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  3. Cap. 29 - Culpa

História Lines - Cap. 29 - Culpa


Escrita por: yuu-holly

Notas do Autor


Este é um capítulo diferente.
Como não podia ser escrito do ponto de vistzé do Aoi, o modo de leitura é diferente. É quase um especial.

Capítulo 30 - Cap. 29 - Culpa


O loiro segurava o frasco de vidro à altura dos olhos. Com um líquido aguado e avermelhado, aquele era o terceiro frasco que analisava, sem curiosidade alguma. Estavam empoeirados, em uma estante distante das outras. E, apesar de estarem dentro de uma despensa, algo o fazia acreditar que aqueles frascos não continham temperos. Estavam, há muito tempo, sem serem tocados.

O outro exclamava empolgado atrás dele. Revelava, aos quatro ventos, sua felicidade, sem medo de demonstrar seus sentimentos. Mesmo quando o loiro parecia não se importar com nada que ele dizia.

- Você viu a cara do Kouyou? - Seus olhos brilhantes combinavam com o grande sorriso, enquanto gesticulava com as mãos, empolgado. - Foi genial! Como não tinha pensado nisso antes?! Eu te amo, Reita!

Como gostaria, antes, de ouvir aquelas palavras. Não daquela maneira, não. Queria as mesmas de qualquer modo. E elas pareciam intoleráveis depois do ocorrido, como se seus significados houvessem sido alterados. Ele sentiu parte da sua paciência se esvaindo quando as ouviu.

Ainda assim, respirou fundo, fechando os olhos brevemente e tentando ignorar o menor atrás de si.

- Eu sei que, depois disso, Kouyou não irá atrás da criatura. Não, ele é orgulhoso demais para isso. E é até perigoso você ficar por aqui depois daquilo... - Sua voz ainda carregava excitação quando se postou ao lado de Reita, alisando o frasco que, antes, o loiro segurara. - Mesmo assim, acho arriscado deixar a situação correr por si só. Talvez, devêssemos dar um jeito, de uma vez por todas...

E seu sorriso chegou a ser demoníaco, refletia a maldade do veneno à sua frente. Veneno que parecia ter uma sintonia com seu atual dono, deixando de lado o loiro que fingia ignorar a cena para não demonstrar como estava enojado.

- Você podia fazer esse favor, Aki. - Não era uma pergunta, era um pedido.

Um pedido que não poderia ser ignorado.

- Não posso. - Simples assim.

- Claro que pode!

Como ele não havia entendido aquela resposta tão clara?

- É só fingir consolá-lo! Aposto que ele não irá desconfiar. Provavelmente, não irá querer vê-lo depois de hoje, mas é seu amigo. Com um pouco de insistência, ele o convidaria para um chá e, assim, seria demasiado fácil colocar este aqui em seu...

- Eu não posso! - Interrompeu, virando-se para o outro. Mais claro, impossível.

E, sem esforço algum para esconder sua indignação, olhou o menor à sua frente. O silêncio reinou, enquanto suas mentes barulhentas trabalhavam e eles se olhavam fixamente.

Enquanto Reita não tentava entender os motivos, dando prioridade à sua vontade, disposto à deixar claro sua posição, Ruki fazia questão de entender. Analisava a situação como um todo.

Claro que ele estava irritado, pensou. Havia beijado outro à sua frente, e o menor sequer demonstrou um pingo de sentimento em relação a ele. Não demonstrou mágoa, ciúmes, somente felicidade por estar mais próximo do momento em que poderia ficar com Uruha.

Poderia ser só isso, mas não fazia sentido em sua cabeça. Estava cismado com algo, algo que o fez rir. E, enquanto o mais alto tentava entender essa inesperada reação, ela foi se tornando imprevisível.

Ruki parecia prestes a explodir de raiva, ou prestes a chorar.

- O que é que ele tem? - Deu as costas ao outro, ainda segurando o riso, as lágrimas, e a própria raiva.

- O quê?! - Reita estava mesmo confuso com aquela pergunta.

- Diga-me! - Gritou, olhando-o novamente, sem medo de demonstrar sua indignação e a falta de compreensão. - O que é que ele tem?! O que é que ele tem, que faz qualquer um que se aproxime se apaixonar por ele?! Diga-me! Porque, assim, quem sabe eu não aprendo e consigo alguma coisa...

- Não estou apaixonado por ele.

