História Linha Tênue - Décimo primeiro.

Jimin queria dizer que estava levando muito bem sua vida sem Yoongi, mas a verdade é que estava pior do que quando havia terminado com Kihyun.

Taehyung tentou tirar o amigo de sua cama a todo custo – chamou-o para ir a festas, para andar pelo parque, para ir ao cinema, até mesmo para ir ao mercado. Ele só queria que Jimin saísse de sua cama para fazer qualquer coisa, mas nada do que Taehyung oferecia era suficiente para aquilo acontecer. Jungkook também tentou, tentou até demais, mas nada fazia com que Jimin saísse de sua fossa. Semanas já haviam se passado, as aulas já haviam começado e era como se cada dia fosse uma luta diferente para Jimin sair de casa e viver sua vida.

Ele chorou. Muito. Chorou porque sabia que não devia ter feito aquilo mesmo que o que ele tinha com Yoongi não era real, chorou porque as marcas em seu pescoço o lembraram de seu erro por uma semana, e chorou principalmente porque sentia falta de Yoongi como nunca havia sentido. Às vezes se pegava a ponto de mandar uma mensagem sobre como sua aula estava sendo chata, mas se impedia antes que fizesse besteira. Às vezes ele só queria um lugar para ficar quando Jungkook e Taehyung resolviam transar e não eram tão discretos quanto achavam que eram.

Kihyun tentou falar com Jimin nesse meio tempo. Ele mandou mensagens, até chegou a aparecer na porta de seu apartamento, mas felizmente Taehyung entendeu que aquele não era o momento ideal para eles terem uma conversa. Kihyun percebeu aquilo e parou de tentar – ele manteve sua distância, e sabia que quando Jimin quisesse, o procuraria para esclarecer tudo que havia acontecido.

“Suas olheiras vão chegar no seu queixo no ritmo que você anda.” Taehyung entregou um copo de café a Jimin, que abriu um pequeno sorriso e agradeceu ao amigo, logo voltando sua atenção para o livro que estava a sua frente. “Por que você não tenta falar com ele, Jiminnie? Ele parecia bem chateado quando saiu daqui.”

“Ele estava chateado porque eu desperdicei o tempo dele.”

“Jimin.”

“Não coloca ênfase no meu nome.” Jimin fez um bico e deu um gole no café. “Hyung não gostava de mim, ele não gosta. Eu desperdicei o tempo dele. Foi isso, já acabou, uma hora eu supero.”

“Você nunca desiste de nada, por que está desistindo logo do Yoongi hyung?” Taehyung se sentou ao lado do amigo e o encarou. Jimin sabia que ele não deveria desistir, e sabia que em qualquer outra situação ele já teria tentado se comunicar há muito tempo, mas algo na situação o impedia de ir falar com Yoongi, e ele não sabia dizer o que era. “Hobi hyung perguntou por você. Ele disse que o Yoongi não anda muito bem, sabe? Você podia aparecer na cafeteria e–”

“Para agora mesmo o que você está tentando fazer.” Jimin apontou um dedo no rosto de Taehyung, fazendo-o parar no meio de sua frase. Eles ficaram em silêncio por alguns segundos até Jimin suspirar. “Mesmo se ele gostasse de mim, não tem como eu ter alguma chance com ele agora. Yoongi viu as marcas no meu pescoço. Mesmo se isso fosse verdade, ele ia achar que não é mútuo, Tae.”

“Então você precisa contar isso a ele!” Taehyung abriu um largo sorriso, arrancando uma risada fraca de Jimin. “Vamos lá, aposto que ele está na cafeteria agora, você nunca estava em casa a essa hora, devia estar lá com ele!”

“Boa tentativa, mas não.” Jimin sorriu. “Obrigado mesmo assim, Tae.”

Essa conversa se repetia quase todos os dias. Era uma insistência que parecia não ter fim, e Jimin ficava grato pela preocupação de seus amigos apesar de saber que no fundo ele nunca os ouviria.

Hoseok ainda tentava puxar assunto com ele de vez em quando, e apesar de adorar o hyung, Jimin se sentia um tanto quanto desconfortável falando com ele. Era o melhor amigo do homem que ele gostava, era o melhor amigo do homem quem ele havia magoado de certa forma. Jimin sabia que Hoseok tinha a melhor das intenções quando ia falar com ele, mas por agora, ele queria mais era distância de tudo que podia lembra-lo de Min Yoongi.

Por isso que, quando estava na faculdade, escolhia andar pelo caminho mais longo apenas para não passar em frente ao prédio onde Yoongi estudava. Ia à cafeteria que ficava mais longe de sua casa apenas para não dar o azar de encontrar o atendente que tinha mexido com seu coração. Parecia um pouco infantil, na verdade era um pouco infantil, mas ele precisava tirar sua mente do lugar onde ele não queria que estivesse.

“Isso é besteira,” Jungkook dizia sempre, mas Jimin apenas ria.

“Deixe-o em paz, Jungkookie.” Taehyung respondia enquanto se distraía com uma outra coisa qualquer, mas sempre prestando atenção ao seu redor.

