aquilo mexia comigo, não só por tudo que eu sentia pelo que Daryl tinha passado, mas também, por tudo que eu sentia por mim mesma. Eu tinha meus próprios problemas...

Daryl nunca deixaria o pai, mesmo com todas as coisas terríveis que ele tinha feito. Enquanto eu não tive peso nenhum na consciência em deixar minha mãe. Quem estava errado em tudo aquilo? Talvez nós dois estivéssemos.

— Desculpe, eu não queria chatear você... — Daryl tocou meu braço de leve e eu percebi que já estava a tempo demais encarando o fogo.

— Acha que eu virei as costas pra minha mãe? — Perguntei, voltando meus olhos pra ele.

— Não foi o que eu disse, Bochechas. — Ele se apressou em consertar.

— Eu sei. Só estou perguntando.

— Não. É diferente, você tem seu pai aqui. Vamos falar de outra coisa, nem sei por puxei esse assunto.

Não respondi, voltei a observar o fim das chamas, tentando tirar aquela conversa amarga da cabeça.

— O fogo vai apagar logo. Com sono? Se não estiver eu vou buscar mais lenha. — Daryl avisou tocando meu braço novamente.

— Vai buscar lenha nesse escuro? Nem pensar. Vamos juntar tudo isso e dormir. — Decidi, mesmo que não estivesse com sono, juntando nossas bagunças no mesmo instante.

— Não tem nada de errado com o escuro. — Ele respondeu me ajudando a guardar todas as coisas de comer.

— Com o escuro não tem nada errado, mas com as cobras, morcegos, aranhas e sei lá mais que bichos assassinos estão por aí no escuro, sim. — Retruquei e Daryl acabou rindo.

— Morcegos não são assassinos.

— Você entendeu, Baby Dix, nem vem! — Cruzei os braços e estreitei os olhos.

Daryl parou na minha frente, um meio sorriso no canto dos lábios, quanto tocou o vinco entre minhas sobrancelhas.

— Entendi sim. — Ergueu as mãos em sinal de rendição caminhando até a barraca e saindo de lá com um saco de dormir.

— O que você está fazendo? — perguntei, já imaginando o que viria a seguir.

— Você fica com a barraca, eu...

— Para. Não continua. Sua sorte é que eu gosto de você, ou te mandaria tomar no cu agora. — Interrompi, erguendo meu dedo em riste, entre debochada e ofendida. — Aquela barraca é pra duas pessoas. Ouviu o que eu disse sobre bichos assassinos agorinha? Se só uma pessoa coubesse nela, eu teria trazido duas, entendeu?

Daryl olhou de mim para a maldita barraca e pareceu totalmente incerto daquilo. Por um segundo me deu um pouco de raiva, porra, a gente só ia dormir, não era como se eu fosse pular nele no meio da noite ou algo assim, na altura em que estávamos ele devia confiar um pouco mais em mim.

Mas tão logo a raiva veio, eu me dei conta que não era culpa do Daryl, ele estava tentando. Eu devia ter pensando em comprar duas barracas ao invés de uma, o erro tinha sido meu. Respirei fundo, me sentindo mal por tudo aquilo.

— Desculpe, você está certo. — Me dei por vencida. — Fica com a barraca, de toda a forma é perigoso dormir aqui fora e eu não vou conseguir dormir lá mesmo, eu nunca passei a noite na mata antes, vou ficar meio paranoica com os barulhos e tudo mais. Vou ficar na caminhonete, vou me sentir mais segura lá. — Tentei soar o mais leve possível.

Me virei, mas Daryl me deteve, segurando minha mão.

— Natalie, eu só...

— Eu sei, tudo bem. — Assenti, tentando sorrir. — A gente se vê amanhã.

O beijei de leve, e tentei tirar minha mão da dele, mas Daryl não me soltou.

— Não é confortável lá. — Retrucou, os olhos nos meus, ele chegou a abrir a boca pra dizer algo mais, porém as palavras não saíram.