Tentou esclarecer, sem emoção alguma na voz. Aquelas palavras sequer pareciam ter saído de sua própria boca. Ouviu-as como se fossem ditas por um mero estranho.

Não conseguiu, com aqueles palavras, convencer ninguém naquele cômodo.

- Faz todo o sentido! Ele usa alguma coisa? Ele anda com o filho daquela bruxa horrenda... Deve usar alguma coisa, não enxergo outra possibilidade!

Enquanto ele refletia em voz alta, Reita respirou fundo, passando a mão pela testa úmida.

- Não, não tem sentido algum. Enlouqueceu.

- Não! Não enlouqueci! Deve haver alguma explicação. Simplesmente não aceito que ele seja apaixonante! Não vejo nada nele assim!

O menor começou a andar de um lado ao outro da despensa, controlando para que a coisa dentro de si não explodisse.

- Escuta, eu não estou apaixonado por ele. - Repetiu, desta vez, com mais convicção em sua voz. - Estou apaixonado por você. Mas você não se importa. Acabei de beijá-lo, e sequer demonstra algum sentimento por mim. Sempre pensa no Uruha. E somente nele.

O menor resmungou, concentrando-se para prestar atenção em suas palavras. Ainda não convencido de que estava errado.

- Eu sempre soube que queria ele. - Continuou. - sempre soube que queria Uruha. Não me iludi com a ideia de que, um dia, seria só meu. Porém, depois de hoje, acredito que não consigo sequer uma parte de ti. Não há como dividir. A partir do momento em que estiver com ele...

Então, negou levemente com a cabeça, desviando o olhar de Ruki. Sofria com o que tinha que admitir, mas sentia que deviam esclarecer as coisas.

- Pois eu não acho que você me ame, Reita. - Tocou seu rosto de leve, forçando-o a olhá-lo. - Não o suficiente.

Enquanto Reita tentava acreditar em suas palavras, permitia que ele tirasse o pano que estava em seu rosto.

- Se me amasse... Se me amasse, nem que fosse mais do que ama Aoi. Saberia qual escolher.

Ele sabia quais palavras usar para convencê-lo, quais gestos o conquistaria. Roçou os lábios nos dele, percebendo-o fechar os olhos brevemente ao acariciar seu rosto de leve.

Mas o maior já havia feito a sua escolha.

Afastando-se dele, deu as costas sem pestanejar e foi em direção à saída.

- Você prometeu!

As palavras ditas por Ruki fez com que parasse à porta. Não chegou a olhá-lo, mas refletiu.

Promessas feitas há tão pouco tempo pareciam estar em um passado tão distante. Mas ele não deixava de cumprir promessas.

E saiu.

Ao caminhar por aqueles campos secos, o loiro não demonstrava medo algum. Apesar de estar sofrendo com as cobranças feitas pelo seu amado. E também de estar fazendo algo por suas costas, algo totalmente contra a sua vontade. Ou até mesmo diante do que estava fazendo naquele momento.

Tudo havia sido planejado, calculado, de modo que, em um plano com, pelo menos, sete pessoas principais envolvidas, somente ele poderia saber todos os passos. Ele distribuiria as cartas, prevendo cada reação dos outros e, ainda, teria que controlar o jogo.

Não precisou respirar fundo nenhuma vez no caminho. Parecia estar com toda a coragem reunida dentro de si, calma como um coala.

Ao adentrar o terreno de destino, avistou uma pequena criança ao longe. Criança que, antes, chegou a gostar dele. Porém, naquele momento, parecia irritada ao vê-lo.

- Não! - Gritou, jogando um graveto em direção ao loiro.

O graveto não chegou perto, mesmo que o maior estivesse ainda mais próximo quando teve sua demonstração de raiva.

- Eu quero pedir desculpas. - Somente disse aquilo.

Conhecendo a criança, previu seu sorriso, como também havia previsto seu movimento repentino. O garoto entrou em seu lar, não se preocupando em deixar a porta aberta, mesmo que não convidasse Reita para entrar ou que pedisse que esperasse.

Em poucos segundos, ouviu a janela do segundo andar se abrir. Também previu algo do tipo, então, não demonstrou surpresa.

- Vá embora! - Aoi gritou, irritado.

- Precisamos conversar.

- Não precisamos!

E fechou a janela. Foi a primeira vez que Reita suspirou levemente, sem levantar o olhar ao falar em alto e bom som.

- Não sairei daqui enquanto não conversarmos!