Ficava cansativo às vezes. Jimin sabia que estava dando trabalho aos seus amigos, mas não conseguia sair de seu estado atual. Os dias se misturavam e ele sentia falta de Yoongi, sentia muita, e só queria superar aquilo logo para voltar a viver sua vida como ela era antes daquela maldita noite que eles foram ao bar. 

**

Yoongi mal via a hora da cafeteria fechar para ele poder ir para casa descansar.

Ele não queria admitir, mas depois que Jimin parou de ir à cafeteria quando seu turno estava perto de acabar, os finais de seus dias haviam se tornado extremamente entediantes. Saber que ele não iria mais mesmo por causa do ‘término’ tinha deixado tudo dez vezes pior, porque agora Yoongi não tinha apenas que esperar o fim do verão para que Jimin voltasse a aparecer tarde da noite apenas para eles conversarem.

O verão tinha ido embora, e Jimin havia ido junto com ele.

Yoongi atendeu a um dos últimos clientes do dia com um sorriso no rosto, mas quando ele olhou para cima novamente e estava pronto para dizer sua frase usual de boas-vindas, o sorriso desapareceu e ele pensou se valia a pena ser demitido apenas para expulsar o homem que estava a sua frente da cafeteria com suas próprias mãos.

“Eu queria conversar com você.” O homem engoliu em seco e encarou Yoongi nos olhos, como se tentasse deixar bem claro que estava falando sério. “Quando você puder. Se você puder.” Ele respirou fundo. “Também quero um café, por favor.”

Yoongi não disse nada. Ele apenas anotou o pedido, disse o preço e entregou o copo para seu colega de trabalho que ficava encarregado de preparar as bebidas. Ele se recusava. Min Yoongi não ia falar com aquele homem, e por mais que estivesse agindo como uma criança e ele nunca tivesse feito nada para Yoongi diretamente, ele simplesmente não queria ter outro desgaste emocional em um mês.

Infelizmente, o homem esperou até que o turno de Yoongi acabasse, e quando aconteceu, ele nem tentou disfarçar que estava tentando impedi-lo de sair dali apenas para ter a conversa que ele tanto queria.

“O que você quer de mim, Kihyun?”

“Quanta informalidade.”

“Você também não foi nada formal quando deixou aqueles chupões no pescoço do Jimin, não é mesmo?”

Silêncio se instalou entre eles dois e Kihyun suspirou, andando para o lado de fora e consequentemente sendo seguido por Yoongi, que ainda parecia querer sair dali, mas continuou sabe-se lá por que. Eles ficaram quietos por mais alguns segundos até Kihyun puxar ar para começar a falar.

“Eu sei que o que aconteceu foi errado–”

“Sim, você acabou de falar o óbvio.” Yoongi o interrompeu.

“Posso terminar?” Kihyun o encarou com um olhar sério, e Yoongi deu de ombros indicando para que ele continuasse. “Eu não vou mentir, eu tentei ficar com o Jimin mais de uma vez quando estávamos em Busan, mas ele recusou e disse que não podia por sua causa... e também porque nós tínhamos terminado. Eu tinha terminado.”

“Kihyun-ssi, eu realmente acho muito legal o que você está tentando fazer pelo seu ex-namorado, mas nada do que você disser vai me fazer mudar de ideia.” Yoongi começou a andar para longe do homem, mas quando sentiu uma mão em seu braço, sentiu-se na obrigação de parar. “Eu te dou cinco minutos. Cinco.”

“Não vou precisar de mais do que isso.” Kihyun abriu um pequeno sorriso e Yoongi quis soca-lo de sua cara. Com força. Muita força. “Um dia antes dele voltar para Seul, acabei o encontrando em uma boate e ele estava bem bêbado. Eu também não estava na minha melhor situação, e nós acabamos ficando por lá.”

“Sem detalhes, por favor.” Yoongi murmurou.

“Nós decidimos ir para casa, e, sabe, nós estávamos nos beijando até que... Eu fiz uma coisa que o fez parar tudo que estava fazendo.” Kihyun respirou fundo. Yoongi voltou a olhar para ele, curioso para saber o que ele falaria. “Jimin estava chorando demais, sério. Eu nunca tinha o visto chorar daquele jeito, e claro que o álcool tinha um pouco de culpa na quantidade de lágrimas, mas ele estava chorando muito mesmo.”

“O que você fez com ele para fazê-lo chorar tanto?” Yoongi franziu o cenho.

“Não fui eu que o fiz chorar.” Kihyun se apressou em negar qualquer coisa que Yoongi estivesse pensando. “Não, eu não sou assim. Ele começou a balbuciar um monte de coisa que eu não conseguia entender, mas falou muito sobre você, sobre como não era justo, que ele não devia ter feito aquilo com você... e acabou dormindo logo depois.”