— Estamos acampando, conforto não está no pacote. — Ri, tentando descontrair um pouco.

Segui para a caminhonete sem esperar resposta, depois de pegar uma manta na traseira. Tentei achar uma posição decente e não olhar pra fora, onde eu sabia que Daryl ainda estava, pois sentia os olhos dele me queimarem.

Encarei o teto, onde o forro estava soltando em alguns pontos, me perguntando se alguma vez eu faria algo totalmente certo e sabendo que seria uma longa noite, eu não estava com um pingo de sono.

Minutos depois quando eu acabei me sentando, incomodada demais com minha calça jeans, percebi que Daryl já tinha entrado na barraca, fiquei algum tempo pensando se seria seguro sair da caminhonete e pegar algumas roupas na caçamba, afinal sem a fogueira acesa tudo estava realmente escuro.

Resolvi que dava pra arriscar, encontrei uma lanterna pequena no porta luvas e abri a porta, tentando não fazer nenhum barulho. Corri até a caçamba e peguei minha mochila, correndo de volta para a cabine e encontrando algumas peças pra vestir.

Depois de alguma dificuldade por causa do espaço, eu já estava trocada, usando um shorts de malha curto e soltinho, e uma regata de cotton colada, com alças finas, roupa normal de dormir. Me enrolei na manta, mas não deitei, fiquei encarando a escuridão, prestando atenção em cada mínimo barulho, era quase o cenário de um filme de terror.

De repente, aquela ideia de acampar não parecia tão boa, eu quase me arrependi de não ter ido durante o dia, apenas pra passar a tarde e depois ir embora dormir na minha caminha.

Me encolhi ainda mais na coberta, e sem me dar conta comecei a enumerar os motivos pelos quais era perigoso estar ali no meio do nada, enquanto tentava calcular as horas que faltavam pra amanhecer. De chupa-cabras a maníacos sexuais, a coisa começou a sair um pouquinho do controle. Não que eu estivesse com medo... Minha mente que era um pouco fértil demais.

Foi nesse instante que a luz de uma lanterna e duas batidas inesperadas no vidro me deram o maior susto da minha vida, soltei um gritinho involuntário antes de perceber que era apenas o Daryl e destravar a porta.

— Desculpa, eu não queria te assustar. — O cretino estava segurando o riso.

— Não me assustou. — Menti, me fazendo de superior.

— Então esse seu gritinho de garota foi por quê? — Perguntou entre divertido e acusatório, e eu virei o rosto para o outro lado.

— Bom, alerta de spoiler, eu sou uma garota, se ainda não notou, eu grito feito garota, não feito um cara — Respondi no mesmo tom, ainda sem encará-lo.

— É, eu notei, mas do que você imagina... — Aquilo saiu bem mais baixo, como se eu não devesse ter ouvido.

Voltei meu rosto pra ele, vendo que ainda estava parado do lado de fora. O vento gelado da madrugada entrando pela porta aberta.

— Então, veio aqui só pra me matar do coração ou veio pegar alguma coisa? — Apontei a caçamba, enquanto sorria. Ele ainda usava o colete, provavelmente tinha, assim como eu, vindo pegar uma roupa mais confortável pra dormir.

— Eu vim ver como você está, pensei ter te ouvido andando por aí agora há pouco. — Respondeu, desviando os olhos de mim, como se estivesse envergonhado por me revelar aquilo.

— Eu fui pegar uma roupa. — Abri levemente a coberta. — Odeio dormir de jeans.

Daryl chegou bem perto de corar naquele momento, o que eu achei bastante fofo, afinal eu não estava indecente, nem nada assim.

Ele ficou um tempo calado, como se estivesse tomando coragem pra dizer alguma coisa.

— Você tinha razão, a barraca é bem grande, nós dois cabemos nela, eu fui estúpido. — Soltou quase em um murmúrio, enquanto mexia na maçaneta, como se precisasse evitar meu olhar. — Você não tem que ficar aqui sozinha.

