História Limites - Resiliência

A paciência já não deixava nenhum resquício no corpo de Akira, com as laterais do corpo latejando horrivelmente se ergueu do asfalto olhando diretamente para Shiroyama que em poucos milésimos de segundos ia recuperando sua consciência e já se colocava de pé com dificuldade.

Os olhares se cruzaram e ambos quebraram a distância ficando próximos o suficiente para pudessem compreender apenas com o olhar que o bicho ‘tava pegando. Shiroyama deu leves tapas no ombro do amigo caminhando lentamente pela dor que sentia em seu corpo, o vento atingia seu rosto deixando os fios negros serem jogados para trás, cambaleou até o Corvette e simplesmente abriu a porta e jogou-se contra o banco olhando para a figura de Akira que caminhava até o Shelby.

O mesmo girou a chave na ignição e deu partida ficando na frente, logo viaturas cortavam entre os automóveis que iam contra o fluxo. As pessoas voltavam as ruas com celulares nas mãos provavelmente já sabiam o que já tinha acontecido, Shiroyama abaixou o vidro apoiando seu braço na porta respirando fundo sem pensamentos fixos na mente, pelo retrovisor viu o sinal de luz feito por Akira e ligou a seta como resposta. Akira simplesmente passou na frente e passou a mostrar o caminho para o moreno.

A oficina era um destino fixo, os automóveis foram estacionados e colocados em suas devidas garagens.  

- Tem algo para beber? – Yuu questionou pressionando as costas da mão sobre o corte em seu lábio –

- Deve ter algo frigobar – Suzuki respondeu sacando o molho de chaves do bolso – Estamos no ápice do problema e você quer beber?

Yuu olhou para o loiro e suspirou fitando o chão, ambos adentraram na oficina sentindo o clima pesar, pelas janelas viam o céu com o azul totalmente vivo sem nenhuma nuvem. Suzuki chutou a porta do escritório assustando o moreno que estava logo atrás de si, vasculhou uma das gavetas apressadamente retirando as folhas e jogando-as no chão logo após.

- O que está procurando? – O moreno perguntou já com uma garrafa em mãos – ‘Tá fazendo uma bagunça!

- Cala a boca! Estou procurando alguns curativos que o Taka sempre deixa em todos os cantos – Respondeu sem olhar para o amigo – Ele ficava tão preocupado com o que poderia acontecer na oficina, que deixava curativos em todo lugar.

- Ele se preocupa com você, não tem motivos para te enganar... Né?

Akira virou-se para o moreno e respirou fundo sentindo seu tronco latejar, Shiroyama deu um gole na bebida resmungando logo após já que a bebida contendo álcool acabou entrando em contato com o corte em seu lábio, o loiro revirou os olhos pela imprudência do outro e estralou os dedos caminhando até o armário que ficava ao lado da mesa. Sem paciência, abriu uma das portas de metal e viu uma caixa branca, sorriu de lado e a colocou na mesa fechando a porta.

- O que vamos fazer Aki? Sabe... Vai ser difícil vencer Satoru – Falou franzindo o cenho pela ardência no lábio –

- Difícil vai ser retirar o Kouyou e o Takanori daquele desgraçado, vencer ele não é uma das nossas prioridades agora.

- Não devemos procurar ajuda? – O moreno disse olhando para a garrafa que estava em suas mãos – Sabe que nem todos vão com a cara de Satoru.

Suzuki largou as bandagens sobre a mesa e encarou Shiroyama que estava com o olhar constrangido, o mesmo mordeu o lábio e aproximou-se do moreno curvando seu copo para frente fixando seu olhar ao do outro.

- Ajuda? De quem? – Sorriu de lado – Ninguém vai mover um dedo para nos ajudar... Acorda!

- Nem a polícia? Satoru já foi detido e em menos de uma semana já está causando – Yuu sugeriu fugindo do olhar ameaçador de seu amigo – Como ele pegou o Kou e o Ru... Sequestro bro.

 Uma risada quebrou todo clima denso, era a risada de Akira... Ele gargalhou arrumando sua postura e sentou-se na mesa voltando a cuidar de seus machucados, a risada cessou e foi substituída por um gemido baixo.

- A polícia não se envolvia em corridas e agora eles irão nos ajudar? Ajudar Hashiriya*?