Como havia previsto aquilo também, não se incomodou tanto. Somente não sabia quanto tempo teria que esperar. Alguns minutos, horas, ou dias? Não chegava a crer que demorariam dias. Só precisava se concentrar em não demonstrar alguma vontade de desistência.

E esperou.

Nas primeiras horas, ficou em pé. Andou de um lado para o outro, ignorou a presença do meio irmão do seu amigo, e chegou procurou algo para caçar em volta. Ao pôr-do-sol, sentou-se no chão, ignorando o vento gelado que percorria pela natureza. O tempo parecia passar devagar, mas isso não o faria desistir. Alguma hora, o moreno pararia de ignorá-lo.

Puxou seu arco, retirando-o de seu corpo e descansando-o no chão. Pegou as flechas e começou a limpá-las, uma a uma, antes de guardá-las novamente. Já era noite quando ouviu a porta atrás de si se abrir, não se virando para olhar. Somente conteve um leve sorriso, percebendo a presença de Aoi quando se postou ao seu lado.

- Não pode ficar aqui.

Ele olhava a escuridão no horizonte ao dizer aquilo.

- Não é bem vindo. – Completou.

Então, o loiro se levantou, sem dizer palavra alguma. Com passos leves, andou em direção a um tronco de madeira no chão, perto de uma cerca, não muito longe dali. E sentou-se. Aquele gesto era um novo convite para uma conversa. E não sabia se o moreno iria negar novamente.

Mas, Aoi preferiu ter aquela conversa. Percebera que, somente assim, o amigo sairia da propriedade.

De forma um pouco ríspida, ele se dirigiu ao loiro calado com certa pressa. Sentou-se ao seu lado, esperando que ele começasse a falar. E perdeu um pouco a paciência quando observou, ainda calado, que o outro sequer lhe dirigia o olhar.

- Por que fez aquilo? - Resolveu perguntar, enquanto Reita dirigia sua atenção inteiramente às estrelas.

"Tão brilhantes, nessa imensidão do céu..." Pensou, tentando demonstrar estar distante como aquelas estrelas, embora não estivesse. "Teriam elas, nascido para uma função pré-definidas?"

- Olha... - Aoi suspirou de leve, olhando o céu por um segundo somente. - Se gosta de mim... - Continuou. - Acho que não posso retribuir o sentimento. E também acho que foi um tanto insensível de sua parte fazer aquilo...

- Eu não gosto de você. - Interrompeu-o, finalmente desviando o olhar para Aoi. - Quero dizer, gosto. Mas, não dessa maneira.

E desviou o olhar novamente, naquele momento, para a escuridão da floresta.

Por que todos acreditavam que ele estava apaixonado por Aoi? Por que estava tendo que repetir tantas vezes aquela frase naqueles dias?

Mas Aoi riu baixo ao seu lado, descrente do que ouvia.

- Então, é pior do que imaginava. Fez isso por "ele". E, ainda, tem coragem de vir aqui e admitir isso.

- Eu não fiz isso por ele. Fiz isso por você.

- Então, acha que não mereço o Uruha, após tudo o que houve, é isso?

- As estrelas estão tão lindas hoje... - Ignorou a pergunta do outro, o qual se irritava mais por ele dar atenção às estrelas, como se as vissem pela primeira vez na vida.

- Por acaso, não achou que minha opinião valesse de algo? - Continuou, tentando não desviar do assunto. - Porque...

- Fiz isso porque precisava parecer convincente. - Interrompeu, finalmente retribuindo o olhar do outro. - Precisava ser convincente que Uruha ficasse irritado, chateado, horrorizado por saber que estava comigo. Precisava ser convincente, para que Ruki acreditasse que seu caminho estava livre até ele quando ficasse chateado por vê-lo comigo. Precisava ser convincente para os guardas acreditarem na sua indignação. E precisava ser convincente que você ficasse surpreso, porque, se não, Ruki poderia acreditar que estivéssemos tramando algo com aquele beijo.

Aoi ouviu-o com toda atenção, sentindo um calor invadir seu peito. Não era um calor como o amor que sentia por Uruha. Era um calor de alívio, que o preenchia cada vez mais que acreditava que seu amigo não havia o traído.

- Precisava ser convincente para que vocês consigam fugir juntos.

E desviou o olhar novamente, deixando suas últimas palavras morrerem. Sentiu um vazio quando revelou, finalmente, o seu plano em voz alta. Um vazio que quase levava ao arrependimento.