— Tecnicamente eu não estou sozinha, você está aqui. — Sorri, escorregando um pouco mais pra esquerda do banco, abrindo espaço para que Daryl subisse e sentasse do meu lado. Sorri descontraída. — A barraca não vai sair de lá mesmo.

Ele ficou me olhando por vários segundos, até que entrou, fechando a porta em seguida.

Não era pra ser nada demais, afinal já estivéramos dentro daquela caminhonete milhares de vezes, mas assim que ele apoiou o cotovelo no encosto, virando na minha direção, foi como se tudo mudasse em um segundo.

Ficamos em silêncio, um olhando para o outro. Apenas a luz da lanterna, jogada no banco, entre nós. Mas não era um silêncio constrangedor, como o que tínhamos compartilhado mais cedo, era o tipo calmo, quase etéreo...

Daryl tinha os olhos azuis cravados em mim, uma expressão pacífica e ao mesmo tempo tempestuosa, o tipo de coisa que apenas as íris azuis de Daryl Dixon podiam transmitir. Ele roía a lateral do polegar e eu sorria serenamente, embora meu coração estivesse aos saltos, era como se uma pedra de gelo enorme estivesse derretendo dentro do meu estômago.

Antecipação... Eu tive certeza que aquele momento deixaria uma marca em mim, antes mesmo que começasse, antes mesmo que qualquer coisa fosse dita, eu simplesmente soube.

A mão livre dele tocou meu rosto, apenas a ponta dos dedos na minha bochecha, enquanto o polegar acariciava meu lábio inferior. Era apenas um segundo, mas era como se tudo acontecesse em câmera lenta. Daryl engoliu em seco e eu deixei todo o ar dos meus pulmões escapar pela minha boca.

Observei a língua dele umedecer os lábios, puxei todo o ar de volta, o corpo tremendo levemente de algo que podia ser qualquer coisa, menos frio.

— Vem aqui... — Um pedido. Uma ordem. Uma decisão. Eu soube que aquelas duas palavras sussurradas tão roucamente eram as três coisas.

Me arrastei de volta pelo banco, a coberta escorregando dos meus ombros, a lanterna rolando para o chão, em um baque seco, deixando a cabine na penumbra.

Eu estava ajoelhada ao lado de Daryl. Esperando... A mão dele ainda no meu rosto, mais firme, me trouxe pra perto, nossos lábios se tocaram levemente, apenas um segundo. Ele se afastou novamente, ajeitando a postura no banco.

Suas mãos seguraram minha cintura, me puxaram, eu passei a perna esquerda sobre as dele. Nossos rostos próximos, meu cabelo caindo sobre nós, já que eu estava um pouco acima, sem deixar que meu corpo tocasse no dele, sem sentar em seu colo, minhas mãos apoiadas no encosto.

Ficamos apenas nos olhando, parados, as mãos dele ainda na minha cintura, por cima das roupas, sem tocar minha pele de fato. Nossas íris pressas umas nas outras, como imãs. Azuis e negros. Eu e ele.

Fiz um movimento com a cabeça, de modo a jogar todo o cabelo pra um lado só, voltando meu rosto para perto do dele em seguida. Nossos narizes se tocaram, eu fechei os olhos e selei nossos lábios por um segundo, sorrindo no meio disso, enquanto afastava o rosto novamente.

As mãos de Daryl desceram pela minha cintura, escorregando pelas minhas coxas, subindo outra vez, erguendo minha blusa levemente pra segurar meus quadris. O contato dos dedos ásperos dele com a minha pele, fizeram vários arrepios se espalharem pelo meu corpo.

Ele me puxou para baixo levemente, me fazendo sentar em seu colo, enquanto minhas mãos saiam do encosto e desciam para seus ombros. Mais silêncio, mais espera. Nossas respirações aceleravam aos poucos, no mesmo ritmo, como se fossemos maestro e orquestra.

O toque de Daryl subiu pelo meu braço direito, seus dedos fazendo a alça fina da minha regata escorregar, ao mesmo tempo em que ele quebrava o nosso contato visual, pra então se aproximar e beijar meu ombro suavemente.