Shiroyama deu os ombros e balançou a cabeça de forma positiva, deixou a garrafa no chão e levantou-se indo até a mesa pegando o algodão de cor rosa e o Antisséptico.

- Não irão perder a oportunidade de jogar Satoru de volta para a cadeia.

- Sair daqui, ir até uma delegacia e fazer um boletim de ocorrência – Suzuki disse calmamente – Esse é o seu plano?

- Tem algo em mente?

O loiro fitou Shiroyama pincelar o algodão sobre o ferimento do lábio e olhou para o chão logo a seguir, balançou a cabeça de forma negativa e ouviu o suspiro do outro.

- Mesmo se tentássemos, os cachorrinhos do Satoru iam nos ver – Disse Akira – Devem estar em todos os lugares só esperando nós dois entrássemos na mira.

- Sim, de preferência armados até os dentes, temos que ficar aqui até a hora da corrida.

Com os curativos prontos, os dois rapazes saíram do escritório e marcharam até a garagem, Akira puxou o amigo até o final do extenso corredor e lhe entregou uma chave. Shiroyama estranhou e a pegou observando o loiro puxar o pano de cor negra que estava sobre um automóvel. Seus olhos brilharam, algo dentro de si incendiou todos os cantos de seu corpo.

- Como conseguiu? Comprou outro não é?

A animação de Shiroyama fez um sorriso brincalhão estampar a face de Akira em um momento tão complicado, ver seu amigo rodear a Mercedes C63 tão amada por ele, era fascinante.

- Era uma surpresa, já que as coisas complicaram – Deu uma pausa – Acho que sentirá melhor com seu carro.

- Ficou totalmente destruído no acidente!

- Tenho meus contatos – Piscou – Agora vamos acabar logo com isso.

Antes que ambos saíssem dali, o som de batidas no portão de ferro fez ambos ficarem alertas. Suzuki recorreu a uma chave inglesa que estava perto de si, caminhou lentamente até a entrada acompanhado por Shiroyama logo atrás. O moreno entrou na frente e abriu o portão arrastando-o para o lado e Suzuki colocou-se em postura de ataque vendo Daigo que deu alguns passos para trás elevando a mão até seu tronco.

- Calma pessoal! Eu ouvi os boatos e vim aqui ajudar.

- Ajudar? – Suzuki Questionou com a chave inglesa ainda em mãos – Por qual motivo iria nos ajudar?

- Eu não vou com a cara do Satoru, na verdade minha vontade é socar ele.

- Eu disse, ninguém vai com a cara dele – Shiroyama murmurou puxando Daigo para dentro a oficina e fechando o portão.

- Como chegou até aqui? – O loiro suspirou olhando fixamente para Daigo.

- Depois que ouvi os boatos, vim diretamente para cá – Respondeu – Achei que estariam aqui, o bairro está sendo rondado por motos.

- É os cachorrinhos de Satoru – Shiroyama pronunciou-se – Provavelmente estão mantendo o chefe deles informado de tudo.

- Sim – Daigo concordou – A polícia está fora, não estão afim de procurar encrenca com Satoru novamente.

- Bando de imprestáveis – Akira murmurou – Satoru não tinha tantos seguidores antes de ser preso, esse pessoal aí... Devem ser dos outros bairros.

- E talvez cidades – Daigo completou – É verdade que estão com o Kouyou?

Shiroyama afirmou com um gesto de mão, deu as costas para Daigo e Akira indo até um dos carros que ainda estava com o pano negro, sentou-se no capô apoiando os pés no chão e olhando para o vazio.

- Se eu soubesse que tudo isso iria acontecer – Deu uma pausa – Nem iria dar aquela garrafa para ele naquele dia, não iria tirá-lo da vida normal que tinha. 

- Foi quando se conheceram? – Daigo aproximou-se do moreno vendo-o concordar com a cabeça – Ninguém sabe, se isso serve de algum tipo de consolo... Você gostou dele e então foi lá conquista-lo.

- O que aconteceu com aquele cara que simplesmente ganhou no drift? – Shiroyama questionou rindo –

- Fora do asfalto – sorriu – Eu sou legal – Completou olhando para Akira que observava tudo.

- Não esqueçam que temos prioridades aqui!

Daigo concordou e fixou seu olhar para a Mercedes que pertencia ao Yuu, permaneceu com o sorriso no rosto sendo atingido por uma onda de nostalgia.

- Vamos acabar com aquele filho da puta.