Para sua surpresa, Aoi sorriu facilmente, respirando aliviado. Pousou a mão sobre a sua e deitou a cabeça sobre seu ombro, finalmente, olhando as estrelas.

- Realmente, as estrelas estão mais bonitas hoje. - O moreno admitiu, sentindo um beijo em sua testa.

Mas, o silêncio reinou e seu sorriso se desfez em poucos minutos. Pensar doía.

- Agradeço. – Aoi admitiu baixinho. - Entretanto, não sei se ainda quero fugir com ele.

- Hm.

Como o convenceria do contrário, afinal? Não sabia, sequer, se gostaria tanto assim. Mesmo depois de tanto trabalho para ajudá-lo, não sentia como se tivesse sido em vão. Ou como se tivesse jogado seu tempo fora.

O moreno sorria tranquilamente dentro da carruagem parada à encosta do castelo, ajeitando levemente o chapéu em sua cabeça. Esperava a chegada do Imperador há alguns minutos, ensaiando mentalmente o que iria dizer.

Quando Uruha entrou no veículo, não esperava a presença de outra pessoa. Muito menos, daquela pessoa.

- O que está fazendo aqui? - Indagou, enquanto fazia menção de sair.

- Você não irá conseguir sair. - Yutaka avisou, enquanto o veículo começava a andar. - E não adianta gritar por ajuda. Ninguém ouvirá, eu e Reita demos um jeito nisso.

Uruha teria tentado, caso não ouvisse o nome "Reita". Era tanto, o rancor que sentia, que chegou a perder a linha de raciocínio por um segundo.

- O que querem? - suspirou friamente, quase impaciente. - Qual fortuna?

- Queremos que fuja com o Aoi.

Aquilo não fazia o menor sentido para ele.

- Ora, - Kai comentou, quase inconformado. - É por essas e outras que não te acho inteligente.

- Mas, isso não faz o menor sentido.

- Claro que faz! - Explicou. - Ninguém poderia imaginar isso, para que dê certo.

O loiro olhava a janela como se a paisagem da cidade fosse interessante e invisível ao mesmo tempo. Era preferível acreditar na existência daquele plano. Chegava a fazer sentido, é ele precisava pensar aquilo para que se sentisse menos mal.

Quando pararam de andar, Uruha chegou a acreditar que veria seu amante. Achou que estaria em seu campo, embora, distraído, não pudesse ter visto a estrada do caminho. Foi como se acordasse de um sonho longo.

- Quando a sétima neve cair, deverá retornar ao seu lar. - Kai assentiu, abrindo a porta para o Imperador.

Estavam aos portões do castelo. A carruagem só havia andado à sua volta.

- Esqueceu alguma coisa. Vá buscar, meu senhor.

E fez um gesto para que Uruha pudesse sair. E ele sabia que, mesmo que voltasse após buscar algo, Yutaka não estaria mais lá à sua espera.

- Não era para estarem se correspondendo! - Bradou o loiro, batendo a carta sobre a mesa de mármore. - É muito arriscado!

- É só uma carta. - O Imperador resmungou, puxando a carta para perto si.

- Não é "só uma carta"! É perigoso que alguém leia e descubra tudo! - Explicou. Era importante que Uruha entendesse a gravidade da situação. - E eu sei que não é a primeira. Sei que Aoi não lhe mandaria a carta, a não ser, que o mesmo precisasse lhe dar uma resposta.

Em silêncio, observou o Imperador despreocupado. Parecia encantado ao deslizar as pontas dos dedos pela letra do remetente.

- Talvez devêssemos mudar os planos. - Reita suspirou.

- Não há motivo plausível para isso... Está preocupado demais.

- É tão complicado, assim, seguir as regras que estabeleci?

- Sabe que não tenho porquê confiar em você com algo do tipo, não é, Reita?

O loiro em pé somente suspirou, virando levemente os olhos.

- Não está entendendo a gravidade da situação, meu senhor. - Explicou, mais calmamente. - O amor que Ruki sente pelo senhor não é exatamente muito saudável.

- Não estou preocupado com ele. - Os olhos de Uruha percorriam as palavras na carta várias vezes. - Ele ficará bem.

- Estou mais preocupado com o que ele pode fazer, se descobrir.

Finalmente, Uruha levantou o olhar para Reita, desfazendo o sorriso em seu rosto.

- Ele não fará nada de mal. - Concluiu. - Não teria coragem.

O Imperador parecia confiante sobre o que disse. E foi preciso alguns segundos para que Reita adquirisse coragem para falar ao outro:

- Não o conhece.