Senti o rastro quente que os lábios dele deixavam, passando pela minha clavícula e subindo para o meu pescoço, enquanto eu jogava a cabeça para o lado lhe dando mais espaço.

Apertei seus ombros sob meus dedos, usufruindo de cada sensação única que aquele momento causava, sentindo uma enorme vontade de protestar quando o contato findou.

Daryl me observou novamente, como se precisasse decifrar minhas reações. Fechei os olhos, meus seios subiam e desciam no compasso da minha respiração. Eu estava tentando manter minhas expectativas baixas, ao mesmo tempo em que procurava manter o controle, eu não queria que aquele momento se esvaísse entre os meus dedos como areia ao vento, mas entendia que podíamos não chegar ao fim daquilo. Estávamos indo devagar afinal...

As mãos dele ainda estava em mim, escorregando por toda a parte; braços, coxas, pescoço, cintura... Minha blusa subiu um pouco mais quando o toque chegou nas minhas costelas, os polegares dele a centímetros dos meus seios. Joguei a cabeça pra trás, esperando algo que nunca veio.

Ergui a cabeça novamente e abri os olhos, Daryl me encarava em um misto claro de dúvida e excitação. Esperei, incapaz de, sequer, respirar naquele momento. Quando as mãos dele escorregaram de volta pra minha cintura, apertando um pouco meu corpo contra o dele, eu percebi que a dúvida não era sobre seguir a diante e sim sobre como seguir a diante.

Ele estava nervoso, mas não ia desistir. Ele queria aquilo, exatamente como eu. Sorri em uma mistura de calma e alivio.

Passei os dedos pelo colarinho de Daryl, chegando aos botões de sua camisa. Observei sua reação, enquanto eu abria o primeiro botão, notando cada mínimo detalhe pra saber se eu estava ultrapassando algum limite.

Ele subiu as mãos para o meu rosto e eu abri o segundo botão. Seus dedos se infiltram nos meu cabelos. Terceiro botão. Me aproximei lentamente, inclinando meu corpo pra beijar a pele do peitoral que eu tinha acabado de expor.

Senti a respiração de Daryl ficar mais pesada quase no meu ouvido, suas mãos apertaram um pouco mais meu cabelo, conforme eu seguia com os beijos para o pescoço e liberava o quarto botão.

A barba rala me pinicou, quando eu toquei o queixo dele com os lábios, me afastei um pouco, segundos antes de chegar a sua boca, procurando os olhos azuis, como se buscasse permissão.

Em resposta, Daryl me puxou pra ele, quase bruscamente, em um beijo profundo, como se necessitasse destruir toda e qualquer distância entre nós.

Nossos movimentos pareciam ensaiados, era como se estivéssemos no meio de uma reação em cadeia, que começou suave e lenta e foi se tornando um tanto frenética.

Eu acabei com todos os botões e, em conjunto, nos livramos do colete e da camisa dele. Era difícil saber o que me deixava mais extasiada, o toque de Daryl no meu corpo, como se explorasse cada curva, me puxando de encontro a ele no ritmo do beijo, ou poder tocar o corpo dele livremente, sentir cada músculo sob meus dedos e apreciar a sensação que meu toque causava nele.

Cessei o contato dos nossos lábios por um momento, afastando meu corpo pra tirar a regata, ficando totalmente nua da cintura pra cima. Minha intenção era voltar para o beijo logo em seguida, mas ao ver o olhar de Daryl sobre mim aquele momento ficou suspenso no ar. Tinha uma adoração tão pura nas íris azuis que era como se eu fosse uma deusa e ele dedicasse a mim toda a sua devoção.

O beijo que se iniciou em seguida foi ainda mais voraz e apaixonado, como se estivéssemos desesperados um pelo outro.