“Quer dizer que ele chorou por que estava me traindo?” A expressão no rosto de Yoongi suavizou de uma tal maneira que Kihyun sentiu o ar entrar em seus pulmões com mais facilidade de novo. Ele assentiu e viu Yoongi olhar em todas as direções antes de voltar a olhar para ele, dessa vez com uma expressão mais séria. “Tem certeza que foi isso mesmo? Ele podia estar chorando por várias coisas, você sabe como ele é–”

“Ele disse que gostava muito de você.” Foi a vez de Kihyun interromper Yoongi, e aquilo pareceu surtir algum efeito. Yoongi engoliu em seco e ficou encarando o chão sem dizer nada, abrindo e fechando os olhos uma porção de vezes. “Disse que só fazia tudo errado. Eu me senti mal por ter feito aquilo, eu não devia ter interrompido o que vocês tinham. Desculpa.”

“Isso é verdade?” Yoongi voltou a olhar para cima. “Tudo que você me contou é absolutamente verdade? Não escondeu nada, não inventou nada? Se ele ficou com mais alguém, se vocês transaram, se vocês fizeram qualquer coisa, me fala. Por favor.”

“Eu só cheguei nele daquela vez porque eu o vi ficando com algumas pessoas.” Kihyun falou em um tom de voz baixo, e Yoongi soltou algum xingamento que ele não conseguiu ouvir. “Não o odeie, sério. Eu sei que traição é difícil de perdoar, mas o Jimin tem um coração enorme e ele gosta mesmo de você–”

“A culpa é minha, ele veio falar comigo naquela noite e eu não dei atenção.” Yoongi suspirou e brincou com a barra de sua camisa, mergulhado em mil e um pensamentos. Se ele tivesse dado dois segundos de sua atenção para Jimin, talvez nada daquilo tivesse acontecido. “Agradeço sua preocupação com nós dois, mas não sou eu que tenho que ir falar com ele para pedir desculpas.”

“Eu sei que não, eu só quis esclarecer o que aconteceu para fazer você pensar.” Kihyun abriu um pequeno sorriso. Yoongi perguntou onde o homem de atitude arrogante tinha ido parar, porque simpatia não era uma palavra que o remetia a Kihyun quando eles se viram pela primeira vez. “Dê uma chance ao Jimin se ele pedir.”

Yoongi voltou para casa pensando na conversa que teve. Kihyun realmente achava que eles estavam namorando, e ele chegou a dizer que Jimin havia dito que gostava de Yoongi. Podia ser mentira. Ele podia ter inventado, podia ser tudo uma grande mentira, mas ele se lembrou das mensagens que havia recebido naquela madrugada antes de Jimin voltar para Seul, e pensou no ‘desculpa’ que ele havia enviado. Yoongi suspirou e resolveu pegar o caminho mais longo para casa, andar na rua o ajudava a pensar melhor. 

Talvez Jimin gostasse dele, mas se gostava mesmo, por que ainda não tinha tentado consertar as coisas? Ele tinha errado, mesmo que a relação não fosse real. Yoongi queria poder engolir o orgulho e ir correndo para o apartamento de Jimin naquele mesmo instante, mas ele não podia fazer aquilo. Por mais que fosse consertar as coisas – e talvez até começar algo real entre eles – ele sentia como se não fosse o correto a se fazer. As palavras de Kihyun ecoavam em sua cabeça sem parar quando ele entrou em casa e foi cumprimentado com um largo sorriso de Hoseok.

“Como foi o dia?”

“O ex-namorado do Jimin veio falar comigo.” Yoongi respirou fundo e assistiu à expressão no rosto de Hoseok mudar completamente. “Ele me contou o que aconteceu na noite em que eles ficaram, e algumas coisas que o Jimin disse.”

“E aí?” Hoseok perguntou com uma voz baixa, incerto do que fazer naquela situação. Yoongi suspirou pelo que parecia ser a milésima vez naquele dia. “O que o Jimin disse que te deixou com essa cara de quem não dorme há dias?”

“Disse que gosta de mim.” Yoongi olhou para suas mãos e perdeu a reação de Hoseok, que arregalou os olhos e abriu a boca. “Que ele só fazia besteira, que o que ele tinha feito não era justo. Eu não sei se é totalmente verdade até porque é o ex-namorado dele me dizendo isso, mas eu me lembro de uma mensagem que o Jimin me mandou naquele dia me pedindo desculpas.” Yoongi suspirou e olhou para seu amigo. “Eu não sei o que eu faço, Hobi. Não sei se acredito nele.”

“Acho que isso fica a seu critério.” Hoseok deu de ombros. “Mas ele não tem nada a ver com você, por que ele falaria isso se não fosse para ajudar vocês?”

Yoongi olhou para o teto, voltou a olhar para Hoseok e abriu um pequeno sorriso. Ele não disse nada além de ‘boa noite’ e foi para seu quarto em silêncio, deixando para trás Hoseok.

Quando Namjoon chegou acompanhado de Seokjin, a única coisa que Hoseok fez foi dizer para ele se apressar em contatar Jimin.

Seokjin franziu o cenho, e Namjoon o acompanhou.

“Yoongi hyung está começando a mudar de ideia.”