Três palavras simples que o tirariam do sério.

- Não o conheço? - Uruha se levantou, arqueado as sobrancelhas e deixando a carta ao seu lado na mesa. - Só porque o roubou de mim, acha que não conheço meu melhor amigo?

Reita precisou se concentrar para não se enraivecer, negando com a cabeça levemente enquanto fechava os olhos algumas vezes.

- Não "roubei" o Ruki do senhor. - "Ele continua lá, todo seu, aliás." Completou em pensamento, antes de continuar. - O senhor que o deixou. Ele estava desolado, magoado, apaixonado. O senhor não o quis. Eu somente quis ajudá-lo...

- Ajudar, tsc.

O Imperador sentou-se novamente, desviando o olhar de Reita. Aparentava estar chateado.

- Pensa que não via o interesse em você? - Uruha falou, o tom de voz mais baixo do que antes. - Era visível em seus olhos o que você sentia por ele. Aquilo que ele cobrava de mim, e que eu nunca poderia retribuir da mesma maneira.

Houve um silêncio momentaneamente, enquanto Uruha lamentava e Reita somente o escutava.

- Era possível ver todas as vezes em que estava perto dele. Não seria justo com ele. Privá-lo de algo assim, por conta de um capricho meu. - E suspirou, alterando o som de sua voz para ameaça, com o olhar de volta sobre Reita. - E eu não permito que olhe da mesma maneira para Aoi. Não permito que me persiga dessa maneira, Reita. O Ruki, eu permiti, porque não sentia o mesmo por ele. Mas com Aoi é diferente.

Reita suspirou, finalmente irritado quando pegou a carta na mesa. Sabia que Uruha faria um movimento para impedi-lo, mas não o deixaria. Mesmo sabendo que o Imperador responderia ao amado, com os dizeres da escrita gravados em sua mente. Não precisava do papel, embora o quisesse.

- Não irei olhá-lo da mesma maneira que olho para Ruki, meu senhor. - Prometeu, direcionando-se para a saída. - Não sei porque insistem tanto que o amo... - Completou ao passar pela porta, mais para si mesmo do que para o outro.

Porém, hesitou ao passar pelo batente, somente para analisar as palavras de Uruha ditas a seguir.

- Você já o olha desta maneira, Reita. Somente deixo claro que não permito mais.

Dormir aquelas noites não foi nada fácil. Na maior parte, ele ficava olhando para o teto de pedra, quase fantasmagórico diante seus pensamentos. Aquilo não ajudava, pois, nas poucas vezes em que dormia, tinha pesadelos com as ameaças da realidade. Na maior parte deles, havia a morte de alguém. Sendo de Uruha, Aoi ou Ruki, cada uma delas o assustava quase na mesma proporção. De todos os envolvidos, ele era o mais ansioso. Talvez por ter certa ideia do que poderia acontecer, caso Ruki imaginasse aquele plano.

O primeiro floco de neve caiu, e ele sentiu como se o esquentasse. A ansiedade era grande, mas aquilo significava que tudo estava perto de acabar. Estava com medo da reação de Ruki quando ele percebesse a fuga do amado, mas ele superaria. Ou passaria o resto da vida os procurando. Pelo menos, faria Aoi feliz, e aquilo parecia importar mais. Ainda mais, se corresse menos perigo de morrer,.

Até porque, se Ruki conseguisse matar Aoi, Uruha não o perdoaria. E Ruki não conseguiria viver com isso. Pelo menos, era o que achava. Estava fazendo o melhor a todos.

A quase todos. Ruki não o perdoaria por tramar por suas costas. Aoi iria para longe com Uruha e faria questão de não entrar em contato com eles - seria perigoso. Mas, sentia que era o certo a fazer.

Entretanto, sua esperança de que as coisas se ajeitariam se esvaiu no terceiro dia de neve quando seus planos saíram para fora dos trilhos.

Ao adentrar o castelo, percebeu Yutaka próximo à entrada da cozinha principal. Aquilo era um comportamento anormal.

- As coisas estão saindo um pouco diferente do planejado.

- O que está fazendo aqui? - Olhou ao redor, preocupado com os guardas. - Pode chamar a atenção dos guardas...

- Não creio que chamarei mais atenção do que o filho do Imperador. - Suspirou.

Reita ficou sem ar por um segundo.

- O quê?! Uruha já retornou?