Nem sei ao certo como nos livramos do restante das roupas, mas quando eu fiz Daryl deslizar pra dentro de mim, quando nossos corpos se tornaram um só, eu soube, com toda a convicção, que nunca tinha sentido nada igual. Não era só o desejo avassalador, não era sobre o sexo, era sobre a entrega. Era como se nos pertencêssemos, como se o tempo todo fosse pra ser daquele jeito.

Nossas bocas emitiam sons desconexos, as mãos de Daryl, firmes na minha cintura, me ajudavam a ditar o ritmo. Naquele momento, enquanto o meu corpo estava ali sobre o dele, eu descobri como a lua se sente sobre o oceano. Meu coração nunca tinha experimentado uma sensação tão poderosa como aquela. Era entrega de corpo e alma, era um tipo de conexão que nunca poderia ser quebrada.

Eu tentei encontrar palavras para dizer a Daryl o quanto eu o amava, sem ser tão direta, mas a única coisa que consegui, foi esconder minha cabeça na curva de seu pescoço, esperando que a explosão de sensações que nossos corpos desfrutavam naquele momento, fosse o bastante pra que ele entendesse.

Quando o clímax intenso abateu meu corpo, entendi que perder o chão não era sobre cair, era sobre voar.

Sexo ganhou um significado totalmente novo pra mim, mais que só prazer, era entrega. Era certeza de que Daryl tinha confiado plenamente em mim, ele tinha me penetrado, mas era eu quem tinha entrado em sua bolha, e tudo que eu queria era ser boa o bastante pra apagar o passado dele, curar cada cicatriz, fazê-lo perceber que ele podia ser amado, que ele merecia isso, que eu era dele e nada poderia mudar essa fato.

Ficamos alguns minutos ali, abraçados, apenas esperando que nossas respirações se acalmassem. Meu rosto ainda estava escondido na curva do pescoço de Daryl, até que ele se mexeu e em conjunto arrumamos uma posição melhor no banco. Eu ainda estava praticamente sobre ele, deitada em seu peito, vendo as cores de nossas peles nuas se misturarem na penumbra e sentindo seu acariciar leve nas minhas costas. Ergui minha cabeça um pouco e finalmente nossos olhos se encontraram  novamente. Sorrimos. Uma felicidade plena alagou meu peito.

Observei os vidros totalmente embaçados e lembrei da uma cena de Titanic, estava pronta pra tocar o vidro e deslizar minha mão por ele, mas detive o movimento, eu não queria que minha história com Daryl acabasse como a de Jack e Rose.

Acabei desenhando minhas iniciais ali, enquanto Daryl observava o meu movimento. Ele segurou minha mão e a levou até o vidro novamente, usando meu dedo pra rabiscar um "DD" logo abaixo do meu "NC". Sorri e, ainda com minhas mãos na dele, o beijei apaixonadamente.

— Acho que aquela barraca está bastante ofendida agora. — Comentou casualmente, quando eu separei nossos lábios.

Nossa risada ecoou pela caminhonete, revelando nosso estado de espirito, enquanto eu me aconchegava nos braços do homem que eu amava. Era aniversário dele, mas era eu quem pedia aos céus um presente: Eu desejava que aquilo durasse pra sempre.


Notas Finais


Gente, mas esses dois são muito OTP mesmooooo, como não amar?
Daryl se entregando totalmente e Natalie sendo um doce, super perceptiva ao descobrir tudo que cerca o menino Dixon. (Will que se cuide)

Vocês pescaram todas as referencias? Pedreira. Rosa Cherokee, A conversa sobre o fim do mundo... E mais algumas coisas sutis aushaushaush Fora o Colete de asas, super conectado ao colar, asse colete ainda vai dar o que falar na segunda temporada, aguardem uashaushauh

No próximo teremos Merle estreando na narrativa e várias tretas (é o Dixon mais velho, não dava pra ter outra coisa uahsaush), pretendo voltar a contagem normal de palavras então sexta é minha meta de postagem (vamos na fé uahsaushuhs)

Bjss e até lá, tô ansiosa pra saber o que vocês acharam!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...