- Pois é. Chegou ao castelo no fim desta manhã. Entretanto, já saiu novamente.

O loiro deu alguns passos pelo corredor, tentando raciocinar. Parte dele sabia que Uruha não aguentaria ficar tão próximo de Aoi nos próximos quatro dias, sem poder vê-lo. Também sabia que, por não confiar nele, iria querer seguir suas próprias regras.

- Não acha que ele adiantaria os planos, acha? Ele pode ter decidido dar um passeio pela cidade... - Não acreditava naquilo, estava impaciente, andando de um lado ao outro.

- Na verdade, acho justamente que ele adiantou os planos. - Yutaka sorriu tristemente, conformado.

- Por que ele não podia simplesmente esperar? Era mais seguro! Será que devo ir até Aoi? Ou ele não está em seu lar? Seria, pelo menos, mais inteligente não se encontrarem lá.

- Ou óbvio demais para suspeitarem. Não sei direito o raciocínio das pessoas quando estão apaixonadas. - Respondeu, coçando levemente a nuca. - Sabe... Não vejo problema exatamente no adiantamento dos planos. É inesperado, ele se sente mais seguro. É só fingirmos que não faço parte do plano ao levá-lo até Aoi. E fingirmos que este é o sétimo dia que a neve cai. Supondo que isto esteja ocorrendo agora, acredito que deveríamos dar cada passo em seu lugar. Reita.

Ele chamou para que o olhasse, havia certa urgência em sua pergunta, embora não demonstrasse tanto:

- Onde está o guarda?

O loiro parou de andar, pasmo. Se o plano realmente estava ocorrendo naquele momento, ele deveria estar distraindo Ruki. E ele não tinha a menor ideia de onde o encontrar. Ele havia chegado com Uruha, e não costumava se desgrudar do mesmo.

Sem responder Yutaka ou dar novas regras, deu as costas a ele e seguiu os passos pelo castelo tão conhecido. A todo momento, se perguntava como Uruha seria tão burro de sequer avisar que adiantaria sua fuga. Sendo orgulhoso como era, teria seus próprios planos e os seguiria como se fossem a única fórmula para a felicidade.

Saiu do castelo e andou pelo chão de pedra em direção aos jardins. Tentava não se desesperar, talvez estivessem equivocados, havia uma chance mínima.

- Onde encontro o Ruki? - Perguntou a alguns guardas que lanchavam sobre a grama, atrás de um muro de pedras.

Eles pararam de rir animados, olhando Reita de cima abaixo, como se o enojassem.

- Quem quer saber?

- O arqueiro principal do Imperador. - Sorriu, tentando parecer convencido.

- Não sabemos. - Mentiu outro guarda, com a boca cheia de comida.

E o loiro sabia que era mentira. E sabia que as notícias corriam pelo castelo com certa rapidez. Resolveu arriscar um palpite:

- Se alguém o ver, avise-o que estou indo ao Imperador, cumprir a promessa que fiz a ele.

Ele contava com a chance de Ruki não saber onde Uruha estava. Contava também com a chance dele entender sobre qual promessa ele remetia aquela frase.

Foi como se tudo caminhasse conforme o planejado - paralelo com o novo plano, no caso. Reita estava ajeitando os cavalos e dando instruções ao cocheiro, quando sentiu alguém cutucar suas costelas.

- Preciso ir! Preciso ver isso!

E Reita não soube como suspirou aliviado ao ver Ruki à sua frente, pois o mesmo possuía um brilho um tanto inapropriado diante do fato.

- Claro, é importante para você. - Deu de ombros de leve, abrindo a porta da carruagem para o menor.

Ele tentava ser convincente, escondendo o nervosismo, mas não tinha certeza de que estava conseguindo. Contava com a chance de treinar tudo por mais quatro dias, estava tudo diferente do que se preparara.

Ruki entrou na carruagem e foi seguido por Reita. No ambiente um pouco escuro, por conta das cortinas fechadas, o loiro tentou demonstrar saudades no olhar enquanto encarava o menor. Talvez, pelo nervosismo, não estava conseguindo com muita clareza.

- Eu trouxe, caso precise. - Ruki admitiu, tirando um pequeno frasco de vidro do bolso.

Reita encarou o líquido vermelho do frasco, antes de responder:

- Não precisarei disto, agradeço.

Ruki pareceu descrente ao desviar o olhar, um pouco decepcionado. Provavelmente, pensou que teria que fazer o trabalho inteiro sozinho.

- Farei algo mais no meu estilo. - Reita completou depressa, ajeitando o arco que carregava consigo propositalmente, para que Ruki o olhasse.

- Ótimo. Sangue...

E Ruki sorriu de forma assustadora, fazendo Reita se perguntar como poderia gostar de uma pessoa assim.

Pelo menos, aquele gesto o fez se sentir menos culpado sobre sua traição.

- Então, qual o nosso destino? - Ruki demonstrou certa curiosidade ao tentar olhar pela janela.

- Ao celeiro do Aoi. - Explicou Reita. - Descobri, por ele mesmo, que se encontrariam lá quando Uruha chegasse.

- Hm. - Ruki não parecia tão convencido daquilo, estava decepcionado com algo. - Começou a tomar chazinho com o amiguinho camponês a ponto de haver revelação de segredos assim?

- Sim. - Respondeu, embora se arrependesse da afirmação. - Quer dizer, não "tomamos" nada, mas conversamos.

O menor refletiu por um tempo, escolhendo as palavras que usariam para tocar no assunto.

- Sabe, estive me perguntando... Sobre uma impressão que tive... - Disse, sem olhar o loiro até que terminasse sua pergunta. - Ele retribuiu o seu beijo?

Reita franziu a testa, confuso. Estava confuso por Ruki ter reparado em algo do tipo, e mais confuso ainda por ele estar tocando naquele assunto. Seria um pouco de ciúmes?

Não podia se iludir, não em um momento daquele. Então, percebeu, que não era somente ele que estava tentando enrolar com a conversa. Ruki também estava se esforçando para aquilo.

Soube que a conversa não duraria muito quando a carruagem parou. Entretanto, só pôde engolir em seco ao espiar pela cortina, rezando por dentro para que não estivessem onde achou que estariam.

- Eu achei que me amasse, Reita. - Ruki o olhava fixamente, sem fingir surpresa ou alegria, parecia decepcionado de verdade. - Eu realmente achei que me amava.

"E eu amo." Somente pensou, enquanto ouvia em silêncio.

A carruagem branca de Uruha estava parada próxima à cerca, em frente à casa de Aoi. O caminho da porta até ela chegava a ser um pouco longe, não era perto o suficiente para que passassem despercebidos. E Reita pedia veemente em sua mente que eles não estivessem dentro de casa. Ou que não saíssem, não enquanto não pudesse segurar Ruki longe deles. Tinha medo até que Ruki colocasse fogo no local.

"Eles sairiam pelos fundos, pelo menos, isso... Estão na cabana do Yutaka, com Ishihara... Estão na floresta!" Pensou em diversas hipóteses, na tentativa de ficar menos nervoso com a situação.

- Eu comecei com os planos. - Ruki continuou, orgulhoso, como se fosse o mestre falando com o aprendiz. - Tanto você, quanto Uruha, aprenderam comigo essa artimanha. Pensa que não conheço o comportamento dos dois e como mudam?

Ruki refletia consigo mesmo, olhando o teto calmamente enquanto falava. Estava esperando que Uruha saísse com Aoi por aquela porta ao longe. E Reita começou a se preocupar sobre quais seriam os planos dele. Se ele conseguiu comprar o cocheiro antes de Reita, ele estava pensando nisso há muito tempo. E o veneno que tinha consigo não parecia tão útil naquela situação, afinal, estava muito longe de Aoi para oferecê-lo ou obrigá-lo a tomar. E acreditava que ele não teria coragem o suficiente de colocar em alguma bebida de Uruha, na esperança de que o mesmo a oferecesse ao amado. Afinal, ele não arriscaria a vida de quem amava, não daquela maneira.

- Sabe como fiquei decepcionado quando soube que estavam tramando contra mim, juntos? - Ruki continuou, com a voz carregada de decepção. Sabia ser dramático e real ao mesmo tempo. O drama vivia dentro de si. - Quero dizer, o Uruha, tudo bem. Suas palavras sempre foram muito vazias. Mas, Reita, me trair daquela maneira? O amor não me parecia ser algo com que você brinca, Reita...

- Eu amava você. - Reita se justificou, aparentando calma na voz. - Nunca menti sobre isto.

- "Amava." - Ruki enfatizou a palavra, desviando o olhar para o nada.

- Ainda amo. - Reita se corrigiu, incerto, embora sua voz demonstrasse totalmente o contrário. - Estou tentando protegê-lo. Uruha ama o Aoi, não a você.

- E, enquanto Aoi estiver vivo, Uruha não me olhará. É simples de responder, não é? - Ruki fitou Reita, desesperado por compreensão. Seus olhos estavam marejados.

Para sua surpresa, Reita negou com a cabeça.

- A morte não é o fim. Não é assim que o amor acaba.

Os segundos seguintes foram carregados de tensão. Reita tentava pensar em alguma solução pacífica, evitando machucar Ruki, mas sentia que não conseguiria pensar em nada do tipo. Não conseguiria convencê-lo com palavras, somente à força, sabia disso. E não tinha tempo para pensar em alguma solução criativa.

Percebeu isso tarde demais. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Quando Ruki se levantou e saiu da carruagem, Reita achou que ele teria algum surto psicótico raivoso. E, embora sua reação parecesse um pouco de algum enlouquecido desesperado, foi diferente do que esperava.

De alguma maneira, Ruki havia percebido movimento no interior da casa. E Reita achou que deveria ser mais rápido que o mesmo, segurá-lo. Mas Ruki deu um giro em seu próprio corpo. Uma reação sem sentido aparente no início, até ele entrar rapidamente de volta na carruagem e trancar sua porta.

Ao abrir as cortinas, o menor encarou o outro do lado de fora. percebia a confusão em sua face, o vidro os separando.

- Ele irá sair. - A voz de Ruki abafada era ouvida através do vidro, deixando Reita com um certo desespero. Ainda não entendia, mas sentia, a gravidade da situação. - E você irá matá-lo.

Então, após dizer aquelas palavras tão certas, ele levou o frasco com o liquido vermelho, tão conhecido por Reita, até a boca. Não chegou a tomá-lo, era uma ameaça.

- Ou você irá me matar. - Continuou decidido, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. - Terá de escolher agora, Reita. Será ele, ou eu. Qual de nós dois você ama mais? Com qual culpa você prefere conviver?

Sua decisão foi tentar arrombar a porta da carruagem e tirar o frasco de veneno de perto do Ruki suicida. Porém, não teve tempo de segui-la. No segundo seguinte, estava em um impasse. Percebeu a porta da casa se abrir, e Ruki fazer menção de tomar o veneno.

Com a respiração pesada, seguiu o instinto. Arrumou uma flecha ao arco que estava consigo, mirando a mesma em direção ao casal que saíra da casa, como se não percebessem sua presença. Reita não se preocupou em como não saberia, somente viu sua flecha mirar em Aoi. Não erraria, não acertaria em Uruha, pois a vida de Ruki estava em suas mãos.

E também não queria atirar a flecha, pois a vida de Aoi também estava em suas mãos.

Teve que escolher, e não achava justo, aquilo. Era um ultimato.

E, no segundo seguinte, ele tomou a decisão que o fez se arrepender pelo resto de sua vida.


Notas Finais


É engraçado que, eu demoro dias escrevendo um capítulo (pelo celular, porque meu notebook ainda não está ligando) e, quando finalmente termino, o site entra em manutenção. rs' Nunca postei pelo aplicativo, então, não sei se o formato está certinho, ou se a imagem de capa está certa. rs

Eu acho que este é o único capítulo escrito sem ser pelo ponto de vista de alguém (por algum motivo, não quis fazer pelo ponto de vista do Reita, a mente dele é um mistério rs). Ele nem estava no roteiro de capítulos. De repente, achei importante contar essa parte da história, e dessa maneira. Faz tanto tempo que não escrevo assim, que não sei se ficou bom. Ainda mais sendo Lines, que sempre imaginei do ponto de vista do Yuu. Portanto, se estiver uma porcaria, me perdoem. rs' Qualquer coisa, ignorem ele até o próximo. rs' Eu nem postaria ele, inicialmente. Achei essencial para eu colocar algumas decisões no lugar (na minha cabeça mesmo), e achei justo dividir com vocês (embora o capítulo não responda todas as perguntas ainda sobre a outra vuda do Aoi, rs').

Bem, é isso, sei que estou com saudades de escrever, mas chega, ou será um livro, essas notas finais. rs' Quero agradecer os comentários nos capítulos anteriores. Acredito que, se não soubesse que isso aqui não tem mais leitores, não veria sentido em postar. Tá tudo na minha cabeça mesmo... (embora ainda haja algumas pendências para eu decidir. Haha') Enquanto um ler, que seja, continuarei postando. rs' E desculpem, novamente, pela demora. (Não aprendo rs)


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